Brutal e engraçada, Kelly Reilly volta para a quinta (e última?) temporada de 'Yellowstone': 'Tive que dar tudo de mim'
Atriz britânica se mostra muito mais suave que sua heroína, Beth Dutton, no seriado que volta ao ar a partir do dia 10 Se Beth Dutton fosse amiga de Kelly Reilly, esta incentivaria Beth a parar de fumar, a beber menos e a tentar fazer terapia. — Eu diria: “Dê a si mesmo uma vida mais fácil” — disse Reilly. Mas Beth Dutton não é amiga de ninguém. Ela é a heroína brutal e ferozmente engraçada de “Yellowstone”, da Paramount+. Reilly, de 47 anos, a interpreta desde o início da série, em 2018. (No Brasil, a segunda metade da quinta e provável última temporada chega à Paramount+ a partir do dia 10.) Serão os primeiros episódios da série sem o astro Kevin Costner, que deixou “Yellowstone”. Até agora, Beth enfrentou tentativa de estupro e de assassinato, facadas e traição. Reilly a interpretou com uma espécie de ferocidade animal permeada por uma ternura inesperada. Sua atuação é rara e parece autenticamente perigosa — para a atriz, para a personagem, para quem assiste. O fato de o Emmy não ter reconhecido Reilly sugere que há algo um pouco errado com o Emmy. Mas Beth continua sendo a favorita entre os fãs do programa. Há tiktoks das reviravoltas mais cruéis de Beth, e canecas e camisetas com slogans como “Você é o parque de trailers, e eu sou o tornado”. Reilly não é nenhuma Beth Dutton. É inglesa e ruiva, mais suave, atenciosa e profundamente empática de uma forma que Beth consideraria embaraçosa. Quando a conheci, em meados de setembro, Reilly usava peças largas de seda, e não um terno de negócios, e pediu chá para nós, em vez do bourbon preferido de Beth. Em contraste com Beth, Reilly parece o tipo de mulher que aceita bem a introspecção. Beth é tão grande e inflexível como qualquer uma das montanhas de “Yellowstone”. Ela é Medeia, Antígona, Lady Macbeth de sutiã push-up e chapéu Stetson. E Reilly a ama. — Prefiro estar do lado dela — disse Reilly. — Prefiro tê-la na minha frente a ter alguém que está meditando. Implacável Reilly cresceu em um subúrbio de Londres. Seu pai era policial e sua mãe trabalhava meio período. Uma carreira como atriz era pura fantasia. Quando criança, dizia às pessoas que era isso que queria ser. Quando adolescente, via todas as peças que podia. Não achava que poderia pagar a escola de teatro, mas queria tentar. Em um teste, aos 16 anos, um diretor de elenco a contratou para a série “Prime suspect”. Mais papéis se seguiram. Ela não tinha técnica, nem treinamento, apenas instinto e acesso notável às emoções. — Eu tive que dar tudo de mim — contou ela. Por volta dos 20 anos, no palco, Reilly já era uma protagonista. Sua especialidade, ao que parecia, era a dor, mulheres in extremis. (Essa provavelmente ainda é sua especialidade.) O diretor James Macdonald trabalhou com ela no início de sua carreira, em 2001, em “Blasted”, de Sarah Kane. Ficou impressionado com a capacidade de Reilly de se entregar totalmente a um personagem: — Ela foi implacável. Michael Grandage a conheceu alguns anos depois em “After Miss Julie”: — Foi devastador. Não existia técnica propriamente dita, mas como não existia técnica, não havia como ela se esconder. Estava plena em todas as apresentações — lembrou. Grandage trabalhou com ela novamente, quatro anos depois, em “Othello”, em que Reilly interpretou a condenada Desdêmona. Ela tinha 30 anos e estava cansada de heroínas trágicas. Ela nunca soube como se separar de seus personagens, e morrer no palco todas as noites começou a parecer prejudicial. Então optou por um trabalho mais suave nas telas, aparecendo nos filmes de “Sherlock Holmes” como a esposa do Dr. Watson. Ela