Ridley Scott diz por que levou 20 anos para fazer 'Gladiador II'
Cineasta britânico ainda fala sobre papel de Denzel Washington, como convenceu Joaquim Phoenix a não desistir do primeiro 'Gladiador', comenta vitórias e derrotas no Oscar e afirma ter perdido Palma de Ouro por seu primeiro filme em Cannes por causa de propina Já faz 24 anos que o diretor Ridley Scott emplacou um dos maiores sucessos de sua carreira com "Gladiador", o épico estrelado por Russell Crowe que ganhou o Oscar de melhor filme. Agora com 86 anos, Scott ainda trabalha em um ritmo prodigioso, às vezes até dirigindo dois filmes no mesmo ano. Boa Viagem: A Roma de 'Gladiador 2': um roteiro pelo Coliseu e por outros tesouros da Antiguidade na capital italiana 'Melancolia e ciúme': Russell Crowe revela desconforto com 'Gladiador 2' O mais recente é "Gladiador II", que se passa duas décadas depois que o personagem de Crowe, Maximus, morreu heroicamente na arena. Nos anos seguintes, Lucius (Paul Mescal) — filho secreto de Maximus — é levado para o Norte da África, onde também se torna um gladiador. Mas a guerra travada pelo general romano Marcus Acacius (Pedro Pascal) atrairá Lucius de volta ao seu local de nascimento, onde o astuto traficante de armas Macrinus (Denzel Washington) tentará manipular o jovem para promover suas próprias ambições. Paul Mescal com Ridley Scott na premiere de 'Gladiador 2', em Londres, JUSTIN TALLIS / AFP Em outubro, Scott estava em seu escritório em Los Angeles, decorado com pôsteres de alguns de seus filmes memoráveis, como "Alien", "Blade Runner" e "Perdido em Marte". Fiel à sua forma, enquanto se preparava para o lançamento de "Gladiador II", já estava profundamente envolvido na pré-produção de seu próximo trabalho (um filme biográfico dos Bee Gees com filmagens marcadas para fevereiro) e fazia o storyboard do seguinte (uma adaptação de ficção científica). "Eu me sinto vivo quando estou fazendo algo nesse nível", disse ele. "Eu não chamo isso de estresse, eu chamo de adrenalina. E um pouco de adrenalina é bom para você." Aqui estão trechos editados de nossa conversa. A sequência de "Gladiador" já estava em andamento há mais de duas décadas e se tornou de longe o projeto mais longo que você já desenvolveu. Por que você foi até o fim? O sucesso (do primeiro "Gladiador", de 2000) foi crescente. No lançamento foi muito bom, mas o sentimento em torno do filme cresceu em parte por causa das plataformas (de streaming). Eu amo as plataformas porque, em vez de um filme ficar parado em uma prateleira morrendo depois de ser lançado, ele está online, e a qualidade é sempre excelente, tão boa quanto no lançamento. Então, continuei ouvindo como as pessoas amavam "Gladiador" e pensei: "Sabe, é melhor fazermos alguma coisa". Estava muito claro sobre o que deveria ser, porque frequentemente em uma sequência você não tem um sobrevivente, não tem história, mas tínhamos uma pessoa [Lucius] que de repente desapareceu da cena. Para onde ele foi? Começa com um garoto em constante fuga. E isso parecia um bom começo. Após o sucesso do primeiro "Gladiador", houve outras ideias de sequência que ainda poderiam envolver Russell Crowe, certo? Nos reunimos alguns anos depois, e Russell disse: "O que podemos fazer? Estou morto." De repente, pensei que havia uma maneira de trazê-lo de volta dos mortos: quando um homem morre em batalha, essa é a oportunidade de vir do lado dos mortos para o lado dos vivos, de voltar no corpo de um soldado. Eu disse: "O problema, Russell, é que ou você será o sósia de Maximus ou terá que ser outra pessoa." Houve até uma ideia escrita por Nick Cave, na qual Maximus seria ressuscitado como um instrumento dos deuses romanos enviado contra Jesus Cristo. Isso obviamente não aconteceu. Era grandioso demais. Nick é muito teatral, e Steven Spielberg (que foi consultado sobre o filme original) disse: "Não...". Eu não estava confiante, então simplesmente deixei para lá. Como você sabia que essa nova versão era a certa depois de todos esses anos de falsos começos? Estava determinado a não deixar passar, porque o entusiasmo não iria embora. Eu queria honrar isso e seria loucura não fazer — também financeiramente, porque se fizer bem feito, é um grande sucesso. Então pensei: "Vou ficar aqui sentado até chegarmos a uma pegada." Depois que você decidiu centralizar o filme no filho de Maximus, ele se tornou um papel cobiçado por muitos jovens em Hollywood. Como você decidiu por Paul Mescal? Notei Paul quando estava assistindo "Normal People". Pensei: "Meu Deus, ele se parece com Richard Harris", então imediatamente, ding! É o nariz, o perfil. A essa altura da vida, já vi tantos estreantes, desde Sigourney (Weaver, em "Alien"), Brad (Pitt, em "Thelma & Louise"). Parte do meu trabalho é que sou em escolher elenco, e também tive diretores de elenco muito bons, então escolho os meus cuidadosamente. Para mim, um diretor de elenco é tão importante quanto uma boa câmera. Até agora, Paul não havia feito um grande filme de estúdio. Você sentiu que precisava aprimorar a sensibilidade dele, vindo
