Saldo do G20: Eleição de Trump pode estimular novas alianças para o Brasil e fortalecer multilateralismo
Em evento promovido pelo GLOBO, Valor e CBN, especialistas do Cebri analisaram a presidência brasileira do fórum e seus impactos na COP30 e na cúpula do Brics, sediadas no país em 2025 O primeiro registro dos chefes de Estado do G20 desde 2021. A criação de uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, com adesão de 82 países. A conquista de consenso para uma declaração final que toca, pela primeira vez, em temas como reforma da governança global e princípios sobre bioeconomia. No último dos 12 debates promovidos pelos jornais O GLOBO, Valor Econômico e rádio CBN sobre o G20, mediado pela editora-executiva Flávia Barbosa nesta quarta-feira, o presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), José Pio Borges, e o ex-embaixador do Brasil na China, Marcos Caramuru, conselheiro internacional do Cebri, analisaram os feitos da presidência brasileira e seus possíveis impactos no ano que vem, quando o país sediará a COP30 e a cúpula do Brics. Tudo isso em meio ao temor da ascensão do presidente eleito dos EUA, Donald Trump. G20: Veja os 10 pontos principais da declaração final da cúpula Entenda: O que é e o que faz o G20, grupo que reúne 85% do PIB global? — A entrada de um novo ator envolve o esperado e o inesperado — afirma Caramuru sobre os possíveis efeitos do segundo mandato de Trump na política e na economia internacional. — O reflexo disso vai ser uma revolução completa no fluxo de comércio e investimento no mundo. Do ponto de vista político, haverá cada vez mais uma tendência de novos grupos de países se formarem, com novas alianças por todo lado. Brics Na avaliação de Pio Borges, "Trump não estava presente [na cúpula], mas sua sombra estava". No entanto, ele destaca que o Brasil, depois do que foi demonstrado no G20, certamente terá um papel importante em articulações internacionais futuras, sobretudo com a presidência do Brics a partir de 1º de janeiro. — Um dos grandes interesses do Brasil é reforçar o multilateralismo. O Brics, mesmo antes da adesão dos novos países, já tinha o PIB maior que o do G7. Agora é muito maior. O Brics cresce numa taxa que é o dobro do G7 — pontua. — E o Brasil é o único país ocidental do Brics, então pode ter um papel importante de diálogo. Infográfico: Veja quais os temas sensíveis que devem causar saia-justa na cúpula do G20 no Rio Para Caramuru, diante da perspectiva de um mundo "cada vez mais multifacetado" com o retorno de Trump, alianças como o Brics podem acabar se fortalecendo indiretamente — embora algumas de suas ambições, como a desdolarização da economia, enfrentem maior resistência. Nesse sentido, o G20 foi uma boa oportunidade para o Brasil se apresentar como uma das lideranças alternativas nessa nova ordem. — Eu ouvi de muitos países que vieram para o G20 que querem conversar mais com o Brasil, vendo o Brasil como uma liderança internacional — diz o ex-embaixador. Presente no primeiro debate da série de eventos G20 no Brasil, no início do ano, Caramuru destacou que, naquele momento, "não era possível esperar um Big Bang", tendo em vista a lentidão dos processos diplomáticos. Agora, o cenário é outro: — Eu acho que nós fizemos um excelente trabalho no G20. Para além da declaração final, o Brasil teve a sabedoria de delimitar as suas prioridades em três temas: combate à fome e à pobreza, sustentabilidade do ponto de vista ambiental e social, e a reforma da governança global — pontua. — Em alguns temas não chegamos tão longe quanto gostaríamos, mas de alguma forma entregamos tudo o que pretendíamos. Conversei com outras delegações e todas têm essa impressão de que o Brasil fez um G20 muito bem sucedido. Initial plugin text COP30 Pio Borges, por outro lado, destacou como pontos altos a coordenação entre as trilhas política e econômica, que em cúpulas anteriores "andavam divorciadas" e a grande participação de entidades e da sociedade civil. Segundo ele, o G20 deu importantes ensinamentos ao Brasil para a Conferência da ONU para as Mudanças Climáticas (COP30), que será sediada em Belém. Mesmo se Trump cumprir algumas de suas promessas, como a saída dos EUA do Acordo de Paris, é possível que a delegação brasileira encontre alternativas. O tratado climático estabelece, entre outras coisas, que os países tenham como meta limitar o aquecimento global em até 1,5ºC. — A retirada dos EUA [do Acordo de Paris] pode desestimular ou unir mais a comunidade multilateral, que sem os EUA precisará estar coesa atrás dessas metas tão importantes — crava Pio Borges. Neste ano, a cúpula do G20 aconteceu paralelamente à COP29 em Baku, no Azerbeijão. Embora alguns críticos tenham pontuado uma frustração com o que avaliam como avanços tímidos em relação às metas climáticas, Caramuru e Pio Borges destacaram a relevância de medidas como reafirmar a meta do Acordo de Paris e facilitar concessões de crédito a países em desenvolvimento através de bancos de desenvolvimento. — O Brasil foi o terceiro pais em desenvolvimento a presidir o G20, e teve uma contribuiçã
