No futebol brasileiro, erros de dirigentes e jogadores se concentram na escolha do treinador
Independentemente do resultado da Sul-Americana, trajetória de Fernando Diniz em 2024 será outro exemplo da supervalorização dos treinadores no Brasil. Para o bem e para o mal Escrevi esta coluna antes de saber se Fernando Diniz conseguiu conquistar a Copa Sul-Americana com o Cruzeiro (o Racing foi o campeão). Pude, assim, raciocinar diante de uma caixa de Schrödinger hermeticamente fechada: dentro dela havia um treinador que deu a volta por cima, calou os críticos, dobrou a aposta em seus conceitos de futebol e agora é campeão de todas as competições de clubes vigentes no continente; ou um técnico que encerra uma temporada desastrosa de mãos abanando, com um aproveitamento abaixo da média nos dois times que dirigiu e uma inédita série de derrotas na seleção brasileira. Tudo isso separado por 90 ou 120 minutos de futebol, eventualmente algumas cobranças de pênalti. Independentemente de como tiver terminado, a trajetória de Diniz em 2024 será mais um exemplo da supervalorização dos treinadores no Brasil – para o bem e para o mal. Sua saída do Fluminense por pouco não se tornou o primeiro caso de demissão por combustão espontânea no futebol. O presidente não queria, a comissão técnica não queria, os jogadores não queriam, a torcida não queria... Até que, de repente, bum! Um campeão da Libertadores na lanterna do Brasileiro era algo inadmissível. Mas bastou voltar ao mercado para seu nome ganhar força outra vez e se tornar a escolha óbvia para comandar um Cruzeiro que queria subir de patamar com as contratações bancadas pelo novo dono da SAF. E assim, na saída e na entrada, discutiu-se um nome, enquanto decisões de dirigentes e atuações de jogadores ficavam em segundo plano. Parto sempre do princípio de que não cabe a um jornalista decidir se um treinador deve seguir no cargo ou ser demitido. Sei que muitos colegas pensam diferente e respeito seus pontos de vista, mas continuo achando que essa foi uma liberdade excessiva que nos atribuímos no exercício de nossa profissão. Não sou, por outro lado, capaz de garantir que manter o técnico é garantia de que o trabalho eventualmente vai dar certo. Só me dou o direito de desconfiar do efeito da mudança de um único nome no desempenho de todo um grupo de atletas. Fernando Diniz tinha, até ontem, 42,5% de aproveitamento nos dois clubes que dirigiu na temporada; seu substituto no Fluminense, Mano Menezes, chegou a 43,75% depois de empatar com o Fortaleza. Não é minimamente justo pensar que essa diferença de apenas 1,25% está tão condicionada à qualidade dos jogadores – e às decisões dos dirigentes que os contrataram – quanto à capacidade dos treinadores? Focar debates e decisões num nome só é, antes de tudo, empobrecedor. Se o Fluminense for rebaixado, terá sido culpa de Fernando Diniz? Se o Cruzeiro tivesse comemorando um título internacional, teria sido mérito de Fernando Diniz? Daqui até o fim do ano, questionamentos como esses serão seguidamente ignorados em função de resultados que existem na expectativa de dirigentes e torcedores. É assim, por exemplo, que Rafael Paiva já passou a não servir mais para o Vasco. E que até Artur Jorge, depois de uma temporada extraordinária, pode passar a não servir mais para o Botafogo, literalmente de uma semana para a outra. Por enquanto, só Filipe Luís tem carta branca de uma torcida carioca – embora ainda não saiba a que presidente responderá na próxima temporada. E assim segue o futebol brasileiro, em sua sina de dar nome aos bois de piranha.
Independentemente do resultado da Sul-Americana, trajetória de Fernando Diniz em 2024 será outro exemplo da supervalorização dos treinadores no Brasil. Para o bem e para o mal Escrevi esta coluna antes de saber se Fernando Diniz conseguiu conquistar a Copa Sul-Americana com o Cruzeiro (o Racing foi o campeão). Pude, assim, raciocinar diante de uma caixa de Schrödinger hermeticamente fechada: dentro dela havia um treinador que deu a volta por cima, calou os críticos, dobrou a aposta em seus conceitos de futebol e agora é campeão de todas as competições de clubes vigentes no continente; ou um técnico que encerra uma temporada desastrosa de mãos abanando, com um aproveitamento abaixo da média nos dois times que dirigiu e uma inédita série de derrotas na seleção brasileira. Tudo isso separado por 90 ou 120 minutos de futebol, eventualmente algumas cobranças de pênalti. Independentemente de como tiver terminado, a trajetória de Diniz em 2024 será mais um exemplo da supervalorização dos treinadores no Brasil – para o bem e para o mal. Sua saída do Fluminense por pouco não se tornou o primeiro caso de demissão por combustão espontânea no futebol. O presidente não queria, a comissão técnica não queria, os jogadores não queriam, a torcida não queria... Até que, de repente, bum! Um campeão da Libertadores na lanterna do Brasileiro era algo inadmissível. Mas bastou voltar ao mercado para seu nome ganhar força outra vez e se tornar a escolha óbvia para comandar um Cruzeiro que queria subir de patamar com as contratações bancadas pelo novo dono da SAF. E assim, na saída e na entrada, discutiu-se um nome, enquanto decisões de dirigentes e atuações de jogadores ficavam em segundo plano. Parto sempre do princípio de que não cabe a um jornalista decidir se um treinador deve seguir no cargo ou ser demitido. Sei que muitos colegas pensam diferente e respeito seus pontos de vista, mas continuo achando que essa foi uma liberdade excessiva que nos atribuímos no exercício de nossa profissão. Não sou, por outro lado, capaz de garantir que manter o técnico é garantia de que o trabalho eventualmente vai dar certo. Só me dou o direito de desconfiar do efeito da mudança de um único nome no desempenho de todo um grupo de atletas. Fernando Diniz tinha, até ontem, 42,5% de aproveitamento nos dois clubes que dirigiu na temporada; seu substituto no Fluminense, Mano Menezes, chegou a 43,75% depois de empatar com o Fortaleza. Não é minimamente justo pensar que essa diferença de apenas 1,25% está tão condicionada à qualidade dos jogadores – e às decisões dos dirigentes que os contrataram – quanto à capacidade dos treinadores? Focar debates e decisões num nome só é, antes de tudo, empobrecedor. Se o Fluminense for rebaixado, terá sido culpa de Fernando Diniz? Se o Cruzeiro tivesse comemorando um título internacional, teria sido mérito de Fernando Diniz? Daqui até o fim do ano, questionamentos como esses serão seguidamente ignorados em função de resultados que existem na expectativa de dirigentes e torcedores. É assim, por exemplo, que Rafael Paiva já passou a não servir mais para o Vasco. E que até Artur Jorge, depois de uma temporada extraordinária, pode passar a não servir mais para o Botafogo, literalmente de uma semana para a outra. Por enquanto, só Filipe Luís tem carta branca de uma torcida carioca – embora ainda não saiba a que presidente responderá na próxima temporada. E assim segue o futebol brasileiro, em sua sina de dar nome aos bois de piranha.
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