África no Rio: conheça os lugares e eventos que celebram a herança negra na cidade
Desafio para a valorização desse patrimônio no país foi o tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), no último domingo Das escolas de samba aos museus, passando por marcos históricos da cidade, a herança africana fervilha nas ruas do Rio. O desafio para a valorização desse patrimônio no país foi o tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), no último domingo. Em território carioca, essas raízes estão por toda parte. Saiba mais: 'ele era violento, possessivo e ameaçador', diz padrasto que encontrou enteada morta em geladeira Entenda: Ministério da Saúde assina acordo de fusão do Gaffrée e Guinle com o Hospital dos Servidores Entre os textos motivadores para a redação estava o simbólico samba-enredo da Mangueira do carnaval de 2019, “Histórias Para Ninar Gente Grande”, em que a verde e rosa clama que se escutem “Marias, Mahins, Marielles, malês”. Logo na sequência, o exame traz a referência a mais um lugar no Rio que retrata a relação do país com a África: a Pedra do Sal, considerado um quilombo urbano que hoje atrai multidões com suas rodas de samba. Mangueira repete tema A negritude também será o enredo da Mangueira no ano que vem. A presidente da agremiação, Guanayra Firmino, escreveu: “Muita gente talvez não pense nas escolas de samba como lugares que educam, seja por desconhecimento ou preconceito. Mas elas educam e, como vimos hoje no Enem, muito para além do chão de suas próprias comunidades”. Pesquisador sobre o ensino de história e memórias da escravidão no Rio, o educador Pedro Mendes entende que “a cidade não existiria sem as Áfricas que a fizeram e a fazem até hoje”. — O Rio é uma cidade africana. Foi e é permanentemente africanizada. Isso se deu por quase três séculos de tráfico muito intenso de africanos, sobretudo de Congo, Angola, Moçambique e da região da Costa da Mina, para o Rio. As escolas de samba eram espaços de associação e “recreativismo” daqueles excluídos das benesses do desenvolvimento da cidade ao longo do século XX — contextualiza ele. Além de espaços já consolidados, a prefeitura do Rio incluiu, no ano passado, o Novembro Negro RIO no calendário oficial da cidade. A programação tem desde palestras internacionais e cursos de capacitação a rodas de samba e mostras de cinema. Para abrir as comemorações deste ano, foi anunciado o projeto vencedor do concurso para o Centro Cultural Rio-África, que será construído próximo ao Cais do Valongo. O escritório de arquitetura paulista Estúdio Módulo será responsável por instalar o projeto na Avenida Venezuela, onde funcionou a maternidade Pró-Matre. Lá será construído um prédio de três andares, com salas de exposições e debates, além de uma área de convivência. O novo centro cultural será mais uma atração da Pequena África, região que inclui os bairros da Gamboa, do Santo Cristo e da Saúde, na Zona Portuária. Esse nome foi dado pelo compositor Heitor dos Prazeres, por ser berço das tradições afro-brasileiras no Rio. São tantas referências africanas nessa parte da cidade, que uma equipe de pesquisadores do Circo Crescer e Viver desenvolveu uma plataforma digital que busca catalogar eventos e personagens marcantes. O projeto Território Inventivo Pequena África inclui uma um mapa interativo — uma espécie de “Google Maps” da Pequena África — com mais de 1.200 pontos que incluem monumentos, personagens, ruas e acontecimentos históricos. Ao abrir o mapa, é só clicar sobre um ponto específico e ter ali, em mãos, as principais informações de épocas diversas. — É como se a gente pudesse estabelecer a rua como um museu a céu aberto. O Rio é uma cidade negra e sua história não foi suficientemente apresentada. Esse projeto é uma reparação histórica e um instrumento para salvaguardar esse patrimônio. Os dispositivos tecnológicos vão ajudar a propagar os conhecimentos e a conscientizar a sociedade brasileira sobre essas heranças africanas — afirma Yago Feitosa, coordenador de Promoção da Igualdade Racial, órgão ligado à Casa Civil da prefeitura do Rio. Kits para escolas A plataforma on-line vai ser lançada e disponibilizada ao público nos próximos dias 21 e 22, durante o seminário internacional “Pequena África: Terreno Fértil da Invenção Coletiva e da Pluralidade”. O projeto também criou os “monumentos digitais” de 16 personagens da história afro-brasileira. Cerca de 300 escolas públicas e particulares da cidade vão receber kits com um QR Code que direciona para histórias imersivas dessas pessoas. — Se a gente olha para o nosso passado sangrento, doloroso, mas que também traz inúmeras chaves que nos fizeram prosperar, através das atividades comerciais dos escravizados, as tias quituteiras, as transformações que aconteceram nos territórios, a gente celebra a herança africana no ponto de resistência e prosperidade — diz Luiz Paulo de Carvalho, coordenador do projeto. Não só a tecnologia, mas saberes tradicionais também conectam raízes do passado com sementes do futuro. No Museu de Arte do Rio (MAR), a proposta é mergulhar na
