Brasileiro que sobreviveu ao ataque do Hamas busca abrigo em bunker durante ofensiva do Irã e relata tensão em Israel

Ao GLOBO, Rafael Zimmerman, de 28 anos, disse que magnitude da investida iraniana ‘assustou a todos’; Teerã lançou cerca de 200 mísseis balísticos contra Estado judeu Horas após as autoridades dos Estados Unidos alertarem que o Irã planejava realizar um ataque maciço contra Israel nesta terça-feira, cerca de 200 mísseis balísticos foram lançados do território iraniano contra o Estado judeu. A ofensiva marcou uma escalada acentuada no conflito de longa data entre os dois países — e deixou civis em estado de alerta. Sirenes de ataque aéreo soaram por todo o país, incluindo em grandes cidades como Jerusalém e Tel Aviv, e fortes explosões foram ouvidas pela região. No celular, moradores receberam ordens para buscar abrigos antiaéreos, onde ficaram por quase uma hora até que um sinal verde para deixar o local fosse emitido. Contexto: Irã lança mísseis contra Israel; sirenes de alerta disparam em todo país Israel x Irã e Hezbollah: Veja a cobertura completa Ao GLOBO, o brasileiro Rafael Zimmerman, que sobreviveu ao atentado sem precedentes do grupo terrorista Hamas no sul israelense em 7 de outubro, disse ter vivenciado os ataques desta terça-feira. De volta a Israel há menos de uma semana, ele relatou ter passado dias de tensão no país, que no mês passado intensificou os confrontos contra o grupo xiita Hezbollah no Líbano. A escalada foi tamanha que o próprio Estado judeu e a organização político-militar libanesa reconheceram que a guerra na região, iniciada na Faixa de Gaza há quase um ano, chegou a uma “nova fase”. — Começou de manhã com as sirenes. Durante o dia informaram que o Irã iria atacar a qualquer momento, e aí no começo da noite teve um ataque terrorista em Tel Aviv, por enquanto com ao menos quatro civis mortos [além de dois atiradores] — disse Zimmerman. — Logo depois, [recebemos] a mensagem de alerta máximo pedindo para irmos ao bunker por risco de vida. [Na sequência], soaram as sirenes e o barulho das explosões dos mísseis — acrescentou ele, que esteve no abrigo com outros dois amigos brasileiros. Zimmerman afirmou que há um clima de tensão na região — e que, embora a população local já saiba da relação de apoio do Irã com grupos como o Hamas e o Hezbollah, “um ataque direto dessa magnitude assustou a todos”. Nos cinco dias em que passou no país desde que chegou de viagem, disse, ele ouviu as sirenes tocarem com frequência e precisou buscar abrigo no bunker “algumas vezes”. A situação é especialmente traumática para o brasileiro porque o remete ao sofrimento que passou na edição israelense do festival Universo Paralello, atacado por terroristas do Hamas. Análise: Ataque contra Israel mostra 'vitória' da linha-dura do Irã, mesmo com riscos à sobrevivência do regime Naquele dia, quando os primeiros sinais da invasão começaram, ele decidiu abrigar-se em um bunker próximo. O local, projetado para cerca de 15 pessoas, acumulou mais de 40. Dessas, apenas nove sobreviveram. Ele disse ter fingido que estava morto enquanto terroristas atiravam e jogavam granadas, coquetel molotov e gás dentro da construção. Ao fundo, Zimmerman ouvia a risada dos membros do Hamas, que também gritavam repetidamente o termo “Allahu Akbar” (Deus é Grande). Ao lado dele estavam os brasileiros Rafaela Treistman e Ranani Glazer, uma das 1,2 mil vítimas assassinadas durante o atentado. — O meu maior medo é ter um ataque terrestre, por tudo que passei lá — disse Zimmerman nesta terça-feira. ‘Todos estavam em pânico’ O brasileiro Jacob Kutschenko estava em casa com a família quando os alertas começaram a circular. Pego de surpresa pelos ataques, ele disse ter reunido seus filhos “às pressas” e descido com as crianças para um bunker no subsolo do prédio onde mora, em Jerusalém. No caminho até lá, relatou, o barulho das bombas despertou o medo entre os mais novos, que não entendiam o que acontecia. Já dentro do abrigo e sem sinal de internet, os moradores tentaram conversar entre si em busca de uma distração, mas os estrondos dos mísseis eram “intensos”, e a vibração que ressoava também era forte. Sem acesso às notícias, eles precisaram buscar na intensidade do som das explosões