Trump flerta com busca por reeleição após novo mandato em dia de retorno triunfal à capital dos EUA e à Casa Branca

Republicano falou com aliados do Congresso, onde foi aplaudido de pé pela liderança do partido e disse ser 'sempre bom vencer'; democrata manteve tradição e recebeu presidente eleito com promessa de transição pacífica de poder Antes de se reunir com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, o presidente eleito Donald Trump se encontrou com republicanos no Congresso, onde foi aplaudido de pé pela liderança do partido, disse ser “sempre bom vencer” e sugeriu voltar a se candidatar à Presidência no futuro, algo proibido pela Constituição americana. A reunião no Capitólio ocorreu num momento em que os aliados do republicano se concentram nas prioridades de seu primeiro dia de mandato e se preparam para um governo potencialmente unificado com a vitória do Partido Republicano na capital. — Suspeito que não voltarei a me candidatar, a menos que vocês digam: ‘Ele é tão bom que precisamos descobrir outra solução’ — declarou diante da multidão de apoiadores, que riu em resposta. A Constituição dos EUA limita os presidentes a dois mandatos, embora Trump já tenha cogitado anteriormente maneiras de contornar essa restrição. Musk, ‘falcões’, ‘czar’ da fronteira e mais: Quem Trump já anunciou para compor governo? Em segundo mandato: Montagem de equipe de Trump confirma tendência para políticas migratórias radicais De forma incomum, Trump fez a viagem à capital acompanhado pelo bilionário Elon Musk. O CEO da Tesla e da SpaceX, nomeado pelo republicano na terça-feira para o cargo de chefe do departamento de “Eficiência Governamental”, posto inédito no Gabinete presidencial, não participou da reunião com Biden na Casa Branca, mas esteve presente no encontro com os republicanos da Câmara. Segundo a AP, membros da equipe de Trump agora veem Musk como a segunda figura mais influente no círculo do republicano, atrás somente de Susie Wiles, a gerente de campanha que será chefe de gabinete do presidente eleito. No Capitólio, Trump reconheceu a estreita maioria que o Partido Republicano deve ter após os resultados finais da disputa, mas disse aos presentes que a margem “não importa” para os republicanos. O presidente eleito também brincou ao afirmar que não consegue se livrar de Musk, afirmando que o bilionário “adora Mar-a-Lago”. Musk tem sido visto com frequência no resort de Trump em Palm Beach, na Flórida, desde que o republicano venceu as eleições na semana passada. O magnata da tecnologia esteve presente, por exemplo, quando vários líderes mundiais ligaram para Trump para parabenizá-lo. Trump, que até agora indicou dois membros republicanos da Câmara para seu gabinete, enfraquecendo a já estreita margem de controle esperada do partido, também brincou com o grupo sobre querer “15 membros” de suas fileiras para fazer parte de sua nova administração. Ele prometeu que faria as nomeações de forma escalonada, tomando apenas alguns de cada vez. Os republicanos agora estão a caminho de ter uma estreita maioria na Câmara, o que pode tornar mais difícil para seus líderes realizarem qualquer coisa. Donald Trump chega a Washington, D.C. para encontro com congressistas republicanos no Capitólio antes de se reunir com o presidente dos EUA, Joe Biden, na Casa Branca Andrew Harnik / Getty Images via AFP Os encontros com a liderança republicana no Congresso e com Biden demonstram a impressionante volta de Trump ao centro do poder nos Estados Unidos, especialmente após ter saído enfraquecido da Casa Branca há quatro anos, quando perdeu a disputa para o democrata. O cenário contrastante fez com que o presidente da Câmara, Mike Johnson, apresentasse Trump como o “rei do retorno” durante a reunião. Trump, por sua vez, aproveitou o momento para se vangloriar de sua vitória contra a vice-presidente Kamala Harris nos estados-chave, destacando que muitos redutos tradicionalmente democratas penderam fortemente para a direita — e sugerindo que, na próxima vez, caso consigam ampliar a margem, os republicanos também poderiam conquistar estados como Nova Jersey, Nova York e Califórnia. Ainda no Capitólio, Johnson afirmou que os republicanos estão “prontos para cumprir” a agenda America Primeiro (America First, no jargão em inglês). Trump aproveitou para oferecer seu apoio ao presidente da Câmara, que deve ser renomeado como o principal republicano na Casa ainda nesta quarta-feira, dizendo que estava com ele “até o fim”. Mais tarde, o também republicano John Thune foi eleito