'Tour da propina': comerciante disse a PM que usava faca para dar 'furadinha' em 'caras abusados'
Ao todo, 22 agentes lotados no 20º BPM (Mesquita) no segundo semestre do ano passado foram denunciados e presos por extorsões Os 22 policiais militares denunciados pelo Ministério Público do Rio (MPRJ) pelo chamado "tour da propina" costumavam extorquir os comércios de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, às sextas-feiras. A situação era tão cotidiana, que diálogos obtidos através das câmeras corporais (COPs) usadas pelos agentes — que tentavam burlar o sistema — mostram que não havia qualquer tipo de constrangimento ao abordar as pessoas de quem tiravam dinheiro. Os agentes brincavam e até chamavam os extorquidos de "chefe". 'Tour da propina': investigação começou com denúncia sobre extorsão a ferro-velho: 'Essa sacanagem está rolando há muito tempo' Modus operandi do crime: toque da sirene de viatura era sinal para que comerciantes levassem o dinheiro da extorsão para os PMs A denúncia do MPRJ, obtida pelo GLOBO, mostra que em 20 de outubro do ano passado, o cabo Tiago da Silva Lopes se dirigiu até um centro de reciclagem, na companhia do cabo Tiago de Almeida Pessoa. Ao chegarem ao endereço, um indivíduo não identificado se aproximou da viatura do 20º BPM (Mesquita). Questionado aos risos pelo cabo Lopes se a faca que tinha em mãos seria para "esfaquear os outros", o homem não poupou detalhes dos policiais. 'Tour da propina': uma hora depois de extorquir dinheiro de comerciante, PMs deixaram de atender ocorrência "De vez em quando chega uns caras aí que p**, chega uns caras abusados pra c*** aí, no ferro-velho mermo, aí a gente dá umas porradas, se o cara for de bater, tem que dar uma furadinha nele, entendeu parceiro?", descreveu o homem. O cabo Pessoa, ao ouvir o relato, ainda definiu a "furadinha" como uma "beliscada". De acordo com a denúncia, durante o diálogo, "o indivíduo realiza a entrega da vantagem indevida pela janela do carona da viatura". Faca para dar 'uma furadinha' em 'caras abusados': diálogo entre PMs e comerciante em Nova Iguaçu Editoria de Arte 'Se minha família estivesse no carro teria sido pior. Nasci de novo', diz motorista de aplicativo baleado por engano em Inhaúma 'Ousado comportamento': PMs chamam comerciantes de 'padrinho', 'chefe', e 'flamenguinho' Como os envolvidos — todos presos em operação no fim da última semana — tinham um dia certo para fazer a cobrança das taxas, sempre às sextas-feiras, o grupo foi batizado pela investigação como "tour da propina". A denúncia, assinada pelos promotores de Justiça Paulo Roberto Mello Cunha Jr. e Allana Alves Costa Poubel, descreve a ação do grupo de PMs como de "ousado comportamento desviante", afirmando que aqueles que, em tese, são agentes da lei "não refrearam a intenção de praticar vários crimes, durante o serviço e em plena via pública" mesmo com o uso das COPs. Em vez de promover a segurança e o bem-estar da comunidade, frisa o Ministério Público, os PMs transformaram o serviço "numa verdadeira caçada ao 'arrego'". Sem boné, policial preso por extorsões em Nova Iguaçu: ele é um dos 22 denunciados pelo MPRJ, alvos da Corregedoria Fabiano Rocha / Agência O Globo / 07-11-2024 G20 no Rio: festival reunirá 30 atrações em três dias de shows na Praça Mauá, veja que artistas vão se apresentar em cada data Além do diálogo sobre a "furadinha", as câmeras corporais também captaram outras expressões usadas pelos policiais com os comerciantes que extorquiam. Em 25 de agosto de 2023, o cabo Otávio Augusto Bezerra Gomes das Chagas e o terceiro-sargento Rodrigo Antunes Ferreira se dirigiram a um centro de reciclagem e disseram o seguinte a quem lhes pagou "a vantagem indevida": “Oh meu padrinho, tudo bem? Como é que tu tá? Tá tudo bem? Então tá bom. Obrigada aí tá chefe." Na mesma data, os agentes foram até um centro de reciclagem clandestino e cumprimentaram a pessoa alvo. “E aí flamenguinho?”, disse um dos policiais ao homem, chamado também como "diretor" pelos PMs.
