Imigração, lealdade e anti-China: O que as nomeações de Trump para a Casa Branca revelam sobre seu segundo governo?
Escolhas do magnata, mais do que paridade ideológica, mostram também uma tentativa de aumentar sua influência sobre Legislativo e o Partido Republicano, que tem maioria nas duas Casas Eleito o 47º presidente dos EUA na semana passada, Donald Trump já começou a montar seu governo e distribuir cargos. Começou por sua estrategista Susie Wilies, nomeada como chefe de Gabinete, seguida por Tom Homan, designado como "Czar da fronteira", mas sem muitos detalhes sobre sua função. Na terça, anunciou mais nomes, como o linha-dura Mike Waltz para Segurança Nacional; o apresentador da Fox News Pete Hegseth para Defesa; Kristi Noem para Segurança Interna; e Elon Musk para o inédito Departamento de "Eficiência Governamental". O senador Marco Rubio é o principal cotado para chefiar a diplomacia americana, segundo a imprensa. Segundo mandato: Nomeado por Trump, Musk promete 'abalar sistema' à frente do inédito Departamento de 'Eficiência Governamental' Do UFC a podcasts: Como o filho caçula de Trump o levou à 'manosfera' e impulsionou apoio entre jovens conservadores As escolhas de Trump podem indicar que ele está mais preparado desta vez, com um plano mais bem desenhado, além de fazerem parte do jogo democrático. Há também a questão da lealdade e coerência ideológica com o Movimento MAGA, acrônimo para "Make America Great Again" (Faça a América Grande Novamente, em tradução literal), o que projetaria o respeito aos desejos dos seus eleitores, observou a CNN. Veja abaixo mais pistas que esses nomes dão sobre o segundo governo Trump: Linha-dura com imigração Trump promete levar a cabo a maior deportação de imigrantes irregulares da história dos EUA. Ainda não está claro como as medidas serão implementadas, quanto custarão ou o que isso significará para os imigrantes nos EUA. Trump já disse que "não há preço alto demais" para pôr o plano em prática, e as nomeações parecem indicar que a promessa não é um exagero. A começar por Tom Homan. Ex-policial, tem experiência na área de imigração. Atuou interinamente como diretor da agência de Imigração e Fiscalização Aduaneira (ICE, na sigla em inglês) de 2017 até 2018, quando se aposentou. Começou na agência em 1984 e foi subindo na hierarquia aos poucos. Foi também agente especial no ex-Serviço de Naturalização e Imigração. Entenda: Deportação em massa de imigrantes nos EUA pode favorecer cartéis e afetar economia do México Durante o primeiro governo Trump (2017-2021), supervisionou o início de um sistema migratório que pôs um número recorde de crianças e adolescentes imigrantes sob custódia do Estado, separando quase 4 mil menores de seus pais ou tutores na fronteira entre México e EUA. Também defendeu a prisão de imigrantes irregulares, uma fiscalização mais robusta e atacou as políticas das chamadas "cidades-santuário", que concederam maior proteção migratória. Em entrevista no mês passado à CBS, Homan afirmou que "famílias poderiam ser deportadas juntas" quando questionado sobre como poderia ser implementada a política de deportação em massa, descrevendo, porém, como "ridículos" rumores que circulavam sobre a medida. De acordo com Trump, Homan também supervisionará as fronteiras sul e norte dos EUA, e "a segurança marítima e aérea". Trump também nomeou Stephen Miller como vice-chefe de Gabinete. É conselheiro próximo e redator dos discursos do republicano desde 2015. Em um cargo que deve lhe dar voz e poder de ação nas questões migratórias, Miller muito provavelmente desenhará qualquer plano de deportação em massa, além de reduzir a imigração ilegal e legal. Ao lado de Homan no primeiro mandato de Trump, elaborou algumas das políticas migratórias mais radicais do país. Crônica de uma revanche: Trump capitalizou insatisfação com os democratas e virou o jogo Em entrevistas recentes, Miller sugeriu que seriam construídos "campos em terrenos abertos" para abrigar pessoas que estejam perto de serem expulsas dos EUA, disse que a meta seria deportar até um milhão de pessoas por ano, e que as deportações começarão "no primeiro dia" do mandato de Trump. Posição anti-China Trump tem adotado uma posição dupla quanto ao gigante asiático. Limita-se a criticar Pequim apenas no campo econômico e já disse que o presidente Xi Jinping era "um grande amigo até a Covid". Também não se comprometeu a defender Taiwan, ilha de governo autônomo, contra as ameaças da China, que considera a região parte de seu território. Ainda assim, distribuiu cargos do seu Gabinete a figuras abertamente anti-China. O deputado Mike Waltz foi confirmado na terça-feira como conselheiro de Segurança Nacional, cargo importante para a política externa americana. Foi descrito por Trump como "um especialista nas ameaças representadas por China, Rússia, Irã e pelo terrorismo global". O deputado da Flórida já afirmou que os EUA estão em uma "guerra fria" com a China e foi um dos primeiros congressistas a pedir o boicote dos EUA às Olimpíadas de Inverno de Pequim em 2022, informou a BBC. Outros cotados: Trump deve nomea
