Ataque de Israel à cidade síria deixa ao menos 71 mortos, o mais letal contra o país desde o início de sua guerra civil em 2011

Agressão visa impedir que as armas cheguem ao Hezbollah e manter o regime de Bashar al-Assad na linha, que se limita a declarações retóricas de condenação Um bombardeio israelense realizado na quarta-feira contra grupos pró-Irã na Síria causou o maior número de vítimas desde o início da guerra em Gaza, em outubro de 2023: 71 mortos, de acordo com o balanço mais recente do Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH). O ataque aéreo, que atingiu vários edifícios na cidade de Palmira, destaca ainda mais a expansão dos ataques israelenses na Síria — que se tornaram quase diários — para impedir que as armas cheguem ao movimento xiita libanês Hezbollah e para garantir que o regime de Bashar al-Assad seguirá limitando-se a responder com declarações retóricas de condenação. Contexto: Israel estende sua ofensiva na região à Síria frente à inação de Damasco Entenda o porquê: Em conflito com o Hezbollah, Israel bombardeia alvos na Síria O Observatório cita entre os alvos dos bombardeios um armazém na zona industrial (habitado por famílias de combatentes estrangeiros alinhados com o Irã), um restaurante e outros edifícios. A ONG anunciou que as vítimas incluem 45 combatentes sírios pró-Irã e 26 estrangeiros, a maioria iraquianos do grupo al-Nujaba, mas também quatro membros do Hezbollah. Segundo o OSDH, há civis entre os feridos. Palmira, a nordeste de Damasco, tomada pelo Estado Islâmico (EI) em 2015 e recapturada pelas tropas do regime quase um ano depois, abriga ruínas que foram declaradas Patrimônio Mundial da UNESCO. — [Os bombardeios são] os mais letais contra os grupos pró-Irã na Síria desde o início da guerra [no país em 2011] — declarou à AFP o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman. Desde 2011, Israel efetuou centenas de ataques direcionados contra o Exército sírio e grupos apoiados por Teerã. O atual ministro da defesa de Israel, Gideon Saar, pediu em setembro deste ano para "deixar claro a Assad que se ele decidir prejudicar a segurança de Israel [...] ele coloca seu regime em risco" e lamentou ter "perdido a oportunidade" de derrubá-lo durante a guerra antes que o Irã e o Hezbollah viessem "salvá-lo". Gaza como catalisador Damasco frequentemente minimiza ou oculta suas perdas em tais ataques que têm como alvo o Hezbollah, as forças iranianas e outros grupos armados próximos a Teerã. As aeronaves israelenses realizam esses ataques há anos, mas eles aumentaram significativamente desde a escalada na região, há pouco mais de um ano, após o ataque do Hamas em solo israelense e, acima de tudo, nas últimas semanas, paralelamente à guerra aberta que Israel lançou no vizinho Líbano. Mapa: Veja os alvos de ataque israelense no Irã e na Síria em outubro Assad, mais preocupado com sua sobrevivência do que em retribuir ao Irã e ao Hezbollah, hoje em apuros, a ajuda que lhe deram há uma década (quando seu futuro na guerra parecia muito mais sombrio), tem sido discreto em relação aos ataques israelenses, ainda que sejam contra seu território e também tenham matado dezenas de soldados. Como funciona a guerra no Oriente Médio além do front Arte/O GLOBO Ele parece estar mais interessado em consolidar sua aliança com a Rússia — cuja entrada em cena em 2015 foi o verdadeiro ponto de virada a seu favor na frente de combate — e aprofundar sua aproximação com os países do Golfo (com dinheiro para a economia destruída da Síria). Também em sua reabilitação em relação ao Ocidente, aproveitando o fato de que o eventual retorno dos refugiados sírios soa muito bem aos ouvidos dos países europeus com governos hostis à presença de estrangeiros, especialmente muçulmanos. Por um lado, o líder sírio não pode, por enquanto, se desvincular completamente da aliança com Teerã, porque ela fornece a ele fundos e pelo menos um terço de seu combustível. Por outro, ele está evitando que a fronteira com Israel se torne abertamente uma frente de ataque. Tanto Assad quanto Moscou, além disso, estão