Juíza da Suprema Corte dos EUA resiste à pressão para renunciar antes da posse de Trump

Se deixasse o cargo agora, quem nomearia um substituto seria o presidente Joe Biden, o que poderia impedir um maior desequilíbrio na balança entre progressistas e conservadores no órgão máximo do Judiciário Aos 70 anos, a juíza Sonia Sotomayor, terceira juíza mais velha entre os nove membros da Suprema Corte dos Estados Unidos, tem sofrido pressão para renunciar ao cargo, o que permitiria ao presidente Joe Biden nomear um sucessor progressista para sucedê-la antes da posse do presidente eleito Donald Trump, em 20 de janeiro. Indicada pelo ex-presidente Barack Obama, Sotomayor, entretanto, não tem planos de se aposentar da Corte, já de maioria conservadora, sendo três deles nomeados pelo republicano em seu primeiro mandato. Controle do Congresso e Judiciário 'aliado': Trump deve governar sem contrapesos em novo mandato 'Rei acima da lei': Minoria na Suprema Corte, juízes indicados por democratas criticam imunidade presidencial a Trump Sotomayor vem falando abertamente há anos sobre sua convivência com diabetes tipo 1, o que levanta preocupações entre os democratas. Apesar disso, fontes próximas disseram à imprensa americana que a juíza dispõe de "ótima saúde" e que "cuida melhor de si mesma do que qualquer pessoa que conheço". Antes do primeiro mandato de Trump, a divisão de poder dentro da Corte era mais equilibrada, e mesmo sua indicação inicial não alterou em profundidade essa composição. Neil Gorsuch substituiu o juiz Antonin Scalia, considerado por analistas como muito conservador, após sua morte em 2016, aos 79 anos. As indicações seguintes, no entanto, mudaram o panorama. Análise: Decisão histórica da Suprema Corte é vitória de Trump mas, mais importante, derrota da democracia americana Em 2020, os democratas perderam espaço no tribunal com a morte da juíza Ruth Bader Ginsburg. Ginsburg, conhecida por sua atuação na defesa dos direitos das mulheres, foi substituída pela conservadora Amy Coney Barrett, fato que consolidou a maioria conservadora no organismo máximo do Judiciário americano. Atualmente, a minoria progressista é composta por Sotomayor, Elena Kagan (também indicada por Obama) e Ketanji Brown Jackson (indicada por Biden). Do lado dos conservadores, Clarence Thomas foi indicado por George H.W. Bush, John Roberts (Chefe de Justiça) e Samuel Alito foram indicações de George W. Bush, e Brett Kavanaugh foi nomeado por Trump, juntamente com Barrett e Gorsuch. A Suprema Corte dos EUA em 2022 Erin Schaff/The New York Times Eleições EUA: As pesquisas erraram ao não prever a vitória com folga de Trump? Entenda Os reflexos dessa guinada conservadora culminaram, entre outras decisões históricas, na anulação, em 2022, do precedente "Roe v. Wade", a decisão judicial que garantia proteções constitucionais para o aborto nos Estados Unidos há quase 50 anos. A decisão foi um marco importante no cenário político americano, sendo também uma das questões mais discutidas durante o ciclo eleitoral, e aumentou a preocupação com a possível perda de direitos civis caso a balança continue pendendo para esse lado. Com Trump, a maioria conservadora, hoje de 6 a 3, pode chegar a 7 a 2 ou até 8 a 1, e teria efeitos duradouros, reduzindo dissidências em pautas cruciais, como sobre os direitos reprodutivos das mulheres ou direitos de imigrantes. Sem contar com uma eventual blindagem a ações ligadas a Trump e seus aliados próximos. Condenado por pagar pelo silêncio de uma ex-atriz pornô, relacionado a um caso extraconjugal, o presidente eleito está no banco dos réus em processos ligados ao ataque ao Capitólio, em janeiro de 2021, à sua tentativa de reverter a derrota para Biden em 2020 e sobre o manuseio de documentos sigilosos. Trump ainda será beneficiado por uma decisão, aprovada pela Suprema Corte em julho, que estabelece que ex-chefes de Estado têm imunidade absoluta contra processos por ações tomadas oficialmente durante o mandato, mas que o mesmo não se aplica para atos como pessoa física, fora das competências do cargo.