Escolhas do magnata, mais do que paridade ideológica, mostram também uma tentativa de aumentar sua influência sobre Legislativo e o Partido Republicano, que tem maioria nas duas Casas Eleito o 47º presidente dos EUA na semana passada, Donald Trump já começou a montar seu governo e distribuir cargos. Começou por sua estrategista Susie Wilies, nomeada como chefe de Gabinete, seguida por Tom Homan, designado como "Czar da fronteira", mas sem muitos detalhes sobre sua função. Na terça, anunciou mais nomes, como o linha-dura Mike Waltz para Segurança Nacional; o apresentador da Fox News Pete Hegseth para Defesa; Kristi Noem para Segurança Interna; e Elon Musk para o inédito Departamento de "Eficiência Governamental". O senador Marco Rubio é o principal cotado para chefiar a diplomacia americana, segundo a imprensa. Segundo mandato: Nomeado por Trump, Musk promete 'abalar sistema' à frente do inédito Departamento de 'Eficiência Governamental' Do UFC a podcasts: Como o filho caçula de Trump o levou à 'manosfera' e impulsionou apoio entre jovens conservadores As escolhas de Trump podem indicar que ele está mais preparado desta vez, com um plano mais bem desenhado, além de fazerem parte do jogo democrático. Há também a questão da lealdade e coerência ideológica com o Movimento MAGA, acrônimo para "Make America Great Again" (Faça a América Grande Novamente, em tradução literal), o que projetaria o respeito aos desejos dos seus eleitores, observou a CNN. Veja abaixo mais pistas que esses nomes dão sobre o segundo governo Trump: Linha-dura com imigração Trump promete levar a cabo a maior deportação de imigrantes irregulares da história dos EUA. Ainda não está claro como as medidas serão implementadas, quanto custarão ou o que isso significará para os imigrantes nos EUA. Trump já disse que "não há preço alto demais" para pôr o plano em prática, e as nomeações parecem indicar que a promessa não é um exagero. A começar por Tom Homan. Ex-policial, tem experiência na área de imigração. Atuou interinamente como diretor da agência de Imigração e Fiscalização Aduaneira (ICE, na sigla em inglês) de 2017 até 2018, quando se aposentou. Começou na agência em 1984 e foi subindo na hierarquia aos poucos. Foi também agente especial no ex-Serviço de Naturalização e Imigração. Entenda: Deportação em massa de imigrantes nos EUA pode favorecer cartéis e afetar economia do México Durante o primeiro governo Trump (2017-2021), supervisionou o início de um sistema migratório que pôs um número recorde de crianças e adolescentes imigrantes sob custódia do Estado, separando quase 4 mil menores de seus pais ou tutores na fronteira entre México e EUA. Também defendeu a prisão de imigrantes irregulares, uma fiscalização mais robusta e atacou as políticas das chamadas "cidades-santuário", que concederam maior proteção migratória. Em entrevista no mês passado à CBS, Homan afirmou que "famílias poderiam ser deportadas juntas" quando questionado sobre como poderia ser implementada a política de deportação em massa, descrevendo, porém, como "ridículos" rumores que circulavam sobre a medida. De acordo com Trump, Homan também supervisionará as fronteiras sul e norte dos EUA, e "a segurança marítima e aérea". Trump também nomeou Stephen Miller como vice-chefe de Gabinete. É conselheiro próximo e redator dos discursos do republicano desde 2015. Em um cargo que deve lhe dar voz e poder de ação nas questões migratórias, Miller muito provavelmente desenhará qualquer plano de deportação em massa, além de reduzir a imigração ilegal e legal. Ao lado de Homan no primeiro mandato de Trump, elaborou algumas das políticas migratórias mais radicais do país. Crônica de uma revanche: Trump capitalizou insatisfação com os democratas e virou o jogo Em entrevistas recentes, Miller sugeriu que seriam construídos "campos em terrenos abertos" para abrigar pessoas que estejam perto de serem expulsas dos EUA, disse que a meta seria deportar até um milhão de pessoas por ano, e que as deportações começarão "no primeiro dia" do mandato de Trump. Posição anti-China Trump tem adotado uma posição dupla quanto ao gigante