dando a Israel carta branca na prática para os bombardeios israelenses contra a Guarda Revolucionária iraniana e o Hezbollah. Em setembro: Três civis, incluindo uma jornalista síria, morrem em ataque israelense em Damasco, diz TV estatal Assad também não aderiu à chamada estratégia de "unidade de frentes" de Teerã diante da invasão de Gaza, inclusive reprimindo os protestos nos campos de refugiados palestinos. Ele não perdoou o Hamas por ter se alinhado com os rebeldes no início da guerra, o que levou à expulsão da Síria dos líderes do grupo. Rotas de contrabando É nesse cenário que o governo de Benjamin Netanyahu se propôs a enfraquecer o Irã e seus aliados, onde quer que estejam, punindo sistematicamente as rotas de entrega de armas ao movimento xiita libanês através da Síria, bem como matando combatentes e aqueles que os facilitam. Na semana passada, o Exército israelense anunciou em um comunicado que havia bombardeado "rotas de contrabando" de armas na Síria. Uma fonte militar citada pela agência de notícias estatal síria reconheceu "danos

Nov 21, 2024 - 11:44
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Ataque de Israel à cidade síria deixa ao menos 71 mortos, o mais letal contra o país desde o início de sua guerra civil em 2011

Agressão visa impedir que as armas cheguem ao Hezbollah e manter o regime de Bashar al-Assad na linha, que se limita a declarações retóricas de condenação Um bombardeio israelense realizado na quarta-feira contra grupos pró-Irã na Síria causou o maior número de vítimas desde o início da guerra em Gaza, em outubro de 2023: 71 mortos, de acordo com o balanço mais recente do Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH). O ataque aéreo, que atingiu vários edifícios na cidade de Palmira, destaca ainda mais a expansão dos ataques israelenses na Síria — que se tornaram quase diários — para impedir que as armas cheguem ao movimento xiita libanês Hezbollah e para garantir que o regime de Bashar al-Assad seguirá limitando-se a responder com declarações retóricas de condenação. Contexto: Israel estende sua ofensiva na região à Síria frente à inação de Damasco Entenda o porquê: Em conflito com o Hezbollah, Israel bombardeia alvos na Síria O Observatório cita entre os alvos dos bombardeios um armazém na zona industrial (habitado por famílias de combatentes estrangeiros alinhados com o Irã), um restaurante e outros edifícios. A ONG anunciou que as vítimas incluem 45 combatentes sírios pró-Irã e 26 estrangeiros, a maioria iraquianos do grupo al-Nujaba, mas também quatro membros do Hezbollah. Segundo o OSDH, há civis entre os feridos. Palmira, a nordeste de Damasco, tomada pelo Estado Islâmico (EI) em 2015 e recapturada pelas tropas do regime quase um ano depois, abriga ruínas que foram declaradas Patrimônio Mundial da UNESCO. — [Os bombardeios são] os mais letais contra os grupos pró-Irã na Síria desde o início da guerra [no país em 2011] — declarou à AFP o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman. Desde 2011, Israel efetuou centenas de ataques direcionados contra o Exército sírio e grupos apoiados por Teerã. O atual ministro da defesa de Israel, Gideon Saar, pediu em setembro deste ano para "deixar claro a Assad que se ele decidir prejudicar a segurança de Israel [...] ele coloca seu regime em risco" e lamentou ter "perdido a oportunidade" de derrubá-lo durante a guerra antes que o Irã e o Hezbollah viessem "salvá-lo". Gaza como catalisador Damasco frequentemente minimiza ou oculta suas perdas em tais ataques que têm como alvo o Hezbollah, as forças iranianas e outros grupos armados próximos a Teerã. As aeronaves israelenses realizam esses ataques há anos, mas eles aumentaram significativamente desde a escalada na região, há pouco mais de um ano, após o ataque do Hamas em solo israelense e, acima de tudo, nas últimas semanas, paralelamente à guerra aberta que Israel lançou no vizinho Líbano. Mapa: Veja os alvos de ataque israelense no Irã e na Síria em outubro Assad, mais preocupado com sua sobrevivência do que em retribuir ao Irã e ao Hezbollah, hoje em