alguma pista. — Foi tudo muito rápido, o barulho das sirenes ecoava nas ruas, e o tempo parecia estar contra nós. Em questão de segundos a gente desceu para o bunker, e pude ver nos olhos das crianças que o coração delas estava a mil. Todos estavam em pânico, os moradores do prédio também — contou, acrescentando: — Descemos as escadas correndo, segurando as crianças, que choravam. Tentei falar para elas que o bunker era muito mais seguro, mas é difícil explicar para as crianças o que acontecia lá fora. O tempo ali dentro parecia não passar. A gente não estava preparado para aquilo. Entenda o ataque Na noite desta terça-feira (por volta de 13h30 no horário de Brasília), o Irã disparou cerca de 200 mísseis balísticos contra Israel, fazendo disparar sirenes de alerta em Tel Aviv, Jerusalém e várias outras regiões do país, e acionar os sistemas de defe

Oct 2, 2024 - 02:29
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Brasileiro que sobreviveu ao ataque do Hamas busca abrigo em bunker durante ofensiva do Irã e relata tensão em Israel

Ao GLOBO, Rafael Zimmerman, de 28 anos, disse que magnitude da investida iraniana ‘assustou a todos’; Teerã lançou cerca de 200 mísseis balísticos contra Estado judeu Horas após as autoridades dos Estados Unidos alertarem que o Irã planejava realizar um ataque maciço contra Israel nesta terça-feira, cerca de 200 mísseis balísticos foram lançados do território iraniano contra o Estado judeu. A ofensiva marcou uma escalada acentuada no conflito de longa data entre os dois países — e deixou civis em estado de alerta. Sirenes de ataque aéreo soaram por todo o país, incluindo em grandes cidades como Jerusalém e Tel Aviv, e fortes explosões foram ouvidas pela região. No celular, moradores receberam ordens para buscar abrigos antiaéreos, onde ficaram por quase uma hora até que um sinal verde para deixar o local fosse emitido. Contexto: Irã lança mísseis contra Israel; sirenes de alerta disparam em todo país Israel x Irã e Hezbollah: Veja a cobertura completa Ao GLOBO, o brasileiro Rafael Zimmerman, que sobreviveu ao atentado sem precedentes do grupo terrorista Hamas no sul israelense em 7 de outubro, disse ter vivenciado os ataques desta terça-feira. De volta a Israel há menos de uma semana, ele relatou ter passado dias de tensão no país, que no mês passado intensificou os confrontos contra o grupo xiita Hezbollah no Líbano. A escalada foi tamanha que o próprio Estado judeu e a organização político-militar libanesa reconheceram que a guerra na região, iniciada na Faixa de Gaza há quase um ano, chegou a uma “nova fase”. — Começou de manhã com as sirenes. Durante o dia informaram que o Irã iria atacar a qualquer momento, e aí no começo da noite teve um ataque terrorista em Tel Aviv, por enquanto com ao menos quatro civis mortos [além de dois atiradores] — disse Zimmerman. — Logo depois, [recebemos] a mensagem de alerta máximo pedindo para irmos ao bunker por risco de vida. [Na sequência], soaram as sirenes e o barulho das explosões dos mísseis — acrescentou ele, que esteve no abrigo com outros dois amigos brasileiros. Zimmerman afirmou que há um clima de tensão na região — e que, embora a população local já saiba da relação de apoio do Irã com grupos como o Hamas e o Hezbollah, “um ataque direto dessa magnitude assustou a todos”. Nos cinco dias em que passou no país desde que chegou de viagem, disse, ele ouviu as sirenes tocarem com frequência e precisou buscar abrigo no bunker “algumas vezes”. A situação é especialmente traumática para o brasileiro porque o remete ao sofrimento que passou na edição israelense do festival Universo Paralello, atacado por terroristas do Hamas. Análise: Ataque contra Israel mostra 'vitória' da linha-dura do Irã, mesmo com riscos à sobrevivência do regime Naquele dia, quando os primeiros sinais da invasão começaram, ele decidiu abrigar-se em um bunker próximo. O local, projetado para cerca de 15 pessoas, acumulou mais de 40. Dessas, apenas nove sobreviveram. Ele disse ter fingido que estava morto enquanto terroristas atiravam e jogavam granadas, coquetel molotov e gás dentro da construção. Ao fundo, Zimmerman ouvia a risada dos membros do Hamas, que também gritavam repetidamente o termo “Allahu Akbar” (Deus