Análise falso laudo: Entre o factoide e a ideia de jerico
Estratégia de Marçal de ligar Boulos ao consumo de drogas é rapidamente desmontada e candidato do PRTB agora faz as contas para avaliar se resultado foi positivo ou se o tiro saiu pela culatra À primeira vista, não é difícil entender a estratégia de Pablo Marçal ao divulgar um laudo médico falsificado indicando que o rival Guilherme Boulos teria passado por um surto por conta do consumo de cocaína. O objetivo, claro, era viralizar e assassinar a reputação do adversário na véspera da eleição. Simples assim. No entanto, quando paramos para pensar um pouco, a execução não poderia ter sido mais tosca. Se era para entregar mais um factoide, ainda mais um que vinha sendo amplamente anunciado desde o início da campanha, por que motivo abusar de uma série de informações inverídicas de checagem relativamente fácil, como o nome de um médico morto e respectiva assinatura falsificada, RG do paciente com número errado e data de ocorrência que poderia ser facilmente contestada com álibis disponíveis na rede e testemunhas de carne e osso? Mais: por que recorrer a um amigo e vizinho camarada que se apresenta como médico, mas que na verdade trata-se de um biomédico de currículo suspeito e condenado na Justiça em Porto Alegre pela tentativa de uso de um diploma de graduação em Medicina e uma ata de colação de grau falsos para obtenção do registro profissional de médico? Difícil acreditar que Marçal, que não se cansa de vangloriar a respeito de seu próprio brilhantismo, não tivesse notado a fragilidade de toda essa narrativa. Será que não previu as consequências imediatas para além dos 370 mil likes conquistados antes que seu post fosse derrubado? O alcance total terá valido a pena, uma vez que o risco de receber a visita da Polícia Federal ou da Justiça Eleitoral fosse efetivamente real, com potencial para impugnação da sua candidatura, mesmo que avance para o segundo turno? Pelo jeito, sim. Na ponta do seu lápis, a menos que estejamos diante de uma estratégia ainda oculta, nada importa mais ao candidato do PRTB neste momento do que a repercussão maciça em todos os meios. E esse objetivo foi, ao menos em parte, alcançado com a expansão de sua versão dos fatos pelo universo ainda sem lei da internet, mesmo com a remoção do conteúdo das suas redes sociais determinada pela Justiça Eleitoral. O risco para Marçal, no entanto, é que, como como aconteceu no episódio da ambulância pós-cadeirada, tenha exagerado na dose. Naquela ocasião, pegou mal a encenação do atendimento médico e sua consequente vitimização. O próprio candidato acabou entregando a farsa num jantar com seus apoiadores e a trama toda não foi lá muito bem digerida nas suas redes sociais. Os primeiros sinais de que a coisa pode estar indo pelo mesmo caminho é o fato de a movimentação nos grupos marçalistas em relação ao falso laudo ter minguado na tarde de sábado (5). Ao longo do dia, as postagens foram diminuindo e a agitação foi cedendo lugar a uma certa dúvida a respeito da eficácia do estratagema. Diante das possíveis consequências que se apresentam em um horizonte nem tão distante assim, a ficha parece ter começado a cair. No cálculo final, a pergunta que fica é se o risco entregaria algum lucro efetivo no fim do dia ou se tudo não passou de uma ideia de jerico. Em uma pausa em seu momento Forrest Gump protagonizado nas ruas de São Paulo, o próprio Marçal demonstrava estar mais preocupado em fugir do prejuízo e se eximir de qualquer responsabilidade pelo conteúdo do falso laudo. Num rompante de gentileza, jogou a bomba no colo de seu advogado. E saiu correndo.
Estratégia de Marçal de ligar Boulos ao consumo de drogas é rapidamente desmontada e candidato do PRTB agora faz as contas para avaliar se resultado foi positivo ou se o tiro saiu pela culatra À primeira vista, não é difícil entender a estratégia de Pablo Marçal ao divulgar um laudo médico falsificado indicando que o rival Guilherme Boulos teria passado por um surto por conta do consumo de cocaína. O objetivo, claro, era viralizar e assassinar a reputação do adversário na véspera da eleição. Simples assim. No entanto, quando paramos para pensar um pouco, a execução não poderia ter sido mais tosca. Se era para entregar mais um factoide, ainda mais um que vinha sendo amplamente anunciado desde o início da campanha, por que motivo abusar de uma série de informações inverídicas de checagem relativamente fácil, como o nome de um médico morto e respectiva assinatura falsificada, RG do paciente com número errado e data de ocorrência que poderia ser facilmente contestada com álibis disponíveis na rede e testemunhas de carne e osso? Mais: por que recorrer a um amigo e vizinho camarada que se apresenta como médico, mas que na verdade trata-se de um biomédico de currículo suspeito e condenado na Justiça em Porto Alegre pela tentativa de uso de um diploma de graduação em Medicina e uma ata de colação de grau falsos para obtenção do registro profissional de médico? Difícil acreditar que Marçal, que não se cansa de vangloriar a respeito de seu próprio brilhantismo, não tivesse notado a fragilidade de toda essa narrativa. Será que não previu as consequências imediatas para além dos 370 mil likes conquistados antes que seu post fosse derrubado? O alcance total terá valido a pena, uma vez que o risco de receber a visita da Polícia Federal ou da Justiça Eleitoral fosse efetivamente real, com potencial para impugnação da sua candidatura, mesmo que avance para o segundo turno? Pelo jeito, sim. Na ponta do seu lápis, a menos que estejamos diante de uma estratégia ainda oculta, nada importa mais ao candidato do PRTB neste momento do que a repercussão maciça em todos os meios. E esse objetivo foi, ao menos em parte, alcançado com a expansão de sua versão dos fatos pelo universo ainda sem lei da internet, mesmo com a remoção do conteúdo das suas redes sociais determinada pela Justiça Eleitoral. O risco para Marçal, no entanto, é que, como como aconteceu no episódio da ambulância pós-cadeirada, tenha exagerado na dose. Naquela ocasião, pegou mal a encenação do atendimento médico e sua consequente vitimização. O próprio candidato acabou entregando a farsa num jantar com seus apoiadores e a trama toda não foi lá muito bem digerida nas suas redes sociais. Os primeiros sinais de que a coisa pode estar indo pelo mesmo caminho é o fato de a movimentação nos grupos marçalistas em relação ao falso laudo ter minguado na tarde de sábado (5). Ao longo do dia, as postagens foram diminuindo e a agitação foi cedendo lugar a uma certa dúvida a respeito da eficácia do estratagema. Diante das possíveis consequências que se apresentam em um horizonte nem tão distante assim, a ficha parece ter começado a cair. No cálculo final, a pergunta que fica é se o risco entregaria algum lucro efetivo no fim do dia ou se tudo não passou de uma ideia de jerico. Em uma pausa em seu momento Forrest Gump protagonizado nas ruas de São Paulo, o próprio Marçal demonstrava estar mais preocupado em fugir do prejuízo e se eximir de qualquer responsabilidade pelo conteúdo do falso laudo. Num rompante de gentileza, jogou a bomba no colo de seu advogado. E saiu correndo.
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