Conhecida nos anos 1970, sambista Geovana reaparece em São Paulo e celebra a retomada da carreira: 'Como uma adolescente'
Hoje na capital paulista, cantora carioca mostra três EPs e prepara filme e livro após mais de três décadas longe dos palcos e estúdios De segunda a sexta-feira, Geovana já está sentada às 7h30m, esperando a professora, na sala da escola em que começou neste semestre a fazer um curso para jovens e adultos, em São Paulo. Voltar às aulas aos 76 anos traduz o ânimo atual da sambista, que passou mais de três décadas longe de palcos e estúdios. Rael: 'Meu orgulho é que, embora o rap esteja mais focado no lifestyle, ainda existem as músicas de mensagem' Jota.pê, o brasileiro mais premiado do Grammy Latino 2024: ‘Saber que a música foi o suficiente me deixa feliz’ — Eu me sinto como uma adolescente — vibra ela, que também começou a malhar numa academia. — Estou fazendo tudo o que me pertence. A empolgação começou na década passada, com a retomada gradual da carreira. Em 2020, lançou o álbum “Brilha sol”, graças a uma campanha de financiamento coletivo promovida por seus produtores (“meus anjos da guarda”) Camilo Árabe e Guilherme Lacerda, integrantes do coletivo Sindicato do Samba. Neste ano, após serem aprovados no edital Funarte Retomada, três EPs estão sendo lançados. Um entrou nas plataformas em outubro: “Bons tempos”. Ontem, Dia da Consciência Negra, entrou outro: “Diamante”. E em 13 de dezembro será a vez de “Jaboticaba”. Todas as composições são dela, sozinha ou com parceiros. — Nunca duvidei da minha capacidade de voltar. Sempre achei que ia dar — garante ela, afirmando ter sido prejudicada por produtores e artistas. — Uns filhos da fruta me roubaram. Mas não quero saber mais disso. O passado é pesado. Ainda vêm por aí, em 2025, outro álbum, um filme sobre ela — com direção de Camilo e direção musical de Guilherme — e um livro autobiográfico assinado por ela e Camilo. Geovana nasceu Maria Teresa Gomes no Rio, na Tijuca, morando depois na Rocinha, na Gávea e em outras partes. Quando trabalhava como doméstica em Copacabana viu um nome parecido numa loja de roupas e criou o pseudônimo pelo qual ficou conhecida. Apresentando-se num festival em São Paulo, em 1969, destacou-se com “Pisa nesse chão com força”, o que lhe valeu o rótulo de “deusa negra do samba-rock”. — Não sou deusa e, do rock, muito menos — ressalta ela, com a voz grave e a gargalhada características. — Fui aceitando. Se gostam de me chamar desse jeito, vou ligar? Nada contra, mas me deixa sem graça. Mudou-se para São Paulo no início deste século. Viu na cidade mais possibilidades para arrumar trabalho e ajudar seus três filhos. — Em São Paulo ganhei amigos, confiança, dinheiro. Se Camilo e Guilherme estivessem no Rio, eu também estaria — explica. Mas nem sempre foi assim. Quando os convites minguaram, foi trabalhar na reciclagem e como segurança particular. — Nunca fui ao fundo do poço porque eu sempre trabalhei — orgulha-se. Gravada por Clara Nunes Ainda no Rio, foi gravada por Clara Nunes (“Rosa 25”) e Martinho da Vila (“Diamante”). Em 1985, o Fundo de Quintal gravou uma parceria com Beto Sem Braço que até hoje é sua principal fonte de direitos autorais: “Ô Irene”, do refrão “Ô Irene/ Vai buscar o querosene pra acender o fogareiro”. — “Irene” viajou pelo mundo. Não tem roda de samba que não toque. Se não convidarem, ela mesma se convida — brinca. Clara Nunes na inauguração do teatro que leva seu nome, em 1977 Paulo Wrencher/Agência O GLOBO Seu disco de 1975, “Quem tem carinho me leva”, é cultuado no mundo do samba e deverá ganhar uma reedição em vinil. Ele marcou a vida de MV Bill, que divide com Geovana a composição e a interpretação de “Não ando só”, faixa do EP lançado ontem. — Nosso lar era muito musical, tinha trilha sonora para tudo. Quando meus pais faziam amor, na manhã seguinte meu pai botava para tocar “Quem tem carinho me leva” — recorda o rapper, que conheceria Geovana muito tempo depois. — Contei essa história no “Programa do Jô”. Num dia, atrás da Central do Brasil, ouço aquela voz grave: “MB Vill!” Era ela. Ainda me chama assim. Geovana se define como “sambista, excelente cozinheira, grande amiga, salgueirense e vascaína”. Preparava uma sopa enquanto dava entrevista para o GLOBO e diz fazer coisas de “rebolar o queixo”: feijoada, cozido, vatapá, bacalhoada. Está morando no Centro de São Paulo, perto da Avenida São João. — Minha vida está no eixo. Não quero ficar rica, mas sobreviver numa boa. A panela estava de bruços, agora está com a barriga pra cima — celebra ela, dando outra gargalhada.
