Hospital de Bonsucesso: servidores federais ocupam diretoria em protesto contra transição para o Grupo Conceição

Referência em especialidades como cardiologia e transplantes, unidade tem apenas 41% dos 412 leitos ocupados A sala da direção do Hospital Federal de Bonsucesso é ocupada, desde a última quarta-feira, por um grupo de 40 servidores. Segundo o sindicato que representa a categoria, o protesto ocorre contra a transferência da gestão da unidade, em negociação no Ministério da Saúde, para o Grupo Hospitalar Conceição (GHC), empresa pública que administra três hospitais, uma UPA e 15 postos no Rio Grande do Sul. Inaugurado em 1948, o hospital às margens da Avenida Brasil, na Zona Norte do Rio, já foi referência em especialidades como oncologia e transplantes. Atualmente, no entanto, apenas 41% de seus 412 leitos estão ocupados, e o restante, fechado. — Somos contra a entrega dos hospitais federais e estamos dizendo não ao Grupo Conceição. São cinco meses de greve, tempo em que estamos tentando abrir um diálogo com o governo. Defendemos a realização de concurso público e que nenhum trabalhador por Contrato Temporário da União (CTU) seja dispensado — afirmou o diretor do sindicato, Sidney Castro, referindo-se à forma de contratação atualmente de parcela significativa dos profissionais de saúde da unidade. — Não dá para dispensar 1.800 servidores agora em novembro e dezembro, e a população ficar prejudicada — acrescentou. Hospital de Bonsucesso: Mais da metade dos 412 leitos sem pacientes, maioria por falta de pessoal Jéssica Marques/Agência O Globo Como mostrou O GLOBO em agosto, nos bastidores do Ministério da Saúde, a transferência do Bonsucesso para o Grupo Conceição seria a saída da União para tentar reverter o sucateamento do hospital. Concretizada a mudança, uma filial da empresa pública seria aberta no Rio até o fim deste ano. Os detalhes do projeto foram aprovados pelo conselho de administração do grupo. E, no site do GHC, agendas de treinamento e visitas às instalações da unidade federal foram marcadas durante o mês de setembro. Até agora, no entanto, nenhum comunicado oficial sobre a transferência foi divulgado pelo Ministério da Saúde. A polêmica com parte dos servidores, porém, já está instaurada. Os manifestantes temem que a nova administração resulte em demissões, precarização das condições de trabalho e a possível terceirização de serviços. Os trabalhadores também afirmam que o foco da solução deveria estar no aumento de investimentos e na reestruturação da gestão pública do hospital. O Ministério da Saúde, por outro lado, afirmou que "tomará as medidas administrativas e judiciais cabíveis". Em nota, considerou a ocupação da direção do hospital "ilegítima" e com "cunho eleitoreiro". "A reestruturação dos hospitais federais do Rio de Janeiro tem o objetivo de garantir a eficiência da gestão hospitalar com a parceria com instituições públicas federais, abrir e ampliar a oferta de serviços à população, como o aumento de leitos e reativação do pronto-socorro. Por fim, a pasta reafirma que tem dialogado com sindicatos dos servidores, conselhos de saúde e demais entidades envolvidas. A reestruturação respeita os princípios básicos do Sistema Único de Saúde (SUS) e a legislação vigente" completou a nota. Procurado, o Grupo Hospitalar Conceição não se manifestou. Incêndio em 2020 A situação de penúria no Bonsucesso se arrasta há anos. Um incêndio em outubro de 2020, que provocou a morte de três pacientes, agravou a situação. As chamas começaram no prédio onde funcionava a ala de tratamento intensivo, evidenciando problemas na infraestrutura da unidade. O hospital foi parcialmente fechado, e os atendimentos foram direcionados para outros hospitais. Na época, houve uma sobrecarga no sistema de saúde do Rio, que já enfrentava os desafios impostos pela pandemia de Covid-19. Com o fechamento parcial e as reformas que se seguiram, o hospital passou a operar de forma limitada, impactando milhares de pacientes que dependiam dos seus