Usados para transporte, seca em rios da Amazônia afasta crianças das escolas no Brasil, no Peru e na Colômbia
Relatório da Unicef alerta para 1.700 escolas brasileiras fechadas, cursos d'água colombianos com apenas 20% do nível regular e mais de 50 centros de saúde peruanos inacessíveis A vida na Amazônia tem pouca semelhança com a vida nas cidades. Neste canto do mundo — que abrange nove países sul-americanos — as avenidas, estradas e semáforos são os grandes rios e fluxos. Estes têm historicamente conectado as casas dos moradores indígenas com outros territórios, centros de saúde e escolas, e têm sido as ruas por onde são transportados alimentos e medicamentos. Para centenas de milhares de crianças, o percurso escolar sempre passou por florestas de mangue, bambu e palmeiras. Portanto, quando a seca começou a atingir duramente o território e as artérias desse bioma gigante começaram a secar, a vida dos adultos e, sobretudo, a dos pequenos foi paralisada. Segundo um relatório da Unicef publicado na última quinta-feira, mais de 420 mil crianças são afetadas pela seca só no Brasil, na Colômbia e no Peru. O que mais preocupa a agência das Nações Unidas é a desnutrição e as intensas ondas de abandono escolar. COP29: calor extremo, fenômenos meteorológicos incontroláveis e poluição representam ameaça crescente à saúde 'Consequências letais': 2024 deve ser o primeiro ano com aquecimento de +1,5ºC, diz observatório europeu — Estamos muito alarmados — reconhece Reis López Rello, conselheiro regional da UNICEF sobre alterações climáticas e desenvolvimento sustentável para a América Latina e as Caraíbas, por videochamada. — Os rios são a força motriz destas comunidades e há enormes riscos de isolamento. Muitas comunidades já estão completamente isoladas — lamenta. Esta seca, que começou no ano passado e é causada pelas mudanças climáticas, deixou os rios da bacia amazônica no nível mais baixo dos últimos 120 anos. As altíssimas taxas de desmatamento impediram que a maior selva do mundo retivesse as escassas chuvas que caíam em suas árvores e seus solos. E as consequências estão sendo “devastadoras”. É assim que Catherine Russell, diretora-executiva da Unicef, descreve em comunicado. “Durante séculos, a Amazônia abrigou recursos naturais valiosos. Estamos testemunhando a devastação de um ecossistema essencial do qual as famílias dependem, deixando muitas crianças sem acesso à alimentação adequada, água, cuidados de saúde e escolas.” Para Russell, é crucial mitigar os efeitos das crises climáticas extremas para proteger “as crianças de hoje e as gerações futuras”: “A saúde da Amazônia afeta a saúde de todos nós”. Só na região amazônica do Brasil, mais de 1.700 escolas e mais de 760 centros de saúde fecharam ou estão inacessíveis devido aos baixos níveis de água. De acordo com a última avaliação da agência, em 14 comunidades do sul da Amazônia brasileira, metade das famílias afirma que seus filhos não vão à escola por causa da seca. López alerta que este abandono escolar será mais pronunciado entre as meninas, devido aos papéis de gênero. A insegurança alimentar está causando atraso no crescimento, perda de peso e subnutrição, bem como mortes infantis, especialmente em crianças com menos de 5 anos de idade. Das 420 mil crianças afetadas pela seca, pelo menos 80 mil estão nesta faixa etária. A investigação também descobriu que as mulheres grávidas que sofrem de seca têm maior probabilidade de ter filhos com peso inferior à média dos nascimentos. Medidas: governo anuncia ampliação de meta corte de CO2 sem publicar documento oficial No bioma Amazônia, onde corre um quinto da água doce do mundo, o acesso à água, paradoxalmente, é um desafio. López sabe que há comunidades que bebem a água turva dos poucos poços que não secaram depois de fervidas e coadas com tecidos. “Estamos chegando a extremos que vemos com olhos alarmantes”, diz ele. “O impacto mais grave é para gestantes e crianças de 0 a 5 anos”, afirma. Na Amazônia colombiana, o nível das águas dos rios diminuiu até 80%, o que restringiu o acesso à água potável e provocou a suspensão das aulas presenciais para crianças em mais de 130 escolas. Num país tão marcado pela violência, o fechamento de escolas aumenta o risco de recrutamento e de utilização e exploração de crianças por grupos armados não estatais. Da mesma forma, o aumento de infecções respiratórias, doenças diarreicas, malária e desnutrição aguda é preocupante. Na selva peruana, os números são igualmente insuportáveis. A região nordeste de Loreto é a mais afetada. Ali, mais de 50 centros de saúde tornaram-se inacessíveis, enquanto os incêndios florestais — muitas vezes provocados pelo homem, mas cuja propagação foi facilitada pelas secas dos últimos dois meses — também estão causando uma devastação sem precedentes e a perda de biodiversidade em 22 das 26 regiões do país.
