Fim do Departamento de Educação, agenda 'anti woke' e censura nas escolas: veja os planos de Trump para o ensino nos EUA

Sob influência de um ideário radical, o republicano pode alterar de maneira visceral o cenário educacional no país, mas ainda não está claro se terá apoio para isso Com uma agenda educacional bem mais radical do que de seu primeiro mandato, o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, quer aplicar ideias que afetarão o ensino do país a curto, médio e longo prazo: elas vão desde o fim do Departamento de Educação, passando pelo corte de proteções a estudantes LGBT+ e culminando com novos vetos a livros. Contudo, ainda não se sabe se ele terá apoio para isso, mesmo em um Congresso aliado. Constituição veta: Trump flerta com reeleição após novo mandato em dia de retorno triunfal à capital dos EUA e à Casa Branca Vitória para o presidente eleito: Republicanos mantêm maioria na Câmara de Deputados e dão a Trump controle do Congresso nos EUA A proposta mais polêmica diz respeito ao Departamento de Educação, estabelecido em 1979 pelo governo do democrata Jimmy Carter (1977-1981), e que é responsável, dentre outras funções, por programas a famílias de baixa renda, concessão de bolsas e planos de financiamento estudantil. — Eu digo isso o tempo todo, estou morrendo de vontade de voltar a fazer isso. Nós finalmente eliminaremos o Departamento Federal de Educação — disse em um comício em setembro. — Nós drenaremos o pântano educacional do governo e pararemos o abuso do dinheiro dos seus contribuintes para doutrinar a juventude americana com todo tipo de coisa que vocês não querem que nossa juventude ouça. A ideia de fechar o departamento não é inédita, e chegou a ser ventilada pelo republicano Ronald Reagan nos anos 1980 e pelo próprio Trump, que em seu primeiro mandato sugeriu a fusão com o Departamento do Trabalho. Mais recentemente, o chamado Projeto 2025, um conjunto de “sugestões” conservadoras para o próximo presidente (do qual Trump tentou se afastar publicamente), listou o fim do departamento entre suas 900 páginas de propostas. E o bilionário Elon Musk, que vai liderar um órgão responsável pela “eficiência governamental”, disse ser uma “boa ideia”. Elon Musk, 'falcões', 'czar' da fronteira e mais: Quem Trump já anunciou para compor governo? Nas vezes em que citou a proposta, Trump defendeu que os estados tomem as rédeas de seus sistemas educacionais. Ao mesmo tempo, sinalizou ser favorável a ações que, no âmbito federal, seriam ordenadas pelo Departamento de Educação. Entre elas, a obrigatoriedade de orações em escolas públicas, a participação dos pais na elaboração do conteúdo e a ênfase da educação no “Estilo de Vida Americano”. O republicano, ecoando ideias do Projeto 2025, quer subsidiar a matrícula de alunos em escolas particulares (incluindo as religiosas) e eliminar o financiamento a instituições que discutam a “teoria racial crítica, ideologia de gênero ou outros conteúdos raciais, sexuais ou políticos inadequados”. A lista de livros banidos das bibliotecas também poderia aumentar: segundo a organização de defesa da liberdade de expressão PEN America, 4,2 mil títulos foram vetados desde o ano passado. — É absolutamente preciso e justo dizer que a administração Trump buscará penalizar qualquer instituição, seja do ensino fundamental, médio ou ensino superior, por administrar programas DEI (diversidade, equidade e inclusão) — disse à revista Time Josh Cowen. professor de políticas educacionais na Universidade do Estado do Michigan. — Quanto dinheiro eles podem remover, o quão difícil eles podem tornar a vida burocrática, essas ainda são questões em aberto, mas eles certamente tentarão isso. Galerias Relacionadas Mas analistas apontam que algumas linhas de financiamento seriam mantidas mesmo com a extinção do departamento, e que cortes em uma pasta vista como carente de recursos são altamente impopulares — inclusive em um Congresso aliado, como o que terá a partir de janeiro, são poucos os que avalizam a iniciativa. E ao delegar na totalidade as políticas educacionais a estados e regiões, o resultado não necessariamente agradaria Trump e seus aliados. — Não acho que seja possível eliminar o Departamento de Educação dos Estados Unidos — disse ao New York Times Derrell Bradford, presidente da 50CAN, uma organização sem fins lucrativos que apoia políticas de escolha escolar — Mas a ideia de que entidades locais devem estar no controle da educação em nível local? Isso é muito popular entre democratas e republicanos. Incentiva boicotes: O 'influencer' anti-diversidade que persegue empresas americanas e fez Ford, Toyota e Jack Daniel's mudarem suas políticas Se nas escolas o impacto da doutrina ainda é incerto, nas universidades ele não deve tardar a ser percebido. Há anos, os campi ao redor dos EUA são chamados pelos conservadores de “antros da extrema esquerda”, um cenário agravado pelos protestos ligados à guerra em Gaza, assim como pelas denúncias de antissemitismo. — Por muitos anos, os custos de ensino em faculdades e universidades têm explodido, e eu quero dizer explodido absolutamente enquanto o

