'Só a polícia atirou', dizem testemunhas de ação em Santos que terminou com morte de criança de 4 anos

Caso ocorreu na Baixada Santista na terça-feira e também causou a morte de um adolescente de 17 anos; PM alega que agentes foram alvo de disparos Testemunhas refutam a alegação da Polícia Militar de que houve troca de tiros na ação que deixou um adolescente e uma criança mortos durante ocorrência policial na terça-feira (5) na Baixada Santista. Ryan da Silva Andrade Santos, de 4 anos de idade, e Gregory Vasconcelos, de 17 anos, foram baleados e mortos durante o episódio. Outro adolescente, de 15 anos, ficou ferido e está hospitalizado. A versão da PM, divulgada durante coletiva de imprensa da corporação realizada nesta quarta (6), é de que policiais militares estavam em fim de expediente, patrulhando ruas do Morro São Bento, bairro de Santos, quando foram alvo de tiros de um grupo de cerca de dez pessoas e revidaram os disparos. O local seria nas proximidades de um ponto de venda de drogas. Familiares das vítimas e moradores do bairro ouvidos por O GLOBO sob condição de anonimato dizem que apenas os policiais militares atiraram durante o suposto confronto. Os tiros teriam começado após os agentes se depararem com a moto onde estava Gregory, o adolescente morto, e o rapaz de 15 anos, que conduzia o veículo e ficou ferido. Uma mulher de 24 anos, que tomou um tiro de raspão durante a ação, conta que estava saindo de casa acompanhada de Ryan, o menino que morreu, quando eles foram baleados. — Eu fui abrir o portão, estava com um pé para fora e outro para dentro (de casa) e tomei o tiro de raspão. Ele estava na porta de casa (Ryan) e quando vi, ele estava com a mão na barriga, foi onde ele tomou (o tiro). Eu falei para a polícia: vocês alvejaram uma criança de 4 anos. E disseram que tinham sido eles que atiraram (os rapazes da moto) — diz ela. A mulher afirma também que os policias militares estavam em um carro branco, à paisana, quando realizaram os disparos. A versão da polícia afirma que os agentes envolvidos estavam em motocicletas. Outra testemunha conta que estava em frente de casa, acompanhada de sete crianças que moram na região, quando começou o tiroteio. — Não teve troca de tiro. Os meninos da biqueira (ponto de venda de drogas) não estavam na biqueira quando a polícia chegou. E os meninos da moto também não estavam com arma. Eu olhei na mão dos meninos e não tinha arma nenhuma. Então não tem como eles alegarem que foi troca de tiro? As únicas pessoas que começaram a atirar foram os policiais — diz uma moradora. A versão registrada no boletim de ocorrência da Polícia Militar diz que foram apreendidos com os rapazes que estavam na moto um rádio transmissor e duas pistolas. — Quando a gente olhou, eles começaram a atirar pra cá, pra cima, na direção do portão. Foi muito tiro, muito tiro. Só no portão da minha casa tem três tiros marcados na parede — afirma a mulher. Uma familiar de uma das vítimas diz que Gregory, o adolescente que morreu, não tinha envolvimento com atividades ilícitas. — Eles não estavam armados, estavam só sem capacete, sem camiseta, e são menores de idade. Eles não solicitaram abordagem nem averiguaram, só atiraram e acabaram também atingindo a criança. Nunca pensei que isso poderia acontecer porque ele (Gregory) não tem envolvimento (com o crime). E se ele estava fazendo algo de errado, não tinha necessidade de matar — diz ela. O Secretário de Segurança Pública da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos), Guilherme Derrite, comentou sobre o caso durante encontro realizado na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) nesta quarta. – Lamento demais o que aconteceu com aquele menino. Eu lamento demais a morte da criança. Os policiais militares estavam se deslocando para o fim do serviço policial, mais de nove atiraram contra os policiais. Esse garoto de 17 anos, esse garoto de 15 anos, tem foto deles com armamento pesado. Eu tenho certeza absoluta que a última coisa que eles queriam era troca de tiros – disse Derrite. – O pai do garoto (Gregory, o que morreu) foi preso por homicídio, por tráfico de drogas, por porte ilegal de armas, e também o inquérito está tramitando. Não vou de maneira leviana acusar ele de qualquer crime sem que a justiça o faça – disse o secretário. Ele fala sobre o caso de Paulo Adriano de Vasconcelos, que está preso em