Planejamento de longo prazo e grupos radicais ativos: entenda por que a PF apura possível ato terrorista em explosões

Investigação mira eventuais conexões de explosões com os atos golpistas de 8/1 e apoio financeiro e logístico a catarinense A Polícia Federal suspeita que o ataque na Praça dos Três Poderes, na noite de quarta-feira, possa ter sido um ato de terrorismo e apura se há elo entre a ação de Francisco Wanderley Luiz, de 59 anos, e grupos radicais com o objetivo de atentar contra o Estado democrático de Direito, além dos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. Um dos focos da investigação agora é esclarecer se houve auxílio financeiro ou logístico de terceiros ao homem que morreu após o artefato que carregava explodir. As equipes se concentram em Brasília e em Santa Catarina, estado de origem de Francisco. 'Querem perdoar sem sequer condenar': Presidente do STF diz que explosões reforçam necessidade de responsabilização Vídeo: Imagens da Câmara mostram momento da explosão de bombas em carro A hipótese de ato de terrorismo foi levantada na quinta-feira pelo diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues. Ele enfatizou que há “grupos extremistas ativos” e defendeu que as explosões recentes não são um “fato isolado”. O chefe da corporação também sinalizou que há “indícios” de planejamento de longo prazo do autor dos ataques e preocupação com novas ações, ao relatar que ameaças ao Supremo Tribunal Federal (STF) foram recebidas um dia depois do episódio. — Esses grupos extremistas estão ativos e precisam que nós atuemos de maneira enérgica. — afirmou Rodrigues. — Entendemos que o episódio de ontem (anteontem) não é um fato isolado e que está conectado com fatos recentes que a Polícia Federal tem investigado. Estamos tratando esse caso sob duas vertentes: atos terroristas e atentado ao Estado democrático de Direito. O diretor da PF também fez ressalvas quanto ao uso da expressão “lobo solitário” para classificar o episódio, embora a ação na Praça dos Três Poderes tenha sido individual. Na avaliação de Rodrigues, “nunca há só uma pessoa”, mas sempre “um grupo, ou ideia de um grupo”, com extremismos e radicalismos que levam a crimes. A Polícia Federal e o Supremo devem ficar responsáveis pelas apurações, a cargo, inicialmente, da Polícia Civil do Distrito Federal. A PF abriu um inquérito para apurar o caso, sob a justificativa de que o ataque ocorreu em órgão público federal e, em razão da hipótese de atentado ao Estado democrático de Direito, o encaminhou à Suprema Corte. Atuação planejada A investigação é conduzida pela Diretoria de Inteligência Policial (DIP), setor comandado pelo delegado Rodrigo Morais, que foi o responsável por investigar a facada sofrida pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) durante a campanha eleitoral de 2018. O DIP também concentra as investigações contra o ex-presidente que tramitam no Supremo sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes, como a que trata da trama golpista, as fraudes no cartão de vacinação, os desvios de itens do acervo presidencial e o aparelhamento da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Para o diretor-geral da corporação, os elementos colhidos até o momento na investigação sobre as explosões na Praça dos Três Poderes indicam que a ação foi pensada ao longo de meses. Francisco Wanderley Luiz já estava em Brasília desde julho em uma casa alugada na Ceilândia (veja mais na página 8), e fez viagens à capital federal ao longo do ano passado, inclusive no período dos atos golpistas de 8 de janeiro, quando ocorreu a invasão aos prédios dos três Poderes, segundo Rodrigues. — É cedo para dizer se houve participação direta ou não nos atos do 8 de Janeiro. Essa pessoa estava aqui no início de 2023. Há uma mensagem escrita no espelho da residência (na Ceilândia) fazendo menção a um ato de pichação que foi feito na estátua da Justiça (durante os atos do 8 de Janeiro) — acrescentou o diretor da PF. O corpo de Francisco só foi retirado do local às 9h da manhã de quinta-feira, cerca de 13 horas após as explosões na Praça dos Três Poderes. Segundo o porta-voz da Polícia Militar do Distrito Federal, major Raphael Brooke, uma varredura na praça foi concluída às 7h. Em seguida, a Polícia Federal realizou uma perícia na área. — Nós priorizamos a Praça dos Três Poderes, onde se encontrava o corpo e precisava realizar a liberação da área para que a perícia pudesse se aproximar. Porque a perícia não poderia se aproximar com possibilidade de artefatos — explicou Brooke. O esquadrão antibomba também fez uma varredura no estacionamento de um dos anexos da Câmara, onde estava o carro usado no ataque. Ao todo, a Polícia Militar do Distrito Federal desativou oito artefatos explosivos nas imediações da praça. Dois estavam junto a Francisco e outro estava ao lado dele. Parte dos explosivos estava ainda no estacionamento. Fabricação artesanal As investigações apontam que Francisco construiu de maneira artesanal os artefatos utilizados para as explosões e que os aparelhos de fragmentação simularam uma granada e tinham “alto grau de lesividade”. A PF agora tenta identificar a origem desse

Nov 15, 2024 - 04:25
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Planejamento de longo prazo e grupos radicais ativos: entenda por que a PF apura possível ato terrorista em explosões