asiático. Limita-se a criticar Pequim apenas no campo econômico e já disse que o presidente Xi Jinping era "um grande amigo até a Covid". Também não se comprometeu a defender Taiwan, ilha de governo autônomo, contra as ameaças da China, que considera a região parte de seu território. Ainda assim, distribuiu cargos do seu Gabinete a figuras abertamente anti-China. O deputado Mike Waltz foi confirmado na terça-feira como conselheiro de Segurança Nacional, cargo importante para a política externa americana. Foi descrito por Trump como "um especialista nas ameaças representadas por China, Rússia, Irã e pelo terrorismo global". O deputado da Flórida já afirmou que os EUA estão em uma "guerra fria" com a China e foi um dos primeiros congressistas a pedir o boicote dos EUA às Olimpíadas de Inverno de Pequim em 2022, informou a BBC. Outros cotados: Trump deve nomear mais dois conhecidos ‘falcões’ anti-China para futuro governo dos EUA Waltz foi o segundo deputado republicano escolhido por Trump para um cargo de alto nível em seu próximo governo, após a escolha da deputada Elise Stefanik para o cargo de embaixadora dos EUA na ONU. Stefanik, também citada pela BBC, acusou Pequim em outubro de "interferência eleitora flagrante e maliciosa" após relatos de que hackers apoiados pelos chineses tentaram coletar informações dos telefones do presidente eleito e seu vice, JD Vance. Marco Rubio, cujo nome a imprensa tem circulado como um dos mais fortes para assumir o Departamento de Estado, tem adotado uma retórica virulenta em relação ao crescimento chinês e é um dos vários funcionários americanos proibidos de entrar no país. Foi sancionado em 2020, após pressionar por medidas para punir a China por sua repressão aos manifestantes pró-democracia que marcharam em Hong Kong, em 2019. O possível retorno do republicano à Casa Branca significava para os chineses que o confronto com os EUA estaria numa trajetória sem volta, escreveu o colunista do GLOBO Marcelo Ninio, em fevereiro. Na época, Trump mostrava seu favoritismo nas primárias do Partido Republicano e a nomeação pelo partido para disputar a corrida à Casa Branca. Após o anúncio da vitória de Trump, Xi Jinping pediu por " laços "estáveis, saudáveis e sustentáveis" entre Pequim e Washington, argumentando que "a história mostrou que a China e os Estados Unidos se beneficiam da cooperação e sofrem com o confronto". Os países tiveram uma relação difícil no primeiro governo Trump. Joe Biden tentou acalmar um pouco a tensão, mas manteve as tarifas impostas por Trump e impôs restrições à China ao acesso a tecnologias avançadas. Papel de Musk O homem mais rico do mundo foi nomeado por Trump como chefe do Departamento de "Eficiência Governamental" dos EUA, apelidado de "DOGE", que fornecerá consultoria e orientação de fora do governo. O cargo dará a Musk poder sobre os órgãos reguladores que ele acredita estarem impedindo o desenvolvimento da Tesla e da SpaceX, sua empresa de foguetes e satélites. As seis empresas que administra estão profundamente entrelaçadas com agências federais. Trump comandará a pasta ao lado do empresário Vivek Ramaswamy. "Juntos, esses dois americanos maravilhosos abrirão o caminho para que minha administração desmantele a burocracia do governo, reduza o excesso de regulamentações, corte gastos desnecessários e reestruture as agências federais", disse Trump. De economia à imigração: Como a vitória de Donald Trump nas eleições americanas pode impactar os brasileiros? Na prática, o cargo pode funcionar a favor de Musk, tanto no desenvolvimento de seus carros autônomos (onde teve conflitos com as autoridades atuais), quanto no lançamento de seus foguetes. De certa forma, ela pode se tornar o regulador — ou desregulador — dos reguladores. E como a pasta não fará parte do Gabinete, permitirá ao bilionário manter-se livre do regime de incompatibilidades e conflitos de interesse dos cargos públicos. Fontes também afirmaram ao New York Times que Musk queria que Trump contratasse alguns funcionários de sua empresa de foguetes, a SpaceX, para ocupar cargos importantes no governo, incluindo no Departamento de Defesa. Sua fortuna subiu para US$ 314 bilhões após a vitória de Trump. Musk está aconselhando Trump sobre os indicados, de acordo com a imprensa americana, e participou de uma chamada telefônica entre o presidente eleito e o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. Também acompanhou o republicano na festa de comemoração de sua vitória eleitoral. A participação era esperada, dado o protagonismo do bilionário na campanha do republicano. Em setembro, Trump confirmou