serviços de alta complexidade. Entrada do Hospital Federal de Bonsucesso, na Zona Norte do Rio Fabiano Rocha/Agência O Globo Além do incêndio, o HFB também enfrentou outros problemas, como a falta crônica de insumos, medicamentos e equipes, afetando diretamente a qualidade do atendimento. O hospital se tornou um exemplo do descaso e da falta de investimentos na rede federal de saúde, levantando discussões sobre a eficiência da gestão pública e a necessidade de reformulação estrutural. As dificuldades enfrentadas pelos pacientes, muitos dos quais em tratamento oncológico, e os relatos de filas e atrasos em cirurgias e exames essenciais alimentaram ainda mais a insatisfação. Para sanar questões tão graves, Jerson Carneiro, professor e especialista em gestão pública pela Uerj, defende um plano amplo de investimentos na unidade. — Essa crise é a prova cabal da ausência de gestão. A solução para resolver o problema precisa ser mista e solidária — diz ele. — É preciso também uma decisão coletiva de todas as entidades e órgãos de saúde para reorganizar o mapa da saúde, incluindo sua es

Oct 4, 2024 - 23:59
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Hospital de Bonsucesso: servidores  federais ocupam diretoria em protesto contra transição para o Grupo Conceição

Referência em especialidades como cardiologia e transplantes, unidade tem apenas 41% dos 412 leitos ocupados A sala da direção do Hospital Federal de Bonsucesso é ocupada, desde a última quarta-feira, por um grupo de 40 servidores. Segundo o sindicato que representa a categoria, o protesto ocorre contra a transferência da gestão da unidade, em negociação no Ministério da Saúde, para o Grupo Hospitalar Conceição (GHC), empresa pública que administra três hospitais, uma UPA e 15 postos no Rio Grande do Sul. Inaugurado em 1948, o hospital às margens da Avenida Brasil, na Zona Norte do Rio, já foi referência em especialidades como oncologia e transplantes. Atualmente, no entanto, apenas 41% de seus 412 leitos estão ocupados, e o restante, fechado. — Somos contra a entrega dos hospitais federais e estamos dizendo não ao Grupo Conceição. São cinco meses de greve, tempo em que estamos tentando abrir um diálogo com o governo. Defendemos a realização de concurso público e que nenhum trabalhador por Contrato Temporário da União (CTU) seja dispensado — afirmou o diretor do sindicato, Sidney Castro, referindo-se à forma de contratação atualmente de parcela significativa dos profissionais de saúde da unidade. — Não dá para dispensar 1.800 servidores agora em novembro e dezembro, e a população ficar prejudicada — acrescentou. Hospital de Bonsucesso: Mais da metade dos 412 leitos sem pacientes, maioria por falta de pessoal Jéssica Marques/Agência O Globo Como mostrou O GLOBO em agosto, nos bastidores do Ministério da Saúde, a transferência do Bonsucesso para o Grupo Conceição seria a saída da União para tentar reverter o sucateamento do hospital. Concretizada a mudança, uma filial da empresa pública seria aberta no Rio até o fim deste ano. Os detalhes do projeto foram aprovados pelo conselho de administração do grupo. E, no site do GHC, agendas de treinamento e visitas às instalações da unidade federal foram marcadas durante o mês de setembro. Até agora, no entanto, nenhum comunicado oficial sobre a transferência foi divulgado pelo Ministério da Saúde. A polêmica com parte dos servidores, porém, já está instaurada. Os manifestantes temem que a nova administração resulte em demissões, precarização das condições de trabalho e a possível terceirização de serviços. Os trabalhadores também afirmam que o foco da solução deveria estar no aumento de investimentos e na reestruturação da gestão pública do hospital. O Ministério da Saúde, por outro lado, afirmou que "tomará as medidas administrativas e judiciais cabíveis". Em nota, considerou a ocupação da direção do hospital "ilegítima" e com "cunho eleitoreiro". "A reestruturação dos hospitais federais do Rio de Janeiro tem o objetivo de garantir a