Investigação mira eventuais conexões de explosões com os atos golpistas de 8/1 e apoio financeiro e logístico a catarinense A Polícia Federal suspeita que o ataque na Praça dos Três Poderes, na noite de quarta-feira, possa ter sido um ato de terrorismo e apura se há elo entre a ação de Francisco Wanderley Luiz, de 59 anos, e grupos radicais com o objetivo de atentar contra o Estado democrático de Direito, além dos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. Um dos focos da investigação agora é esclarecer se houve auxílio financeiro ou logístico de terceiros ao homem que morreu após o artefato que carregava explodir. As equipes se concentram em Brasília e em Santa Catarina, estado de origem de Francisco. 'Querem perdoar sem sequer condenar': Presidente do STF diz que explosões reforçam necessidade de responsabilização Vídeo: Imagens da Câmara mostram momento da explosão de bombas em carro A hipótese de ato de terrorismo foi levantada na quinta-feira pelo diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues. Ele enfatizou que há “grupos extremistas ativos” e defendeu que as explosões recentes não são um “fato isolado”. O chefe da corporação também sinalizou que há “indícios” de planejamento de longo prazo do autor dos ataques e preocupação com novas ações, ao relatar que ameaças ao Supremo Tribunal Federal (STF) foram recebidas um dia depois do episódio. — Esses grupos extremistas estão ativos e precisam que nós atuemos de maneira enérgica. — afirmou Rodrigues. — Entendemos que o episódio de ontem (anteontem) não é um fato isolado e que está conectado com fatos recentes que a Polícia Federal tem investigado. Estamos tratando esse caso sob duas vertentes: atos terroristas e atentado ao Estado democrático de Direito. O diretor da PF também fez ressalvas quanto ao uso da expressão “lobo solitário” para classificar o episódio, embora a ação na Praça dos Três Poderes tenha sido individual. Na avaliação de Rodrigues, “nunca há só uma pessoa”, mas sempre “um grupo, ou ideia de um grupo”, com extremismos e radicalismos que levam a crimes. A Polícia Federal e o Supremo devem ficar responsáveis pelas apurações, a cargo, inicialmente, da Polícia Civil do Distrito Federal. A PF abriu um inquérito para apurar o caso, sob a justificativa de que o ataque ocorreu em órgão público federal e, em razão da hipótese de atentado ao Estado democrático de Direito, o encaminhou à Suprema Corte. Atuação planejada A investigação é conduzida pela Diretoria de Inteligência Policial (DIP), setor comandado pelo delegado Rodrigo Morais, que foi o responsável por investigar a facada sofrida pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) durante a campanha eleitoral de 2018. O DIP também concentra as investigações contra o ex-presidente que tramitam no Supremo sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes, como a que trata da trama golpista, as fraudes no cartão de vacinação, os desvios de itens do acervo presidencial e o aparelhamento da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Para o diretor-geral da corporação, os elementos colhidos até o momento na investigação sobre as explosões na Praça dos Três Poderes indicam que a ação foi pensada ao longo de meses. Francisco Wanderley Luiz já estava em Brasília desde julho em uma casa alugada na Ceilândia (veja mais na página 8), e fez viagens à capital federal ao longo do ano passado, inclusive no período dos atos golpistas de 8 de janeiro, quando ocorreu a invasão aos prédios dos três Poderes, segundo Rodrigues. — É cedo para dizer se houve participação direta ou não nos atos do 8 de Janeiro. Essa pessoa estava aqui no início de 2023. Há uma mensagem escrita no espelho da residência (na Ceilândia) fazendo menção a um ato de pichação que foi feito na estátua da Justiça (durante os atos do 8 de Janeiro) — acrescentou o diretor da PF. O corpo de Francisco só foi retirado do local às 9h da manhã de quinta-feira, cerca de 13 horas após as explosões na Praça dos Três Poderes. Segundo o porta-voz da Polícia Militar do Distrito Federal, major Raphael Brooke, uma varredura na praça foi concluída às 7h. Em seguida, a Polícia Federal realizou uma perícia na área. — Nós priorizamos a Praça dos Três Poderes, onde se encontrava o corpo e precisava realizar a liberação da área para que a perícia pudesse se aproximar. Porque a perícia não poderia se aproximar com possibilidade de artefatos — explicou Brooke. O esquadrão antibomba também fez uma varredura no estacionamento de um dos anexos da Câmara, onde estava o carro usado no ataque. Ao todo, a Polícia Militar do Distrito Federal desativou oito artefatos explosivos nas imediações da praça. Dois estavam junto a Francisco e outro estava ao lado dele. Parte dos explosivos estava ainda no estacionamento. Fabricação artesanal As investigações apontam que Francisco construiu de maneira artesanal os artefatos utilizados para as explosões e que os aparelhos de fragmentação simularam uma granada e tinham “alto grau de lesividade”. A PF agora tenta identificar a origem desse material. — Eram artefatos construídos de maneira artesanal, mas com um alto grau de lesividade. Artefatos de fragmentação que simulam uma granada. Isso poderia causar um dano muito grande — disse Andrei Rodrigues. Ainda de acordo com informações divulgadas pelo diretor da PF na quinta-feira, Francisco portava também um extintor carregado com gasolina, simulando um lança-chamas. No porta-malas do veículo do catarinense, havia vários fogos de artifício montados sobre uma estrutura de tijolos com o objetivo de “canalizar” a explosão para uma única direção.

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