Nov 14, 2024 - 05:05
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Fim do Departamento de Educação, agenda 'anti woke' e censura nas escolas: veja os planos de Trump para o ensino nos EUA

Sob influência de um ideário radical, o republicano pode alterar de maneira visceral o cenário educacional no país, mas ainda não está claro se terá apoio para isso Com uma agenda educacional bem mais radical do que de seu primeiro mandato, o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, quer aplicar ideias que afetarão o ensino do país a curto, médio e longo prazo: elas vão desde o fim do Departamento de Educação, passando pelo corte de proteções a estudantes LGBT+ e culminando com novos vetos a livros. Contudo, ainda não se sabe se ele terá apoio para isso, mesmo em um Congresso aliado. Constituição veta: Trump flerta com reeleição após novo mandato em dia de retorno triunfal à capital dos EUA e à Casa Branca Vitória para o presidente eleito: Republicanos mantêm maioria na Câmara de Deputados e dão a Trump controle do Congresso nos EUA A proposta mais polêmica diz respeito ao Departamento de Educação, estabelecido em 1979 pelo governo do democrata Jimmy Carter (1977-1981), e que é responsável, dentre outras funções, por programas a famílias de baixa renda, concessão de bolsas e planos de financiamento estudantil. — Eu digo isso o tempo todo, estou morrendo de vontade de voltar a fazer isso. Nós finalmente eliminaremos o Departamento Federal de Educação — disse em um comício em setembro. — Nós drenaremos o pântano educacional do governo e pararemos o abuso do dinheiro dos seus contribuintes para doutrinar a juventude americana com todo tipo de coisa que vocês não querem que nossa juventude ouça. A ideia de fechar o departamento não é inédita, e chegou a ser ventilada pelo republicano Ronald Reagan nos anos 1980 e pelo próprio Trump, que em seu primeiro mandato sugeriu a fusão com o Departamento do Trabalho. Mais recentemente, o chamado Projeto 2025, um conjunto de “sugestões” conservadoras para o próximo presidente (do qual Trump tentou se afastar publicamente), listou o fim do departamento entre suas 900 páginas de propostas. E o bilionário Elon Musk, que vai liderar um órgão responsável pela “eficiência governamental”, disse ser uma “boa ideia”. Elon Musk, 'falcões', 'czar' da fronteira e mais: Quem Trump já anunciou para compor governo? Nas vezes em que citou a proposta, Trump defendeu que os estados tomem as rédeas de seus sistemas educacionais. Ao mesmo tempo, sinalizou ser favorável a ações que, no âmbito federal, seriam ordenadas pelo Departamento de Educação. Entre elas, a obrigatoriedade de orações em escolas públicas, a participação dos pais na elaboração do conteúdo e a ênfase da educação no “Estilo de Vida Americano”. O republicano, ecoando ideias do Projeto 2025, quer subsidiar a matrícula de alunos em escolas particulares (incluindo as religiosas) e eliminar o financiamento a instituições que discutam a “teoria racial crítica, ideologia de gênero ou outros conteúdos raciais, sexuais ou políticos inadequados”. A lista de livros banidos das bibliotecas também poderia aumentar: segundo a organização de defesa da liberdade de expressão PEN America, 4,2 mil títulos foram vetados desde o ano passado. — É absolutamente preciso e justo dizer que a administração Trump buscará penalizar qualquer instituição, seja do ensino fundamental, médio ou ensino superior, por administrar programas DEI (diversidade, equidade e inclusão) — disse à revista Time Josh Cowen. professor de políticas educacionais na Universidade do Estado do Michigan. — Quanto dinheiro eles podem remover, o quão difícil eles podem tornar a vida burocrática, essas ainda são questões em aberto, mas eles certamente tentarão isso. Galerias Relacionadas Mas analistas apontam que algumas linhas de financiamento seriam mantidas mesmo com a extinção do departamento, e