eficiência da gestão hospitalar com a parceria com instituições públicas federais, abrir e ampliar a oferta de serviços à população, como o aumento de leitos e reativação do pronto-socorro. Por fim, a pasta reafirma que tem dialogado com sindicatos dos servidores, conselhos de saúde e demais entidades envolvidas. A reestruturação respeita os princípios básicos do Sistema Único de Saúde (SUS) e a legislação vigente" completou a nota. Procurado, o Grupo Hospitalar Conceição não se manifestou. Incêndio em 2020 A situação de penúria no Bonsucesso se arrasta há anos. Um incêndio em outubro de 2020, que provocou a morte de três pacientes, agravou a situação. As chamas começaram no prédio onde funcionava a ala de tratamento intensivo, evidenciando problemas na infraestrutura da unidade. O hospital foi parcialmente fechado, e os atendimentos foram direcionados para outros hospitais. Na época, houve uma sobrecarga no sistema de saúde do Rio, que já enfrentava os desafios impostos pela pandemia de Covid-19. Com o fechamento parcial e as reformas que se seguiram, o hospital passou a operar de forma limitada, impactando milhares de pacientes que dependiam dos seus serviços de alta complexidade. Entrada do Hospital Federal de Bonsucesso, na Zona Norte do Rio Fabiano Rocha/Agência O Globo Além do incêndio, o HFB também enfrentou outros problemas, como a falta crônica de insumos, medicamentos e equipes, afetando diretamente a qualidade do atendimento. O hospital se tornou um exemplo do descaso e da falta de investimentos na rede federal de saúde, levantando discussões sobre a eficiência da gestão pública e a necessidade de reformulação estrutural. As dificuldades enfrentadas pelos pacientes, muitos dos quais em tratamento oncológico, e os relatos de filas e atrasos em cirurgias e exames essenciais alimentaram ainda mais a insatisfação. Para sanar questões tão graves, Jerson Carneiro, professor e especialista em gestão pública pela Uerj, defende um plano amplo de investimentos na unidade. — Essa crise é a prova cabal da ausência de gestão. A solução para resolver o problema precisa ser mista e solidária — diz ele. — É preciso também uma decisão coletiva de todas as entidades e órgãos de saúde para reorganizar o mapa da saúde, incluindo sua estrutura física e de profissionais. Precisamos valorizar o servidor público e qualificá-lo. Precisamos reformar as unidades que estão paradas, além de termos mais fiscalização dos órgãos e do Ministério Público sobre o investimento do dinheiro público e seus resultados. Sem fiscalização e transparência, o dinheiro vai ser gasto de forma indevida, e o problema tende a não ser resolvido — defendeu o especialista. Outras unidades federais Entre os seis hospitais federais no Rio, o do Andaraí passa por um processo de transição para uma possível gestão compartilhada com o município do Rio. Para o Hospital Federal dos Servidores do Estado, é estudada a transferência da unidade para a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). Nessa divisão, o Hospital Federal da Lagoa ficaria com a Fundação Oswaldo Cruz ou o governo estadual. O destino do Hospital Federal de Ipanema é incerto, e existe uma intenção do Ministério da Saúde de negociar que o Cardoso Fontes, em Jacarepaguá, fique com a prefeitura. Antes, no entanto, será preciso acertar os detalhes do Hospital do Andaraí. O Ministério quer que o município do Rio assuma o controle total dessa unidade, cujo orçamento seria de R$ 400 milhões por ano. Em agosto, o secretário de Atenção Especializada do Ministério da Saúde, Adriano Massuda, afirmou em entrevista ao GLOBO que a pasta está buscando maneiras de fazer com que os seis hospitais voltem a funcionar: — O que estamos fazendo não é um fatiamento, é uma integração. A pressa em fazer esses acordos é porque a gente quer resolver o problema, mas existe cautela. Faz sentido, dentro da regra do SUS, descentralizar e buscar gestões que tragam mais eficiência — sustentou.

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