Míssil com capacidade de lançar ogivas nucleares disparado pela Rússia na Ucrânia ameaça doutrina da Guerra Fria
Equipamento utilizado por Moscou põe em risco cálculos estratégicos e de dissuasão nuclear por poder destrutivo, apontam analistas A confirmação por fontes russas e ocidentais de que o míssil balístico disparado pela Rússia contra a Ucrânia na quinta-feira tinha a capacidade de transportar múltiplas ogivas nucleares transformou o bombardeio na sinalização mais concreta por parte do Kremlin de que o uso do seu arsenal nuclear no campo de batalha é uma possibilidade real, não apenas um argumento retórico usado pelo presidente Vladimir Putin. Analistas apontam que a escolha de uma arma capaz de transportar várias bombas atômicas de uma vez pesa como uma ameaça direta a Kiev e seus aliados nos EUA e na Europa e cruza uma linha vermelha do equilíbrio estabelecido entre as potências nucleares desde a Guerra Fria. Alerta: Kremlin diz 'não ter dúvidas' de que EUA entenderam mensagem após lançamento de novo míssil balístico contra Ucrânia Oreshnik: O que se sabe sobre o novo míssil balístico russo usado em ataque na Ucrânia Embora a Rússia tenha disparado outros mísseis com capacidade nuclear contra a Ucrânia, como o Iskander e o Kh-101, o uso do "Oreshnik" — nome do míssil balístico de médio alcance, de acordo com o anunciado por Putin — é inédito por sua capacidade de disparar várias ogivas nucleares ao entrar novamente na atmosfera terrestre, explicou o diretor do projeto de defesa de mísseis no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais em Washingto, Tom Karako. Fontes russas falam em transporte de até quatro ogivas, enquanto ocidentais citam o uso de uma carga conhecida como MIRV (Veículo de Reentrada Múltiplo Independentemente Direcionado, em inglês), que permitiria transportar múltiplas ogivas, inclusive nucleares. Initial plugin text — [O disparo do míssil é como] um barulho de sabre nuclear para a Ucrânia e para a própria Europa — disse Karako. — É um sinal bem nítido. Em um raro discurso em rede nacional após o ataque, Putin acusou o Ocidente de ter transformado uma guerra regional em uma disputa global, citando o uso do novo míssil como uma resposta direta ao disparo por Kiev de projéteis de longo alcance americanos e britânicos contra o território russo, com aval de Washington e Londres. O presidente também disse estar pronto para uma resolução pacífica, mas que qualquer movimento no campo de batalha seria respondido. Nesta sexta-feira, o Kremlin disse "não ter dúvidas" de que os EUA "entenderam" a mensagem. Analistas apontaram para uma mensagem dúbia entre as ações e as declarações de Putin. Se por um lado a aparição pública e o impacto aparentemente reduzido do ataque — relatos dão conta de danos moderados e poucos feridos — ressaltam um caráter simbólico da ação, o que poderia ser lido como uma nova tentativa de Moscou de fazer os aliados pensarem duas vezes antes de enviar novas armas para Kiev, alguns analistas apontam que a escolha do míssil disparado pode ter cruzado o limite entre restabelecer a dissuasão e forçar uma nova escalada. Ex-presidente russo divulga suposto ataque com míssil hipersônico na Ucrânia Em uma análise publicada pela CNN, o repórter especializado em assuntos militares internacionais, Brad Lendon, classificou o momento como potencialmente perigoso para um conflito mais abrangente entre Rússia e Ocidente. Ele argumenta que mísseis com capacidade de transportar múltiplas ogivas põem em risco o princípio da "destruição mútua assegurada", base do conceito de dissuasão desde o início da era nuclear e evitou o uso dessas armas durante a Guerra Fria. "Os mísseis balísticos foram projetados para ficar de sentinela em um futuro em que armas nucleares nunca mais seriam disparadas", explicou Lendon, antes de citar estudos que apontam que os MIRV na verdade teriam um impacto oposto. "Mísseis MIRV podem convidar, em vez de dissuadir, um primeiro ataque. A capacidade altamente destrutiva dos MIRV significa que eles são armas potenciais de primeiro ataque e alvos de primeiro ataque(...). Isso porque é mais fácil destruir várias ogivas antes que sejam lançadas do que tentar derrubá-las enquanto elas caem em velocidade hipersônica sobre seus alvos". Veja: Vídeo divulgado por ex-presidente russo mostraria ataque na Ucrânia com míssil hipersônico Aliados: Rússia forneceu mísseis antiaéreos à Coreia do Norte em troca de tropas, diz diretor de segurança nacional sul-coreano O poderio real do novo míssil russo não é conhecido em detalhes. Yan Matveev, um analista militar russo, disse em seu canal no Telegram acreditar que o Oreshnik seja uma adaptação do projeto de míssil balístico de alcance intermediário (IRBM) RS-26 Rubej, que tem alcance de até 5,8 mil km e capacidade de levar até quatro ogivas nucleares de 0,3 megaton cada (a bomba Little Boy, usada pelos EUA contra Hiroshima, em 1945, tinha poder explosivo de 0,015 megaton). Segundo Putin, o míssil atinge dez vezes a velocidade do som (Mach 10), “que é de 2,5 a 3 quilômetros por segundo", e tem alcance entre 1 mil e 3 mil quilômetr
