Reino Unido diz que Rússia usou míssil 'de milhares de km' após surgirem dúvidas sobre acusação de Kiev sobre míssil intercontinental

Rússia afirma que usou novo 'míssil convencional de alcance intermediário' e que ataque ocorreu em resposta ao uso pela Ucrânia de mísseis enviados pelos EUA O governo britânico disse nesta quinta-feira que a Rússia disparou um "míssil balístico" com "alcance de vários milhares de quilômetros", mas parando de classificar o artefato como "intercontinental", como acusou a Força Aérea Ucraniana. O presidente russo, Vladimir Putin, disse que o artefato é um "novo míssil convencional de alcance intermediário", que recebeu o codinome Oreshnik, informou a BBC. Putin afirmou que o ataque ocorreu "em resposta" ao uso dos ATAMCS dos fornecidos pelos EUA à Ucrânia. Conheça: O que é um míssil balístico intercontinental, que Ucrânia acusa Rússia de lançar pela 1ª vez na guerra? Líder diplomático dos EUA para o Ocidente: Uso de mísseis de longo alcance pela Ucrânia pode forçar Rússia a negociar paz — [Este ataque] é outro exemplo de comportamento imprudente da Rússia, que só serve para fortalecer nossa determinação em termos de apoiar a Ucrânia pelo tempo que for necessário — afirmou a repórteres o porta-voz do primeiro-ministro britânico Keir Starmer. Em um comunicado à nação, Putin disse que as tropas russas realizaram "um ataque combinado em uma das instalações do complexo militar-industrial da Ucrânia." — Em condições de combate, foi realizado um teste de um dos mais recentes sistemas de mísseis russos de alcance intermediário. Nesse caso, com uma versão hipersônica não nuclear de um míssil balístico — disse o mandatário russo, acrescentando que o "teste foi bem-sucedido" e o alvo "atingido". — Um dos maiores complexos industriais conhecidos desde a era soviética foi atingido no território da Ucrânia, na cidade de Dnipropetrovsk. Ele ainda está fabricando mísseis e outros armamentos. Mais cedo, fontes ocidentais levantaram dúvidas a acusação ucraniana após afirmarem a diversos veículos da imprensa americana, sob condição de anonimato, que o ataque ocorreu com um míssil balístico de menor alcance. Um alto funcionário dos EUA inclusive já havia advertido ao jornal The New York Times que o artefato não apenas parecia ser um míssil balístico de alcance intermediário, como também "um novo tipo que estamos rastreando". Washington ainda não se pronunciou oficialmente. Uma autoridade americana descreveu o míssil à AFP como "experimental" de médio alcance e avaliou que "a Rússia pode estar buscando usar essa capacidade para tentar intimidar a Ucrânia e seus apoiadores... mas [que] não será um divisor de águas nesse conflito." Avaliação similar foi feita por um ex-funcionário sênior da segurança ucraniana ao afirmar que era provável que o ataque tivesse a intenção de alimentar os temores de uma guerra cada vez maior com a Ucrânia e aliados ocidentais. — De fato, trata-se apenas de um míssil balístico, um míssil grande — afirmou a autoridade citada pelo NYT. O motivo da discrepância entre a informação divulgada pelos ucranianos e a das autoridades ocidentais não ficou claro. Mais cedo, as autoridades ucranianas acusaram a Rússia de disparar pela primeira vez desde o início da guerra um míssil balístico intercontinental em um ataque à cidade de Dnipro, no centro-leste da Ucrânia. O artefato foi "lançado da região russa de Astrakhan", disse a Força Aérea de Kiev, em comunicado, sem fornecer mais detalhes. Vídeo: Porta-voz russa recebe ordem ao vivo de não comentar sobre suposto míssil intercontinental contra a Ucrânia A força aérea disse que a Rússia enviou uma salva de nove mísseis em direção a Dnipro, incluindo um míssil balístico lançado do ar por um caça MIG-31 e sete mísseis de cruzeiro lançados por bombardeiros estratégicos. A Ucrânia disse que abateu seis mísseis de cruzeiro. — Todos os parâmetros, velocidade, altitude, correspondem aos de um míssil balístico intercontinental — disse o presidente Volodymyr Zelensky em um vídeo publicado no X. — Todas as avaliações de especialistas estão em andamento. Initial plugin text Há quatro tipos de mísseis balísticos: de curto alcance, de médio alcance, intermediário, e de longo alcance, também conhecido como míssil balístico intercontinental. Os de curto alcance podem viajar até mil quilômetros e são frequentemente chamados de mísseis "táticos". Os de médio alcance podem viajar entre mil quilômetros e três mil quilômetros. Os intermediários, entre três mil quilômetros e cinco mil quilômetros e meio. Os ICBMs podem ir ainda mais longe, atingindo alvos praticamente em qualquer lugar da Terra. De acordo com o Centro de Controle de Armas e Não Proliferação, armamentos do tipo têm alcance mínimo de cinco mil quilômetros e meio, mas suas versões mais avançadas podem ir a nove mil quilômetros de distância. Além disso, são projetados para transportar ogivas nucleares e atacar a milhares de quilômetros de distância. Por isso, sua utilização poderia significar um novo ponto de escalada no conflito. A Ucrânia não alegou que havia uma ogiva nuclear no míssil. Uma nova escalada Poucos dias antes, Moscou anunciou que Kiev disparara pela primeira vez em mil dias de guerra mísseis de longo alcance, ou ATACMS, fornecidos pelos EUA contra o seu território, após autorização do governo de Joe Biden. Um funcionário de alto escalão ucraniano confirmou à AFP o uso dos mísseis. Dos seis, cinco foram abatidos, afirmou o Ministério da Defesa, e não houve relatos de danos ou vítimas. A Rússia disse que o ataque marca "uma nova fase" do conflito e prometeu uma resposta "adequada". Com receio da retaliação prometida, a Embaixada dos Estados Unidos em Kiev fechou sua sede diplomática e orientou seus funcionários a se abrigarem no local após emitir um aviso na quarta-feira afirmando que a Rússia poderia lançar "um ataque aéreo significativo". As embaixadas da Grécia, Itália, Hungria e Espanha também fecharam temporariamente, com a última reabrindo algumas horas depois, segundo a rede britânica BBC. Kiev, entretanto, criticou o fechamento das embaixadas, com um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores pedindo aos aliados ocidentais que evitem aumentar "a tensão" com tais movimentações. "A ameaça de ataques (...) lamentavelmente é uma realidade cotidiana para os ucranianos há mais de mil dias", apontou, referindo-se ao conflito que começou em 24 de fevereiro de 2022 com a invasão russa.