Uso de mísseis de longo alcance pela Ucrânia pode forçar Rússia a negociar paz, defende líder diplomático dos EUA para o Ocidente
No Rio para o G20, o secretário de Estado assistente Brian A. Nichols conversou com o jornal O Globo sobre temas sensíveis da cúpula e parceria com Brasil sobre transição energética Brian A. Nichols é preciso com as palavras, mas não entrega o jogo facilmente. Chefe diplomático dos Estados Unidos para assuntos ligados aos países do Hemisfério Ocidental, ele conversou com O GLOBO no Rio de Janeiro, à margem da cúpula de líderes do G20, e falou sobre a guerra na Ucrânia, um dia após Washington autorizar o uso de mísseis de longo alcance de fabricação americana por Kiev. Também comentou sobre a parceria de transição energética que será lançada com o Brasil na terça-feira, e defendeu que as relações de Estado estão acima de seus governantes, em referência clara à mudança de governo que acontecerá em janeiro, quando o democrata Joe Biden dará lugar na Casa Branca ao republicano Donald Trump — um negacionista do clima convicto. Iniciativa brasileira: Lula lança oficialmente a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza na Cúpula do G20 Bastidores: Guerra na Ucrânia e conflito em Gaza dificultam consensos na cúpula de líderes do G20 no Rio Um tópico sensível da Cúpula do G20 são as guerras no Oriente Médio e na Ucrânia. No domingo, os EUA autorizaram o uso de mísseis de longo alcance de fabricação americana pela Ucrânia. Isso não poderia escalar ainda mais a guerra? Devemos lembrar que a guerra começou com a nova invasão não provocada da Rússia na Ucrânia. O conflito na Ucrânia pode acabar agora mesmo se a Rússia retirar suas tropas da Ucrânia e respeitar as fronteiras da Ucrânia. Esse sempre foi o caso. As armas que o presidente Biden autorizou a Ucrânia a usar darão a ela maior capacidade de se defender e, com sorte, permitirão que a Federação Russa entenda que o uso da força para tomar o território ucraniano não será bem-sucedido e talvez ela começará a negociar a paz ou, melhor ainda, simplesmente irá se retirar do território ucraniano. São eles que têm o controle total sobre a duração ou não desse conflito. Initial plugin text Quais as chances de o conflito ser mencionado na declaração final de líderes do G20? Haverá um apelo claro pelo fim do conflito na Ucrânia, mas quer isso seja abordado diretamente ou em declarações separadas pelos membros, o importante é que essa foi uma oportunidade para os líderes se reunirem para discutir suas perspectivas sobre esse desafio e para tentar resolver o conflito. Segundo fontes oficiais, amanhã será anunciada uma iniciativa conjunta entre Brasil e EUA sobre transição energética no âmbito do G20. O senhor poderia adiantar alguns detalhes dessa parceria? Não posso estragar a surpresa, mas entre as coisas que são realmente vitais para os EUA e o Brasil está a adoção de uma abordagem holística para combater a mudança climática, e fornecer uma variedade de fontes alternativas de energia é vital para isso. O Brasil, com seu clima e sua produção agrícola, tem uma grande oportunidade para a energia solar, para o biodiesel e também para aumentar a eficiência de nossos veículos e de nossas usinas de energia. Todas essas coisas são prioridades para ambos os governos, à medida que buscamos lidar com o principal desafio de nosso tempo, que é a mudança climática. Podemos esperar mais um anúncio de financiamento americano? O governo Biden tem feito tudo o que pode para fornecer recursos para combater as mudanças climáticas. O presidente ultrapassou os US$ 11 bilhões que prometeu em cooperação internacional. Internamente, por meio da Lei de Redução da Inflação, fez o maior investimento de todos os tempos no combate às mudanças climáticas por qualquer país, mais de US$ 300 bilhões. E esse trabalho, acreditamos, prepara o terreno para uma melhoria de longo prazo em nossa pegada de carbono, não apenas nos EUA, mas com nossos parceiros em todo o mundo. Quando observamos a cooperação que temos visto, seja na COP 29, que está acontecendo agora, na APEC, que acabou de acontecer em Lima, e no G20 aqui no Rio, todos eles estão abordando esse tema e os países do mundo todo estão reiterando seu compromisso de enfrentar esse desafio. O clima é uma das pautas mais importantes da agenda compartilhada por Lula e Biden, mas é um dos temas que deverão gerar mais atrito com Trump. Por que anunciar esta iniciativa agora sabendo que ela poderá ser cancelada pelo próximo presidente? Todos os dias temos que fazer o que pudermos para enfrentar esse desafio, e o presidente Biden, desde seu primeiro dia no cargo, enfatizou seu compromisso com o combate às mudanças climáticas. Nossa liderança tem se concentrado na questão das soluções sustentáveis para combater as mudanças climáticas e ajudar a criar resiliência à medida que vemos países afetados por esses desafios. O trabalho com o qual o presidente Biden comprometeu os EUA, creio eu, fez grandes avanços. E espero que, independentemente das decisões de um líder ou de um governo, seja nos EUA ou em outro país, o impulso global para enfrentar as mudanças cli