Cineasta britânico ainda fala sobre papel de Denzel Washington, como convenceu Joaquim Phoenix a não desistir do primeiro 'Gladiador', comenta vitórias e derrotas no Oscar e afirma ter perdido Palma de Ouro por seu primeiro filme em Cannes por causa de propina Já faz 24 anos que o diretor Ridley Scott emplacou um dos maiores sucessos de sua carreira com "Gladiador", o épico estrelado por Russell Crowe que ganhou o Oscar de melhor filme. Agora com 86 anos, Scott ainda trabalha em um ritmo prodigioso, às vezes até dirigindo dois filmes no mesmo ano. Boa Viagem: A Roma de 'Gladiador 2': um roteiro pelo Coliseu e por outros tesouros da Antiguidade na capital italiana 'Melancolia e ciúme': Russell Crowe revela desconforto com 'Gladiador 2' O mais recente é "Gladiador II", que se passa duas décadas depois que o personagem de Crowe, Maximus, morreu heroicamente na arena. Nos anos seguintes, Lucius (Paul Mescal) — filho secreto de Maximus — é levado para o Norte da África, onde também se torna um gladiador. Mas a guerra travada pelo general romano Marcus Acacius (Pedro Pascal) atrairá Lucius de volta ao seu local de nascimento, onde o astuto traficante de armas Macrinus (Denzel Washington) tentará manipular o jovem para promover suas próprias ambições. Paul Mescal com Ridley Scott na premiere de 'Gladiador 2', em Londres, JUSTIN TALLIS / AFP Em outubro, Scott estava em seu escritório em Los Angeles, decorado com pôsteres de alguns de seus filmes memoráveis, como "Alien", "Blade Runner" e "Perdido em Marte". Fiel à sua forma, enquanto se preparava para o lançamento de "Gladiador II", já estava profundamente envolvido na pré-produção de seu próximo trabalho (um filme biográfico dos Bee Gees com filmagens marcadas para fevereiro) e fazia o storyboard do seguinte (uma adaptação de ficção científica). "Eu me sinto vivo quando estou fazendo algo nesse nível", disse ele. "Eu não chamo isso de estresse, eu chamo de adrenalina. E um pouco de adrenalina é bom para você." Aqui estão trechos editados de nossa conversa. A sequência de "Gladiador" já estava em andamento há mais de duas décadas e se tornou de longe o projeto mais longo que você já desenvolveu. Por que você foi até o fim? O sucesso (do primeiro "Gladiador", de 2000) foi crescente. No lançamento foi muito bom, mas o sentimento em torno do filme cresceu em parte por causa das plataformas (de streaming). Eu amo as plataformas porque, em vez de um filme ficar parado em uma prateleira morrendo depois de ser lançado, ele está online, e a qualidade é sempre excelente, tão boa quanto no lançamento. Então, continuei ouvindo como as pessoas amavam "Gladiador" e pensei: "Sabe, é melhor fazermos alguma coisa". Estava muito claro sobre o que deveria ser, porque frequentemente em uma sequência você não tem um sobrevivente, não tem história, mas tínhamos uma pessoa [Lucius] que de repente desapareceu da cena. Para onde ele foi? Começa com um garoto em constante fuga. E isso parecia um bom começo. Após o sucesso do primeiro "Gladiador", houve outras ideias de sequência que ainda poderiam envolver Russell Crowe, certo? Nos reunimos alguns anos depois, e Russell disse: "O que podemos fazer? Estou morto." De repente, pensei que havia uma maneira de trazê-lo de volta dos mortos: quando um homem morre em batalha, essa é a oportunidade de vir do lado dos mortos para o lado dos vivos, de voltar no corpo de um soldado. Eu disse: "O problema, Russell, é que ou você será o sósia de Maximus ou terá que ser outra pessoa." Houve até uma ideia escrita por Nick Cave, na qual Maximus seria ressuscitado como um instrumento dos deuses romanos enviado contra Jesus Cristo. Isso obviamente não aconteceu. Era grandioso demais. Nick é muito teatral, e Steven Spielberg (que foi consultado sobre o filme original) disse: "Não...". Eu não