o próximo líder da maioria no Senado. O político, que será parte crucial dos esforços de Trump para implementar sua agenda, prometeu trabalhar de perto com o presidente eleito, apesar das diferenças de ambos no passado. Encontro com Biden Na sequência, Trump se dirigiu à Casa Branca para uma reunião com Biden — uma tradição de transferência pacífica de poder, ritual que o próprio republicano se recusou a participar há quatro anos. O presidente americano disse esperar por uma “transição tranquila” em janeiro, acrescentando que ele garantirá que Trump seja bem acolhido ao assumir o posto. Ele parabenizou o presidente eleito, que agradeceu e afirmou que a transição “será tão tranquila quanto possível”. — A política é difícil, e muitas vezes não é um mundo muito agradável. Mas hoje é um mundo agradável, e eu aprecio muito isso — disse Trump. Imigração, lealdade e anti-China: O que as nomeações de Trump para a Casa Branca revelam sobre seu segundo governo? Era esperado, ainda, que Biden pedisse a Trump para manter o apoio à Ucrânia na guerra contra a Rússia, algo que o republicano mostrou relutância em fazer durante toda a campanha. O Conselheiro de Segurança Nacional americano, Jake Sullivan, informou à rede CBS News no domingo que Biden abordaria os principais temas de política doméstica e externa — incluindo o que está acontecendo atualmente na Europa, Ásia e Oriente Médio — porque encarava o encontro como uma “oportunidade de explicar ao presidente Trump como vê as coisas”. Não se sabe se, a portas fechadas, a conversa de fato ocorreu. A imprensa foi rapidamente retirada do local após os cumprimentos iniciais, e a expectativa era a de que os dois continuassem a conversa na antiga sala de jantar, próxima ao Salão Oval, onde se sabe que Trump assistiu ao tumulto de 6 de janeiro de 2021, quando milhares de apoiadores do republicano invadiram a sede do Legislativo americano na tentativa de impedir a realização da sessão que formalizaria a vitória de Joe Biden em 2020. Cinco pessoas morreram e cerca de 140 policiais ficaram feridos. — Ele (Biden) acredita nas nossas instituições — declarou a porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, em entrevista coletiva na terça-feira após ser questionada sobre o que levou o presidente a convidar Trump. Consequências: Deportação em massa de imigrantes nos EUA pode favorecer cartéis e afetar economia do México Após a vitória eleitoral de 2016, Trump se encontrou com o então presidente Barack Obama no Salão Oval e chamou o encontro de “uma grande honra”. Quatro anos depois, Trump contestou a derrota eleitoral para Biden em 2020 e alegou falsamente que o pleito foi fraudulento. Ele não convidou o democrata para a Casa Branca e deixou Washington sem participar da posse de Biden — a primeira vez que a tradição foi rompida desde que Andrew Johnson (1808-1875) não compareceu à cerimônia de Ulysses S. Grant (1822-1885), 155 anos antes. Tradicionalmente, enquanto os presidentes — em exercício e eleito — se encontram, a primeira-dama também recebe sua sucessora no andar superior da residência. Desta vez, no entanto, Melania Trump não esteve presente. A esposa do republicano recusou o convite de Jill Biden, segundo relato de uma pessoa informada sobre os planos ao The Times. Ainda não está claro como Melania planeja desempenhar seu papel na próxima administração. Durante o primeiro mandato de Trump, ela demorou vários meses antes de se mudar de Nova York para Washington para acompanhar o ano letivo do filho mais novo de Trump, Barron. Do UFC a podcasts: Como o filho caçula de Trump o levou à 'manosfera' e impulsionou apoio entre jovens conservadores Jill, por sua vez, se juntou ao presidente para receber Trump na Casa Branca e entregou a ele uma carta de felicitações escrita à mão e destinada a Melania. No documento, a atual primeira-dama afirmou que sua equipe está pronta para ajudar a esposa de Trump na transição, segundo um funcionário com conhecimento sobre o assunto. A reunião desta quarta-feira foi potencialmente um momento amargo para Biden, que foi adversário do republicano na disputa deste ano pela Presidência americana até que seu desempenho desastroso num debate eleitoral em junho o obrigou a desistir da campanha um mês depois. Durante aquele encontro, Biden chamou Trump de “criminoso condenado” e “ameaça para a democracia”, enquanto o republicano acusou o democrata de receber dinheiro da China. Desde então, há poucas evidências de que a animosidade entre os dois tenha diminuído. (Com AFP e New York Times)