Sob pressão asiática renovada, indústria calçadista prevê até 20% de queda nas exportações em 2024

Será o segundo ano consecutivo de queda no setor, depois do melhor desempenho em mais de uma década Sob pressão da concorrência asiática, as exportações de calçados brasileiros tiveram queda de 20,7% entre janeiro e outubro deste ano. A previsão mais otimista do setor é que 2024 termine com uma baixa de 15%. No pior cenário, o recuo vai acompanhar o ritmo de retração registrado até aqui. O resultado leva a indústria para o segundo ano consecutivo de perda nas vendas externas. Em 2023, quando 118,3 milhões de pares foram exportados, a queda foi de 16,6%. Os Estados Unidos, principal mercado, reduziram as compras em 3,5% em comparação com os dez meses do ano anterior. O Paraguai, terceiro maior destino, registrou uma queda de 21% nas importações, enquanto o Equador, quarto no ranking, diminuiu as aquisições em 46,6%, em meio à crise econômica e política que assola o país. Os dados com um panorama da indústria foram apresentados nesta terça-feira pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) durante a Brazilian Footwear Show (BFSHOW), feira que reúne produtores, lojistas e compradores internacionais. O recuo nas exportações acontece depois de um ano, o de 2022, em que o setor calçadista brasileiro teve o melhor desempenho externo em 12 anos, diante das restrições na produção chinesa causadas pela política de "Covid Zero", o que permitiu ao Brasil ocupar parte do mercado internacional. Agora, além da competição chinesa retomada, o Brasil sente o efeito de uma concorrência crescente de países asiáticos que têm ampliado a participação no mercado externo, como Mianmar e Camboja. Haroldo Ferreira, presidente-executivo da Abicalçados, diz que, para o ano que vem, o setor projeta uma estabilidade nas vendas externas, sem recuperar as perdas dos últimos anos. — O ritmo de exportações ainda não voltou aos níveis pré-pandemia e, infelizmente, não deve voltar em 2025. A melhor projeção que temos para o ano que vem é de um crescimento de 0,9% das vendas externas. Mas em cima de uma queda deste ano, é um número marginal. Recuperação de vendas para Argentina Apesar dos desafios no mercado interno argentino, com inflação em alta e aumento da pobreza, Ferreira afirma que o setor vê no país uma possibilidade de algum fôlego na recuperação nas exportações. A expectativa de melhora vem das medidas recentes tomadas pelo país vizinho que facilitam a importação de produtos, como a eliminação das verificações físicas obrigatórias e a flexibilização dos valores de referência para exportação, que reduz custos para importadores. Segundo maior mercado para o Brasil, a Argentina comprou 16,7% menos pares de calçados brasileiros este ano, resultando em uma queda de 12,5% na receita em dólares, após retrações em 2023. Em setembro e outubro, no entanto, o país superou os EUA na compra do produto brasileiro. No mês passado, comprou 1,7 milhões de pares do Brasil, o que representou uma alta de 57% em relação a outubro do ano anterior. Com o mercado argentino como o principal fora do Brasil, o Grupo Ramarim espera que as medidas melhorem o cenário para a empresa exportar ao país, afirma o Marçal Muller, vice-presidente da companhia com sede gaúcha e quatro parques fabris no país — Nosso foco é o mercado interno, onde estão 85% das novas vendas, mas vamos tentar crescer na exportação na medida do possível. Temos muitos desafios, principalmente na América Latina, mas estamos otimistas — afirma o executivo, que diz esperar um aumento de 5% nas vendas totais este ano. Com o impacto do desastre climático em abril, o Rio Grande do Sul, principal estado exportador de calçados no país, , registrou recuo de 11,2% para vendas no mercado internacional nos dez primeiros meses do ano. Com um polo calçadista que vem ganhando espaço no país, o Ceará exportou 20% a menos no mesmo período. Aumento de 20% nas importações Depois de investir R$ 40 milhões para o lançamento da primeira linha feminina da marca, que completou quatro décadas no ano passado, a Democrata também espera que a abertura argentina ajude a indústria a recuperar parte das perdas que teve no país, ainda que a economia local siga em um momento desafiador. Para o Brasil, ele