'É como se um pai de família inocente não tivesse morrido', diz viúva de motorista morto em ataque a delator do PCC
Celso Araujo Sampaio de Novais foi atingido por um disparo de arma de fogo que tinha como alvo o empresário Vinicius Gritzbach “Conheci o Celso em uma escola estadual aqui em Guarulhos, quando tinha 17 e ele, 18 anos. Não gostei dele à primeira vista, era metido. Mas fomos criando uma amizade, ele me buscava para ir à escola. Em uma lanchonete em frente à escola, ele me comprou um chocolate e disse ‘te dou se você me der um beijo’. Dei o beijo e aí deslanchou. Um ano e meio depois, aos 20, engravidei e fomos morar juntos. Leia mais: Olheiro envolvido na morte de Gritzbach aparece em vídeos no aeroporto de Guarulhos uma hora antes da execução São Paulo: Estudante de medicina é morto por disparo da PM durante abordagem na Zona Sul de SP Celso trabalhava desde os 14 anos. Começou com pintura de automóveis. Depois, ficou um tempo em uma loja de tintas e, em 2014, foi para o aplicativo (de transporte de passageiros). Eu trabalho há 18 anos como agente comunitária de saúde em um postinho perto de casa. Há três anos, ele teve uma depressão. Não conseguia levantar da cama, foi difícil. Naquela época, chegou nosso terceiro filho. Temos o Felipe, de 20 anos, o Fernando, de 13 anos e o Pietro, de 3 anos. O mais novo é filho de uma sobrinha que teve problemas com vício e acabou nos dando o neném. O Celso já queria ter outro filho e a ligação dos dois foi muito forte. Ele pensou: ‘agora tenho mais gente para cuidar, preciso me levantar’. Aí surgiu como outra pessoa. Dizia que tinha que se amar. Ia toda semana na manicure, estava toda sexta-feira no cabeleireiro. Saía de casa todo dia cedo e só voltava por volta das 23h. Trabalhava demais, quase todos os dias. Tinha acabado de comprar o carro. Começamos a visitar apartamentos porque não temos casa própria. Celso sempre dizia que não sabia o dia de amanhã, tinha que ter um teto para colocar as crianças. Na semana em que tudo aquilo aconteceu ele disse que tiraria férias em janeiro, queria viajar ao Nordeste. Sempre cortava o cabelo nas sextas-feiras, mas resolveu ir na quinta. Postou stories no salão, tomando uma cervejinha com o cabeleireiro, dançando. Parecia que estava se despedindo das pessoas. Tinha tatuagem de quase todos os filhos, só faltava a do Pietro. Marcou a nova para sexta. Na tarde de sexta (dia da execução do delator do PCC Vinicius Gritzbach), ligou dizendo que ia pegar comida japonesa para agradar o Fernando, porque o cachorrinho dele tinha fugido. Passaram 28 minutos, ele me ligou de novo, mas quando fui atender, já tinha começado a cair na caixa postal. Então recebi o vídeo que ele dizia que estava na ambulância, que havia levado um tiro. Fui para o hospital em Guarulhos. Não achei que era tão grave porque recebi vídeos dele se mexendo, conversando com os paramédicos. Meu filho mais velho ficou sabendo pela televisão, viu o pai dele no chão do aeroporto. Não cheguei a tempo de ver o Celso acordado. Me contaram que ele ficou chamando o meu nome o tempo inteiro. Não queria que dessem anestesia, queria que me esperassem chegar. Acho que estava com muito medo. Me colocaram em uma salinha. Disseram que ele levou um tiro nas costas, que a bala fez um estrago muito grande, o fígado tinha sido lacerado, a hemorragia não estava sendo contida. A médica falou que seria muito difícil ele sair dessa situação e precisou colocá-lo em coma. No sábado, entraram umas 50 pessoas no quarto ao longo do dia. Acho que o Celso não tinha noção do quanto era querido. Às 18h, fui até o ouvido dele e disse: ‘não sei se você me escuta, mas se você tiver que ir embora, eu te deixo ir. Vou dar conta, vou cuidar dos meninos, vai ficar tudo bem. Só descansa, não quero que você sofra’. Quando foi 20h12 (hora do falecimento)... Não tive tempo de viver meu luto. Tem muita gente me ligando, muitos curiosos. A gente quer que ele descanse em paz, mas preciso lutar por justiça primeiro. Quero que quem fez isso pague. As autoridades deveriam ter entrado em contato comigo, para falar qualquer coisa. Nem que fosse um parecer sobre as investigações, nem isso tivemos acesso, nada. É como se só o outro lá (Gritzbach), que é chamado de empresário, tivesse morrido. Como se um pai de família inocente não tivesse morrido. Vou entrar com um processo, contra o governo e como contra a GRU (concessionária do aeroporto). Ele supria 80% das nossas necessidades e ainda tinha o financiamento do carro. Nós precisamos de justiça (A GRU Airport afirmou em nota que a segurança pública é competência do Estado e que vem colaborando com as autoridades policiais presentes no aeroporto para elucidação dos fatos)”. *Em depoimento a Guilherme Queiroz