Relatório da Unicef alerta para 1.700 escolas brasileiras fechadas, cursos d'água colombianos com apenas 20% do nível regular e mais de 50 centros de saúde peruanos inacessíveis A vida na Amazônia tem pouca semelhança com a vida nas cidades. Neste canto do mundo — que abrange nove países sul-americanos — as avenidas, estradas e semáforos são os grandes rios e fluxos. Estes têm historicamente conectado as casas dos moradores indígenas com outros territórios, centros de saúde e escolas, e têm sido as ruas por onde são transportados alimentos e medicamentos. Para centenas de milhares de crianças, o percurso escolar sempre passou por florestas de mangue, bambu e palmeiras. Portanto, quando a seca começou a atingir duramente o território e as artérias desse bioma gigante começaram a secar, a vida dos adultos e, sobretudo, a dos pequenos foi paralisada. Segundo um relatório da Unicef publicado na última quinta-feira, mais de 420 mil crianças são afetadas pela seca só no Brasil, na Colômbia e no Peru. O que mais preocupa a agência das Nações Unidas é a desnutrição e as intensas ondas de abandono escolar. COP29: calor extremo, fenômenos meteorológicos incontroláveis e poluição representam ameaça crescente à saúde 'Consequências letais': 2024 deve ser o primeiro ano com aquecimento de +1,5ºC, diz observatório europeu — Estamos muito alarmados — reconhece Reis López Rello, conselheiro regional da UNICEF sobre alterações climáticas e desenvolvimento sustentável para a América Latina e as Caraíbas, por videochamada. — Os rios são a força motriz destas comunidades e há enormes riscos de isolamento. Muitas comunidades já estão completamente isoladas — lamenta. Esta seca, que começou no ano passado e é causada pelas mudanças climáticas, deixou os rios da bacia amazônica no nível mais baixo dos últimos 120 anos. As altíssimas taxas de desmatamento impediram que a maior selva do mundo retivesse as escassas chuvas que caíam em suas árvores e seus solos. E as consequências estão sendo “devastadoras”. É assim que Catherine Russell, diretora-executiva da Unicef, descreve em comunicado. “Durante séculos, a Amazônia abrigou recursos naturais valiosos. Estamos testemunhando a devastação de um ecossistema essencial do qual as famílias dependem, deixando muitas crianças sem acesso à alimentação adequada, água, cuidados de saúde e escolas.” Para Russell, é crucial mitigar os efeitos das crises climáticas extremas para proteger “as crianças de hoje e as gerações futuras”: “A saúde da Amazônia afeta a saúde de todos nós”. Só na região amazônica do Brasil, mais de 1.700 escolas e mais de 760 centros de saúde fecharam ou estão inacessíveis devido aos baixos níveis de água. De acordo com a última avaliação da agência, em 14 comunidades do sul da Amazônia brasileira, metade das famílias afirma que seus filhos não vão à escola por causa da seca. López alerta que este abandono escolar será mais pronunciado entre as meninas, devido aos papéis de gênero. A insegurança alimentar está causando atraso no crescimento, perda de peso e subnutrição, bem como mortes infantis, especialmente em crianças com menos de 5 anos de idade. Das 420 mil crianças afetadas pela seca, pelo menos 80 mil estão nesta faixa etária. A investigação também descobriu que as mulheres grávidas que sofrem de seca têm maior probabilidade de ter filhos com peso inferior à média dos nascimentos. Medidas: governo anuncia ampliação de meta corte de CO2 sem publicar documento oficial No bioma Amazônia, onde corre um quinto da água doce do mundo, o acesso à água, paradoxalmente, é um desafio. López sabe que há comunidades que bebem a água turva dos poucos poços que não secaram depois de fervidas e coadas com tecidos. “Estamos chegando a extremos que vemos com olhos alarmantes”, diz ele. “O impacto mais grave é para gestantes e crianças de 0 a 5 anos”, afirma. Na Amazônia colombiana, o nível das águas dos rios diminuiu até 80%, o que restringiu o acesso à água potável e provocou a suspensão das aulas presenciais para crianças em mais de 130 escolas. Num país tão marcado pela violência, o fechamento de escolas aumenta o risco de recrutamento e de utilização e exploração de crianças por grupos armados não estatais. Da mesma forma, o aumento de infecções respiratórias, doenças diarreicas, malária e desnutrição aguda é preocupante. Na selva peruana, os números são igualmente insuportáveis. A região nordeste de Loreto é a mais afetada. Ali, mais de 50 centros de saúde tornaram-se inacessíveis, enquanto os incêndios florestais — muitas vezes provocados pelo homem, mas cuja propagação foi facilitada pelas secas dos últimos dois meses — também estão causando uma devastação sem precedentes e a perda de biodiversidade em 22 das 26 regiões do país.
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