apuros, a ajuda que lhe deram há uma década (quando seu futuro na guerra parecia muito mais sombrio), tem sido discreto em relação aos ataques israelenses, ainda que sejam contra seu território e também tenham matado dezenas de soldados. Como funciona a guerra no Oriente Médio além do front Arte/O GLOBO Ele parece estar mais interessado em consolidar sua aliança com a Rússia — cuja entrada em cena em 2015 foi o verdadeiro ponto de virada a seu favor na frente de combate — e aprofundar sua aproximação com os países do Golfo (com dinheiro para a economia destruída da Síria). Também em sua reabilitação em relação ao Ocidente, aproveitando o fato de que o eventual retorno dos refugiados sírios soa muito bem aos ouvidos dos países europeus com governos hostis à presença de estrangeiros, especialmente muçulmanos. Por um lado, o líder sírio não pode, por enquanto, se desvincular completamente da aliança com Teerã, porque ela fornece a ele fundos e pelo menos um terço de seu combustível. Por outro, ele está evitando que a fronteira com Israel se torne abertamente uma frente de ataque. Tanto Assad quanto Moscou, além disso, estão dando a Israel carta branca na prática para os bombardeios israelenses contra a Guarda Revolucionária iraniana e o Hezbollah. Em setembro: Três civis, incluindo uma jornalista síria, morrem em ataque israelense em Damasco, diz TV estatal Assad também não aderiu à chamada estratégia de "unidade de frentes" de Teerã diante da invasão de Gaza, inclusive reprimindo os protestos nos campos de refugiados palestinos. Ele não perdoou o Hamas por ter se alinhado com os rebeldes no início da guerra, o que levou à expulsão da Síria dos líderes do grupo. Rotas de contrabando É nesse cenário que o governo de Benjamin Netanyahu se propôs a enfraquecer o Irã e seus aliados, onde quer que estejam, punindo sistematicamente as rotas de entrega de armas ao movimento xiita libanês através da Síria, bem como matando combatentes e aqueles que os facilitam. Na semana passada, o Exército israelense anunciou em um comunicado que havia bombardeado "rotas de contrabando" de armas na Síria. Uma fonte militar citada pela agência de notícias estatal síria reconheceu "danos significativos" que tornaram inutilizáveis algumas infraestruturas, como pontes e estradas. O mesmo foi feito do outro lado da fronteira, com estradas no Líbano que levam à fronteira com a Síria. Essas são as mesmas estradas que centenas de milhares de civis (refugiados sírios e libaneses) têm usado desde setembro para fugir dos bombardeios em cada vez mais partes do território libanês. Sua jornada agora, carregada de pertences, é ainda mais difícil. Fluxo reverso: Cerca de 100 mil pessoas fugiram do Líbano para a Síria pelo conflito de Israel com o Hezbollah, diz ONU O OSDH contabiliza 152 ataques israelenses na Síria até agora neste ano. Eles mataram 303 combatentes e 62 civis. A divisão é ilustrativa: 25 membros da Guarda Revolucionária Iraniana, 55 do Hezbollah e 88 sírios de milícias pró-iranianas. Os demais são principalmente combatentes de outras nacionalidades (como iraquianos) e soldados do Exército sírio. Desde setembro, os ataques têm ocorrido quase diariamente e incluem a capital, Damasco, e Quseir, uma cidade a poucos quilômetros da fronteira libanesa, considerada um reduto do Hezbollah. Somente nos primeiros dez dias de novembro, houve oito ataques em quatro áreas diferentes, incluindo cruzamentos com o Líbano, tanto oficiais quanto não oficiais, de acordo com o Observatório. Além disso, houve uma extraordinária incursão terrestre de suas forças de elite para destruir uma fábrica subterrânea de mísseis guiados de precisão, conforme relatado pela mídia americana Axios. É um sinal da penetração alcançada por seus serviços de inteligência, também palpável nos ataques coordenados a milhares de pagers e walkie-talkies encomendados pelo Hezbollah e nos assassinatos de seu líder, Hasan Nasrallah, e do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, em plena capital iraniana. (Com AFP)

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