estava confiante, então simplesmente deixei para lá. Como você sabia que essa nova versão era a certa depois de todos esses anos de falsos começos? Estava determinado a não deixar passar, porque o entusiasmo não iria embora. Eu queria honrar isso e seria loucura não fazer — também financeiramente, porque se fizer bem feito, é um grande sucesso. Então pensei: "Vou ficar aqui sentado até chegarmos a uma pegada." Depois que você decidiu centralizar o filme no filho de Maximus, ele se tornou um papel cobiçado por muitos jovens em Hollywood. Como você decidiu por Paul Mescal? Notei Paul quando estava assistindo "Normal People". Pensei: "Meu Deus, ele se parece com Richard Harris", então imediatamente, ding! É o nariz, o perfil. A essa altura da vida, já vi tantos estreantes, desde Sigourney (Weaver, em "Alien"), Brad (Pitt, em "Thelma & Louise"). Parte do meu trabalho é que sou em escolher elenco, e também tive diretores de elenco muito bons, então escolho os meus cuidadosamente. Para mim, um diretor de elenco é tão importante quanto uma boa câmera. Até agora, Paul não havia feito um grande filme de estúdio. Você sentiu que precisava aprimorar a sensibilidade dele, vindo de filmes independentes, para isso? Paul é muito inteligente, então tudo o que ele precisa fazer é superar a escala do caminho em que vou colocá-lo. Quando chegamos ao set de Roma, em Malta, eu disse: "Você vai superar isso em duas horas. É o tempo que você tem, é o tempo que eu tenho. Vamos fazer isso juntos." Foi isso. Parte do meu trabalho é fazer pouco caso disso. Você trabalhou com Denzel anteriormente em "Gangster americano" (2007). Como definiu que queria ele nesse filme? Sempre rebelde, sempre. É quem ele é: Denzel, de uma forma engraçada, é um ator de método. Quando ele está fazendo um papel, ele está no papel o tempo todo, então não é Denzel diariamente, mesmo fora das câmeras. Barry Keoghan seria um vilão no filme e desistiu. O que aconteceu? Sim. Barry ficou preso em "Saltburn". Acho que esse talvez seja o melhor filme que vi este ano. De qualquer forma, Barry é um dos bons, do mesmo nível de Joaquin Phoenix e Paul. Ele é muito complexo e mantém tudo sob controle. Eu sei que ele é um pouco desafiador, mas vale a pena. Como Joaquin, vale a pena. Joaquin recentemente desistiu de um novo filme de Todd Haynes quando estava entrando em produção. Ouvi dizer que em "Gladiador" ele teve que ser convencido a ficar também. Ele estava com a roupa de príncipe dizendo: "Não consigo fazer isso". Eu disse: "O quê?" E Russell: "Isso é terrivelmente pouco profissional". Como você convence alguém a ficar? Eu posso agir como um irmão mais velho ou pai. Mas sou muito amigo de Joaquin. "Gladiador" foi um batismo de fogo para nós dois no começo. É verdade que Joaquin também hesitou em fazer seu filme "Napoleão" até Paul Thomas Anderson entrar para reescriver parte do roteiro (sem créditos)? Tommy estava fazendo "Licorice Pizza" e me aconselhando como fazer "Napoleão". Acabou sendo muito divertido, na verdade. Os três gritando na sala de tanto rir. Houve relatos de que o orçamento de "Gladiador II" chegou a US$ 300 milhões. Isso teve a ver com o hiato imposto pela greve? Não, acabei ficando US$ 10 milhões abaixo porque fiz tudo em 51 dias. O que aconteceu foi que começamos com um orçamento indefinido porque podemos ter começado rápido demais. Sou um pouco empresário, então disse: "Espere um minuto, quanto estamos gastando? E para onde foi?" Faço isso há 50 anos, então, inevitavelmente, você se torna consciente do orçamento. Você tem que fazer isso, porque o recurso da publicidade caiu e agora é preciso se reinventar. Agora estou tentando abraçar a IA. Em que sentido? Quero fazer animação. Isso pode deixar as pessoas sem trabalho? Conversei com pessoas de animação que acreditam que a IA reduzirá seus empregos. Acho que você pode criar empregos, mas isso significa reaprender. Alguém disse uma vez que, na vida, pode ser preciso aprender novamente duas, três vezes, e é difícil para a pessoa média. Para mim, eu tenho que apenas evoluir. Gosto de pensar que sou um jogador de tênis e tenho que continuar quicando a bola. Sam Altman e outros defendem que a IA vai criar empregos. Fico curioso para saber como isso pode acontecer, porque me parece evidente que reduzirá empregos. Não acho que criará empregos, exceto para especialistas de ponta. Você vai fazer em uma semana o que 10 caras faziam em 10 semanas. O que