Banco Central eleva Selic a 11,25% e defende ‘apresentação e execução' de medidas fiscais

Decisão foi tomada por unanimidade, na primeira reunião após aprovação de Galípolo para a presidência O Banco Central pisou no acelerador e aumentou o ritmo de alta da taxa Selic, na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) desta quarta-feira. Os juros básicos da economia brasileira subiram 0,50 ponto percentual, de 10,75% para 11,25% ao ano, após o Copom retomar o ciclo de alta de juros com uma alta mais contida, de 0,25 ponto, em setembro. Assim como no encontro anterior, o BC não deu dicas sobre seus próximos passos e disse que o "ritmo de ajustes futuros e a magnitude total do ciclo" serão ditados pelo firme compromisso da convergência da inflação à meta. Com alta da Selic, o que fazer com investimentos? Veja qual título se torna mais atraente Após vitória de Trump: Ações da Tesla disparam 14,75% e Musk fica US$ 20,9 bi mais rico No comunicado da decisão, o principal alerta do Copom foi em relação à política fiscal. Mais uma vez, o comitê elevou o tom de preocupação com a dinâmica das contas públicas e com o efeito sobre a política monetária. Em meio à discussão sobre um pacote para contenção de gastos pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o BC defendeu enfaticamente que a "apresentação e execução” de medidas estruturais nas contas públicas contribuirá para uma trajetória mais favorável da inflação e, assim, para o nível de juros. ‘Vai aceitar reduzir emendas?’ Lula diz que cortes não podem ser no ‘ombro de necessitados’ e questiona Congresso Segundo o BC, o comitê tem acompanhado com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros e avalia que a percepção dos agentes sobre o cenário tem afetado “de forma relevante” os preços no mercado, como a taxa de câmbio. Na semana passada, o dólar fechou no segundo maior nível nominal da História com as dúvidas em relação ao pacote que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva estuda implementar para controlar o crescimento dos gastos públicos e dar sustentabilidade ao arcabouço fiscal e à dívida. “O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida, com a apresentação e execução de medidas estruturais para o orçamento fiscal, contribuirá para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”, disse o comunicado. Para o economista-chefe da Novus Capital, Tomás Goulart, ficou claro que a variável mais relevante para o BC definir os próximos passos é a política fiscal e o que será apresentado pelo governo para dar sustentabilidade às contas públicas. Servidor público poderá ser contratado via CLT? Entenda decisão do STF O economista avalia que a comunicação do BC indica que o Copom prefere continuar a elevar a Selic no passo de 0,50pp, mas pode ser obrigado a ir mais rápido por causa da situação fiscal. Goulart atualmente espera que o ciclo de alta dos juros se encerre em maio, com a Selic em 13%. — Mesmo que o BC goste de falar que não tem relação mecânica (entre o fiscal e a Selic), uma decepção muito significativa (com o pacote) deve fazer com que o BC acelere o ritmo de alta. Economia incerta nos EUA Após a vitória de Donald Trump na eleição presidencial dos Estados Unidos, o BC também passou a considerar que a conjuntura econômica do país é incerta, mas não fez qualquer menção ao pleito. Em setembro, o Copom falou em "inflexão" no ciclo econômico nos EUA. Carne, gasolina, pão francês e mais: veja o que pode ficar mais caro com o dólar mais alto "O ambiente externo permanece desafiador, em função, principalmente, da conjuntura econômica incerta nos Estados Unidos, o que suscita maiores dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed", disse o BC. Na avaliação de analistas, o retorno do republicano à Casa Branca traz temores de políticas inflacionárias que podem impactar o recém-iniciado corte de juros pelo Federal Reserve (BC americano), com repercussões negativas para países emergentes, como o Brasil. No comunicado desta quarta, o BC destacou que o cenário externo segue exigindo cautela dos países emergentes. No radar do BC Arte O Globo Campos Neto já vinha dizendo que as propostas de Trump e de sua rival, a atual vice-presidente, Kamala Harris, eram inflacionárias, em referência a medidas imigratórias, protecionistas e de aumento de gastos públicos. Mas ao ganhar com maioria no Congresso americano, o republicano pode dar passos ainda mais radicais. Em resposta, o dólar chegou a R$ 5,86 já na abertura dos negócios nesta quarta, mas, em uma reviravolta, fechou em queda, a R$ 5,67. O economista-chefe da Porto Asset, Felipe Sichel, afirma que a avaliação do BC sobre a economia americana deve-se mais às dúvidas sobre o desempenho da atividade no país neste momento. Para ele, o efeito da eleição de Trump sobre a condução da Selic deve demorar, mas a tendência é de juros ma

