Vini Jr é um craque além do campo, e seu lugar na elite é indiscutível
Prêmios individuais num esporte coletivo são um convite à controvérsia, muitas vezes à injustiça, tantas vezes uma obsessão transformada em contrassenso. Na era do culto às celebridades, satisfazem um público e fazem a indústria girar. Em países carentes de conquistas como o Brasil, ganham uma importância exagerada, transformados na falsa medida de nosso lugar na hierarquia do jogo global. O que explica a não eleição de Vinicius Júnior, o melhor jogador da última temporada europeia, repercutir como se a própria seleção brasileira tivesse sofrido uma derrota não merecida. Há pontos a ponderar. O primeiro deles, é que o prêmio não foi entregue a um jogador de classe inferior. Não deve ter sido por acaso que o Manchester City ficou 74 jogos sem perder com Rodri em campo. O espanhol é um daqueles meio-campistas capazes de dominar o campo, ordenar uma equipe e controlar partidas. Ainda assim, sua melhor temporada foi em 2022-2023. Na mais recente, mas não foi o melhor jogador do Manchester City – foi Phil Foden -, tampouco o melhor meia espanhol na Eurocopa – foi Fabián Ruiz. Vinicius Júnior foi o melhor jogador da última temporada, e entender por que não levou o prêmio implicaria escutar as razões de cada um dos 100 jornalistas de 100 países diferentes que votaram. Não é possível. O que se pode fazer é analisar o contexto que cerca o atacante brasileiro. Vinícius se tornou um símbolo, e era natural que o debate viesse à tona. O cotidiano se esforça para que, todo dia, meninos pretos saibam o que se espera deles: a aceitação de uma lógica estruturalmente racista. Vinicius decidiu que iria lutar, desafiar o privilégio branco, mesmo sendo um jovem levado a viver numa sociedade que esperava dele a submissão. Confrontado com manifestações desavergonhadamente racistas, reagiu com uma firmeza desconcertante, o que fez dele alvo de ataques cada vez mais cruéis de quem via seus privilégios contestados. E enfrentou cada um deles com a espantosa capacidade, aos 24 anos, de combinar as mensagens mais precisas com um futebol encantador. Contribuiu tanto com o jogo quanto com o mundo ao seu redor. Mas não é possível dizer que ele não foi eleito pela questão racial. Afinal, implicaria acusar de racismo cada um dos jornalistas que não votou nele, o que é leviano. E é preciso aceitar, embora seja justíssimo discordar, que analistas tenham achado Rodri o merecedor do troféu. O que se pôde perceber foi como o título europeu da Espanha funcionou para que o nome de Rodri surgisse como a alternativa a Vinicius, logo encampada pela corrente europeia que via no brasileiro uma ameaça. É possível que toda a campanha por Rodri, a repetição de seus números e feitos, tenha induzido um certo número de eleitores. Por ora, esta é uma especulação. É ingênuo desconhecer que questões raciais permeiam relações na sociedade, mas não há elementos para assegurar que foram estas questões que separaram Vinícius do prêmio. À distância, é difícil dizer como se sente Vinicius, que feridas estão abertas e quanta dor sentiu a cada ataque. Como observador distante, e mesmo com todo o risco de cometer uma injustiça, é natural lamentar que o Real Madrid não tenha permitido que ele viajasse para a cerimônia. Num mundo ideal, em especial no ambiente do esporte, os vencedores celebram, os adversários os cumprimentam. E Vinicius reforçaria sua posição de fair play. O futebol brasileiro não passou a ter menos chances de ganhar a próxima Copa porque Vinicius não foi eleito. O jejum de títulos se resolve formando uma seleção forte, o que inclui Vinicius. A segunda posição na Bola de Ouro mostra que, para tanta gente, ele foi o melhor jogador do mundo no último ano. Seu lugar na elite é indiscutível. A barbárie É surreal pensar que o estado brasileiro olhe para o futebol e não enxergue na violência o tema que mais clama por intervenção. As cenas bárbaras na rodovia Fernão Dias são o retrato de uma escalada sem limites. A complexidade por trás de grupo organizados impõe um plano nacional de segurança capaz de debater desde serviços especializados de inteligência até mudanças de legislação. E as autoridades esportivas precisarão estar à mesa. Suspensos O afastamento em série de árbitros após uma rodada desastrosa era esperado, mas não parece conduzir a uma solução. Primeiro, porque soa como uma mera resposta à opinião pública, diante da falta de uma estrutura de treinamento eficiente e de uma boa direção na CBF. Segundo, porque não ataca temas como a profissionalização dos árbitros, além da mudança de atitude de clubes, atletas e comissões técnicas em torno dos juízes. Caminho da taça O Botafogo conseguiu uma vitória muito significativa em Bragança Paulista. Mais do que fazer sua vantagem na liderança voltar a três pontos, o alvinegro ganhou um jogo dias após a imensa exigência física e emocional da goleada sobre o Peñarol, e num jogo em que foi obrigado, por razões físicas, a usar seu banco de reservas na segunda etapa. Por pior que seja o momento do Bragantino,