é Grande). Ao lado dele estavam os brasileiros Rafaela Treistman e Ranani Glazer, uma das 1,2 mil vítimas assassinadas durante o atentado. — O meu maior medo é ter um ataque terrestre, por tudo que passei lá — disse Zimmerman nesta terça-feira. ‘Todos estavam em pânico’ O brasileiro Jacob Kutschenko estava em casa com a família quando os alertas começaram a circular. Pego de surpresa pelos ataques, ele disse ter reunido seus filhos “às pressas” e descido com as crianças para um bunker no subsolo do prédio onde mora, em Jerusalém. No caminho até lá, relatou, o barulho das bombas despertou o medo entre os mais novos, que não entendiam o que acontecia. Já dentro do abrigo e sem sinal de internet, os moradores tentaram conversar entre si em busca de uma distração, mas os estrondos dos mísseis eram “intensos”, e a vibração que ressoava também era forte. Sem acesso às notícias, eles precisaram buscar na intensidade do som das explosões alguma pista. — Foi tudo muito rápido, o barulho das sirenes ecoava nas ruas, e o tempo parecia estar contra nós. Em questão de segundos a gente desceu para o bunker, e pude ver nos olhos das crianças que o coração delas estava a mil. Todos estavam em pânico, os moradores do prédio também — contou, acrescentando: — Descemos as escadas correndo, segurando as crianças, que choravam. Tentei falar para elas que o bunker era muito mais seguro, mas é difícil explicar para as crianças o que acontecia lá fora. O tempo ali dentro parecia não passar. A gente não estava preparado para aquilo. Entenda o ataque Na noite desta terça-feira (por volta de 13h30 no horário de Brasília), o Irã disparou cerca de 200 mísseis balísticos contra Israel, fazendo disparar sirenes de alerta em Tel Aviv, Jerusalém e várias outras regiões do país, e acionar os sistemas de defesa antiaéreos. A Guarda Revolucionária iraniana confirmou a autoria do ataque — uma resposta ao assassinato do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, do líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, e de um comandante iraniano — e anunciou que novos disparos serão realizados caso Israel decida retaliar, o que as autoridades do Estado judeu prometeram fazer. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou que Teerã cometeu "um grande erro" e que "pagará por ele". Irã x Israel: No caso de uma guerra, quais são as capacidades de ataque e defesa de ambos os lados? Veja em gráfico Segundo a imprensa israelense, há ao menos um relato de um impacto direto de projétil em um prédio no norte da capital israelense. Apesar disso, não há informações sobre mortos em Israel, e o serviço médico fala em apenas duas pessoas com ferimentos leves causados por estilhaços e outras com ferimentos também de menor gravidade causados durante a busca por abrigo em bunkers. A imprensa palestina noticiou a morte de um homem na vila de Nu’eima, perto de Jericó, na Cisjordânia. O ataque aéreo iraniano vinha sendo discutido desde cedo, quando fontes americanas afirmaram ter recebido informações sobre preparativos no Irã para atacar diretamente Israel. Ao Times, três funcionários israelenses afirmaram, antes do disparo se concretizar, que os alvos da nova ofensiva iraniana seriam três bases aéreas militares, além de uma sede de inteligência ao norte de Tel Aviv que foi esvaziada na tarde desta terça-feira. Um repórter da Axios publicou no X que as forças iranianas atacariam o Estado judeu com mísseis balísticos que podem atingir alvos em 12 minutos, e não com drones ou mísseis de cruzeiro, que levam mais tempo. Em declaração a jornalistas, Hagari antecipou que o fogo iraniano provavelmente seria de grande escala. Em abril, o Irã realizou um ataque retaliatório sem precedentes contra Israel, lançando mais de 300 drones e mísseis em direção ao território do Estado judeu. O ataque iraniano foi feito horas depois de o Exército israelense dar um ultimato para que moradores de cerca de 30 localidades no sul do Líbano abandonassem suas casas e se dirigissem para posições no norte do país, e após o início da operação terrestre de Israel na nação vizinha, lançada na madrugada de terça-feira (noite de segunda-feira no Brasil). (Colaborou Beatriz Coutinho)

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