Negros ganham 40% menos do que brancos no mercado formal e no empreendedorismo
Mulheres negras recebem 63% a menos que mulheres brancas. Mesmo desempenhando as mesmas funções, negros recebem, em média, 20% a menos Apesar de avanços educacionais registrados nos últimos anos, a desigualdade de renda entre negros e brancos continua marcante no Brasil, tanto no mercado formal quanto no empreendedorismo. Dados do Sebrae e da startup Diversitera, divulgados com exclusidade para o blog, revelam que, a renda dessa população segue significativamente inferior à de pessoas brancas. No mercado formal, um levantamento realizado pela Diversitera, startup especializada em pesquisas de DEI nas organizações da SX Groupcom base em dados de 49 mil trabalhadores de empresas de médio e grande porte entre julho de 2022 e junho de 2024, aponta que a renda média de pessoas negras (pretas e pardas) é 43% menor que a de pessoas brancas. A desigualdade se agrava com o recorte de gênero: homens negros ganham, em média, 50% a menos que homens brancos, e mulheres negras recebem 63% a menos que mulheres brancas. Mesmo desempenhando as mesmas funções, negros recebem, em média, 20% a menos, índice que sobe para 25% entre os autodeclarados pretos. Para Tamiris Hilário, especialista em questões étnico-raciais da Diversitera, observar a renda e a remuneração é uma forma essencial de entender o racismo estrutural e sua operação no Brasil. - Não se trata apenas de episódios individuais e cotidianos de preconceito, injúria ou discriminação, mas de questões que impactaram e ainda impactam gerações de determinados grupos étnico-raciais. Nesse sentido, dinheiro é parte fundamental do debate, pois é preciso lembrar sempre que o colonialismo e o escravismo se sustentaram a partir da exploração econômica dos recursos do nosso país por meio de pessoas negras e indígenas, em uma lógica em que um grupo hegemônico acumulou riquezas em detrimento dessas existências. Um funcionário de uma financeira, que prefere não se identificar, percebe esta diferença. Há anos na mesma empresa, ele percebe que ganha menos do que seus colegas com a mesma função. A diferença é a cor da pele. - Sou o único negro na equipe e percebo esta diferenciação entre os funcionários. No empreendedorismo, embora o número de empreendedores negros tenha crescido 22% na última década — um aumento superior ao de empreendedores brancos (18%) —, a diferença da renda de empreendedores negros e brancos é de 46,5%, de acordo com o Sebrae com dados da PNAD. A diferença da renda entre um empreendedor branco, do sexo masculino, e uma empreendedora negra é de 157%. Entre 2019 e 2023, o rendimento médio real das mulheres negras cresceu 13,9%, contra 10,3% dos homens negros. Margarete Coelho, diretora de Administração e Finanças do Sebrae, aponta fatores como menor formalização de negócios (apenas 23,6% dos negros possuem CNPJ, contra 43,1% dos brancos), dificuldade de acesso ao crédito e desigualdade educacional como causas principais da disparidade. Todos estes fatores pesam, mas o racismo estrutural também dá o tom A escritora e psicanalista Janine Rodrigues fundou há quase 10 anos a Piraporiando, editora que usa a literatura infantil e outras formas de expressão artística para levar mensagens de diversidade e inclusão a crianças, educadores e empresas, sente esta discrepância na renda. - Sim... todos os dias. Se um cenário econômico afeta a todos e todas, uma coisa é certeza: ele irá afetar ainda mais a população negra. A pandemia mostrou isso de maneira muito direta. Outros elementos que não podemos esquecer é a rede de apoio. Certa vez o ator Lázaro Ramos disse: não nascer herdeiro de dinheiro e de rede de relações, irá lhe roubar um tempo precioso. A quem os empreendedores recorrem dentro de sua rede de apoio para um aporte, para investimento, para novos negócios? Em um momento de crise, com quem contar? É uma corrida desigual - relata. Cíntia Santo, coordenadora do Pedala Preta, projeto