Nov 7, 2024 - 00:33
 0  1
Banco Central eleva Selic a 11,25% e defende ‘apresentação e execução' de medidas fiscais

Decisão foi tomada por unanimidade, na primeira reunião após aprovação de Galípolo para a presidência O Banco Central pisou no acelerador e aumentou o ritmo de alta da taxa Selic, na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) desta quarta-feira. Os juros básicos da economia brasileira subiram 0,50 ponto percentual, de 10,75% para 11,25% ao ano, após o Copom retomar o ciclo de alta de juros com uma alta mais contida, de 0,25 ponto, em setembro. Assim como no encontro anterior, o BC não deu dicas sobre seus próximos passos e disse que o "ritmo de ajustes futuros e a magnitude total do ciclo" serão ditados pelo firme compromisso da convergência da inflação à meta. Com alta da Selic, o que fazer com investimentos? Veja qual título se torna mais atraente Após vitória de Trump: Ações da Tesla disparam 14,75% e Musk fica US$ 20,9 bi mais rico No comunicado da decisão, o principal alerta do Copom foi em relação à política fiscal. Mais uma vez, o comitê elevou o tom de preocupação com a dinâmica das contas públicas e com o efeito sobre a política monetária. Em meio à discussão sobre um pacote para contenção de gastos pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o BC defendeu enfaticamente que a "apresentação e execução” de medidas estruturais nas contas públicas contribuirá para uma trajetória mais favorável da inflação e, assim, para o nível de juros. ‘Vai aceitar reduzir emendas?’ Lula diz que cortes não podem ser no ‘ombro de necessitados’ e questiona Congresso Segundo o BC, o comitê tem acompanhado com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros e avalia que a percepção dos agentes sobre o cenário tem afetado “de forma relevante” os preços no mercado, como a taxa de câmbio. Na semana passada, o dólar fechou no segundo maior nível nominal da História com as dúvidas em relação ao pacote que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva estuda implementar para controlar o crescimento dos gastos públicos e dar sustentabilidade ao arcabouço fiscal e à dívida. “O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida, com a apresentação e execução de medidas estruturais para o orçamento fiscal, contribuirá para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”, disse o comunicado. Para o economista-chefe da Novus Capital, Tomás Goulart, ficou claro que a variável mais relevante para o BC definir os próximos passos é a política fiscal e o que será apresentado pelo governo para dar sustentabilidade às contas públicas. Servidor público poderá ser contratado via CLT? Entenda decisão do STF O economista avalia que a comunicação do BC indica que o Copom prefere continuar a elevar a Selic no passo de 0,50pp, mas pode ser obrigado a ir mais rápido por causa da situação fiscal. Goulart atualmente espera que o ciclo de alta dos juros se encerre em maio, com a Selic em 13%. — Mesmo que o BC goste de falar que não tem relação mecânica (entre o fiscal e a Selic), uma decepção muito significativa (com o pacote) deve fazer com que o BC acelere o ritmo de alta. Economia incerta nos EUA Após a vitória de Donald Trump na eleição presidencial dos Estados Unidos, o BC também passou a considerar que a conjuntura econômica do país é incerta, mas não fez qualquer menção ao pleito. Em setembro, o Copom falou em "inflexão" no ciclo econômico nos EUA. Carne, gasolina, pão francês e mais: veja o que pode ficar mais caro com o dólar mais alto "O ambiente externo permanece desafiador, em função, principalmente, da conjuntura econômica incerta nos Estados Unidos, o que suscita maiores dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed", disse o BC. Na avaliação de analistas, o retorno do republicano à Casa Branca traz temores de políticas inflacionárias que podem impactar o recém-iniciado corte de juros pelo Federal Reserve (BC americano), com repercussões negativas para países emergentes, como