Equipamento utilizado por Moscou põe em risco cálculos estratégicos e de dissuasão nuclear por poder destrutivo, apontam analistas A confirmação por fontes russas e ocidentais de que o míssil balístico disparado pela Rússia contra a Ucrânia na quinta-feira tinha a capacidade de transportar múltiplas ogivas nucleares transformou o bombardeio na sinalização mais concreta por parte do Kremlin de que o uso do seu arsenal nuclear no campo de batalha é uma possibilidade real, não apenas um argumento retórico usado pelo presidente Vladimir Putin. Analistas apontam que a escolha de uma arma capaz de transportar várias bombas atômicas de uma vez pesa como uma ameaça direta a Kiev e seus aliados nos EUA e na Europa e cruza uma linha vermelha do equilíbrio estabelecido entre as potências nucleares desde a Guerra Fria. Alerta: Kremlin diz 'não ter dúvidas' de que EUA entenderam mensagem após lançamento de novo míssil balístico contra Ucrânia Oreshnik: O que se sabe sobre o novo míssil balístico russo usado em ataque na Ucrânia Embora a Rússia tenha disparado outros mísseis com capacidade nuclear contra a Ucrânia, como o Iskander e o Kh-101, o uso do "Oreshnik" — nome do míssil balístico de médio alcance, de acordo com o anunciado por Putin — é inédito por sua capacidade de disparar várias ogivas nucleares ao entrar novamente na atmosfera terrestre, explicou o diretor do projeto de defesa de mísseis no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais em Washingto, Tom Karako. Fontes russas falam em transporte de até quatro ogivas, enquanto ocidentais citam o uso de uma carga conhecida como MIRV (Veículo de Reentrada Múltiplo Independentemente Direcionado, em inglês), que permitiria transportar múltiplas ogivas, inclusive nucleares. Initial plugin text — [O disparo do míssil é como] um barulho de sabre nuclear para a Ucrânia e para a própria Europa — disse Karako. — É um sinal bem nítido. Em um raro discurso em rede nacional após o ataque, Putin acusou o Ocidente de ter transformado uma guerra regional em uma disputa global, citando o uso do novo míssil como uma resposta direta ao disparo por Kiev de projéteis de longo alcance americanos e britânicos contra o território russo, com aval de Washington e Londres. O presidente também disse estar pronto para uma resolução pacífica, mas que qualquer movimento no campo de batalha seria respondido. Nesta sexta-feira, o Kremlin disse "não ter dúvidas" de que os EUA "entenderam" a mensagem. Analistas apontaram para uma mensagem dúbia entre as ações e as declarações de Putin. Se por um lado a aparição pública e o impacto aparentemente reduzido do ataque — relatos dão conta de danos moderados e poucos feridos — ressaltam um caráter simbólico da ação, o que poderia ser lido como uma nova tentativa de Moscou de fazer os aliados pensarem duas vezes antes de enviar novas armas para Kiev, alguns analistas apontam que a escolha do míssil disparado pode ter cruzado o limite entre restabelecer a dissuasão e forçar uma nova escalada. Ex-presidente russo divulga suposto ataque com míssil hipersônico na Ucrânia Em uma análise publicada pela CNN, o repórter especializado em assuntos militares internacionais, Brad Lendon, classificou o momento como potencialmente perigoso para um conflito mais abrangente entre Rússia e Ocidente. Ele argumenta que mísseis com capacidade de transportar múltiplas ogivas põem em risco o princípio da "destruição mútua assegurada", base do conceito de dissuasão desde o início da era nuclear e evitou o uso dessas armas durante a Guerra Fria. "Os mísseis balísticos foram projetados para ficar de sentinela em um futuro em que armas nucleares nunca mais seriam disparadas", explicou Lendon, antes de citar estudos que apontam que os MIRV na verdade teriam um impacto oposto. "Mísseis MIRV podem convidar, em vez de dissuadir, um primeiro ataque. A capacidade altamente destrutiva dos MIRV significa que eles são armas potenciais de primeiro ataque e alvos de primeiro ataque(...). Isso porque é mais fácil destruir várias ogivas antes que sejam lançadas do que tentar derrubá-las enquanto elas caem em velocidade hipersônica sobre seus alvos". Veja: Vídeo divulgado por ex-presidente russo mostraria ataque na Ucrânia com míssil hipersônico Aliados: Rússia forneceu mísseis antiaéreos à Coreia do Norte em troca de tropas, diz diretor de segurança nacional sul-coreano O poderio real do novo míssil russo não é conhecido em detalhes. Yan Matveev, um analista militar russo, disse em seu canal no Telegram acreditar que o Oreshnik seja uma adaptação do projeto de míssil balístico de alcance intermediário (IRBM) RS-26 Rubej, que tem alcance de até 5,8 mil km e capacidade de levar até quatro ogivas nucleares de 0,3 megaton cada (a bomba Little Boy, usada pelos EUA contra Hiroshima, em 1945, tinha poder explosivo de 0,015 megaton). Segundo Putin, o míssil atinge dez vezes a velocidade do som (Mach 10), “que é de 2,5 a 3 quilômetros por segundo", e tem alcance entre 1 mil e 3 mil quilômetros. Elevar a tensão, assumir os riscos de um conflito ainda mais aberto com o Ocidente — Putin chegou a afirmar que responderia de "forma igualmente decisiva" a qualquer nova ameaça dos aliados de Kiev — e ameaçar com a possibilidade de um confronto nuclear pode, contudo, ser uma estratégia barganha para alcançar melhores termos em uma negociação durante o governo de Donald Trump. Embora possa parecer aproximar a Rússia de uma guerra com o Ocidente, Putin veria o cenário mais belicoso como uma mesa de negociação mais frutífera aos seus interesses. — Não o vejo [Putin] preocupado em arruinar suas chances de um acordo com Trump, pelo contrário — disse Tatiana Stanovaya, pesquisadora do Carnegie Russia Eurasia Center. — Trump assumiu a posição de que as políticas de Biden estão levando à Terceira Guerra Mundial, e o que Putin está fazendo confirma isso. (Com NYT)
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