Venezuela liberta ao menos 70 detidos durante protestos após resultado das eleições

Militante do partido opositor Vem Venezuela morreu sob custódia das autoridades após ter a ajuda médica negada Ao menos 70 pessoas detidas nos protestos que eclodiram após as eleições na Venezuela foram libertadas neste sábado, depois que o Ministério Público do país anunciou a revisão de 225 casos, informou à AFP a ONG Foro Penal, que espera mais libertações. Na última quinta-feira, um opositor que estava preso desde 29 de julho, um dia após a eleição, morreu sob custódia das autoridades. O ativista Jesús Martínez Medina, de 36 anos, fazia parte do partido Vem Venezuela, da líder da oposição María Corina Machado. “Até agora, pelo menos 70 presos políticos foram libertados”, disse o diretor da ONG Foro Penal, Alfredo Romero, nas redes sociais. G20 Social: Declaração final do G20 Social defende taxação dos super-ricos e condena desinformação da extrema direita Eleição de Trump: republicano quebra tradição e ignora verificação de antecedentes criminais ao montar Gabinete As libertações estão ocorrendo em quatro prisões no centro do país: Las Crisálidas e Yare III (estado de Miranda), em Tocorón (Aragua) e Tocuyito (Carabobo), acrecentou Romero. Cerca de 50 “jovens adultos” detidos em Tocorón receberam medidas cautelares, dez foram libertados em Yare III e o restante entre Las Crisálidas e Tocuyito, afirmou. Não há informações oficiais sobre as libertações. Mais de 2.400 pessoas foram detidas após os protestos que eclodiram poucas horas depois da proclamação da vitória de Nicolás Maduro, em 28 de julho, com denúncias de fraude por parte da oposição, segundo dados do próprio MP, incluindo 164 adolescentes, dos quais 69 ainda permanecem presos. Milei no G20: Brasil teme que presidente argentino vire dor de cabeça na cúpula do G20 e, depois de encontro com Trump, faça acenos a Bolsonaro O MP anunciou na sexta-feira a revisão de 225 casos de detidos, atendendo a um pedido do próprio Maduro, que pediu para "retificar" caso tenha acontecido algum "erro processual". — Aquele que tenha sido responsável pelas ações criminosas, sujeito a uma vinculação como participante direto das mesmas, será punido, será sancionado; quem não tiver responsabilidade, no contexto de uma investigação, será submetido a uma revisão da medida — prometeu Saab, depois de se reunir com vários parentes dos detidos que, na semana passada, pediram sua libertação antes do Natal. Familiares à espera Centenas de familiares protestaram pedindo a libertação de seus entes queridos detidos, que asseguram que não estavam participando das manifestações no momento em que foram presos. Ativistas dos direitos humanos denunciaram torturas, negação de atendimento médico e alimentação "insuficiente" para os presos. Os parentes estavam esperando do lado de fora das prisões desde as primeiras horas da manhã deste sábado, depois que rumores de libertações circularam nas redes sociais. — Viemos hoje porque ouvimos falar nas redes sociais — disse à AFP Alexandra Hurtado, de 47 anos, enquanto esperava com cerca de 50 outras pessoas do lado de fora de Yare III, vestindo uma camiseta com a foto de seu filho Oscar Escalona, 23, e a mensagem: "Ele não é um terrorista, ele é inocente". Michell Hurtado, tia do jovem, descreveu a situação como "uma gangorra de emoções. — É como estar na maternidade esperando para dar à luz — afirmou, ao que Alexandra respondeu: — Estamos fazendo força. Em Las Crisálidas, outro grupo também estava esperando a libertação das mulheres detidas. — Esses quatro meses têm sido horríveis, vendo minha filha chorando pelos cantos (...) eu dizia a ela que a mamãe estava chegando — disse à AFP Junior, um cozinheiro de 34 anos que não revelou seu sobrenome, esperando para saber se sua esposa seria libertada. Segundo o Foro Penal, que denunciou uma "crise repressiva", havia "1.976 presos políticos" até quinta-feira na Venezuela. Este é o "número mais elevado de presos políticos do século XXI, e o maior número de presos políticos em todo o continente americano", apontou a ONG. Policiais atiram bombas de gás lacrimogêneo em protesto anti-governo na Venezuela Yuri CORTEZ / AFP Ativista morto sob custódia A oposição, liderada por María Corina Machado, denunciou que os detidos estão em condições "desumanas" e que lhes foi negado atendimento médico. O militante opositor Jesús Martínez Medina, que morreu na quinta-feira, tinha um problema cardíaco associado a complicações por diabetes. Entretanto, segundo organizações de direitos humanos, teve o atendimento médico negado, apesar da pressão popular nas redes sociais. Na sexta-feira passada, o ex-promotor venezuelano Zair Mundaray denunciou que Medina teve o atendimento médico negado pelo regime de Maduro, o que o levou a desenvolver abscessos em uma de suas pernas. 'Consenso no G20 criaria tabuleiro diferente para futuro com Trump', diz Tatiana Rosito, coordenadora da trilha de finanças Ele foi então enviado ao hospital Luis Razzetti, em Aragua de Barcelona, mas não teve permissão das autoridades penitenciárias para se submeter a um exame de ultrassom. Com a piora do seu estado de saúde, o ativista acabou morrendo. "Repudiamos a falta do atendimento médico oportuno que Jesús Martínez Medina sofreu durante sua detenção. Ele sofria de diabetes tipo II, que causou abscessos na pele e deficiências cardíacas, condições que foram agravadas durante sua prisão. A falta de atendimento médico adequado é uma violação flagrante dos direitos humanos à saúde e à vida, e um ato de crueldade", afirmou em nota a organização de direitos humanos Justiça, Encontro e Perdão.