Furacão Milton: Entenda por que a Baía de Tampa, na Flórida, é tão vulnerável a tempestades

Baixa altitude e 'efeito funil' da baía tornam a região a mais suscetível a sofrer danos por enchentes dos Estados Unidos, aponta estudo Desde 1921, a Baía de Tampa, na costa oeste da Flórida, não é atingida diretamente por um furacão de grandes proporções. Embora nos últimos anos várias tempestades que se dirigiam para a região tenham mudado sua trajetória, a expectativa é que a maré de sorte mude de vez na noite desta quarta-feira, quando o furacão Milton deve tocar o solo americano pela primeira vez partindo da área. Tampa, Clearwater, Venice: Quais serão as áreas mais afetadas pelo furacão Milton na Flórida? Entenda: Vídeos falsos e teorias da conspiração invadem as redes sociais antes da chegada do furacão Milton Há menos de duas semanas, outro furacão, o Helene, de categoria 4, atingiu o norte da zona costeira, provocando a pior tempestade registrada na área em um século. Ao menos até aqui. Segundo a base do Serviço Nacional de Meteorologia em Tampa, “se Milton se mantiver em seu curso, esse será o furacão mais poderoso a atingir a Baía de Tampa em mais de 100 anos”. Furacão de intensificação mais rápida já registrada pelo Centro Nacional de Furacões dos EUA (NHC, na sigla em inglês), Milton subiu da categoria 1 para a 5, a máxima da escala, em um espaço de um dia, com ventos superiores a 250km/h. O NHC descreveu o processo como uma explosão atmosférica, e previsões apontam a formação de ondas de 3 a 4 metros na Baía de Tampa. Um estudo da consultoria de gerenciamento de riscos Karen Clark & Co feito em 2015 apontou que a área metropolitana de Tampa e de São Petersburgo, dentro da Baía de Tampa, é a mais vulnerável a sofrer danos por enchentes nos Estados Unidos. Segundo o relatório, os principais fatores para isso são uma margem rasa no continente e um efeito de funil formado pela Baía que, juntos, potencializam a capacidade de acúmulo de água, capaz de inundar bairros inteiros. Saiba como o estado se prepara: Mais de 2,3 mil voos são cancelados nos EUA com a aproximação do Furacão Milton na Flórida Soma-se a isso o boom imobiliário na região densamente povoada, que fez a sua população subir para 3,2 milhões — um terço dela residindo em zonas de tempestade. Grande partes dos projetos, porém, foram construídos em terrenos baixos e com sistemas de drenagem mal desenvolvidos. De acordo com a empresa de dados imobiliários CoStar Group, cerca de 17 mil propriedades na Baía de Tampa estão em áreas com alto risco de inundação. Em 2010, o Conselho de Planejamento Regional da Baía de Tampa elaborou um plano de contenção a desastres prevendo um furacão hipotético de categoria 5, apelidado de "furacão Phoenix", que atingiria o centro de Tampa com ventos de até 257 km/h. Segundo o estudo, caso a região fosse afetada por uma tempestade dessa magnitude, teria cerca de 2 mil mortes e quase US$ 250 milhões em danos. A título de comparação, o Helene deixou 227 mortos e foi o segundo furacão mais fatal do século, perdendo apenas para o Katrina, em 2005, que matou cerca de 1,8 mil pessoas. Até a noite de terça-feira, o furacão Milton estava com ventos de 265 km/h. A expectativa é que a tempestade enfraqueça antes de atingir o solo e se torne uma de categoria 3. No entanto, meteorologistas preveem que ele dobre de tamanho, com ventos alcançando locais até 370 km distantes do olho do furacão, o suficiente para cobrir toda a península da Flórida. Categoria 6? Milton pode inaugurar nova classificação de superfuracões Nas últimas décadas, bilhões de dólares foram investidos no redesenvolvimento da orla de Tampa. Especialistas em tempestades apontam que construções recentes, que seguiram os rígidos códigos de engenharia atuais do estado, devem resistir bem aos ventos. No entanto, bairros mais antigos, com muitas casas construídas antes da regulação vigente, estão mais vulneráveis a danos. Como a baía não é atingida diretamente por um furacão há mais de um século, a resistência dessas residências a ventos fortes ainda não foi testada. Especialistas destacam que a trajetória do furacão Milton pelo Golfo do México é incomum. Na maioria dos casos, as tempestades se formam no sentido contrário, de leste a oeste. Tal particularidade permite com que o furacão atravesse toda a extensão do golfo, o que aumenta o tempo que tem para se intensificar nas águas quentes da região. — Da forma como a Baía de Tampa está configurada, é quase certo que haverá uma onda chegando à baía — disse Neal Dorst, meteorologista do Laboratório Oceanográfico e Meteorológico do Atlântico da NOAA em Miami, em entrevista ao jornal The Wall Street Journal. — Ela [a onda] não terá para onde ir. Corrida contra o tempo: Brasileiros relatam preparação para chegada de Furacão Milton, na Flórida Por outro lado, a área ainda se recupera dos estragos do furacão Helene, que provocou ondas de mais de 2 metros ao longo da costa. Com a água subindo até metade da porta de algumas casas em bairros de baixa altitude, moradores se desfizeram de móveis e eletrodomésti

Oct 9, 2024 - 03:41
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Furacão Milton: Entenda por que a Baía de Tampa, na Flórida, é tão vulnerável a tempestades