Celso Araujo Sampaio de Novais foi atingido por um disparo de arma de fogo que tinha como alvo o empresário Vinicius Gritzbach “Conheci o Celso em uma escola estadual aqui em Guarulhos, quando tinha 17 e ele, 18 anos. Não gostei dele à primeira vista, era metido. Mas fomos criando uma amizade, ele me buscava para ir à escola. Em uma lanchonete em frente à escola, ele me comprou um chocolate e disse ‘te dou se você me der um beijo’. Dei o beijo e aí deslanchou. Um ano e meio depois, aos 20, engravidei e fomos morar juntos. Leia mais: Olheiro envolvido na morte de Gritzbach aparece em vídeos no aeroporto de Guarulhos uma hora antes da execução São Paulo: Estudante de medicina é morto por disparo da PM durante abordagem na Zona Sul de SP Celso trabalhava desde os 14 anos. Começou com pintura de automóveis. Depois, ficou um tempo em uma loja de tintas e, em 2014, foi para o aplicativo (de transporte de passageiros). Eu trabalho há 18 anos como agente comunitária de saúde em um postinho perto de casa. Há três anos, ele teve uma depressão. Não conseguia levantar da cama, foi difícil. Naquela época, chegou nosso terceiro filho. Temos o Felipe, de 20 anos, o Fernando, de 13 anos e o Pietro, de 3 anos. O mais novo é filho de uma sobrinha que teve problemas com vício e acabou nos dando o neném. O Celso já queria ter outro filho e a ligação dos dois foi muito forte. Ele pensou: ‘agora tenho mais gente para cuidar, preciso me levantar’. Aí surgiu como outra pessoa. Dizia que tinha que se amar. Ia toda semana na manicure, estava toda sexta-feira no cabeleireiro. Saía de casa todo dia cedo e só voltava por volta das 23h. Trabalhava demais, quase todos os dias. Tinha acabado de comprar o carro. Começamos a visitar apartamentos porque não temos casa própria. Celso sempre dizia que não sabia o dia de amanhã, tinha que ter um teto para colocar as crianças. Na semana em que tudo aquilo aconteceu ele disse que tiraria férias em janeiro, queria viajar ao Nordeste. Sempre cortava o cabelo nas sextas-feiras, mas resolveu ir na quinta. Postou stories no salão, tomando uma cervejinha com o cabeleireiro, dançando. Parecia que estava se despedindo das pessoas. Tinha tatuagem de quase todos os filhos, só faltava a do Pietro. Marcou a nova para sexta. Na tarde de sexta (dia da execução do delator do PCC Vinicius Gritzbach), ligou dizendo que ia pegar comida japonesa para agradar o Fernando, porque o cachorrinho dele tinha fugido. Passaram 28 minutos, ele me ligou de novo, mas quando fui atender, já tinha começado a cair na caixa postal. Então recebi o vídeo que ele dizia que estava na ambulância, que havia levado um tiro. Fui para o hospital em Guarulhos. Não achei que era tão grave porque recebi vídeos dele se mexendo, conversando com os paramédicos. Meu filho mais velho ficou sabendo pela televisão, viu o pai dele no chão do aeroporto. Não cheguei a tempo de ver o Celso acordado. Me contaram que ele ficou chamando o meu nome o tempo inteiro. Não queria que dessem anestesia, queria que me esperassem chegar. Acho que estava com muito medo. Me colocaram em uma salinha. Disseram que ele levou um tiro nas costas, que a bala fez um estrago muito grande, o fígado tinha sido lacerado, a hemorragia não estava sendo contida. A médica falou que seria muito difícil ele sair dessa situação e precisou colocá-lo em coma. No sábado, entraram umas 50 pessoas no quarto ao longo do dia. Acho que o Celso não tinha noção do quanto era querido. Às 18h, fui até o ouvido dele e disse: ‘não sei se você me escuta, mas se você tiver que ir embora, eu te deixo ir. Vou dar conta, vou cuidar dos meninos, vai ficar tudo bem. Só descansa, não quero que você sofra’. Quando foi 20h12 (hora do falecimento)... Não tive tempo de viver meu luto. Tem muita gente me ligando, muitos curiosos. A gente quer que ele descanse em paz, mas preciso lutar por justiça primeiro. Quero que quem fez isso pague. As autoridades deveriam ter entrado em contato comigo, para falar qualquer coisa. Nem que fosse um parecer sobre as investigações, nem isso tivemos acesso, nada. É como se só o outro lá (Gritzbach), que é chamado de empresário, tivesse morrido. Como se um pai de família inocente não tivesse morrido. Vou entrar com um processo, contra o governo e como contra a GRU (concessionária do aeroporto). Ele supria 80% das nossas necessidades e ainda tinha o financiamento do carro. Nós precisamos de justiça (A GRU Airport afirmou em nota que a segurança pública é competência do Estado e que vem colaborando com as autoridades policiais presentes no aeroporto para elucidação dos fatos)”. *Em depoimento a Guilherme Queiroz
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