Infância: sem açúcar e com afeto!
Novo estudo mostrou que comer açúcar na infância pode influenciar no resto da vida Aponto frequentemente que muito do que serão os organismos de nossos filhos na vida adulta dependerá de escolhas nossas, e um estudo do Reino Unido publicado na revista Science no final do mês de outubro legitima essa afirmação. A pesquisa abordou a evolução clínica de crianças concebidas no período de racionamento de açúcar imposto pela Segunda Guerra Mundial, na comparação com aquelas que a concepção ocorreu após o findar dessa restrição, revelando que a limitação no consumo de açúcar nos dois primeiros anos de vida e na fase intrauterina (via materna), protegeu significativamente contra a ocorrência de diabetes tipo 2 e hipertensão na vida adulta. Desde a concepção até o findar da adolescência, células se multiplicam em velocidade avassaladora, estruturando tecidos e sistemas que caminham para definir o que será o adulto. Inegavelmente, é nesse intervalo de tempo, notadamente nos primeiros anos, que interferências externas, sobretudo químicas, podem modular inumeráveis características e comportamentos futuros. São muitas as investigações científicas que relacionam o consumo de açúcar à promoção de doenças, especialmente quanto ao volume consumido e suas vias, mas indiscutivelmente as pesquisas que expõem os vínculos com o centro dopaminérgico da recompensa são as mais intrigantes. Nesse setor cerebral a produção de dopamina promove sensação de prazer e bem-estar, que decorre do estímulo de compostos específicos, os quais podem levar a dependência química, e entre os agentes viciantes conhecidos estão a morfina, cocaína, nicotina e álcool. Sabemos, porém, que o açúcar é elemento amplamente atrelado nesse sistema dopaminérgico e compartilha parte dos mecanismos utilizados por essas drogas para alcançar o conforto sensitivo. Possuímos predileção inata para o açúcar, de tal modo que se o oferecemos a um recém-nascido, ele o aceita imediatamente, enquanto outros comestíveis precisam ser apresentados mais de dez vezes até que sejam aceitos. E não por menos, oitenta por cento dos alimentos ultraprocessados têm adição de açúcar, com o objetivo de melhorar a palatabilidade e estimular o consumo para além da necessidade orgânica. A estratégia explora a via dopaminérgica, acionando o sistema desde o período intrauterino e perpetuando-o pela vida. Sem mencionar excesso de peso como resultante, a conclusão do estudo em questão pode em grande parte ser explicado pelo acúmulo de gordura visceral na vida adulta, condição modulada pelo consumo de açúcar nos primeiros mil dias de vida. Esse cenário propiciaria o modus operandi clássico para o estabelecimento do diabetes tipo 2, com elementos inflamatórios oriundos da gordura visceral interferindo negativamente na ação da insulina, forçando o pâncreas a produzi-la até sua exaustão. Na mesma via, o status de hiperinsulinismo elucida parcialmente a maior propensão para hipertensão arterial. A pesquisa é monumental, um ensaio clínico populacional natural, impossível de ser criado em outro contexto e que demonstra a importância do ambiente na geração de moléstias desde os primeiros dias após a fecundação. Embora o excesso de peso seja multifatorial em suas origens e não possa ser fundamentado apenas pela amplitude do consumo de açúcar na infância, essa esteira de raciocínio explicaria o fato de 80% das crianças obesas se tornarem adultos obesos, enquanto apenas 38% daqueles com obesidade grave na vida adulta tenham sido magros no início de suas vidas. Cada vez mais nos certificamos que a maior parte das doenças crônicas não transmissíveis conquista arcabouços estruturais para seus desenvolvimentos desde a fertilização e ao menos no intervalo onde o comando é totalmente legado aos pais, deve ser entregue muito afeto, mas sem açúcar e ultraprocessados.
Novo estudo mostrou que comer açúcar na infância pode influenciar no resto da vida Aponto frequentemente que muito do que serão os organismos de nossos filhos na vida adulta dependerá de escolhas nossas, e um estudo do Reino Unido publicado na revista Science no final do mês de outubro legitima essa afirmação. A pesquisa abordou a evolução clínica de crianças concebidas no período de racionamento de açúcar imposto pela Segunda Guerra Mundial, na comparação com aquelas que a concepção ocorreu após o findar dessa restrição, revelando que a limitação no consumo de açúcar nos dois primeiros anos de vida e na fase intrauterina (via materna), protegeu significativamente contra a ocorrência de diabetes tipo 2 e hipertensão na vida adulta. Desde a concepção até o findar da adolescência, células se multiplicam em velocidade avassaladora, estruturando tecidos e sistemas que caminham para definir o que será o adulto. Inegavelmente, é nesse intervalo de tempo, notadamente nos primeiros anos, que interferências externas, sobretudo químicas, podem modular inumeráveis características e comportamentos futuros. São muitas as investigações científicas que relacionam o consumo de açúcar à promoção de doenças, especialmente quanto ao volume consumido e suas vias, mas indiscutivelmente as pesquisas que expõem os vínculos com o centro dopaminérgico da recompensa são as mais intrigantes. Nesse setor cerebral a produção de dopamina promove sensação de prazer e bem-estar, que decorre do estímulo de compostos específicos, os quais podem levar a dependência química, e entre os agentes viciantes conhecidos estão a morfina, cocaína, nicotina e álcool. Sabemos, porém, que o açúcar é elemento amplamente atrelado nesse sistema dopaminérgico e compartilha parte dos mecanismos utilizados por essas drogas para alcançar o conforto sensitivo. Possuímos predileção inata para o açúcar, de tal modo que se o oferecemos a um recém-nascido, ele o aceita imediatamente, enquanto outros comestíveis precisam ser apresentados mais de dez vezes até que sejam aceitos. E não por menos, oitenta por cento dos alimentos ultraprocessados têm adição de açúcar, com o objetivo de melhorar a palatabilidade e estimular o consumo para além da necessidade orgânica. A estratégia explora a via dopaminérgica, acionando o sistema desde o período intrauterino e perpetuando-o pela vida. Sem mencionar excesso de peso como resultante, a conclusão do estudo em questão pode em grande parte ser explicado pelo acúmulo de gordura visceral na vida adulta, condição modulada pelo consumo de açúcar nos primeiros mil dias de vida. Esse cenário propiciaria o modus operandi clássico para o estabelecimento do diabetes tipo 2, com elementos inflamatórios oriundos da gordura visceral interferindo negativamente na ação da insulina, forçando o pâncreas a produzi-la até sua exaustão. Na mesma via, o status de hiperinsulinismo elucida parcialmente a maior propensão para hipertensão arterial. A pesquisa é monumental, um ensaio clínico populacional natural, impossível de ser criado em outro contexto e que demonstra a importância do ambiente na geração de moléstias desde os primeiros dias após a fecundação. Embora o excesso de peso seja multifatorial em suas origens e não possa ser fundamentado apenas pela amplitude do consumo de açúcar na infância, essa esteira de raciocínio explicaria o fato de 80% das crianças obesas se tornarem adultos obesos, enquanto apenas 38% daqueles com obesidade grave na vida adulta tenham sido magros no início de suas vidas. Cada vez mais nos certificamos que a maior parte das doenças crônicas não transmissíveis conquista arcabouços estruturais para seus desenvolvimentos desde a fertilização e ao menos no intervalo onde o comando é totalmente legado aos pais, deve ser entregue muito afeto, mas sem açúcar e ultraprocessados.
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