você lembra da noite em que "Gladiador" ganhou o prêmio de melhor filme? O filme ganhou vários Oscars, mas não o de direção. Fui atropelado, pisoteado por todas as pessoas que concorreram ao Oscar. Sempre lembro que foi Steven [Spielberg] quem disse: "O filme ganhou cinco Oscars. O que aconteceu com você?" Steven Soderbergh ganhou o prêmio de melhor diretor naquele ano por "Traffic". Ele pareceu surpreso. Sim, ele ficou. Mas eu não me importei, ganhei o título de cavaleiro. Acabei de ser nomeado cavaleiro novamente e me sinto muito recompensado. Na verdade, minha recompensa é o fato de ainda estar bem o suficiente para fazer o que faço. Eu bato na madeira todos os dias. Você recebeu indicações ao Oscar por dirigir "Gladiador", "Falcão Negro em Perigo" e "Thelma & Louise". Essas parecem os três certos para você? Não, acho que poderia ter havido mais. Posso dizer exatamente por qual filme eu poderia ter sido indicado, porque acho “Os Duelistas” muito bom. Ganhei um prêmio em Cannes (melhor iniciante, em 1977) por ele. Esse é um grande início, um prêmio no Festival de Cannes com seu primeiro filme. Eu nunca vou lá. Eu odeio. Quando eu fiz (“Os duelistas”), eles disseram, “Oh, queremos esse concorrente britânico em Cannes.” Eu disse, “Uau, OK.” Então estava em Cannes e Roberto Rossellini estava no conselho (o júri). Me pergunto se devo te contar isso. Você julga, tenha cuidado com o que eu vou te dizer. Claro. Rossellini me disse, “Escute, eu amo o filme. Eu quero te dar a Palma de Ouro. O comitê está rejeitando porque alguém lá subornou para votar em outra pessoa.” Uau. Mm-hmm. Ele disse, “O que você quer fazer?” Eu respondi, “[palavrão]. Eu nunca pensei que chegaria tão longe.” Ele continuou, “Bom homem.” E os irmãos Taviani venceram por “Padre Padrone”. Isso foi interessante. O dinheiro foi jogado lá de cima. Você percebe alguma relação entre a Roma que vemos em "Gladiador II" e nosso momento político atual? Sim. Se não percebermos, estamos piorando. Uma bomba é algo tão ruim quanto colocar cristãos na arena e permitir que um leão entre e coma eles. E as pessoas vão esquecer que na verdade fizeram isso por diversão. É tudo impossivelmente horrível. Eu tento manter isso em primeiro plano, como quando Paul diz: "É assim que Roma trata seus heróis?" Porque você nunca poderá corrigir essa loucura. E quando a loucura tem a voz, a retórica para convencer as pessoas — porque sempre há uma grande parte, infelizmente, 50% que são estúpidos e loucos — temos uma situação muito perigosa. O sentimento de disparidade de classe no filme parece especialmente importante, onde tantos estão sujeitos aos caprichos de alguns homens ricos e poderosos. Mas os geradores de dinheiro frequentemente são os motores do emprego. Então você não pode dizer que todo bilionário é um bandido, porque todo bilionário provavelmente cria muitos empregos. E ainda assim não consigo entender por que temos pessoas vivendo nas ruas da Califórnia, onde a produtividade geral é a sexta maior do mundo. Foi dito recentemente que a Apple pode desistir de lançamentos no cinema como o de "Napoleão". Decisões assim fazem você se preocupar com o futuro dos filmes? Não, porque eu recebo muito de qualquer maneira. Mas você ainda se interessa em lançar nos cinemas? Não, na verdade não. Eu só me divirto fazendo o que faço. Mas é um privilégio fazer o que estou fazendo. Se este é um carro de Fórmula 1, eu sou um bom piloto. Mas ainda haverá pistas de corrida? Você acha que o público mais jovem que está surgindo hoje tem a mesma relação com o cinema que você ou eu tínhamos? Não. Você está pelo menos duas gerações atrás de mim, mas você é de um modo diferente e sofisticado. É assustador o quão estúpidos estamos ficando. Denzel tem falado que não sabe se ainda tem muitos papéis dentro dele. Ele vai começar a dirigir. Bem, ele tem dirigido. Sim. Mas eles tendem a ser pequenos. Você acha que ele vai crescer? Sim. Embora ele possa não querer porque sempre gostou de teatro — ele está fazendo "Otelo" na Broadway. Ele pode preferir isso porque quanto maior o filme, mais aborrecimento vem junto. Você tem que ser capaz de lidar com isso. Denzel pode trabalhar menos como ator, mas você não me parece ansioso para encerrar sua carreira. Não, é loucura. Sua mãe viveu até os 90 e poucos anos, certo? Sim. Ela disse: "Isso é ridículo", segurou minha mão e morreu. Não é ótimo?
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