Prêmios individuais num esporte coletivo são um convite à controvérsia, muitas vezes à injustiça, tantas vezes uma obsessão transformada em contrassenso. Na era do culto às celebridades, satisfazem um público e fazem a indústria girar. Em países carentes de conquistas como o Brasil, ganham uma importância exagerada, transformados na falsa medida de nosso lugar na hierarquia do jogo global. O que explica a não eleição de Vinicius Júnior, o melhor jogador da última temporada europeia, repercutir como se a própria seleção brasileira tivesse sofrido uma derrota não merecida. Há pontos a ponderar. O primeiro deles, é que o prêmio não foi entregue a um jogador de classe inferior. Não deve ter sido por acaso que o Manchester City ficou 74 jogos sem perder com Rodri em campo. O espanhol é um daqueles meio-campistas capazes de dominar o campo, ordenar uma equipe e controlar partidas. Ainda assim, sua melhor temporada foi em 2022-2023. Na mais recente, mas não foi o melhor jogador do Manchester City – foi Phil Foden -, tampouco o melhor meia espanhol na Eurocopa – foi Fabián Ruiz. Vinicius Júnior foi o melhor jogador da última temporada, e entender por que não levou o prêmio implicaria escutar as razões de cada um dos 100 jornalistas de 100 países diferentes que votaram. Não é possível. O que se pode fazer é analisar o contexto que cerca o atacante brasileiro. Vinícius se tornou um símbolo, e era natural que o debate viesse à tona. O cotidiano se esforça para que, todo dia, meninos pretos saibam o que se espera deles: a aceitação de uma lógica estruturalmente racista. Vinicius decidiu que iria lutar, desafiar o privilégio branco, mesmo sendo um jovem levado a viver numa sociedade que esperava dele a submissão. Confrontado com manifestações desavergonhadamente racistas, reagiu com uma firmeza desconcertante, o que fez dele alvo de ataques cada vez mais cruéis de quem via seus privilégios contestados. E enfrentou cada um deles com a espantosa capacidade, aos 24 anos, de combinar as mensagens mais precisas com um futebol encantador. Contribuiu tanto com o jogo quanto com o mundo ao seu redor. Mas não é possível dizer que ele não foi eleito pela questão racial. Afinal, implicaria acusar de racismo cada um dos jornalistas que não votou nele, o que é leviano. E é preciso aceitar, embora seja justíssimo discordar, que analistas tenham achado Rodri o merecedor do troféu. O que se pôde perceber foi como o título europeu da Espanha funcionou para que o nome de Rodri surgisse como a alternativa a Vinicius, logo encampada pela corrente europeia que via no brasileiro uma ameaça. É possível que toda a campanha por Rodri, a repetição de seus números e feitos, tenha induzido um certo número de eleitores. Por ora, esta é uma especulação. É ingênuo desconhecer que questões raciais permeiam relações na sociedade, mas não há elementos para assegurar que foram estas questões que separaram Vinícius do prêmio. À distância, é difícil dizer como se sente Vinicius, que feridas estão abertas e quanta dor sentiu a cada ataque. Como observador distante, e mesmo com todo o risco de cometer uma injustiça, é natural lamentar que o Real Madrid não tenha permitido que ele viajasse para a cerimônia. Num mundo ideal, em especial no ambiente do esporte, os vencedores celebram, os adversários os cumprimentam. E Vinicius reforçaria sua posição de fair play. O futebol brasileiro não passou a ter menos chances de ganhar a próxima Copa porque Vinicius não foi eleito. O jejum de títulos se resolve formando uma seleção forte, o que inclui Vinicius. A segunda posição na Bola de Ouro mostra que, para tanta gente, ele foi o melhor jogador do mundo no último ano. Seu lugar na elite é indiscutível. A barbárie É surreal pensar que o estado brasileiro olhe para o futebol e não enxergue na violência o tema que mais clama por intervenção. As cenas bárbaras na rodovia Fernão Dias são o retrato de uma escalada sem limites. A complexidade por trás de grupo organizados impõe um plano nacional de segurança capaz de debater desde serviços especializados de inteligência até mudanças de legislação. E as autoridades esportivas precisarão estar à mesa. Suspensos O afastamento em série de árbitros após uma rodada desastrosa era esperado, mas não parece conduzir a uma solução. Primeiro, porque soa como uma mera resposta à opinião pública, diante da falta de uma estrutura de treinamento eficiente e de uma boa direção na CBF. Segundo, porque não ataca temas como a profissionalização dos árbitros, além da mudança de atitude de clubes, atletas e comissões técnicas em torno dos juízes. Caminho da taça O Botafogo conseguiu uma vitória muito significativa em Bragança Paulista. Mais do que fazer sua vantagem na liderança voltar a três pontos, o alvinegro ganhou um jogo dias após a imensa exigência física e emocional da goleada sobre o Peñarol, e num jogo em que foi obrigado, por razões físicas, a usar seu banco de reservas na segunda etapa. Por pior que seja o momento do Bragantino, vitórias assim pavimentam o caminho do título.
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