Influenciadores do agro mostram a rotina na roça, dão dicas de trabalho no campo e faturam com publicidade
Movimento de influenciadores se dedicam exclusivamente à vida rural, inclusive com segmentação como 'inglês agro' e reality show “Quando o homem do campo é uma mulher”. Com essa frase, a engenheira agrônoma Michele Guizini, de 35 anos, apresenta-se aos seus mais de 200 mil seguidores no Instagram, onde divulga sua rotina no cultivo de soja, milho e gergelim em uma fazenda na cidade de Querência, no Mato Grosso. Ela, que já negou propostas para produzir conteúdos voltados ao setor de beleza, fitness e moda, faz parte do grupo cada vez maior de influenciadores que se dedicam exclusivamente ao agro, compartilhando dicas de plantio, trato dos animais e curiosidades do dia a dia na roça. Educação: Após polêmica com agro no ano passado, Enem evita setor ao abordar questões ambientais Lauro Jardim: Adega viral dada como a maior do Brasil é de empresário do agro, vice em doações na eleição A trajetória virtual de Michele começou de forma despretensiosa em 2014, quando ela, ainda universitária, começou a compartilhar sua rotina na faculdade. Em 2020, durante a pandemia, o que era um hobby tomou grandes proporções, e hoje ela divide a rotina no campo, que pode chegar a até dez horas de trabalho ininterrupto, com a gravação e edição de vídeos: — É fácil conciliar as duas atividades porque tudo que posto é a minha vida. Vivo na fazenda, no meio de plantações, máquinas e animais. Além disso, mostro que é possível uma mulher fazer qualquer tipo de trabalho no agro. Michele Guizini compartilha o seu dia a dia no Mato Grosso Reprodução Conteúdo segmentado Inglês. A professora de idiomas Rizia Prado, de 42 anos, se especializou no inglês agro e usa seu perfil com aproximadamente 40 mil seguidores para ensinar termos técnicos, nomes de maquinários e vocabulários relacionados à sustentabilidade e compliance. O objetivo, ela diz, é capacitar profissionais para que se destaquem globalmente. Fitness. A professora de educação física Alice Girardi se define no Instagram para seus 200 mil seguidores como “personal agro”. No perfil, ela ensina exercícios que podem ser executados explorando o ambiente rural e dá dicas de como adaptar objetos usados no campo como material para fazer as séries, como pás e cordas. Reality. Os “Primos Agro”, dupla formada pelos agrônomos João Vitor de Castro Souza e Eduardo Palhares de Morro Agudo, interior de São Paulo, já são conhecidos na internet pelo conteúdo voltado para o humor, fazendo sátiras com situações da lida na roça. A dupla agora se prepara para lançar um reality show voltado exclusivamente para a atividade rural, mostrando em tempo real todo o processo do plantio e cultivo da soja. A empreitada está prevista para começar no fim deste mês e será compartilhada pelos influenciadores com os seus mais de 940 mil seguidores no perfil do Instagram, onde eles também lucram com publicidade. Primos, João Vitor e Eduardo faturam com publicidade Reprodução Espaço democrático A empresária rural Carmen Perez, 46 anos, ex-presidente e integrante do Núcleo Feminino do Agronegócio, foca a atividade nas redes sociais no ramo da pecuária, área em que atua há 23 anos. Com 267 mil seguidores no Instagram, ela conta que os conteúdos de maior sucesso são os de dicas de manejo de animais, como informações sobre como segurar um bezerro, o trato no curral e a identificação de bois. — Já fazia palestras desde 2011 sobre pecuária com foco no bem-estar animal e queria que mais pessoas tivessem acesso. Não tinha nem rede social pessoal quando fiz o perfil, mas fui movida pelo impacto que podemos ter na vida das pessoas e em como podemos ajudar a melhorar a prática da pecuária — conta a ela, que investiu em um documentário sobre gado de corte. Com apenas 5 anos, José Marcos Cardozo Scalabrin já soma mais de dois milhões de seguidores em suas redes sociais, na qual posta vídeos divertidos sobre como é a rotina de um agrônomo, profissão que diz querer seguir no futuro. Sempre vestido com o uniforme de “menino da roça” — camisa social, calça jeans, cinto com fivela e botina — , ele, que sempre morou na fazenda, chegou a ser chamado para participar de eventos agrícolas nos Estados Unidos. — O perfil surgiu