Hoje na capital paulista, cantora carioca mostra três EPs e prepara filme e livro após mais de três décadas longe dos palcos e estúdios De segunda a sexta-feira, Geovana já está sentada às 7h30m, esperando a professora, na sala da escola em que começou neste semestre a fazer um curso para jovens e adultos, em São Paulo. Voltar às aulas aos 76 anos traduz o ânimo atual da sambista, que passou mais de três décadas longe de palcos e estúdios. Rael: 'Meu orgulho é que, embora o rap esteja mais focado no lifestyle, ainda existem as músicas de mensagem' Jota.pê, o brasileiro mais premiado do Grammy Latino 2024: ‘Saber que a música foi o suficiente me deixa feliz’ — Eu me sinto como uma adolescente — vibra ela, que também começou a malhar numa academia. — Estou fazendo tudo o que me pertence. A empolgação começou na década passada, com a retomada gradual da carreira. Em 2020, lançou o álbum “Brilha sol”, graças a uma campanha de financiamento coletivo promovida por seus produtores (“meus anjos da guarda”) Camilo Árabe e Guilherme Lacerda, integrantes do coletivo Sindicato do Samba. Neste ano, após serem aprovados no edital Funarte Retomada, três EPs estão sendo lançados. Um entrou nas plataformas em outubro: “Bons tempos”. Ontem, Dia da Consciência Negra, entrou outro: “Diamante”. E em 13 de dezembro será a vez de “Jaboticaba”. Todas as composições são dela, sozinha ou com parceiros. — Nunca duvidei da minha capacidade de voltar. Sempre achei que ia dar — garante ela, afirmando ter sido prejudicada por produtores e artistas. — Uns filhos da fruta me roubaram. Mas não quero saber mais disso. O passado é pesado. Ainda vêm por aí, em 2025, outro álbum, um filme sobre ela — com direção de Camilo e direção musical de Guilherme — e um livro autobiográfico assinado por ela e Camilo. Geovana nasceu Maria Teresa Gomes no Rio, na Tijuca, morando depois na Rocinha, na Gávea e em outras partes. Quando trabalhava como doméstica em Copacabana viu um nome parecido numa loja de roupas e criou o pseudônimo pelo qual ficou conhecida. Apresentando-se num festival em São Paulo, em 1969, destacou-se com “Pisa nesse chão com força”, o que lhe valeu o rótulo de “deusa negra do samba-rock”. — Não sou deusa e, do rock, muito menos — ressalta ela, com a voz grave e a gargalhada características. — Fui aceitando. Se gostam de me chamar desse jeito, vou ligar? Nada contra, mas me deixa sem graça. Mudou-se para São Paulo no início deste século. Viu na cidade mais possibilidades para arrumar trabalho e ajudar seus três filhos. — Em São Paulo ganhei amigos, confiança, dinheiro. Se Camilo e Guilherme estivessem no Rio, eu também estaria — explica. Mas nem sempre foi assim. Quando os convites minguaram, foi trabalhar na reciclagem e como segurança particular. — Nunca fui ao fundo do poço porque eu sempre trabalhei — orgulha-se. Gravada por Clara Nunes Ainda no Rio, foi gravada por Clara Nunes (“Rosa 25”) e Martinho da Vila (“Diamante”). Em 1985, o Fundo de Quintal gravou uma parceria com Beto Sem Braço que até hoje é sua principal fonte de direitos autorais: “Ô Irene”, do refrão “Ô Irene/ Vai buscar o querosene pra acender o fogareiro”. — “Irene” viajou pelo mundo. Não tem roda de samba que não toque. Se não convidarem, ela mesma se convida — brinca. Clara Nunes na inauguração do teatro que leva seu nome, em 1977 Paulo Wrencher/Agência O GLOBO Seu disco de 1975, “Quem tem carinho me leva”, é cultuado no mundo do samba e deverá ganhar uma reedição em vinil. Ele marcou a vida de MV Bill, que divide com Geovana a composição e a interpretação de “Não ando só”, faixa do EP lançado ontem. — Nosso lar era muito musical, tinha trilha sonora para tudo. Quando meus pais faziam amor, na manhã seguinte meu pai botava para tocar “Quem tem carinho me leva” — recorda o rapper, que conheceria Geovana muito tempo depois. — Contei essa história no “Programa do Jô”. Num dia, atrás da Central do Brasil, ouço aquela voz grave: “MB Vill!” Era ela. Ainda me chama assim. Geovana se define como “sambista, excelente cozinheira, grande amiga, salgueirense e vascaína”. Preparava uma sopa enquanto dava entrevista para o GLOBO e diz fazer coisas de “rebolar o queixo”: feijoada, cozido, vatapá, bacalhoada. Está morando no Centro de São Paulo, perto da Avenida São João. — Minha vida está no eixo. Não quero ficar rica, mas sobreviver numa boa. A panela estava de bruços, agora está com a barriga pra cima — celebra ela, dando outra gargalhada.
Qual é a sua reação?