que cortes em uma pasta vista como carente de recursos são altamente impopulares — inclusive em um Congresso aliado, como o que terá a partir de janeiro, são poucos os que avalizam a iniciativa. E ao delegar na totalidade as políticas educacionais a estados e regiões, o resultado não necessariamente agradaria Trump e seus aliados. — Não acho que seja possível eliminar o Departamento de Educação dos Estados Unidos — disse ao New York Times Derrell Bradford, presidente da 50CAN, uma organização sem fins lucrativos que apoia políticas de escolha escolar — Mas a ideia de que entidades locais devem estar no controle da educação em nível local? Isso é muito popular entre democratas e republicanos. Incentiva boicotes: O 'influencer' anti-diversidade que persegue empresas americanas e fez Ford, Toyota e Jack Daniel's mudarem suas políticas Se nas escolas o impacto da doutrina ainda é incerto, nas universidades ele não deve tardar a ser percebido. Há anos, os campi ao redor dos EUA são chamados pelos conservadores de “antros da extrema esquerda”, um cenário agravado pelos protestos ligados à guerra em Gaza, assim como pelas denúncias de antissemitismo. — Por muitos anos, os custos de ensino em faculdades e universidades têm explodido, e eu quero dizer explodido absolutamente enquanto os acadêmicos ficaram obcecados em doutrinar a juventude americana — disse Trump em vídeo de campanha. — Chegou a hora de resgatar nossas outrora grandes instituições educacionais da esquerda radical, e faremos isso. O então candidato prometeu “impor padrões reais” às universidades, “incluindo a defesa da tradição americana e da civilização americana”, assim como “remover as burocracias ligadas às políticas DEI”, consideradas por ele parte da chamada “agenda woke”, como se refere a pautas ligadas a igualdade racial, social e de gênero. O presidente quer restringir o que considera ser benefícios para os estudantes LGBT+, e deve modificar uma regra conhecida como Título XI, que proíbe a discriminação nos campi. Seus alvos preferenciais são as atletas transgênero, a quem se refere como “homens”, e que prometeu “banir das competições femininas”. Trump e aliados dizem ter uma “arma secreta” para convencer as universidades a dançarem conforme o seu ritmo. Hoje, as universidades precisam se submeter a um credenciamento, realizado por auditores independentes, para receber dinheiro público — segundo especialistas, o presidente pode tirar poderes da comissão responsável por decidir quem recebe verbas, passando algumas das funções para o Departamento de Justiça e substituindo os auditores. — Se eu fosse reitor de uma faculdade privada seleta, ou mesmo de uma grande universidade pública em um estado democrata, eu ficaria muito preocupado — disse ao New York Times Robert Kelchen, professor de Educação na Universidade do Tennessee em Knoxville. Tem ferramentas legais: Entenda o que a reeleição de Trump pode significar para as leis do aborto nos Estados Unidos Por mais que as instituições sejam contra as ideias da Casa Branca, podem se ver obrigadas a cumprir as novas diretrizes para não perder as generosas verbas federais. — Este é um momento crucial para o ensino superior americano — disse Lynn Pasquerella, presidente da Associação Americana de Faculdades e Universidades, ao New York Times. — Muitos dos principais conselheiros do presidente Trump são os arquitetos do Projeto 2025, que busca desmantelar o ensino superior, não reformá-lo, e substituir o que eles percebem como ideologia marxista identitária por sua própria ideologia conservadora. Durante a campanha, Trump prometeu criar uma nova instituição, a Academia Americana, que ofereceria aulas online e seria “estritamente apolítica”, sem espaço para “identitarismo ou jihadismo”. O financiamento viria do aumento dos impostos cobrados sobre os fundos patrimoniais das universidades tradicionais, assim como sobre as doações recebidas por elas anualmente. No meio acadêmico, nem todos parecem entusiasmados. “As pessoas que nos trouxeram a fraudulenta Universidade Trump agora ameaçam desmantelar um ecossistema de ensino superior que ainda (por enquanto) causa inveja ao resto do mundo”, afirmou em artigo o reitor da Universidade Wesleyan, Michael Roth, se referindo a fracassada iniciativa do então empresário Donald Trump para criar uma instituição de ensino superior, que terminou com o pagamento de US$ 25 milhões em indenizações para encerrar um processo por fraude em 2017.

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