turístico em Macaé (RJ), concorda. - E essa diferença, ela não é de hoje, né? É por causa do racismo estrutural que foi incorporado no nosso país. A escravidão, ela foi abolida. mas os negros não tiveram as mesmas oportunidades que os brancos. Pelo contrário, eles foram libertos, mas eles continuaram à margem da sociedade. E o mercado de trabalho sempre foi dividido por raças. Os negros, os mestiços, os pardos, eles sempre tiveram atribuições de ocupações inferiores, precarizadas. Então, é muito difícil quebrar essa barreira. Num contexto geral, global, esse cenário vem mudando, mas muito lentamente. Ainda é necessário melhorar as políticas públicas, é necessário investimento não apenas do poder público, mas também de empresas privadas. Apesar do cenário desigual, Margarete, do Sebrae, diz que há horizontes de mudança e cita Iniciativas que focam no fortalecimento do empreendedorismo negro, como programas de crédito específicos, capacitação técnica e apoio na formalização, como passos importantes. Além disso, o aumento de programas de mentoria e aceleração de negóc
Mulheres negras recebem 63% a menos que mulheres brancas. Mesmo desempenhando as mesmas funções, negros recebem, em média, 20% a menos Apesar de avanços educacionais registrados nos últimos anos, a desigualdade de renda entre negros e brancos continua marcante no Brasil, tanto no mercado formal quanto no empreendedorismo. Dados do Sebrae e da startup Diversitera, divulgados com exclusidade para o blog, revelam que, a renda dessa população segue significativamente inferior à de pessoas brancas. No mercado formal, um levantamento realizado pela Diversitera, startup especializada em pesquisas de DEI nas organizações da SX Groupcom base em dados de 49 mil trabalhadores de empresas de médio e grande porte entre julho de 2022 e junho de 2024, aponta que a renda média de pessoas negras (pretas e pardas) é 43% menor que a de pessoas brancas. A desigualdade se agrava com o recorte de gênero: homens negros ganham, em média, 50% a menos que homens brancos, e mulheres negras recebem 63% a menos que mulheres brancas. Mesmo desempenhando as mesmas funções, negros recebem, em média, 20% a menos, índice que sobe para 25% entre os autodeclarados pretos. Para Tamiris Hilário, especialista em questões étnico-raciais da Diversitera, observar a renda e a remuneração é uma forma essencial de entender o racismo estrutural e sua operação no Brasil. - Não se trata apenas de episódios individuais e cotidianos de preconceito, injúria ou discriminação, mas de questões que impactaram e ainda impactam gerações de determinados grupos étnico-raciais. Nesse sentido, dinheiro é parte fundamental do debate, pois é preciso lembrar sempre que o colonialismo e o escravismo se sustentaram a partir da exploração econômica dos recursos do nosso país por meio de pessoas negras e indígenas, em uma lógica em que um grupo hegemônico acumulou riquezas em detrimento dessas existências. Um funcionário de uma financeira, que prefere não se identificar, percebe esta diferença. Há anos na mesma empresa, ele percebe que ganha menos do que seus colegas com a mesma função. A diferença é a cor da pele. - Sou o único negro na equipe e percebo esta diferenciação entre os funcionários. No empreendedorismo, embora o número de empreendedores negros tenha crescido 22% na última década — um aumento superior ao de empreendedores brancos (18%) —, a diferença da renda de empreendedores negros e brancos é de 46,5%, de acordo com o Sebrae com dados da PNAD. A diferença da renda entre um empreendedor branco, do sexo masculino, e uma empreendedora negra é de 157%. Entre 2019 e 2023, o rendimento médio real das mulheres negras cresceu 13,9%, contra 10,3% dos homens negros. Margarete Coelho, diretora de Administração e Finanças do Sebrae, aponta fatores como menor formalização de negócios (apenas 23,6% dos negros possuem CNPJ, contra 43,1% dos brancos), dificuldade de acesso ao crédito e desigualdade educacional