No Rio para o G20, o secretário de Estado assistente Brian A. Nichols conversou com o jornal O Globo sobre temas sensíveis da cúpula e parceria com Brasil sobre transição energética Brian A. Nichols é preciso com as palavras, mas não entrega o jogo facilmente. Chefe diplomático dos Estados Unidos para assuntos ligados aos países do Hemisfério Ocidental, ele conversou com O GLOBO no Rio de Janeiro, à margem da cúpula de líderes do G20, e falou sobre a guerra na Ucrânia, um dia após Washington autorizar o uso de mísseis de longo alcance de fabricação americana por Kiev. Também comentou sobre a parceria de transição energética que será lançada com o Brasil na terça-feira, e defendeu que as relações de Estado estão acima de seus governantes, em referência clara à mudança de governo que acontecerá em janeiro, quando o democrata Joe Biden dará lugar na Casa Branca ao republicano Donald Trump — um negacionista do clima convicto. Iniciativa brasileira: Lula lança oficialmente a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza na Cúpula do G20 Bastidores: Guerra na Ucrânia e conflito em Gaza dificultam consensos na cúpula de líderes do G20 no Rio Um tópico sensível da Cúpula do G20 são as guerras no Oriente Médio e na Ucrânia. No domingo, os EUA autorizaram o uso de mísseis de longo alcance de fabricação americana pela Ucrânia. Isso não poderia escalar ainda mais a guerra? Devemos lembrar que a guerra começou com a nova invasão não provocada da Rússia na Ucrânia. O conflito na Ucrânia pode acabar agora mesmo se a Rússia retirar suas tropas da Ucrânia e respeitar as fronteiras da Ucrânia. Esse sempre foi o caso. As armas que o presidente Biden autorizou a Ucrânia a usar darão a ela maior capacidade de se defender e, com sorte, permitirão que a Federação Russa entenda que o uso da força para tomar o território ucraniano não será bem-sucedido e talvez ela começará a negociar a paz ou, melhor ainda, simplesmente irá se retirar do território ucraniano. São eles que têm o controle total sobre a duração ou não desse conflito. Initial plugin text Quais as chances de o conflito ser mencionado na declaração final de líderes do G20? Haverá um apelo claro pelo fim do conflito na Ucrânia, mas quer isso seja abordado diretamente ou em declarações separadas pelos membros, o importante é que essa foi uma oportunidade para os líderes se reunirem para discutir suas perspectivas sobre esse desafio e para tentar resolver o conflito. Segundo fontes oficiais, amanhã será anunciada uma iniciativa conjunta entre Brasil e EUA sobre transição energética no âmbito do G20. O senhor poderia adiantar alguns detalhes dessa parceria? Não posso estragar a surpresa, mas entre as coisas que são realmente vitais para os EUA e o Brasil está a adoção de uma abordagem holística para combater a mudança climática, e fornecer uma variedade de fontes alternativas de energia é vital para isso. O Brasil, com seu clima e sua produção agrícola, tem uma grande oportunidade para a energia solar, para o biodiesel e também para aumentar a eficiência de nossos veículos e de nossas usinas de energia. Todas essas coisas são prioridades para ambos os governos, à medida que buscamos lidar com o principal desafio de nosso tempo, que é a mudança climática. Podemos esperar mais um anúncio de financiamento americano? O governo Biden tem feito tudo o que pode para fornecer recursos para combater as mudanças climáticas. O presidente ultrapassou os US$ 11 bilhões que prometeu em cooperação internacional. Internamente, por meio da Lei de Redução da Inflação, fez o maior investimento de todos os tempos no combate às mudanças climáticas por qualquer país, mais de US$ 300 bilhões. E esse trabalho, acreditamos, prepara o terreno para uma melhoria de longo prazo em nossa pegada de carbono, não apenas nos EUA, mas com nossos parceiros em todo o mundo. Quando observamos a cooperação que temos visto, seja na COP 29, que está acontecendo agora, na APEC, que acabou de acontecer em Lima, e no G20 aqui