Desafio para a valorização desse patrimônio no país foi o tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), no último domingo Das escolas de samba aos museus, passando por marcos históricos da cidade, a herança africana fervilha nas ruas do Rio. O desafio para a valorização desse patrimônio no país foi o tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), no último domingo. Em território carioca, essas raízes estão por toda parte. Saiba mais: 'ele era violento, possessivo e ameaçador', diz padrasto que encontrou enteada morta em geladeira Entenda: Ministério da Saúde assina acordo de fusão do Gaffrée e Guinle com o Hospital dos Servidores Entre os textos motivadores para a redação estava o simbólico samba-enredo da Mangueira do carnaval de 2019, “Histórias Para Ninar Gente Grande”, em que a verde e rosa clama que se escutem “Marias, Mahins, Marielles, malês”. Logo na sequência, o exame traz a referência a mais um lugar no Rio que retrata a relação do país com a África: a Pedra do Sal, considerado um quilombo urbano que hoje atrai multidões com suas rodas de samba. Mangueira repete tema A negritude também será o enredo da Mangueira no ano que vem. A presidente da agremiação, Guanayra Firmino, escreveu: “Muita gente talvez não pense nas escolas de samba como lugares que educam, seja por desconhecimento ou preconceito. Mas elas educam e, como vimos hoje no Enem, muito para além do chão de suas próprias comunidades”. Pesquisador sobre o ensino de história e memórias da escravidão no Rio, o educador Pedro Mendes entende que “a cidade não existiria sem as Áfricas que a fizeram e a fazem até hoje”. — O Rio é uma cidade africana. Foi e é permanentemente africanizada. Isso se deu por quase três séculos de tráfico muito intenso de africanos, sobretudo de Congo, Angola, Moçambique e da região da Costa da Mina, para o Rio. As escolas de samba eram espaços de associação e “recreativismo” daqueles excluídos das benesses do desenvolvimento da cidade ao longo do século XX — contextualiza ele. Além de espaços já consolidados, a prefeitura do Rio incluiu, no ano passado, o Novembro Negro RIO no calendário oficial da cidade. A programação tem desde palestras internacionais e cursos de capacitação a rodas de samba e mostras de cinema. Para abrir as comemorações deste ano, foi anunciado o projeto vencedor do concurso para o Centro Cultural Rio-África, que será construído próximo ao Cais do Valongo. O escritório de arquitetura paulista Estúdio Módulo será responsável por instalar o projeto na Avenida Venezuela, onde funcionou a maternidade Pró-Matre. Lá será construído um prédio de três andares, com salas de exposições e debates, além de uma área de convivência. O novo centro cultural será mais uma atração da Pequena África, região que inclui os bairros da Gamboa, do Santo Cristo e da Saúde, na Zona Portuária. Esse nome foi dado pelo compositor Heitor dos Prazeres, por ser berço das tradições afro-brasileiras no Rio. São tantas referências africanas nessa parte da cidade, que uma equipe de pesquisadores do Circo Crescer e Viver desenvolveu uma plataforma digital que busca catalogar eventos e personagens marcantes. O projeto Território Inventivo Pequena África inclui uma um mapa interativo — uma espécie de “Google Maps” da Pequena África — com mais de 1.200 pontos que incluem monumentos, personagens, ruas e acontecimentos históricos. Ao abrir o mapa, é só clicar sobre um ponto específico e ter ali, em mãos, as principais informações de épocas diversas. — É como se a gente pudesse estabelecer a rua como um museu a céu aberto. O Rio é uma cidade negra e sua história não foi suficientemente apresentada. Esse projeto é uma reparação histórica e um instrumento para salvaguardar esse patrimônio. Os dispositivos tecnológicos vão ajudar a propagar os conhecimentos e a conscientizar a sociedade brasileira sobre essas heranças africanas — afirma Yago Feitosa, coordenador de Promoção da Igualdade Racial, órgão ligado à Casa Civil da prefeitura do Rio. Kits para escolas A plataforma on-line vai ser lançada e disponibilizada ao público nos próximos dias 21 e 22, durante o seminário internacional “Pequena África: Terreno Fértil da Invenção Coletiva e da Pluralidade”. O projeto também criou os “monumentos digitais” de 16 personagens da história afro-brasileira. Cerca de 300 escolas públicas e particulares da cidade vão receber kits com um QR Code que direciona para histórias imersivas dessas pessoas. — Se a gente olha para o nosso passado sangrento, doloroso, mas que também traz inúmeras chaves que nos fizeram prosperar, através das atividades comerciais dos escravizados, as tias quituteiras, as transformações que aconteceram nos territórios, a gente celebra a herança africana no ponto de resistência e prosperidade — diz Luiz Paulo de Carvalho, coordenador do projeto. Não só a tecnologia, mas saberes tradicionais também conectam raízes do passado com sementes do futuro. No Museu de Arte do Rio (MAR), a proposta é mergulhar na ancestralidade dos terreiros, das expressões populares e da cultura da periferia, resgatando a tradição da oralidade: a Feira Literária de Cultura Oral (Flico), que acontece nos dias 9 e 10, relembra a importância da língua falada na transmissão da herança afro-brasileira. — A feira reconhece a importância das tradições populares como saberes fundamentais de transformação social — avalia o idealizador Luis Fernando Bruno. *Estagiária sob supervisão de Leila Youssef.
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