como uma brincadeira, quando ele ainda tinha 1 ano e o filmei se vestindo para ir para a fazenda. O vídeo viralizou. Nunca fizemos impulsionamento ou tráfego pago, a conta cresceu de forma orgânica. Queremos mostrar que o agro é família e que é importante que as crianças conheçam essa atividade — avalia a mãe e agricultora Giane Cardozo, de 30 anos. Juliana Sana, 46 anos, jornalista e apresentadora do quadro Belezas da Terra, do programa “É de Casa”, da TV Globo, acabou expandindo o trabalho na TV para as redes sociais. Ela, que soma 130 mil seguidores no Instagram, usava o espaço para mostrar a origem de produtos do campo e como eles chegam até a mesa. Mas após o crescimento do perfil, ela passou a dividir com os espectadores o backstage das viagens de campo, das produtoras rurais, curiosidades e ações de sustent
Movimento de influenciadores se dedicam exclusivamente à vida rural, inclusive com segmentação como 'inglês agro' e reality show “Quando o homem do campo é uma mulher”. Com essa frase, a engenheira agrônoma Michele Guizini, de 35 anos, apresenta-se aos seus mais de 200 mil seguidores no Instagram, onde divulga sua rotina no cultivo de soja, milho e gergelim em uma fazenda na cidade de Querência, no Mato Grosso. Ela, que já negou propostas para produzir conteúdos voltados ao setor de beleza, fitness e moda, faz parte do grupo cada vez maior de influenciadores que se dedicam exclusivamente ao agro, compartilhando dicas de plantio, trato dos animais e curiosidades do dia a dia na roça. Educação: Após polêmica com agro no ano passado, Enem evita setor ao abordar questões ambientais Lauro Jardim: Adega viral dada como a maior do Brasil é de empresário do agro, vice em doações na eleição A trajetória virtual de Michele começou de forma despretensiosa em 2014, quando ela, ainda universitária, começou a compartilhar sua rotina na faculdade. Em 2020, durante a pandemia, o que era um hobby tomou grandes proporções, e hoje ela divide a rotina no campo, que pode chegar a até dez horas de trabalho ininterrupto, com a gravação e edição de vídeos: — É fácil conciliar as duas atividades porque tudo que posto é a minha vida. Vivo na fazenda, no meio de plantações, máquinas e animais. Além disso, mostro que é possível uma mulher fazer qualquer tipo de trabalho no agro. Michele Guizini compartilha o seu dia a dia no Mato Grosso Reprodução Conteúdo segmentado Inglês. A professora de idiomas Rizia Prado, de 42 anos, se especializou no inglês agro e usa seu perfil com aproximadamente 40 mil seguidores para ensinar termos técnicos, nomes de maquinários e vocabulários relacionados à sustentabilidade e compliance. O objetivo, ela diz, é capacitar profissionais para que se destaquem globalmente. Fitness. A professora de educação física Alice Girardi se define no Instagram para seus 200 mil seguidores como “personal agro”. No perfil, ela ensina exercícios que podem ser executados explorando o ambiente rural e dá dicas de como adaptar objetos usados no campo como material para fazer as séries, como pás e cordas. Reality. Os “Primos Agro”, dupla formada pelos agrônomos João Vitor de Castro Souza e Eduardo Palhares de Morro Agudo, interior de São Paulo, já são conhecidos na internet pelo conteúdo voltado para o humor, fazendo sátiras com situações da lida na roça. A dupla agora se prepara para lançar um reality show voltado exclusivamente para a atividade rural, mostrando em tempo real todo o processo do plantio e cultivo da soja. A empreitada está prevista para começar no fim deste mês e será compartilhada pelos influenciadores com os seus mais de 940 mil seguidores no perfil do Instagram, onde eles também lucram com publicidade. Primos, João Vitor e Eduardo faturam com publicidade Reprodução Espaço democrático A empresária rural Carmen Perez, 46 anos, ex-presidente e integrante do Núcleo Feminino do Agronegócio, foca a atividade nas redes sociais no ramo da pecuária, área em que atua há 23 anos. Com 267 mil seguidores no Instagram, ela conta que os conteúdos de maior sucesso são os de dicas de manejo de animais, como informações sobre como segurar um bezerro, o trato no curral e a identificação de bois. — Já fazia palestras desde 2011 sobre pecuária com foco no bem-estar animal e queria que mais pessoas tivessem