diz que o principal desafio é o poder aquisitivo e inflação para a classe B, que é o principal da empresa. — Nosso desafio é tonar o produtivo, nesse cenário, muito atrativo, mas com preços que cabem nos bolsos. Na exportação, também queremos trazer mais a presença da marca, como estávamos fazendo no Brasil. Até porque se vendermos só o produto, batemos de frente com os chineses e asiáticos —afirma Marcelo Paludetto, diretor comercial da Democrata, que tem a América Latina como grande foco no mercado internacional. Além dos desafios externos, o setor sente o impacto do avanço de produtos da China, Vietnã e Indonésia no consumo interno. Até outubro de 2024, o Brasil importou 29,8 milhões de pares, um aumento de 20,9% em relação ao mesmo período do ano anterior. Desse total, 80% vêm dos três

Nov 12, 2024 - 13:04
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Sob pressão asiática renovada, indústria calçadista prevê até 20% de queda nas exportações em 2024

Será o segundo ano consecutivo de queda no setor, depois do melhor desempenho em mais de uma década Sob pressão da concorrência asiática, as exportações de calçados brasileiros tiveram queda de 20,7% entre janeiro e outubro deste ano. A previsão mais otimista do setor é que 2024 termine com uma baixa de 15%. No pior cenário, o recuo vai acompanhar o ritmo de retração registrado até aqui. O resultado leva a indústria para o segundo ano consecutivo de perda nas vendas externas. Em 2023, quando 118,3 milhões de pares foram exportados, a queda foi de 16,6%. Os Estados Unidos, principal mercado, reduziram as compras em 3,5% em comparação com os dez meses do ano anterior. O Paraguai, terceiro maior destino, registrou uma queda de 21% nas importações, enquanto o Equador, quarto no ranking, diminuiu as aquisições em 46,6%, em meio à crise econômica e política que assola o país. Os dados com um panorama da indústria foram apresentados nesta terça-feira pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) durante a Brazilian Footwear Show (BFSHOW), feira que reúne produtores, lojistas e compradores internacionais. O recuo nas exportações acontece depois de um ano, o de 2022, em que o setor calçadista brasileiro teve o melhor desempenho externo em 12 anos, diante das restrições na produção chinesa causadas pela política de "Covid Zero", o que permitiu ao Brasil ocupar parte do mercado internacional. Agora, além da competição chinesa retomada, o Brasil sente o efeito de uma concorrência crescente de países asiáticos que têm ampliado a participação no mercado externo, como Mianmar e Camboja. Haroldo Ferreira, presidente-executivo da Abicalçados, diz que, para o ano que vem, o setor projeta uma estabilidade nas vendas externas, sem recuperar as perdas dos últimos anos. — O ritmo de exportações ainda não voltou aos níveis pré-pandemia e, infelizmente, não deve voltar em 2025. A melhor projeção que temos para o ano que vem é de um crescimento de 0,9% das vendas externas. Mas em cima de uma queda deste ano, é um número marginal. Recuperação de vendas para Argentina Apesar dos desafios no mercado interno argentino, com inflação em alta e aumento da pobreza, Ferreira afirma que o setor vê no país uma possibilidade de algum fôlego na recuperação nas exportações. A expectativa de melhora vem das medidas recentes tomadas pelo país vizinho que facilitam a importação de produtos, como a eliminação das verificações físicas obrigatórias e a flexibilização dos valores de referência para exportação, que reduz custos para importadores. Segundo maior mercado para o Brasil, a Argentina comprou 16,7% menos pares de calçados brasileiros este ano, resultando em uma queda de 12,5% na receita em dólares, após retrações em 2023. Em setembro e outubro, no entanto, o país superou os EUA na compra do produto brasileiro. No mês passado, comprou 1,7 milhões de pares do Brasil, o que representou uma alta de 57% em relação a outubro do ano anterior. Com o mercado argentino como o principal fora do Brasil, o Grupo Ramarim espera que as medidas melhorem o cenário para a empresa exportar ao país, afirma o Marçal Muller, vice-presidente da companhia com sede gaúcha e quatro parques fabris no país — Nosso foco é o mercado interno, onde estão 85% das novas vendas, mas vamos