Ao todo, 22 agentes lotados no 20º BPM (Mesquita) no segundo semestre do ano passado foram denunciados e presos por extorsões Os 22 policiais militares denunciados pelo Ministério Público do Rio (MPRJ) pelo chamado "tour da propina" costumavam extorquir os comércios de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, às sextas-feiras. A situação era tão cotidiana, que diálogos obtidos através das câmeras corporais (COPs) usadas pelos agentes — que tentavam burlar o sistema — mostram que não havia qualquer tipo de constrangimento ao abordar as pessoas de quem tiravam dinheiro. Os agentes brincavam e até chamavam os extorquidos de "chefe". 'Tour da propina': investigação começou com denúncia sobre extorsão a ferro-velho: 'Essa sacanagem está rolando há muito tempo' Modus operandi do crime: toque da sirene de viatura era sinal para que comerciantes levassem o dinheiro da extorsão para os PMs A denúncia do MPRJ, obtida pelo GLOBO, mostra que em 20 de outubro do ano passado, o cabo Tiago da Silva Lopes se dirigiu até um centro de reciclagem, na companhia do cabo Tiago de Almeida Pessoa. Ao chegarem ao endereço, um indivíduo não identificado se aproximou da viatura do 20º BPM (Mesquita). Questionado aos risos pelo cabo Lopes se a faca que tinha em mãos seria para "esfaquear os outros", o homem não poupou detalhes dos policiais. 'Tour da propina': uma hora depois de extorquir dinheiro de comerciante, PMs deixaram de atender ocorrência "De vez em quando chega uns caras aí que p**, chega uns caras abusados pra c*** aí, no ferro-velho mermo, aí a gente dá umas porradas, se o cara for de bater, tem que dar uma furadinha nele, entendeu parceiro?", descreveu o homem. O cabo Pessoa, ao ouvir o relato, ainda definiu a "furadinha" como uma "beliscada". De acordo com a denúncia, durante o diálogo, "o indivíduo realiza a entrega da vantagem indevida pela janela do carona da viatura". Faca para dar 'uma furadinha' em 'caras abusados': diálogo entre PMs e comerciante em Nova Iguaçu Editoria de Arte 'Se minha família estivesse no carro teria sido pior. Nasci de novo', diz motorista de aplicativo baleado por engano em Inhaúma 'Ousado comportamento': PMs chamam comerciantes de 'padrinho', 'chefe', e 'flamenguinho' Como os envolvidos — todos presos em operação no fim da última semana — tinham um dia certo para fazer a cobrança das taxas, sempre às sextas-feiras, o grupo foi batizado pela investigação como "tour da propina". A denúncia, assinada pelos promotores de Justiça Paulo Roberto Mello Cunha Jr. e Allana Alves Costa Poubel, descreve a ação do grupo de PMs como de "ousado comportamento desviante", afirmando que aqueles que, em tese, são agentes da lei "não refrearam a intenção de praticar vários crimes, durante o serviço e em plena via pública" mesmo com o uso das COPs. Em vez de promover a segurança e o bem-estar da comunidade, frisa o Ministério Público, os PMs transformaram o serviço "numa verdadeira caçada ao 'arrego'". Sem boné, policial preso por extorsões em Nova Iguaçu: ele é um dos 22 denunciados pelo MPRJ, alvos da Corregedoria Fabiano Rocha / Agência O Globo / 07-11-2024 G20 no Rio: festival reunirá 30 atrações em três dias de shows na Praça Mauá, veja que artistas vão se apresentar em cada data Além do diálogo sobre a "furadinha", as câmeras corporais também captaram outras expressões usadas pelos policiais com os comerciantes que extorquiam. Em 25 de agosto de 2023, o cabo Otávio Augusto Bezerra Gomes das Chagas e o terceiro-sargento Rodrigo Antunes Ferreira se dirigiram a um centro de reciclagem e disseram o seguinte a quem lhes pagou "a vantagem indevida": “Oh meu padrinho, tudo bem? Como é que tu tá? Tá tudo bem? Então tá bom. Obrigada aí tá chefe." Na mesma data, os agentes foram até um centro de reciclagem clandestino e cumprimentaram a pessoa alvo. “E aí flamenguinho?”, disse um dos policiais ao homem, chamado também como "diretor" pelos PMs.
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