Deputados pressionados, mobilização à esquerda, reação bolsonarista: a repercussão digital do debate sobre a escala 6x1

'Não quer trabalhar? Fica em casa e se inscreve no Bolsa Família', disparou senador alinhado ao ex-presidente em meio a articulação pelo fim do regime de trabalho A discussão em torno da escala de trabalho 6x1 vem dividindo políticos nas redes sociais. Enquanto cresce a adesão de parlamentares de esquerda à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da deputada federal Erika Hilton (PSOL-RJ) que propõe o fim deste modelo de trabalho, nomes da direita, em sua maioria, optaram, ao longo da segunda-feira em que o assunto ganhou tração, por manifestações discretas contrárias à medida ou por simplesmente ignorar o tema. 'Vai trabalhar de CLT': Vereador eleito no Rio que defende fim da escala 6x1 rebate Léo Picon 'Não quer trabalhar? Fica em casa e se inscreve no Bolsa Família': Senador bolsonarista ataca projeto contra jornada 6x1 O cenário, no entanto, começou a mudar no fim da noite. Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), como o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) e o senador Jorge Seif (PL-SC), passaram a se posicionar mais abertamente. Nikolas, que até então só havia feito uma postagem nos stories do Instagram, que some após 24 horas, compartilhou um longo vídeo no qual reclama da pressão que sofreu, chama o texto de "proposta populista" e fala sobre possíveis aumentos na inflação, mas também se refere ao debate como "complexo". Já Seif partiu para o ataque direto. No X, responsabilizou "gênios esquerdistas" pela proposta e disparou: "Não quer trabalhar? Fica em casa e se inscreve no Bolsa Família". O próprio Bolsonaro ou seus filhos também parlamentares, no entanto, mantiveram silêncio sobre o assunto até o fim da noite desta segunda-feira. Mesmo entre a direita, porém, o posicionamento não é unânime. O senador Cleitinho (PL-MG), eleito em 2022 com forte apoio de Bolsonaro, publicou um vídeo afirmando que políticos trabalham em escala 4x3 e que descansam quase o dobro do que um contratado no regime em discussão. Enquanto a direita ainda modula o discurso, parlamentares de esquerda que ainda não assinaram a PEC também são pressionados. Um dos principais alvos desse movimento era Tabata Amaral (PSB-SP), que, no fim da noite, anunciou que aderiu a proposta. "Antes de assinar ou apresentar qualquer projeto, analiso com minha equipe os seus impactos econômicos e sociais. É a minha forma de trabalhar e não foi diferente com a PEC contra a escala 6x1", justificou. O também deputado federal Amom Mandel (Cidadania - AM), que chegou a adiantar que não apoiaria a proposta, explicou seu posicionamento após críticas e garantiu que está aberto ao diálogo e a escutar argumentos dos apoiadores do projeto. "Já existe uma PEC sobre redução da jornada de trabalho na câmara desde 2019, a PEC 221/2019. Ela já passou por toda essa história da coleta de assinaturas e foi criada no mesmo período que a PEC da reforma tributária que foi aprovada ano passado. Se a preocupação de verdade fosse a redução da jornada de trabalho, faria muito mais sentido lutar por essa PEC que já existe ao invés de fingir que nunca ouviu falar nela e começar tudo do zero", alegou Amom. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda não opinou publicamente sobre o tema, mas Luiz Marinho, ministro do Trabalho de Emprego do petista, usou seu perfil no X para apoiar a redução da escala de trabalho. O tom do posicionamento, no entanto, desagradou até mesmo políticos de esquerda por não chancelar especificamente a PEC. "Como dito em nota, o MTE entende que a questão da escala de trabalho 6x1 deve ser tratada em convenções e acordos coletivos de trabalho. A pasta considera, contudo, que a redução da jornada para 40h semanais é plenamente possível e saudável, quando resulte de decisão coletiva", escreveu Luiz Marinho. Autora da PEC ganha seguidores Um levantamento da consultoria Bites identificou que, ainda que sem tanta tração nas redes até o momento, o tema tem recebido mais comentários favoráveis ao projeto que quer abolir o modelo de contratação de seis dias consecutivos de trabalho do que contra. De acordo com os dados, 32 % das postagens apoiam a medida, enquanto 16% a criticam. O restante das publicações tem tom neutro. À frente do debate após apresentar a PEC, a deputada federal Erika Hilton já ganhou quase 24 mil seguidores nos últimos sete dias. Só um de seus posts sobre o tema, publicado na semana passada, obteve 404 mil interações. Ela, assim como o vereador eleito no Rio Rick Azevedo (PSOL), que ganhou a eleição tendo a redução da jornada de trabalho como sua principal bandeira, tem incentivado pela internet usuários a cobrarem apoio de parlamentares que não assinaram a proposta. Até as 22h desta segunda-feira, a PEC já contava com 134 assinaturas de deputados, muitas delas motivadas pela pressão popular nas redes sociais. Para tramitar na Casa Legislativa, é preciso que um terço dos parlamentares — ou seja, 171 — estejam de acordo com o texto.

