Incêndios podem acelerar savanização da Amazônia, diz climatologista Carlos Nobre
Especialistas previram que este número, por si só 'muito grave', seria registrado pela primeira vez em 2028, mas acabou sendo antecipado Durante anos, Carlos Nobre manteve um discurso otimista sobre o futuro do planeta. Mas o renomado cientista brasileiro se declara, agora, muito preocupado com o recente aumento “rápido” da temperatura, em meio às secas e aos incêndios que atingiram especialmente a América do Sul. A mudança de posição, ele afirma, deve-se ao fato de, no início de 2024, o mundo ter ultrapassado o limiar de aquecimento de 1,5°C em comparação com a era pré-industrial, segundo dados da agência climática da União Europeia, a Copernicus. Leia mais: incêndio na Serra da Beleza em Valença tem impacto devastador Visitações suspensas: incêndio no Santuário do Caraça (MG) completa três semanas Distrito Federal: PF investiga incêndio em área de proteção ambiental Especialistas previram que este número, por si só “muito grave”, seria registrado pela primeira vez em 2028, mas acabou sendo antecipado. "Bateu todos os recordes. Temos que voltar 120 mil anos para encontrar essa temperatura, no último período interglacial. Isso é muito preocupante", disse à AFP um dos maiores climatologistas da Amazônia, em seu escritório em São José dos Campos, interior de São Paulo. Galerias Relacionadas Abaixo estão trechos da entrevista com Nobre, de 73 anos, copresidente do Painel Científico para a Amazônia (SPA) e ex-membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC). O que explica o aumento da temperatura? “Milhares de cientistas estão tentando explicar por que subiu tão rapidamente. Os oceanos bateram recordes, as águas estão muito mais quentes (…) o fenômeno El Niño por si só não explica. A emissão de gases de efeito estufa não diminuiu. Em 2023 bateu recordes, em 2024 provavelmente será maior. O Acordo de Paris e a COP26 em Glasgow, em 2021, disseram que tínhamos que reduzir as emissões em 43% até 2030 e atingir zero emissões líquidas até 2050, para não exceder 1,5°C." Aumento dos fenômenos climáticos Como nossas vidas serão afetadas? “A ciência já disse que quando os 1,5°C fossem atingidos, os fenômenos climáticos aumentariam exponencialmente, não é um aumento linear lento. Ondas de calor, chuvas fortes, secas, incêndios florestais, derretimento de gelo, tempestades nos oceanos, nível do mar, tudo subiria mais rápido, exatamente o que aconteceu em 2023. Em 2024 já vemos como a frequência desses fenômenos extremos acelera e bate recordes." Atualmente a América do Sul, especialmente o Brasil, parece ser a região mais afetada com uma seca extrema ligada às mudanças climáticas que favorece a propagação de incêndios. “A questão é global (...) A grande diferença é que no Canadá e em outros lugares, quase todos os incêndios foram naturais, ou seja, descargas elétricas que fazem o fogo se espalhar rapidamente porque a vegetação é muito seca. Nos países amazônicos, mais de 95% dos incêndios foram causados pelo homem, então é uma diferença muito grande (...) Os incêndios são a forma como o crime organizado desmata, após o desmatamento ser significativamente reduzido no ano passado. Os criminosos perceberam que os satélites só detectam incêndios quando o fogo atinge uma área de 30, 40 metros quadrados. Isso dá tempo para eles deixarem a área antes de serem presos.” Galerias Relacionadas virada Você alertou que a Amazônia está perto do ponto sem retorno da savanização. Os incêndios aceleram a chegada a esse ponto? “Sem dúvida (...) Se o aquecimento global continuar e não pararmos completamente o desmatamento, a degradação e os incêndios, em 2050 teremos ultrapassado o ponto sem retorno. Então, entre 30 e 50 anos, perderemos pelo menos 50% da floresta. “Isto destruirá a maior biodiversidade do planeta e também libertará até 300 bilhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera, tornando ainda mais difícil manter a temperatura em 1,5°C”. Você tem esperança de que a situação melhore? “Tem que melhorar, não há outra solução. Se chegarmos a 2050 com 2,5°C de aquecimento, podemos desencadear os pontos de virada: perder a Amazônia, descongelar grande parte do chamado permafrost (...) emitindo centenas de bilhões de toneladas de gases. Se isso acontecer, o planeta atingirá três ou quatro graus até o final do século. Com quatro graus, toda a região equatorial ficará inabitável, ultrapassando o limite do corpo humano. “Paris, no verão, ficaria inabitável (…) Causaremos a sexta extinção de espécies.”