tentar crescer na exportação na medida do possível. Temos muitos desafios, principalmente na América Latina, mas estamos otimistas — afirma o executivo, que diz esperar um aumento de 5% nas vendas totais este ano. Com o impacto do desastre climático em abril, o Rio Grande do Sul, principal estado exportador de calçados no país, , registrou recuo de 11,2% para vendas no mercado internacional nos dez primeiros meses do ano. Com um polo calçadista que vem ganhando espaço no país, o Ceará exportou 20% a menos no mesmo período. Aumento de 20% nas importações Depois de investir R$ 40 milhões para o lançamento da primeira linha feminina da marca, que completou quatro décadas no ano passado, a Democrata também espera que a abertura argentina ajude a indústria a recuperar parte das perdas que teve no país, ainda que a economia local siga em um momento desafiador. Para o Brasil, ele diz que o principal desafio é o poder aquisitivo e inflação para a classe B, que é o principal da empresa. — Nosso desafio é tonar o produtivo, nesse cenário, muito atrativo, mas com preços que cabem nos bolsos. Na exportação, também queremos trazer mais a presença da marca, como estávamos fazendo no Brasil. Até porque se vendermos só o produto, batemos de frente com os chineses e asiáticos —afirma Marcelo Paludetto, diretor comercial da Democrata, que tem a América Latina como grande foco no mercado internacional. Além dos desafios externos, o setor sente o impacto do avanço de produtos da China, Vietnã e Indonésia no consumo interno. Até outubro de 2024, o Brasil importou 29,8 milhões de pares, um aumento de 20,9% em relação ao mesmo período do ano anterior. Desse total, 80% vêm dos três países que são, respectivamente, primeiro, terceiro e quarto maiores produtores do mundo. O Brasil vem logo atrás, na quinta posição. O balanço não considera os produtos que chegaram ao país a partir das plataformas de comércio eletrônico. Em relação às vendas locais, o cenário mais otimista da indústria projeta um crescimento de 2,2% na produção de sapatos, acréscimo insuficiente para o setor retomar o volume de produção da década passada, que ultrapassava os 900 milhões de pares. Haroldo Ferreira, da Abicalçados, espera que esse patamar possa ser retomado apenas no ano que vem. — Diante de todas as turbulências, é um bom número. Claro que se houver instabilidades, a projeção será afetada. Mas nossa expectativa é essa: crescer esses dois por cento no próximo ano e ultrapassar a produção de 900 milhões de pares — afirma o representante da Abicalçados. Estoque de empregos menor A retração na indústria tem afetado a capacidade do setor de gerar empregos. Apesar de ter gerado 14,6 mil vagas este ano, o estoque ainda está 2,1% inferior à comparação com os dez meses de 2023. Entre os maiores estados empregadores, o Rio Grande do Sul registrou uma queda de 5% no número de trabalhadores diretos no setor calçadista, enquanto o Ceará teve um leve aumento de 0,6% e a Bahia, o terceiro maior, uma redução de 1,2%. Presidente da Calçados Beira Rio, o ex-deputado e empresário Roberto Argenta, afirma que o maior desafio da empresa no mercado local foi represar o repasse de custos mais altos para o consumidor. Dona das marcas Moleka e Vizzano, entre outras, a empresa também teve duas fábricas afetadas pelas chuvas no Rio Grande do Sul: — Mas a maior dificuldade foi o aumento de custo. Sentimento essa alta em quase todos os componentes, mas como o mercado está difícil não tem como repassar. O que temos tentado fazer é aumentar a competitividade com aumento da eficiência, com melhor dos sistemas de produção — afirma Argenta, que diz acreditar que no ano que vem “vai ser um pouquinho melhor". As vendas externas na Beira Rio representam 12% do faturamento total, mas o empresário afirma que o foco é expansão doméstica. Argenta diz que a competição com produto asiático “não é fácil”, mas que melhorias no produto têm sido um dos caminhos para melhorar a competitividade. Em relação ao consumo interno, a indústria projeta um aumento de até 3,8% em 2024, com 805 milhões de calçados vendidos, o que marca uma aproximação com o patamar pré-pandemia. No cenário pessimista a expectativa é de crescimento de 2,4%.

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