um presídio estadual desde 2009 por crimes como homicídio qualificado e lesão corporal grave, que teriam sido praticados em 1998. Na coletiva de imprensa nesta quarta, o porta-voz da Polícia Militar, coronel Emerson Massera, disse que o tiro que atingiu a criança "provavelmente partiu de uma arma de um policial militar". – Nós queremos agora condições de fazer o confronto balístico e, com o resultado da perícia, nós podemos ter aí essa conclusão, 100%. Mas tudo indica, pela dinâmica da ocorrência, pela forma como o cenário se dispôs ali, que esse disparo provavelmente partiu da arma de um policial militar e, mais uma vez, nós lamentamos muito — afirmou Massera. Segundo ele, cerca de oito suspeitos conseguiram fugir do local após o confro

Nov 6, 2024 - 19:04
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'Só a polícia atirou', dizem testemunhas de ação em Santos que terminou com morte de criança de 4 anos

Caso ocorreu na Baixada Santista na terça-feira e também causou a morte de um adolescente de 17 anos; PM alega que agentes foram alvo de disparos Testemunhas refutam a alegação da Polícia Militar de que houve troca de tiros na ação que deixou um adolescente e uma criança mortos durante ocorrência policial na terça-feira (5) na Baixada Santista. Ryan da Silva Andrade Santos, de 4 anos de idade, e Gregory Vasconcelos, de 17 anos, foram baleados e mortos durante o episódio. Outro adolescente, de 15 anos, ficou ferido e está hospitalizado. A versão da PM, divulgada durante coletiva de imprensa da corporação realizada nesta quarta (6), é de que policiais militares estavam em fim de expediente, patrulhando ruas do Morro São Bento, bairro de Santos, quando foram alvo de tiros de um grupo de cerca de dez pessoas e revidaram os disparos. O local seria nas proximidades de um ponto de venda de drogas. Familiares das vítimas e moradores do bairro ouvidos por O GLOBO sob condição de anonimato dizem que apenas os policiais militares atiraram durante o suposto confronto. Os tiros teriam começado após os agentes se depararem com a moto onde estava Gregory, o adolescente morto, e o rapaz de 15 anos, que conduzia o veículo e ficou ferido. Uma mulher de 24 anos, que tomou um tiro de raspão durante a ação, conta que estava saindo de casa acompanhada de Ryan, o menino que morreu, quando eles foram baleados. — Eu fui abrir o portão, estava com um pé para fora e outro para dentro (de casa) e tomei o tiro de raspão. Ele estava na porta de casa (Ryan) e quando vi, ele estava com a mão na barriga, foi onde ele tomou (o tiro). Eu falei para a polícia: vocês alvejaram uma criança de 4 anos. E disseram que tinham sido eles que atiraram (os rapazes da moto) — diz ela. A mulher afirma também que os policias militares estavam em um carro branco, à paisana, quando realizaram os disparos. A versão da polícia afirma que os agentes envolvidos estavam em motocicletas. Outra testemunha conta que estava em frente de casa, acompanhada de sete crianças que moram na região, quando começou o tiroteio. — Não teve troca de tiro. Os meninos da biqueira (ponto de venda de drogas) não estavam na biqueira quando a polícia chegou. E os meninos da moto também não estavam com arma. Eu olhei na mão dos meninos e não tinha arma nenhuma. Então não tem como eles alegarem que foi troca de tiro? As únicas pessoas que começaram a atirar foram os policiais — diz uma moradora. A versão registrada no boletim de ocorrência da Polícia Militar diz que foram apreendidos com os rapazes que estavam na moto um rádio transmissor e duas pistolas. — Quando a gente olhou, eles começaram a atirar pra cá, pra cima, na direção do portão. Foi muito tiro, muito tiro. Só no portão da minha casa tem três tiros marcados na parede — afirma a mulher. Uma familiar de uma das vítimas diz que Gregory, o adolescente que morreu, não tinha envolvimento com atividades ilícitas. — Eles não estavam armados, estavam só sem capacete, sem camiseta, e são menores de idade. Eles não solicitaram abordagem nem averiguaram, só atiraram e acabaram também atingindo a criança. Nunca pensei que isso poderia acontecer porque ele (Gregory) não tem envolvimento (com o crime). E se ele estava fazendo algo de errado, não tinha necessidade de matar — diz ela. O Secretário de Segurança Pública da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos), Guilherme Derrite, comentou sobre o caso