que confiaria a Musk uma reforma "drástica" da administração caso fosse eleito. O dono do X também participou de comícios ao lado de Trump e por vezes fez campanha sozinho. Doou cerca de US$ 200 milhões no total para a campanha do republicano. Também organizou um sorteio de US$ 1 milhão para eleitores registrados em estados decisivos que assinassem uma petição a favor de Trump. Poder sobre Congresso Além da vitória acachapante de Trump no Colégio Eleitoral e também no voto popular, os republicanos reconquistaram a liderança no Senado e tudo indica que terão a liderança na Câmara. Mas, de acordo com a BBC, o magnata dá indícios de que está mais preocupado em exercer seu poder presidencial do que trabalhar em conjunto com o Congresso. No fim de semana, Trump insistiu nas redes sociais que os republicanos deveriam escolher um novo líder da maioria no Senado disposto a convocar recessos durante os quais ele poderia fazer nomeações unilateralmente, contornando o processo de confirmação. O Senado vota nesta quarta-feira sua nova liderança. Todos os três nomes — John Cornyn, John Thune e Rick Scott — têm feito apelos ao MAGA, informou a agência Axios. Análise: É a economia, estúpido, que encaminha Trump à Casa Branca e remodela o cenário eleitoral dos EUA Embora não haja nenhum obstáculo legal óbvio ao pedido de Trump, seria uma violação extraordinária das normas constitucionais. Não há precedente histórico para um abandono deliberado e completo pelo Senado de sua função de decidir se deve confirmar ou rejeitar as escolhas do presidente para conceder poder governamental. A BBC apontou ainda que as escolhas de Trump também minam as estreitas maiorias do Congresso. Embora senadores eleitos para cargos administrativos possam ser rapidamente substituídos por nomeação do governador de seu estado natal, qualquer vaga na Câmara de Deputados — como as abertas pela saída de Waltz e Stefanik — exigem eleições especiais que podem levar meses para serem agendadas. Alguns conselheiros, incluindo Musk, alertaram Trump que colocar muitos republicanos em seu gabinete poderia pôr em risco sua agenda legislativa. A rede britânica observou que as ações no Congresso exigem mais tempo, esforço e compromisso, enquanto a ação executiva, como para a aplicação de medidas de imigração, podem ser postas em práticas com apenas uma canetada. O que Trump parece estar mais disposto a fazer. Recompensa aos leais As escolhas de Trump também mostram que o magnata está dando importância à lealdade. Ele não incluiu, por exemplo, os burocratas de carreira de alto escalão, como o fez no primeiro governo. Na época, como novato na política, dependeu de republicanos mais ligados ao establishment para cargos-chave. Agora, os leais a Trump fazem parte desse establishment, pontuou a BBC. 'Não dá para sair à noite': Imigrantes brasileiros temem deportação em massa sob governo Trump Kristi Noem, nomeada para o Departamento de Segurança Interna, é uma das aliadas leais. Governadora da Dakota do Sul, chegou a ser considerada uma possível candidata a vice-presidente, mas suas chances ruíram após ela afirmar ter atirado em seu cão por considerá-lo "indomável". Pete Hegseth, nomeado para a Defesa, também tem sido um dos seus principais defensores. Susie Willes, que será a primeira mulher a ocupar o posto de chefe de gabinete da Casa Branca, é uma figura próxima ao magnata. Demonstrou capacidade de sobreviver ao estilo de gestão caótico de Trump, sendo a única gerente de campanha a sobreviver a uma campanha inteira trabalhando para ele. Stefanik, que será embaixadora dos EUA na ONU, foi inicialmente uma crítica feroz de Trump em questões que iam desde a construção do muro na fronteira até sua retórica sobre mulheres e muçulmanos. Mas, em 2019, deu uma guinada para a direita, descrevendo-se como "ultra-Maga". Ela esteve entre os 147 republicanos da Câmara que votaram contra a certificação da vitória eleitoral de 2020 do então presidente eleito, Joe Biden. O mesmo vale para Rubio, que também foi crítico de Trump e agora é um importante aliado. O senador concorreu à Presidência dos EUA contra Trump em 2016 e, portanto, ainda pode ter aspirações à Casa Branca. Segundo a BBC, Trump frequentemente se estressava com indicados que queriam roubar-lhe os holofotes no primeiro mandato, inclusive com aqueles com quem mantinha relacionamentos calorosos. Apesar de escolher os mais leais, ainda resta saber se ao longo dos quatro anos Trump não cederá às pressões para governar e, portanto, se seu segundo governo não será parecido com o primeiro. (Com AFP, New York Times e El País)
Qual é a sua reação?