acesso. Não tinha nem rede social pessoal quando fiz o perfil, mas fui movida pelo impacto que podemos ter na vida das pessoas e em como podemos ajudar a melhorar a prática da pecuária — conta a ela, que investiu em um documentário sobre gado de corte. Com apenas 5 anos, José Marcos Cardozo Scalabrin já soma mais de dois milhões de seguidores em suas redes sociais, na qual posta vídeos divertidos sobre como é a rotina de um agrônomo, profissão que diz querer seguir no futuro. Sempre vestido com o uniforme de “menino da roça” — camisa social, calça jeans, cinto com fivela e botina — , ele, que sempre morou na fazenda, chegou a ser chamado para participar de eventos agrícolas nos Estados Unidos. — O perfil surgiu como uma brincadeira, quando ele ainda tinha 1 ano e o filmei se vestindo para ir para a fazenda. O vídeo viralizou. Nunca fizemos impulsionamento ou tráfego pago, a conta cresceu de forma orgânica. Queremos mostrar que o agro é família e que é importante que as crianças conheçam essa atividade — avalia a mãe e agricultora Giane Cardozo, de 30 anos. Juliana Sana, 46 anos, jornalista e apresentadora do quadro Belezas da Terra, do programa “É de Casa”, da TV Globo, acabou expandindo o trabalho na TV para as redes sociais. Ela, que soma 130 mil seguidores no Instagram, usava o espaço para mostrar a origem de produtos do campo e como eles chegam até a mesa. Mas após o crescimento do perfil, ela passou a dividir com os espectadores o backstage das viagens de campo, das produtoras rurais, curiosidades e ações de sustentabilidade. — Com o programa acabei mergulhando nesse mundo e me apaixonando pelo segmento. Desde então, já visitei mais de 150 propriedades rurais, conheci mais de 200 produtoras e suas histórias — diz. O mercado de influenciadores agro, ainda em expansão, chegou para atender a um universo que representa parte considerável da população. Dados do último Censo Agropecuário do IBGE (2017) mostram que o Brasil tem cerca de cinco milhões de estabelecimentos agropecuários, que ocupam 351,289 milhões de hectares — 41% da área total do país. Para o empresário Guilherme Garcia, diretor da Agência Plata Digital, que gerencia o perfil de dez influenciadores de destaque do agro, parte do sucesso dos perfis se deve ao fato de que eles dão visibilidade a um ambiente desconhecido de boa parte dos brasileiros: — Profissionais que fazem conteúdos direcionados e chamam a atenção das empresas agrícolas, muitas delas entre as maiores do país, acabam tendo muita rentabilidade. Um exemplo é o perfil Primos Agro, com mais de 940 mil seguidores, administrado pelos engenheiros agrônomos João Vitor de Castro Souza e Eduardo Palhares, de 28 e 26 anos, de Morro Agudo (SP). Na internet desde 2019, eles optaram por largar o trabalho nas propriedades rurais da família para se dedicar exclusivamente ao perfil, no qual postam sátiras da vida no campo e hoje faturam dez vezes mais do que na antiga carreira. — Nos nossos posts publicitários, em vez de só divulgar a marca, levamos o produto para a história que contamos em nosso perfil, a de dois personagens principais, um agrônomo e o outro um produtor rural, que nós mesmo interpretamos — conta João Vitor. Serviços segmentados A digitalização do agro chegou também a propriedades rurais que precisaram aderir à internet para divulgar produtos e atividades. A demanda gerou a criação de agências voltadas para esse tipo de comunicação, como é a Comunica Agro. Criada em 2021, ela conta até com uma equipe de veterinários para garantir o rigor técnico do conteúdo produzido. — O Brasil é o terceiro país do mundo que mais usa redes sociais, e com o agro não pode ser diferente. As mídias sociais são, acima de tudo, uma forma de relacionamento, e é importante que os produtores estejam lá — destaca Larissa Spricigo, proprietária da agência. Especialista em marketing digital, Marcelo Vitorino destaca a representatividade como trunfo dos influenciadores do agro ao atrair seguidores: — As pessoas querem se ver representadas. Sotaques, termos e a cultura contam muito. E com a expansão da telefonia móvel e ao aumento de oferta de banda larga fora dos centros urbanos, é um movimento natural o surgimento de influenciadores nesse segmento.
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