durante encontro realizado na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) nesta quarta. – Lamento demais o que aconteceu com aquele menino. Eu lamento demais a morte da criança. Os policiais militares estavam se deslocando para o fim do serviço policial, mais de nove atiraram contra os policiais. Esse garoto de 17 anos, esse garoto de 15 anos, tem foto deles com armamento pesado. Eu tenho certeza absoluta que a última coisa que eles queriam era troca de tiros – disse Derrite. – O pai do garoto (Gregory, o que morreu) foi preso por homicídio, por tráfico de drogas, por porte ilegal de armas, e também o inquérito está tramitando. Não vou de maneira leviana acusar ele de qualquer crime sem que a justiça o faça – disse o secretário. Ele fala sobre o caso de Paulo Adriano de Vasconcelos, que está preso em um presídio estadual desde 2009 por crimes como homicídio qualificado e lesão corporal grave, que teriam sido praticados em 1998. Na coletiva de imprensa nesta quarta, o porta-voz da Polícia Militar, coronel Emerson Massera, disse que o tiro que atingiu a criança "provavelmente partiu de uma arma de um policial militar". – Nós queremos agora condições de fazer o confronto balístico e, com o resultado da perícia, nós podemos ter aí essa conclusão, 100%. Mas tudo indica, pela dinâmica da ocorrência, pela forma como o cenário se dispôs ali, que esse disparo provavelmente partiu da arma de um policial militar e, mais uma vez, nós lamentamos muito — afirmou Massera. Segundo ele, cerca de oito suspeitos conseguiram fugir do local após o confronto e o policiamento na região da Baixada Santista será reforçado. O porta-voz afirma que nenhum dos agentes usava câmera corporal porque a ocorrência foi na área do 6º Batalhão da Baixada Santista, que não dispõe do equipamento. Massera ressaltou, por mais de uma vez, que os policiais não são tratados como culpados, mas como vítimas. — Os policiais precisaram se defender, por isso que efetuaram disparos contra esses criminosos e conseguiram acertar os dois, um dos criminosos faleceu. É interessante destacar que o criminoso, o menor infrator, ostentava nas redes sociais armas de fogo. Uma questão que a gente precisa retomar urgentemente é a discussão sobre a maioridade penal. É fato que o crime organizado, facções criminosas, o tráfico, utilizam a mão de obra de adolescentes no crime, e isso é algo que a sociedade precisa discutir — disse o coronel. A reportagem procurou a Secretaria de Segurança Pública (SSP) para comentar as declarações feitas pelas testemunhas. A pasta reiterou a versão dada pelo porta-voz da PM mais cedo e disse que "os agentes envolvidos na ocorrência estão afastados da atividade operacional". Criança morta teve o pai alvejado pela polícia em fevereiro Leonel Andrade Santos, de 36 anos, pai de Ryan Santos, foi atingido por tiros de fuzil após ter supostamente atirado contra policiais militares em fevereiro deste ano. Relatório elaborado pela Ouvidoria da Polícia e outras entidades, no entanto, ouviu familiares sobre o caso e eles relataram que o homem usava muletas no momento do confronto e não poderia ter atirado contra os policiais. Segundo relatos de familiares e moradores, dois homens estavam conversando quando foram surpreendidos por policiais que saíam de uma área de mata. Segundo o boletim de ocorrência, os homens estariam armados e teriam reagido à abordagem policial. Morreram Leonel Andrade Santos, o pai de Ryan, e Jefferson Ramos Miranda. Parentes das vítimas, entretanto, contam uma versão diferente: a esposa de Leonel disse para o relatório da Ouvidoria que seu marido usava muletas e não poderia ter atirado nos policiais. Ela ainda apresentou laudos que comprovariam que o marido era beneficiário do Benefício de Prestação Continuada (BPC) para pessoas com deficiência. Após os tiros, os policiais teriam isolado o local e impedido a aproximação de familiares e moradores. Leonel estaria de muleta no momento do assassinato e o item não foi encontrado depois pela família. Ainda de acordo com testemunhas ouvidas pela Ouvidoria, os policiais teriam proibido que familiares se aproximassem dos corpos, que ficaram um sobre o outro "por cerca de duas horas, ainda vivos e agonizando, antes de serem removidos por uma ambulância para a Santa Casa de Santos, onde o óbito foi constatado".

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