fez seu primeiro trabalho na América nessa época, aparecendo em “Flight” (2011), de Robert Zemeckis. Reilly teve que fazer um teste para interpretar Beth. E mesmo tendo desistido de heroínas trágicas, ela queria muito interpretar Beth. Ficara deslumbrada com seu poder, sua irreverência, suas feridas, e sabia que o papel seria um desafio. Profissão de finanças, Beth protege com todas as garras seu pai (Costner) e é capaz de surpreendente violência quando sua família é ameaçada. Outra atriz poderia ter se inclinado à dureza, mas Reilly permite complicações maiores. Ela se identifica com os versos que Beth cita na quarta temporada, da naturalista Gretel Ehrlich: “Ser duro é ser frágil, ser terno é ser verdadeiramente feroz.” Reilly desempenha o papel com uma feminilidade ousada. Como Beth, sua voz é baixa e suave, seu apelo sexual é pronunciado. — Sua feminilidade deve ser celebrada — disse Reilly. — Pode intimidar, seduzir e aterrorizar. E se ela não foge da raiva de Beth, entende que essa raiva nasce da perda. E isso não é fácil de interpretar. Reilly contou se preparar durante meses para uma cena climática: — Não quero que fique fora de controle. Se enfatizar a violência de Beth se tornou menos trabalhoso ao longo dos anos, esse ainda não é um processo confortável. Muitas das cenas mais extremas de Reilly são com Wes Bentley, que interpreta o irmão adotivo de Beth, Jamie, como em uma discussã
Atriz britânica se mostra muito mais suave que sua heroína, Beth Dutton, no seriado que volta ao ar a partir do dia 10 Se Beth Dutton fosse amiga de Kelly Reilly, esta incentivaria Beth a parar de fumar, a beber menos e a tentar fazer terapia. — Eu diria: “Dê a si mesmo uma vida mais fácil” — disse Reilly. Mas Beth Dutton não é amiga de ninguém. Ela é a heroína brutal e ferozmente engraçada de “Yellowstone”, da Paramount+. Reilly, de 47 anos, a interpreta desde o início da série, em 2018. (No Brasil, a segunda metade da quinta e provável última temporada chega à Paramount+ a partir do dia 10.) Serão os primeiros episódios da série sem o astro Kevin Costner, que deixou “Yellowstone”. Até agora, Beth enfrentou tentativa de estupro e de assassinato, facadas e traição. Reilly a interpretou com uma espécie de ferocidade animal permeada por uma ternura inesperada. Sua atuação é rara e parece autenticamente perigosa — para a atriz, para a personagem, para quem assiste. O fato de o Emmy não ter reconhecido Reilly sugere que há algo um pouco errado com o Emmy. Mas Beth continua sendo a favorita entre os fãs do programa. Há tiktoks das reviravoltas mais cruéis de Beth, e canecas e camisetas com slogans como “Você é o parque de trailers, e eu sou o tornado”. Reilly não é nenhuma Beth Dutton. É inglesa e ruiva, mais suave, atenciosa e profundamente empática de uma forma que Beth consideraria embaraçosa. Quando a conheci, em meados de setembro, Reilly usava peças largas de seda, e não um terno de negócios, e pediu chá para nós, em vez do bourbon preferido de Beth. Em contraste com Beth, Reilly parece o tipo de mulher que aceita bem a introspecção. Beth é tão grande e inflexível como qualquer uma das montanhas de “Yellowstone”. Ela é Medeia, Antígona, Lady Macbeth de sutiã push-up e chapéu Stetson. E Reilly a ama. — Prefiro estar do lado dela — disse Reilly. — Prefiro tê-la na minha frente a ter alguém que está meditando. Implacável Reilly cresceu em um subúrbio de Londres. Seu pai era policial e sua mãe trabalhava meio período. Uma carreira como atriz era pura fantasia. Quando criança, dizia às pessoas que era isso que queria ser. Quando adolescente, via todas as peças que podia. Não achava que poderia pagar a escola de teatro, mas queria tentar. Em um