Nov 12, 2024 - 04:30
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Deputados pressionados, mobilização à esquerda, reação bolsonarista: a repercussão digital do debate sobre a escala 6x1

'Não quer trabalhar? Fica em casa e se inscreve no Bolsa Família', disparou senador alinhado ao ex-presidente em meio a articulação pelo fim do regime de trabalho A discussão em torno da escala de trabalho 6x1 vem dividindo políticos nas redes sociais. Enquanto cresce a adesão de parlamentares de esquerda à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da deputada federal Erika Hilton (PSOL-RJ) que propõe o fim deste modelo de trabalho, nomes da direita, em sua maioria, optaram, ao longo da segunda-feira em que o assunto ganhou tração, por manifestações discretas contrárias à medida ou por simplesmente ignorar o tema. 'Vai trabalhar de CLT': Vereador eleito no Rio que defende fim da escala 6x1 rebate Léo Picon 'Não quer trabalhar? Fica em casa e se inscreve no Bolsa Família': Senador bolsonarista ataca projeto contra jornada 6x1 O cenário, no entanto, começou a mudar no fim da noite. Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), como o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) e o senador Jorge Seif (PL-SC), passaram a se posicionar mais abertamente. Nikolas, que até então só havia feito uma postagem nos stories do Instagram, que some após 24 horas, compartilhou um longo vídeo no qual reclama da pressão que sofreu, chama o texto de "proposta populista" e fala sobre possíveis aumentos na inflação, mas também se refere ao debate como "complexo". Já Seif partiu para o ataque direto. No X, responsabilizou "gênios esquerdistas" pela proposta e disparou: "Não quer trabalhar? Fica em casa e se inscreve no Bolsa Família". O próprio Bolsonaro ou seus filhos também parlamentares, no entanto, mantiveram silêncio sobre o assunto até o fim da noite desta segunda-feira. Mesmo entre a direita, porém, o posicionamento não é unânime. O senador Cleitinho (PL-MG), eleito em 2022 com forte apoio de Bolsonaro, publicou um vídeo afirmando que políticos trabalham em escala 4x3 e que descansam quase o dobro do que um contratado no regime em discussão. Enquanto a direita ainda modula o discurso, parlamentares de esquerda que ainda não assinaram a PEC também são pressionados. Um dos principais alvos desse movimento era Tabata Amaral (PSB-SP), que, no fim da noite, anunciou que aderiu a proposta. "Antes de assinar ou apresentar qualquer projeto, analiso com minha equipe os seus impactos econômicos e sociais. É a minha forma de trabalhar e não foi diferente com a PEC contra a escala 6x1", justificou. O também deputado federal Amom Mandel (Cidadania - AM), que chegou a adiantar que não apoiaria a proposta, explicou seu posicionamento após críticas e garantiu que está aberto ao diálogo e a escutar argumentos dos apoiadores do projeto. "Já existe uma PEC sobre redução da jornada de trabalho na câmara desde 2019, a PEC 221/2019. Ela já passou por toda essa história da coleta de assinaturas e foi criada no mesmo período que a PEC da reforma tributária que foi aprovada ano passado. Se a preocupação de verdade fosse a redução da jornada de trabalho, faria muito mais sentido lutar por essa PEC que já existe ao invés de fingir que nunca ouviu falar nela e começar tudo do zero", alegou Amom. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda não opinou publicamente sobre o tema, mas Luiz Marinho, ministro do Trabalho de Emprego do petista, usou seu perfil no X para apoiar a redução da escala de trabalho. O tom do posicionamento, no entanto, desagradou até mesmo políticos de esquerda por não chancelar especificamente a PEC. "Como dito em nota, o MTE entende que a questão da escala de trabalho 6x1 deve ser tratada em convenções e acordos coletivos de trabalho. A pasta considera, contudo, que a redução da jornada para 40h semanais é plenamente possível e saudável, quando resulte de decisão coletiva", escreveu Luiz Marinho. Autora da PEC ganha seguidores Um levantamento da consultoria Bites identificou que, ainda que sem tanta tração nas redes até o momento, o tema tem recebido mais comentários favoráveis ao projeto que quer abolir o modelo de contratação de seis dias consecutivos de trabalho do que contra. De acordo com os dados, 32 % das postagens apoiam a medida, enquanto 16% a criticam. O restante das publicações tem tom neutro. À frente do debate após apresentar a PEC, a deputada federal Erika Hilton já ganhou quase 24 mil seguidores nos últimos sete dias. Só um de seus posts sobre o tema, publicado na semana passada, obteve 404 mil interações. Ela, assim como o vereador eleito no Rio Rick Azevedo (PSOL), que ganhou a eleição tendo a redução da jornada de trabalho como sua principal bandeira, tem incentivado pela internet usuários a cobrarem apoio de parlamentares que não assinaram a proposta. Até as 22h desta segunda-feira, a PEC já contava com 134 assinaturas de deputados, muitas delas motivadas pela pressão popular nas redes sociais. Para tramitar na Casa Legislativa, é preciso que um terço dos parlamentares — ou seja, 171 — estejam de acordo com o texto.

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