Vitória de Trump indica guinada radical na relação da Casa Branca com a América Latina
Retorno do republicano implica relações mais hostis e uma radicalização de sua política de controle migratório O ex-presidente Donald Trump venceu a disputa com a vice-presidente e candidata democrata Kamala Harris e vai comandar os Estados Unidos pela segunda vez na história. O resultado da eleição americana pode significar uma guinada radical na relação da Casa Branca com a América Latina, apontam os analistas ouvidos pelo GLOBO, que comparam o retorno do republicano com o ato de “jogar uma bomba sem medir as consequências”. Análise: É a economia, estúpido, que encaminha Trump à Casa Branca e remodela o cenário eleitoral dos EUA Guga Chacra: Empoderado e messiânico, Trump se vinga e volta à Casa Branca A “bomba” que Trump lançaria contra os países latino-americanos, nas palavras de Michael Cohen, professor da universidade The New School, de Nova York, seria uma radicalização de sua política de controle migratório. Ao longo da campanha, o republicano atacou com extrema agressividade os imigrantes da região, chegando a dizer, no caso dos haitianos, que eles “comem cachorros e gatos” de moradores do estado de Ohio. — Acredito que as promessas de deportação em massa de imigrantes serão cumpridas. Acho que Trump seria capaz de separar pais de filhos que nasceram nos EUA — afirma Cohen, que prevê uma relação profundamente complicada entre Trump e a nova presidente do México, Claudia Sheinbaum. Após 132 anos: Trump se torna segundo presidente na História americana a ser novamente eleito após perder reeleição Em 2023, o número de imigrantes irregulares no país ultrapassou 11,7 milhões de pessoas, a maioria de países da região. No topo da lista estão México e Venezuela. Por isso, o México, afirmaram todos os analistas consultados, é o país que mais temia a volta de Trump ao poder. — No primeiro governo Trump, a relação bilateral foi salva pela capacidade de [ex-presidente] Andrés Manuel López Obrador de construir um vinculo pragmático. Poderá Sheibaum repetir esse modelo? Não sabemos — questiona. — Para Trump, com o México tudo girará em torno de fronteira e migração. Já para os mexicanos a questão é o comércio, já que o país, hoje, é o principal sócio dos EUA. Com Kamala, a América do Norte teria um período de maior estabilidade. A questão migratória nos EUA em números; veja Arte/O GLOBO Deportação em massa O ex-embaixador dos EUA no Brasil, no entanto, acredita que não será fácil para Trump cumprir sua promessa de deportação em massa de latino-americanos, mas garante que o republicano “vai tentar” — e uma eventual tentativa impactaria toda a região. Na opinião de Brian Winter, editor-chefe da revista Americas Quarterly, “a relação com o México será hostil”. — Em 2026, haverá uma renegociação do acordo entre EUA, Canadá e México. Não podemos subestimar o nível de conflito que haveria (com a vitória de Trump) — alerta. — E uma eventual deportação em massa teria impacto na região e na economia americana. Jill Stein, Robert Kennedy Jr. e Chase Oliver: como foi o desempenho dos outros candidatos nas eleições dos EUA? Os mexicanos, concordaram os analistas, podem sofrer, ainda, com uma elevação de tarifas comerciais que afetaria enormemente suas exportações para o mercado americano. Trump questiona a presença de empresas chinesas no México, sobretudo no setor automobilístico, e sua ofensiva contra a China também teria o vizinho como alvo. Além do México, a Venezuela também deve se preocupar com a vitória de Trump. Nos últimos anos, os venezuelanos ficaram em segundo lugar no ranking de imigrantes irregulares nos EUA, superados apenas pelos mexicanos, de acordo com dados da Pew Research. Em 2023, das 520 mil pessoas que cruzaram a selva de Darién, na fronteira entre o Panamá e a Colômbia, rumo aos EUA, 328 mil eram venezuelanos. Conheça Melania Trump: esposa de Trump voltará à Casa Branca como primeira-dama O país também foi o mais citado na cobertura eleitoral dentre os vizinhos — superando o México, de acordo com um estudo da agência Imagem Corporativa em parceria com a Universidade da Geórgia. Mas, apesar das bravatas do republicano, analistas apontam dois cenários possíveis com sua eventual vitória: um acordo com o ditador Nicolás Maduro, com base em seus interesses no petróleo venezuelano, ou uma ofensiva radical para tirar o líder chavista do poder. — Em Washington, comenta-se que membros da oposição venezuelana se reuniram com assessores de Trump e ficaram decepcionados ao ouvir que existe a possibilidade de uma acomodação. Trump não quer um Guaidó 2, isso fracassou — diz Michael Shifter, professor da Universidade Georgetown, em referência ao líder opositor Juan Guaidó. Guaidó foi reconhecido como presidente interino da Venezuela pelos EUA e mais de 50 países, de 2019 até janeiro de 2023, em uma tentativa fracassada de tirar Maduro do poder a qualquer custo. Um cenário de máxima pressão contra o governo venezuelano não pode ser descartado, mas Shannon lembra que as fracassadas tentativas de Trump de tirar
