Países do G7 pressionam, mas Brasil resiste em reabrir texto da declaração do G20 sobre guerra na Ucrânia

Demanda de europeus se intensificou após ataque da Rússia a instalações elétricas ucranianas no domingo O texto da declaração presidencial que será entregue a presidentes e chefes de Estado do G20, que iniciam nesta segunda a cúpula do grupo no Rio, continua “fechado”, confirmaram ao GLOBO fontes do governo brasileiro. Isso significa que, apesar dos pedidos feitos, sobretudo, por países do G7 para que o trecho do documento que menciona a guerra entre Rússia e Ucrânia seja reaberto após o ataque russo a instalações elétricas ucranianas no domingo, o Brasil se mantém firme em não reabrir o debate. Infográfico: Quais são os temas sensíveis que devem causar saia-justa na cúpula do G20 no Rio? Milei no G20: Argentina não quer apoiar declaração sobre guerra sem condenação à Rússia O domingo foi tenso para os negociadores envolvidos nas discussões. A presidência brasileira recebeu vários pedidos de reabertura do documento, mas a decisão, segundo fontes definida pelo próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é “não reabrir o debate”. “Se o documento sobreviver durante toda a noite, chegaremos à cúpula com mais chances de que ele possa ser aprovado”, disse uma das fontes consultadas. O Brasil, acrescentou a fonte, "ouviu todos os argumentos", mas decidiu não ceder. Até agora, o texto sobreviveu, mas no G20 tudo pode ser modificado até o momento em que os presidentes e chefes de governo definam, finalmente, o tom final da declaração ou, no pior dos casos, que a falta de consenso impede que a cúpula apresente uma declaração presidencial. Isso já aconteceu em cúpulas realizadas após a invasão da Ucrânia por parte da Rússia. Contexto: Guerra na Ucrânia e conflito em Gaza dificultam consensos na cúpula de líderes Na visão do governo brasileiro, explicaram fontes oficiais, “reabrir um documento que foi fechado a duras penas, após dias de difíceis negociações, implicaria assumir um risco muito grande de que a cúpula termine sem declaração presidencial”. Na diplomacia, este tipo de negociações tem aspectos sutis, mas que fazem toda a diferença. Após o ataque russo de domingo, os países mais duros em relação à Rússia — ou seja, os europeus — tinham duas opções: pedir a reabertura das negociações sobre esse trecho da declaração, demanda que o Brasil teria sido obrigado a aceitar; ou, como fizeram, pedir que o Brasil decida reabrir a discussão. Essa segunda opção deu ao Brasil a possibilidade de reabrir ou não o debate, e decisão de Lula foi não reabrir. — Até agora, vamos bem — disse uma fonte oficial nesta segunda pela manhã. Entrevista: 'Provocações nucleares apenas trarão o fim do regime em Pyongyang', afirma presidente da Coreia do Sul ao GLOBO Por que os europeus não pediram a reabertura das discussões? Basicamente porque não querem carregar nas costas a eventual responsabilidade do fracasso das negociações. A estratégia do G7 foi transferir a responsabilidade ao Brasil. O documento já está fechado, e, se depender do governo brasileiro, assim continuará. Outra das razões apontadas por fontes oficiais foi a de que "reabrir sobre Rússia pode levar a reabrir sobre outros temas, como o conflito em Gaza". Mas no G20, as negociações só terminam quando os presidentes batem o martelo. Portanto, não se pode descartar uma reabertura das discussões sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia durante a cúpula presidencial. Depois do ataque russo “tudo ficou mais crispado”, frisou uma das fontes consultadas. Mas o Brasil continua resistindo. Além da questão geopolítica, uma das negociações mais difíceis foi a relacionada ao clima. Segundo fontes oficiais, também houve pedidos para que o Brasil reabra os debates sobre o tema. Mais uma vez, a posição do governo Lula é manter o texto fechado.