como causas principais da disparidade. Todos estes fatores pesam, mas o racismo estrutural também dá o tom A escritora e psicanalista Janine Rodrigues fundou há quase 10 anos a Piraporiando, editora que usa a literatura infantil e outras formas de expressão artística para levar mensagens de diversidade e inclusão a crianças, educadores e empresas, sente esta discrepância na renda. - Sim... todos os dias. Se um cenário econômico afeta a todos e todas, uma coisa é certeza: ele irá afetar ainda mais a população negra. A pandemia mostrou isso de maneira muito direta. Outros elementos que não podemos esquecer é a rede de apoio. Certa vez o ator Lázaro Ramos disse: não nascer herdeiro de dinheiro e de rede de relações, irá lhe roubar um tempo precioso. A quem os empreendedores recorrem dentro de sua rede de apoio para um aporte, para investimento, para novos negócios? Em um momento de crise, com quem contar? É uma corrida desigual - relata. Cíntia Santo, coordenadora do Pedala Preta, projeto turístico em Macaé (RJ), concorda. - E essa diferença, ela não é de hoje, né? É por causa do racismo estrutural que foi incorporado no nosso país. A escravidão, ela foi abolida. mas os negros não tiveram as mesmas oportunidades que os brancos. Pelo contrário, eles foram libertos, mas eles continuaram à margem da sociedade. E o mercado de trabalho sempre foi dividido por raças. Os negros, os mestiços, os pardos, eles sempre tiveram atribuições de ocupações inferiores, precarizadas. Então, é muito difícil quebrar essa barreira. Num contexto geral, global, esse cenário vem mudando, mas muito lentamente. Ainda é necessário melhorar as políticas públicas, é necessário investimento não apenas do poder público, mas também de empresas privadas. Apesar do cenário desigual, Margarete, do Sebrae, diz que há horizontes de mudança e cita Iniciativas que focam no fortalecimento do empreendedorismo negro, como programas de crédito específicos, capacitação técnica e apoio na formalização, como passos importantes. Além disso, o aumento de programas de mentoria e aceleração de negócios negros pode ajudar a desenvolver habilidades de gestão e expandir o acesso a mercados mais amplos. Cíntia Santo, Guia de Turismo, coordenadora do Pedala Preta divulgação Por isso, apesar das dificuldades, Janine e Cintia não desistem. A dona da Piraporiando lançoum mais de oito livros, atingiu mais de 3 mil escolas participantes do nosso programa e grandes empresas como o Banco do Brasil, onde implementou o programa de mentoria para líderes negros. Para o futuro, as metas são audaciosas. - O racismo é um crime que deu certo para os privilegiados. Então, é fundamental, creio eu, que nós empreendedores negros sigamos com foco, conhecimento continuamente atualizado e firme na causa. Para o futuro, sou audaciosa. Quero que nossa atuação seja referência na produção de dados de como uma educação antirracista melhora a educação, a economia, a saúde, a segurança… a sociedade. Além disso, tenho dialogado com lideranças de outros países, pois quero, em breve, promover um encontro para falar deste tema. Dei início a este diálogo este ano em NY quando participei das agendas da ONU no Cúpula do Futuro e do Clima. Há muito a ser feito. Já Cintia, após implementar três roteiros de cicloturismo na cidade, promovendo o turismo sustentável, a vida comunitária, quer ampliar o número de clientes que queiram conhecer Macáe em cima das quatro rodas. - Para mim, o maior desafio foi começar, né? Porque muitas vezes a gente sabe o que fazer, mas não tem grana para começar. A gente só tem um sonho. Então, é necessário ter um incentivo. No turismo, a gente tem que envolver hotel, pousada, restaurante, meios de transporte. Quando a gente fala da mulher preta, Esse desafio, com certeza, ele é maior. Ele é maior por causa de toda uma questão do racismo estrutural e também porque falta incentivo do poder público, faltam oportunidades.
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