Especialistas previram que este número, por si só 'muito grave', seria registrado pela primeira vez em 2028, mas acabou sendo antecipado Durante anos, Carlos Nobre manteve um discurso otimista sobre o futuro do planeta. Mas o renomado cientista brasileiro se declara, agora, muito preocupado com o recente aumento “rápido” da temperatura, em meio às secas e aos incêndios que atingiram especialmente a América do Sul. A mudança de posição, ele afirma, deve-se ao fato de, no início de 2024, o mundo ter ultrapassado o limiar de aquecimento de 1,5°C em comparação com a era pré-industrial, segundo dados da agência climática da União Europeia, a Copernicus. Leia mais: incêndio na Serra da Beleza em Valença tem impacto devastador Visitações suspensas: incêndio no Santuário do Caraça (MG) completa três semanas Distrito Federal: PF investiga incêndio em área de proteção ambiental Especialistas previram que este número, por si só “muito grave”, seria registrado pela primeira vez em 2028, mas acabou sendo antecipado. "Bateu todos os recordes. Temos que voltar 120 mil anos para encontrar essa temperatura, no último período interglacial. Isso é muito preocupante", disse à AFP um dos maiores climatologistas da Amazônia, em seu escritório em São José dos Campos, interior de São Paulo. Galerias Relacionadas Abaixo estão trechos da entrevista com Nobre, de 73 anos, copresidente do Painel Científico para a Amazônia (SPA) e ex-membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC). O que explica o aumento da temperatura? “Milhares de cientistas estão tentando explicar por que subiu tão rapidamente. Os oceanos bateram recordes, as águas estão muito mais quentes (…) o fenômeno El Niño por si só não explica. A emissão de gases de efeito estufa não diminuiu. Em 2023 bateu recordes, em 2024 provavelmente será maior. O Acordo de Paris e a COP26 em Glasgow, em 2021, disseram que tínhamos que reduzir as emissões em 43% até 2030 e atingir zero emissões líquidas até 2050, para não exceder 1,5°C." Aumento dos fenômenos climáticos Como nossas vidas serão afetadas? “A ciência já disse que quando os 1,5°C fossem atingidos, os fenômenos climáticos aumentariam exponencialmente, não é um aumento linear lento. Ondas de calor, chuvas fortes, secas, incêndios florestais, derretimento de gelo, tempestades nos oceanos, nível do mar, tudo subiria mais rápido, exatamente o que aconteceu em 2023. Em 2024 já vemos como a frequência desses fenômenos extremos acelera e bate recordes." Atualmente a América do Sul, especialmente o Brasil, parece ser a região mais afetada com uma seca extrema ligada às mudanças climáticas que favorece a propagação de incêndios. “A questão é global (...) A grande diferença é que no Canadá e em outros lugares, quase todos os incêndios foram naturais, ou seja, descargas elétricas que fazem o fogo se espalhar rapidamente porque a vegetação é muito seca. Nos países amazônicos, mais de 95% dos incêndios foram causados pelo homem, então é uma diferença muito grande (...) Os incêndios são a forma como o crime organizado desmata, após o desmatamento ser significativamente reduzido no ano passado. Os criminosos perceberam que os satélites só detectam incêndios quando o fogo atinge uma área de 30, 40 metros quadrados. Isso dá tempo para eles deixarem a área antes de serem presos.” Galerias Relacionadas virada Você alertou que a Amazônia está perto do ponto sem retorno da savanização. Os incêndios aceleram a chegada a esse ponto? “Sem dúvida (...) Se o aquecimento global continuar e não pararmos completamente o desmatamento, a degradação e os incêndios, em 2050 teremos ultrapassado o ponto sem retorno. Então, entre 30 e 50 anos, perderemos pelo menos 50% da floresta. “Isto destruirá a maior biodiversidade do planeta e também libertará até 300 bilhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera, tornando ainda mais difícil manter a temperatura em 1,5°C”. Você tem esperança de que a situação melhore? “Tem que melhorar, não há outra solução. Se chegarmos a 2050 com 2,5°C de aquecimento, podemos desencadear os pontos de virada: perder a Amazônia, descongelar grande parte do chamado permafrost (...) emitindo centenas de bilhões de toneladas de gases. Se isso acontecer, o planeta atingirá três ou quatro graus até o final do século. Com quatro graus, toda a região equatorial ficará inabitável, ultrapassando o limite do corpo humano. “Paris, no verão, ficaria inabitável (…) Causaremos a sexta extinção de espécies.”
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