o Brasil. No comunicado desta quarta, o BC destacou que o cenário externo segue exigindo cautela dos países emergentes. No radar do BC Arte O Globo Campos Neto já vinha dizendo que as propostas de Trump e de sua rival, a atual vice-presidente, Kamala Harris, eram inflacionárias, em referência a medidas imigratórias, protecionistas e de aumento de gastos públicos. Mas ao ganhar com maioria no Congresso americano, o republicano pode dar passos ainda mais radicais. Em resposta, o dólar chegou a R$ 5,86 já na abertura dos negócios nesta quarta, mas, em uma reviravolta, fechou em queda, a R$ 5,67. O economista-chefe da Porto Asset, Felipe Sichel, afirma que a avaliação do BC sobre a economia americana deve-se mais às dúvidas sobre o desempenho da atividade no país neste momento. Para ele, o efeito da eleição de Trump sobre a condução da Selic deve demorar, mas a tendência é de juros mais pressionados globalmente. Tarifas, deportação e 'instinto sobre juros': O que esperar da economia dos EUA sob Trump? — Conjunção de fatores parece indicar para mais juros na economia global. E o Brasil dificilmente escaparia — disse, citando, por exemplo, um possível aumento de tarifas de importação por Trump. Projeções distantes da meta Sobre a economia doméstica, o Copom avaliou que o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho segue apresentando dinamismo. Já em relação à inflação disse que os resultados recentes se situaram acima da meta. As projeções oficiais do colegiado para a inflação aumentaram e continuam distantes da meta de 3,0% (intervalo de tolerância de 1,5% a 4,5%). Pela primeira vez, o BC passou a ver um resultado acima do limite superior da meta para 2024, de 4,6%, contra 4,3% antes. Para 2025, a estimativa aumentou de 3,7% para 3,9%. Míriam Leitão: Políticas de Trump vão gerar inflação e déficit maiores, ainda assim dólar ficará mais forte. Entenda a dinâmica da moeda O horizonte com que o BC trabalha para colocar a inflação na meta é o segundo trimestre de 2026. Nesse caso, a projeção oficial é de 3,6%, contra o alvo de 3,0%. Até setembro, o colegiado mirava o primeiro trimestre de 2026, cuja projeção era de 3,5%. Do último encontro do Copom para cá, o BC também viu as expectativas de inflação se distanciarem ainda mais da meta de 3,0%. Em 2024, o mercado financeiro passou a prever estouro do limite superior da meta, de 4,5%, em 4,59%. Para 2025, subiu de 3,95% para 4,03%. Já para o final de 2026, a mediana chegou a 3,61%. Decisão Corte de gastos: Abono, seguro-desemprego, pisos de Saúde e Educação, veja o que está no radar Com muitas incertezas no Brasil e no mundo, o BC decidiu por uma reação mais forte por unanimidade, incluindo o atual presidente, Roberto Campos Neto, e Gabriel Galípolo, escolhido pelo presidente Lula para comandar a instituição a partir de janeiro de 2025 e já aprovado pelo Senado. Com a decisão desta quarta-feira, a taxa retoma o mesmo patamar do início deste ano. O movimento não surpreende, mesmo sem nenhuma sinalização concreta do Copom desde o encontro de setembro. Das 125 instituições financeiras consultadas pelo Valor Pro, 122 esperavam que a Selic chegasse a 11,25%. Apenas três previam alta menor, para 11%. O entendimento era que o BC precisava ser mais duro diante de um ambiente doméstico mais inflacionário, tanto por expectativas de inflação mais altas quanto pelo dólar nas alturas, a economia sobreaquecida e as preocupações fiscais. O vento do exterior também mudou com a vitória acachapante de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, dizem os analistas. Mudanças: BPC deve ter cruzamento de dados mensal e reconhecimento facial para evitar fraudes "O cenário segue marcado por resiliência na atividade, pressões no mercado de trabalho, hiato do produto positivo, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas, o que demanda uma política monetária mais contracionista", afima o comunicado.

Qual é a sua reação?

like

dislike

love

funny

angry

sad

wow