Policial de SP ajudou Cara Preta, do PCC, a tirar novo RG, diz Justiça

Investigador teria agilizado o processo para o homem a tirar segunda via do documento em 2021e o apresentado a colegas de posto de atendimento como parente O Tribunal de Justiça de São Paulo condenou um policial civil por ter ajudado um homem apontado como membro do PCC a tirar a segunda via do documento de identidade. Anselmo Becheli Santa Fausta, conhecido como Cara Preta, é apontado como membro do alto escalão do setor de tráfico internacional de drogas da facção e morreu em dezembro de 2021. O caso envolvendo o investigador Marcelo Ruggieri ocorreu em abril de 2021. A condenação foi revelada pelo jornal "Folha de S.Paulo". A sentença, emitida em outubro deste ano, narra que Ruggieri esteve na sede do Instituto de Identificação Ricardo Gumbleton Daunt, na capital paulista, acompanhado de Cara Preta. Uma investigadora disse, em depoimento, que o policial e o membro do PCC entraram no local no dia 21 de abril. Ruggieri solicitou uma nova carteira de identidade para Cara Preta, dizendo que ele era um parente que precisava do documento para uma viagem. A mulher atendeu ao pedindo, dizendo que a atitude "é o padrão quando a solicitação é feita para familiares de policiais". Na sequência, Cara Preta foi atendido por outro policial e o procedimento foi efetivado. Ruggieri, na época, era investigador no 24º DP da Ponte Rasa, um dos departamentos que teve policiais delatados por Antonio Vinicius Lopes Gritzbach, o delator do PCC morto em Guarulhos, por suposta prática de extorsão. Ruggieri e outro policial, Rodrigo Pires, teriam voltado diversas vezes ao local até o documento ficar pronto. Pires, no entanto, foi absolvido e alegou que não sabia qual era a identidade real de Cara Preta. O juiz Fabricio Zia condenou Ruggieri por utilizar o cargo público para interesses privados, o crime de advocacia administrativa. A pena de quatro meses de prisão foi substituída pelo pagamento de quatro salários mínimos ao Fundo Municipal da Criança e do Adolescente e ele poderá recorrer em liberdade da sentença. O GLOBO procurou o advogado do policial e aguarda um posicionamento da defesa sobre o caso. A morte de Cara Preta Cara Preta foi executado em dezembro de 2021. Ele mantinha negócios com Gritzbach no ramo imobiliário e operava criptomoedas por meio do empresário. Em uma operação o delator teria recebido R$ 100 milhões do traficante, mas o dinheiro sumiu. Um dia após o Natal de 2021, Cara Preta e seu motorista, Antonio Corona Neto, o Sem Sangue, foram abordados a poucos metros da Praça 20 de Janeiro, no Tatuapé, em São Paulo, e morreram após o carro da dupla ser alvejado por dez tiros de pistola automática. Gritzbach foi acusado de ter sido o mandante do crime, já que vinha recebendo cobranças de Cara Preta. Para isso, teria recebido ajuda do agente penitenciário David Moreira da Silva, que supostamente contratou para o serviço um amigo de infância, Noé Alves Schaun. O delator sempre negou a autoria dos assassinatos. Suposto pistoleiro, Noé foi decapitado menos de um mês mais tarde, em janeiro de 2022, e sua cabeça foi encontrada a poucos metros de onde Cara Preta e Sem Sangue haviam sido assassinados, na Praça 20 de Janeiro, também no Tatuapé. Dentro da boca do morto, havia um bilhete com o recado: “Esse pilantra foi cobrado em cima da covardia que ele fez em cima dos nossos irmãos ‘Anselmo’ e ‘Sem Sangue’".

Nov 19, 2024 - 15:42
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Policial de SP ajudou Cara Preta, do PCC, a tirar novo RG, diz Justiça

Investigador teria agilizado o processo para o homem a tirar segunda via do documento em 2021e o apresentado a colegas de posto de atendimento como parente O Tribunal de Justiça de São Paulo condenou um policial civil por ter ajudado um homem apontado como membro do PCC a tirar a segunda via do documento de identidade. Anselmo Becheli Santa Fausta, conhecido como Cara Preta, é apontado como membro do alto escalão do setor de tráfico internacional de drogas da facção e morreu em dezembro de 2021. O caso envolvendo o investigador Marcelo Ruggieri ocorreu em abril de 2021. A condenação foi revelada pelo jornal "Folha de S.Paulo". A sentença, emitida em outubro deste ano, narra que Ruggieri esteve na sede do Instituto de Identificação Ricardo Gumbleton Daunt, na capital paulista, acompanhado de Cara Preta. Uma investigadora disse, em depoimento, que o policial e o membro do PCC entraram no local no dia 21 de abril. Ruggieri solicitou uma nova carteira de identidade para Cara Preta, dizendo que ele era um parente que precisava do documento para uma viagem. A mulher atendeu ao pedindo, dizendo que a atitude "é o padrão quando a solicitação é feita para familiares de policiais". Na sequência, Cara Preta foi atendido por outro policial e o procedimento foi efetivado. Ruggieri, na época, era investigador no 24º DP da Ponte Rasa, um dos departamentos que teve policiais delatados por Antonio Vinicius Lopes Gritzbach, o delator do PCC morto em Guarulhos, por suposta prática de extorsão. Ruggieri e outro policial, Rodrigo Pires, teriam voltado diversas vezes ao local até o documento ficar pronto. Pires, no entanto, foi absolvido e alegou que não sabia qual era a identidade real de Cara Preta. O juiz Fabricio Zia condenou Ruggieri por utilizar o cargo público para interesses privados, o crime de advocacia administrativa. A pena de quatro meses de prisão foi substituída pelo pagamento de quatro salários mínimos ao Fundo Municipal da Criança e do Adolescente e ele poderá recorrer em liberdade da sentença. O GLOBO procurou o advogado do policial e aguarda um posicionamento da defesa sobre o caso. A morte de Cara Preta Cara Preta foi executado em dezembro de 2021. Ele mantinha negócios com Gritzbach no ramo imobiliário e operava criptomoedas por meio do empresário. Em uma operação o delator teria recebido R$ 100 milhões do traficante, mas o dinheiro sumiu. Um dia após o Natal de 2021, Cara Preta e seu motorista, Antonio Corona Neto, o Sem Sangue, foram abordados a poucos metros da Praça 20 de Janeiro, no Tatuapé, em São Paulo, e morreram após o carro da dupla ser alvejado por dez tiros de pistola automática. Gritzbach foi acusado de ter sido o mandante do crime, já que vinha recebendo cobranças de Cara Preta. Para isso, teria recebido ajuda do agente penitenciário David Moreira da Silva, que supostamente contratou para o serviço um amigo de infância, Noé Alves Schaun. O delator sempre negou a autoria dos assassinatos. Suposto pistoleiro, Noé foi decapitado menos de um mês mais tarde, em janeiro de 2022, e sua cabeça foi encontrada a poucos metros de onde Cara Preta e Sem Sangue haviam sido assassinados, na Praça 20 de Janeiro, também no Tatuapé. Dentro da boca do morto, havia um bilhete com o recado: “Esse pilantra foi cobrado em cima da covardia que ele fez em cima dos nossos irmãos ‘Anselmo’ e ‘Sem Sangue’".

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