Em evento promovido pelo GLOBO, Valor e CBN, especialistas do Cebri analisaram a presidência brasileira do fórum e seus impactos na COP30 e na cúpula do Brics, sediadas no país em 2025 O primeiro registro dos chefes de Estado do G20 desde 2021. A criação de uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, com adesão de 82 países. A conquista de consenso para uma declaração final que toca, pela primeira vez, em temas como reforma da governança global e princípios sobre bioeconomia. No último dos 12 debates promovidos pelos jornais O GLOBO, Valor Econômico e rádio CBN sobre o G20, mediado pela editora-executiva Flávia Barbosa nesta quarta-feira, o presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), José Pio Borges, e o ex-embaixador do Brasil na China, Marcos Caramuru, conselheiro internacional do Cebri, analisaram os feitos da presidência brasileira e seus possíveis impactos no ano que vem, quando o país sediará a COP30 e a cúpula do Brics. Tudo isso em meio ao temor da ascensão do presidente eleito dos EUA, Donald Trump. G20: Veja os 10 pontos principais da declaração final da cúpula Entenda: O que é e o que faz o G20, grupo que reúne 85% do PIB global? — A entrada de um novo ator envolve o esperado e o inesperado — afirma Caramuru sobre os possíveis efeitos do segundo mandato de Trump na política e na economia internacional. — O reflexo disso vai ser uma revolução completa no fluxo de comércio e investimento no mundo. Do ponto de vista político, haverá cada vez mais uma tendência de novos grupos de países se formarem, com novas alianças por todo lado. Brics Na avaliação de Pio Borges, "Trump não estava presente [na cúpula], mas sua sombra estava". No entanto, ele destaca que o Brasil, depois do que foi demonstrado no G20, certamente terá um papel importante em articulações internacionais futuras, sobretudo com a presidência do Brics a partir de 1º de janeiro. — Um dos grandes interesses do Brasil é reforçar o multilateralismo. O Brics, mesmo antes da adesão dos novos países, já tinha o PIB maior que o do G7. Agora é muito maior. O Brics cresce numa taxa que é o dobro do G7 — pontua. — E o Brasil é o único país ocidental do Brics, então pode ter um papel importante de diálogo. Infográfico: Veja quais os temas sensíveis que devem causar saia-justa na cúpula do G20 no Rio Para Caramuru, diante da perspectiva de um mundo "cada vez mais multifacetado" com o retorno de Trump, alianças como o Brics podem acabar se fortalecendo indiretamente — embora algumas de suas ambições, como a desdolarização da economia, enfrentem maior resistência. Nesse sentido, o G20 foi uma boa oportunidade para o Brasil se apresentar como uma das lideranças alternativas nessa nova ordem. — Eu ouvi de muitos países que vieram para o G20 que querem conversar mais com o Brasil, vendo o Brasil como uma liderança internacional — diz o ex-embaixador. Presente no primeiro debate da série de eventos G20 no Brasil, no início do ano, Caramuru destacou que, naquele momento, "não era possível esperar um Big Bang", tendo em vista a lentidão dos processos diplomáticos. Agora, o cenário é outro: — Eu acho que nós fizemos um excelente trabalho no G20. Para além da declaração final, o Brasil teve a sabedoria de delimitar as suas prioridades em três temas: combate à fome e à pobreza, sustentabilidade do ponto de vista ambiental e social, e a reforma da governança global — pontua. — Em alguns temas não chegamos tão longe quanto gostaríamos, mas de alguma forma entregamos tudo o que pretendíamos. Conversei com outras delegações e todas têm essa impressão de que o Brasil fez um G20 muito bem sucedido. Initial plugin text COP30 Pio Borges, por outro lado, destacou como pontos altos a coordenação entre as trilhas política e econômica, que em cúpulas anteriores "andavam divorciadas" e a grande participação de entidades e da sociedade civil. Segundo ele, o G20 deu importantes ensinamentos ao Brasil para a Conferência da ONU para as Mudanças Climáticas (COP30), que será sediada em Belém. Mesmo se Trump cumprir algumas de suas promessas, como a saída dos EUA do Acordo de Paris, é possível que a delegação brasileira encontre alternativas. O tratado climático estabelece, entre outras coisas, que os países tenham como meta limitar o aquecimento global em até 1,5ºC. — A retirada dos EUA [do Acordo de Paris] pode desestimular ou unir mais a comunidade multilateral, que sem os EUA precisará estar coesa atrás dessas metas tão importantes — crava Pio Borges. Neste ano, a cúpula do G20 aconteceu paralelamente à COP29 em Baku, no Azerbeijão. Embora alguns críticos tenham pontuado uma frustração com o que avaliam como avanços tímidos em relação às metas climáticas, Caramuru e Pio Borges destacaram a relevância de medidas como reafirmar a meta do Acordo de Paris e facilitar concessões de crédito a países em desenvolvimento através de bancos de desenvolvimento. — O Brasil foi o terceiro pais em desenvolvimento a presidir o G20, e teve uma contribuição relevante a tona para o mundo questões essenciais para que haja uma maior participação global desses países nas decisões multilaterais. E fizemos isso sem exagerar numa linguagem de defesa ao Sul Global — pontua Caramuru. — A COP30 tem uma caractestíca interessante, porque será uma renovação do compromisso dos países com as metas de emissão. Há um plano de apresentação de metas mais ambiciosas. O trabalho começou no G20, mas vai requerer toda uma nova articulação do governo. E o Brasil pode e tem credenciais para fazer isso.
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