teste, aos 16 anos, um diretor de elenco a contratou para a série “Prime suspect”. Mais papéis se seguiram. Ela não tinha técnica, nem treinamento, apenas instinto e acesso notável às emoções. — Eu tive que dar tudo de mim — contou ela. Por volta dos 20 anos, no palco, Reilly já era uma protagonista. Sua especialidade, ao que parecia, era a dor, mulheres in extremis. (Essa provavelmente ainda é sua especialidade.) O diretor James Macdonald trabalhou com ela no início de sua carreira, em 2001, em “Blasted”, de Sarah Kane. Ficou impressionado com a capacidade de Reilly de se entregar totalmente a um personagem: — Ela foi implacável. Michael Grandage a conheceu alguns anos depois em “After Miss Julie”: — Foi devastador. Não existia técnica propriamente dita, mas como não existia técnica, não havia como ela se esconder. Estava plena em todas as apresentações — lembrou. Grandage trabalhou com ela novamente, quatro anos depois, em “Othello”, em que Reilly interpretou a condenada Desdêmona. Ela tinha 30 anos e estava cansada de heroínas trágicas. Ela nunca soube como se separar de seus personagens, e morrer no palco todas as noites começou a parecer prejudicial. Então optou por um trabalho mais suave nas telas, aparecendo nos filmes de “Sherlock Holmes” como a esposa do Dr. Watson. Ela fez seu primeiro trabalho na América nessa época, aparecendo em “Flight” (2011), de Robert Zemeckis. Reilly teve que fazer um teste para interpretar Beth. E mesmo tendo desistido de heroínas trágicas, ela queria muito interpretar Beth. Ficara deslumbrada com seu poder, sua irreverência, suas feridas, e sabia que o papel seria um desafio. Profissão de finanças, Beth protege com todas as garras seu pai (Costner) e é capaz de surpreendente violência quando sua família é ameaçada. Outra atriz poderia ter se inclinado à dureza, mas Reilly permite complicações maiores. Ela se identifica com os versos que Beth cita na quarta temporada, da naturalista Gretel Ehrlich: “Ser duro é ser frágil, ser terno é ser verdadeiramente feroz.” Reilly desempenha o papel com uma feminilidade ousada. Como Beth, sua voz é baixa e suave, seu apelo sexual é pronunciado. — Sua feminilidade deve ser celebrada — disse Reilly. — Pode intimidar, seduzir e aterrorizar. E se ela não foge da raiva de Beth, entende que essa raiva nasce da perda. E isso não é fácil de interpretar. Reilly contou se preparar durante meses para uma cena climática: — Não quero que fique fora de controle. Se enfatizar a violência de Beth se tornou menos trabalhoso ao longo dos anos, esse ainda não é um processo confortável. Muitas das cenas mais extremas de Reilly são com Wes Bentley, que interpreta o irmão adotivo de Beth, Jamie, como em uma discussão em que ela joga uma ratoeira nele e o ameaça de assassinato. — É uma luta real — disse ele sobre essas cenas. Reilly também sente isso. Mas se Beth às vezes a deixa exausta, o papel também deu a Reilly uma sensação de seu próprio poder: — Beth me deu uma espinha dorsal. Mesmo assim, ela se preocupa que as pessoas fiquem decepcionadas ao conhecê-la, porque esperam Beth. Hora de partir Há rumores de mais uma possível nova temporada ou um spinoff. E embora Reilly não os aborde diretamente, ela não se importaria. — Se houver um novo começo, será um novo começo — disse ela, que pode gostar de mostrar uma Beth mais madura. — Eu estou tipo, tudo bem, vamos levantar e vestir nossas calças de menina grande. Por enquanto, depois de sete anos, ela está pronta para deixar Beth ir embora. — É uma grande energia — disse ela. — Isso não é algo em meu corpo que eu preciso. Eu a amo, mas estou muito feliz por deixá-la desaparecer.
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