Nov 11, 2024 - 16:13
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Juíza da Suprema Corte dos EUA resiste à pressão para renunciar antes da posse de Trump

Se deixasse o cargo agora, quem nomearia um substituto seria o presidente Joe Biden, o que poderia impedir um maior desequilíbrio na balança entre progressistas e conservadores no órgão máximo do Judiciário Aos 70 anos, a juíza Sonia Sotomayor, terceira juíza mais velha entre os nove membros da Suprema Corte dos Estados Unidos, tem sofrido pressão para renunciar ao cargo, o que permitiria ao presidente Joe Biden nomear um sucessor progressista para sucedê-la antes da posse do presidente eleito Donald Trump, em 20 de janeiro. Indicada pelo ex-presidente Barack Obama, Sotomayor, entretanto, não tem planos de se aposentar da Corte, já de maioria conservadora, sendo três deles nomeados pelo republicano em seu primeiro mandato. Controle do Congresso e Judiciário 'aliado': Trump deve governar sem contrapesos em novo mandato 'Rei acima da lei': Minoria na Suprema Corte, juízes indicados por democratas criticam imunidade presidencial a Trump Sotomayor vem falando abertamente há anos sobre sua convivência com diabetes tipo 1, o que levanta preocupações entre os democratas. Apesar disso, fontes próximas disseram à imprensa americana que a juíza dispõe de "ótima saúde" e que "cuida melhor de si mesma do que qualquer pessoa que conheço". Antes do primeiro mandato de Trump, a divisão de poder dentro da Corte era mais equilibrada, e mesmo sua indicação inicial não alterou em profundidade essa composição. Neil Gorsuch substituiu o juiz Antonin Scalia, considerado por analistas como muito conservador, após sua morte em 2016, aos 79 anos. As indicações seguintes, no entanto, mudaram o panorama. Análise: Decisão histórica da Suprema Corte é vitória de Trump mas, mais importante, derrota da democracia americana Em 2020, os democratas perderam espaço no tribunal com a morte da juíza Ruth Bader Ginsburg. Ginsburg, conhecida por sua atuação na defesa dos direitos das mulheres, foi substituída pela conservadora Amy Coney Barrett, fato que consolidou a maioria conservadora no organismo máximo do Judiciário americano. Atualmente, a minoria progressista é composta por Sotomayor, Elena Kagan (também indicada por Obama) e Ketanji Brown Jackson (indicada por Biden). Do lado dos conservadores, Clarence Thomas foi indicado por George H.W. Bush, John Roberts (Chefe de Justiça) e Samuel Alito foram indicações de George W. Bush, e Brett Kavanaugh foi nomeado por Trump, juntamente com Barrett e Gorsuch. A Suprema Corte dos EUA em 2022 Erin Schaff/The New York Times Eleições EUA: As pesquisas erraram ao não prever a vitória com folga de Trump? Entenda Os reflexos dessa guinada conservadora culminaram, entre outras decisões históricas, na anulação, em 2022, do precedente "Roe v. Wade", a decisão judicial que garantia proteções constitucionais para o aborto nos Estados Unidos há quase 50 anos. A decisão foi um marco importante no cenário político americano, sendo também uma das questões mais discutidas durante o ciclo eleitoral, e aumentou a preocupação com a possível perda de direitos civis caso a balança continue pendendo para esse lado. Com Trump, a maioria conservadora, hoje de 6 a 3, pode chegar a 7 a 2 ou até 8 a 1, e teria efeitos duradouros, reduzindo dissidências em pautas cruciais, como sobre os direitos reprodutivos das mulheres ou direitos de imigrantes. Sem contar com uma eventual blindagem a ações ligadas a Trump e seus aliados próximos. Condenado por pagar pelo silêncio de uma ex-atriz pornô, relacionado a um caso extraconjugal, o presidente eleito está no banco dos réus em processos ligados ao ataque ao Capitólio, em janeiro de 2021, à sua tentativa de reverter a derrota para Biden em 2020 e sobre o manuseio de documentos sigilosos. Trump ainda será beneficiado por uma decisão, aprovada pela Suprema Corte em julho, que estabelece que ex-chefes de Estado têm imunidade absoluta contra processos por ações tomadas oficialmente durante o mandato, mas que o mesmo não se aplica para atos como pessoa física, fora das competências do cargo.

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