no Rio, todos eles estão abordando esse tema e os países do mundo todo estão reiterando seu compromisso de enfrentar esse desafio. O clima é uma das pautas mais importantes da agenda compartilhada por Lula e Biden, mas é um dos temas que deverão gerar mais atrito com Trump. Por que anunciar esta iniciativa agora sabendo que ela poderá ser cancelada pelo próximo presidente? Todos os dias temos que fazer o que pudermos para enfrentar esse desafio, e o presidente Biden, desde seu primeiro dia no cargo, enfatizou seu compromisso com o combate às mudanças climáticas. Nossa liderança tem se concentrado na questão das soluções sustentáveis para combater as mudanças climáticas e ajudar a criar resiliência à medida que vemos países afetados por esses desafios. O trabalho com o qual o presidente Biden comprometeu os EUA, creio eu, fez grandes avanços. E espero que, independentemente das decisões de um líder ou de um governo, seja nos EUA ou em outro país, o impulso global para enfrentar as mudanças climáticas é algo que vai continuar. O presidente Biden está tentando salvar sua agenda de política externa antes de deixar a Casa Branca? O presidente e este governo entraram com uma série de metas para fortalecer o relacionamento entre os países do nosso hemisfério, torná-lo mais democrático, seguro e próspero, e abordar as principais disparidades que vimos como resultado da pandemia da Covid, em que um número desproporcional de mortes no mundo era do nosso hemisfério. Essas prioridades estão refletidas em várias coisas que fizemos, sejam as agendas da Assembleia Geral da OEA e os cinco pilares que anunciamos como parte da Cúpula das Américas em 2022 — empoderar as pessoas, melhorar o acesso à saúde, melhorar a educação, lidar com o meio ambiente e combater as mudanças climáticas, garantindo que aqueles que foram excluídos historicamente sejam incluídos. E você vê esses temas refletidos em 2022 na Cúpula das Américas, na Apec, em Los Angeles, depois na Apec no ano passado em São Francisco, novamente na Apec em Lima e agora aqui no G20 no Rio. Isso significa que conseguimos unir essas metas e construir uma aliança global para enfrentar esses desafios tanto nas Américas quanto na região da Ásia-Pacífico. Em quatro anos de mandato, esta foi a primeira vez que o presidente Joe Biden visitou a América do Sul. Antes de vir ao Rio, ele esteve na Amazônia brasileira e em Lima, no Peru. Por que demorou tanto para ele visitar um país sul-africano? O presidente Biden foi o anfitrião da Cúpula das Américas em Los Angeles, Califórnia, em 2022, e recebeu os líderes da grande maioria das nações do nosso hemisfério. Ele também recebeu os líderes dos 11 países que formam a Parceria das Américas para a Prosperidade Econômica. O secretário de Estado e outros membros do Gabinete viajaram extensivamente em nosso hemisfério. Biden trabalhou para forjar a Declaração de Los Angeles sobre migração e proteção, que inclui 21 países de nosso hemisfério. Portanto, ele está profundamente engajado no Hemisfério Ocidental desde o primeiro dia e nosso envolvimento com esses países é algo que o presidente e toda a equipe valorizam profundamente. Alguns críticos da região alegam que, nos últimos anos, os EUA estariam mais focados na região da Ásia-Pacífico e que teriam deixado a América do Sul um pouco de lado… Bem, um dos primeiros líderes que o presidente Biden recebeu na Casa Branca foi o presidente Lula. E, da mesma forma, o presidente López Obrador [do México] e o presidente Petro [da Colômbia]. Portanto, houve um profundo envolvimento com os líderes da região. Além da Cúpula das Américas, os EUA também sediaram a Reunião de Líderes da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico no ano passado. E nessa reunião, tivemos vários países das Américas, Chile, Peru. Peru, México, Canadá e, também como observadores, a Colômbia. Portanto, estamos engajados nessa região e em iniciativas importantes. E o que podemos esperar dessas relações com o retorno de Trump à Casa Branca? Os EUA têm excelentes relações com diversos países da região há 200 anos, incluindo o Brasil. Portanto, gosto de pensar nisso como a duração de nossas relações, que têm sido amigáveis e produtivas para os países da região há 200 anos, embora, obviamente, às vezes tenhamos diferenças, desafios. Dar às pessoas um futuro mais democrático, seguro e próspero é algo que sustentará as relações entre todos os países da nossa região e os EUA têm orgulho de ser um parceiro do Brasil e dos países do hemisfério.
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