Retorno do republicano implica relações mais hostis e uma radicalização de sua política de controle migratório O ex-presidente Donald Trump venceu a disputa com a vice-presidente e candidata democrata Kamala Harris e vai comandar os Estados Unidos pela segunda vez na história. O resultado da eleição americana pode significar uma guinada radical na relação da Casa Branca com a América Latina, apontam os analistas ouvidos pelo GLOBO, que comparam o retorno do republicano com o ato de “jogar uma bomba sem medir as consequências”. Análise: É a economia, estúpido, que encaminha Trump à Casa Branca e remodela o cenário eleitoral dos EUA Guga Chacra: Empoderado e messiânico, Trump se vinga e volta à Casa Branca A “bomba” que Trump lançaria contra os países latino-americanos, nas palavras de Michael Cohen, professor da universidade The New School, de Nova York, seria uma radicalização de sua política de controle migratório. Ao longo da campanha, o republicano atacou com extrema agressividade os imigrantes da região, chegando a dizer, no caso dos haitianos, que eles “comem cachorros e gatos” de moradores do estado de Ohio. — Acredito que as promessas de deportação em massa de imigrantes serão cumpridas. Acho que Trump seria capaz de separar pais de filhos que nasceram nos EUA — afirma Cohen, que prevê uma relação profundamente complicada entre Trump e a nova presidente do México, Claudia Sheinbaum. Após 132 anos: Trump se torna segundo presidente na História americana a ser novamente eleito após perder reeleição Em 2023, o número de imigrantes irregulares no país ultrapassou 11,7 milhões de pessoas, a maioria de países da região. No topo da lista estão México e Venezuela. Por isso, o México, afirmaram todos os analistas consultados, é o país que mais temia a volta de Trump ao poder. — No primeiro governo Trump, a relação bilateral foi salva pela capacidade de [ex-presidente] Andrés Manuel López Obrador de construir um vinculo pragmático. Poderá Sheibaum repetir esse modelo? Não sabemos — questiona. — Para Trump, com o México tudo girará em torno de fronteira e migração. Já para os mexicanos a questão é o comércio, já que o país, hoje, é o principal sócio dos EUA. Com Kamala, a América do Norte teria um período de maior estabilidade. A questão migratória nos EUA em números; veja Arte/O GLOBO Deportação em massa O ex-embaixador dos EUA no Brasil, no entanto, acredita que não será fácil para Trump cumprir sua promessa de deportação em massa de latino-americanos, mas garante que o republicano “vai tentar” — e uma eventual tentativa impactaria toda a região. Na opinião de Brian Winter, editor-chefe da revista Americas Quarterly, “a relação com o México será hostil”. — Em 2026, haverá uma renegociação do acordo entre EUA, Canadá e México. Não podemos subestimar o nível de conflito que haveria (com a vitória de Trump) — alerta. — E uma eventual deportação em massa teria impacto na região e na economia americana. Jill Stein, Robert Kennedy Jr. e Chase Oliver: como foi o desempenho dos outros candidatos nas eleições dos EUA? Os mexicanos, concordaram os analistas, podem sofrer, ainda, com uma elevação de tarifas comerciais que afetaria enormemente suas exportações para o mercado americano. Trump questiona a presença de empresas chinesas no México, sobretudo no setor automobilístico, e sua ofensiva contra a China também teria o vizinho como alvo. Além do México, a Venezuela também deve se preocupar com a vitória de Trump. Nos últimos anos, os venezuelanos ficaram em segundo lugar no ranking de imigrantes irregulares nos EUA, superados apenas pelos mexicanos, de acordo com dados da Pew Research. Em 2023, das 520 mil pessoas que cruzaram a selva de Darién, na fronteira entre o Panamá e a Colômbia, rumo aos EUA, 328 mil eram venezuelanos. Conheça Melania Trump: esposa de Trump voltará à Casa Branca como primeira-dama O país também foi o mais citado na cobertura eleitoral dentre os vizinhos — superando o México, de acordo com um estudo da agência Imagem Corporativa em parceria com a Universidade da Geórgia. Mas, apesar das bravatas do republicano, analistas apontam dois cenários possíveis com sua eventual vitória: um acordo com o ditador Nicolás Maduro, com base em seus interesses no petróleo venezuelano, ou uma ofensiva radical para tirar o líder chavista do poder. — Em Washington, comenta-se que membros da oposição venezuelana se reuniram com assessores de Trump e ficaram decepcionados ao ouvir que existe a possibilidade de uma acomodação. Trump não quer um Guaidó 2, isso fracassou — diz Michael Shifter, professor da Universidade Georgetown, em referência ao líder opositor Juan Guaidó. Guaidó foi reconhecido como presidente interino da Venezuela pelos EUA e mais de 50 países, de 2019 até janeiro de 2023, em uma tentativa fracassada de tirar Maduro do poder a qualquer custo. Um cenário de máxima pressão contra o governo venezuelano não pode ser descartado, mas Shannon lembra que as fracassadas tentativas de Trump de tirar Maduro do poder levaram a um dos maiores êxodos da História do Hemisfério Ocidental. — Trump deverá tentar outra coisa, e Maduro terá que se precaver. Um apoio à Guiana na disputa pelo Essequibo não pode ser descartado. O Brasil também temia a vitória de Trump — o governo manifestou seu apoio a Kamala publicamente na sexta-feira. A volta do republicano ao poder será, segundo as fontes, “uma derrota para a democracia na região”, e Lula deverá extremar o pragmatismo para se relacionar com Trump, como Biden fez com Jair Bolsonaro. O que está claro é que os melhores amigos do republicano na região serão o argentino Javier Milei e o salvadorenho Nayib Bukele. Mas, frisaram os analistas, ambos não devem esperar muito de um Trump que prioriza seus interesses domésticos e globais.
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