Nov 18, 2024 - 12:42
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Países do G7 pressionam, mas Brasil resiste em reabrir texto da declaração do G20 sobre guerra na Ucrânia

Demanda de europeus se intensificou após ataque da Rússia a instalações elétricas ucranianas no domingo O texto da declaração presidencial que será entregue a presidentes e chefes de Estado do G20, que iniciam nesta segunda a cúpula do grupo no Rio, continua “fechado”, confirmaram ao GLOBO fontes do governo brasileiro. Isso significa que, apesar dos pedidos feitos, sobretudo, por países do G7 para que o trecho do documento que menciona a guerra entre Rússia e Ucrânia seja reaberto após o ataque russo a instalações elétricas ucranianas no domingo, o Brasil se mantém firme em não reabrir o debate. Infográfico: Quais são os temas sensíveis que devem causar saia-justa na cúpula do G20 no Rio? Milei no G20: Argentina não quer apoiar declaração sobre guerra sem condenação à Rússia O domingo foi tenso para os negociadores envolvidos nas discussões. A presidência brasileira recebeu vários pedidos de reabertura do documento, mas a decisão, segundo fontes definida pelo próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é “não reabrir o debate”. “Se o documento sobreviver durante toda a noite, chegaremos à cúpula com mais chances de que ele possa ser aprovado”, disse uma das fontes consultadas. O Brasil, acrescentou a fonte, "ouviu todos os argumentos", mas decidiu não ceder. Até agora, o texto sobreviveu, mas no G20 tudo pode ser modificado até o momento em que os presidentes e chefes de governo definam, finalmente, o tom final da declaração ou, no pior dos casos, que a falta de consenso impede que a cúpula apresente uma declaração presidencial. Isso já aconteceu em cúpulas realizadas após a invasão da Ucrânia por parte da Rússia. Contexto: Guerra na Ucrânia e conflito em Gaza dificultam consensos na cúpula de líderes Na visão do governo brasileiro, explicaram fontes oficiais, “reabrir um documento que foi fechado a duras penas, após dias de difíceis negociações, implicaria assumir um risco muito grande de que a cúpula termine sem declaração presidencial”. Na diplomacia, este tipo de negociações tem aspectos sutis, mas que fazem toda a diferença. Após o ataque russo de domingo, os países mais duros em relação à Rússia — ou seja, os europeus — tinham duas opções: pedir a reabertura das negociações sobre esse trecho da declaração, demanda que o Brasil teria sido obrigado a aceitar; ou, como fizeram, pedir que o Brasil decida reabrir a discussão. Essa segunda opção deu ao Brasil a possibilidade de reabrir ou não o debate, e decisão de Lula foi não reabrir. — Até agora, vamos bem — disse uma fonte oficial nesta segunda pela manhã. Entrevista: 'Provocações nucleares apenas trarão o fim do regime em Pyongyang', afirma presidente da Coreia do Sul ao GLOBO Por que os europeus não pediram a reabertura das discussões? Basicamente porque não querem carregar nas costas a eventual responsabilidade do fracasso das negociações. A estratégia do G7 foi transferir a responsabilidade ao Brasil. O documento já está fechado, e, se depender do governo brasileiro, assim continuará. Outra das razões apontadas por fontes oficiais foi a de que "reabrir sobre Rússia pode levar a reabrir sobre outros temas, como o conflito em Gaza". Mas no G20, as negociações só terminam quando os presidentes batem o martelo. Portanto, não se pode descartar uma reabertura das discussões sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia durante a cúpula presidencial. Depois do ataque russo “tudo ficou mais crispado”, frisou uma das fontes consultadas. Mas o Brasil continua resistindo. Além da questão geopolítica, uma das negociações mais difíceis foi a relacionada ao clima. Segundo fontes oficiais, também houve pedidos para que o Brasil reabra os debates sobre o tema. Mais uma vez, a posição do governo Lula é manter o texto fechado.

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