Baixa altitude e 'efeito funil' da baía tornam a região a mais suscetível a sofrer danos por enchentes dos Estados Unidos, aponta estudo Desde 1921, a Baía de Tampa, na costa oeste da Flórida, não é atingida diretamente por um furacão de grandes proporções. Embora nos últimos anos várias tempestades que se dirigiam para a região tenham mudado sua trajetória, a expectativa é que a maré de sorte mude de vez na noite desta quarta-feira, quando o furacão Milton deve tocar o solo americano pela primeira vez partindo da área. Tampa, Clearwater, Venice: Quais serão as áreas mais afetadas pelo furacão Milton na Flórida? Entenda: Vídeos falsos e teorias da conspiração invadem as redes sociais antes da chegada do furacão Milton Há menos de duas semanas, outro furacão, o Helene, de categoria 4, atingiu o norte da zona costeira, provocando a pior tempestade registrada na área em um século. Ao menos até aqui. Segundo a base do Serviço Nacional de Meteorologia em Tampa, “se Milton se mantiver em seu curso, esse será o furacão mais poderoso a atingir a Baía de Tampa em mais de 100 anos”. Furacão de intensificação mais rápida já registrada pelo Centro Nacional de Furacões dos EUA (NHC, na sigla em inglês), Milton subiu da categoria 1 para a 5, a máxima da escala, em um espaço de um dia, com ventos superiores a 250km/h. O NHC descreveu o processo como uma explosão atmosférica, e previsões apontam a formação de ondas de 3 a 4 metros na Baía de Tampa. Um estudo da consultoria de gerenciamento de riscos Karen Clark & Co feito em 2015 apontou que a área metropolitana de Tampa e de São Petersburgo, dentro da Baía de Tampa, é a mais vulnerável a sofrer danos por enchentes nos Estados Unidos. Segundo o relatório, os principais fatores para isso são uma margem rasa no continente e um efeito de funil formado pela Baía que, juntos, potencializam a capacidade de acúmulo de água, capaz de inundar bairros inteiros. Saiba como o estado se prepara: Mais de 2,3 mil voos são cancelados nos EUA com a aproximação do Furacão Milton na Flórida Soma-se a isso o boom imobiliário na região densamente povoada, que fez a sua população subir para 3,2 milhões — um terço dela residindo em zonas de tempestade. Grande partes dos projetos, porém, foram construídos em terrenos baixos e com sistemas de drenagem mal desenvolvidos. De acordo com a empresa de dados imobiliários CoStar Group, cerca de 17 mil propriedades na Baía de Tampa estão em áreas com alto risco de inundação. Em 2010, o Conselho de Planejamento Regional da Baía de Tampa elaborou um plano de contenção a desastres prevendo um furacão hipotético de categoria 5, apelidado de "furacão Phoenix", que atingiria o centro de Tampa com ventos de até 257 km/h. Segundo o estudo, caso a região fosse afetada por uma tempestade dessa magnitude, teria cerca de 2 mil mortes e quase US$ 250 milhões em danos. A título de comparação, o Helene deixou 227 mortos e foi o segundo furacão mais fatal do século, perdendo apenas para o Katrina, em 2005, que matou cerca de 1,8 mil pessoas. Até a noite de terça-feira, o furacão Milton estava com ventos de 265 km/h. A expectativa é que a tempestade enfraqueça antes de atingir o solo e se torne uma de categoria 3. No entanto, meteorologistas preveem que ele dobre de tamanho, com ventos alcançando locais até 370 km distantes do olho do furacão, o suficiente para cobrir toda a península da Flórida. Categoria 6? Milton pode inaugurar nova classificação de superfuracões Nas últimas décadas, bilhões de dólares foram investidos no redesenvolvimento da orla de Tampa. Especialistas em tempestades apontam que construções recentes, que seguiram os rígidos códigos de engenharia atuais do estado, devem resistir bem aos ventos. No entanto, bairros mais antigos, com muitas casas construídas antes da regulação vigente, estão mais vulneráveis a danos. Como a baía não é atingida diretamente por um furacão há mais de um século, a resistência dessas residências a ventos fortes ainda não foi testada. Especialistas destacam que a trajetória do furacão Milton pelo Golfo do México é incomum. Na maioria dos casos, as tempestades se formam no sentido contrário, de leste a oeste. Tal particularidade permite com que o furacão atravesse toda a extensão do golfo, o que aumenta o tempo que tem para se intensificar nas águas quentes da região. — Da forma como a Baía de Tampa está configurada, é quase certo que haverá uma onda chegando à baía — disse Neal Dorst, meteorologista do Laboratório Oceanográfico e Meteorológico do Atlântico da NOAA em Miami, em entrevista ao jornal The Wall Street Journal. — Ela [a onda] não terá para onde ir. Corrida contra o tempo: Brasileiros relatam preparação para chegada de Furacão Milton, na Flórida Por outro lado, a área ainda se recupera dos estragos do furacão Helene, que provocou ondas de mais de 2 metros ao longo da costa. Com a água subindo até metade da porta de algumas casas em bairros de baixa altitude, moradores se desfizeram de móveis e eletrodomésticos destruídos, criando pilhas de detritos nos quintais. Agora, com a previsão de novas inundações e ondas do dobro do tamanho em áreas que já sofreram com enchente, os perigos são ainda maiores. Especialistas apontam para os riscos de que os itens descartados durante a última tempestade possam se tornar projéteis com a passagem do Milton.

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