Fernanda Torres conta que Walter Salles cortou todas as suas cenas de choro no filme 'Ainda estou aqui'
Diretor do longa, que aborda assassinato durante a ditatura militar no Brasil, optou por linguagem seca e interpretação sóbria dos atores: 'Também não tem nenhuma cena pornográfica de tortura', diz a atriz Quando acontece uma tragédia, não há espaço para o melodrama. Fernanda Torres lembrou a frase dita um dia por sua mãe, Fernanda Montenegro, ao filmar "Ainda estou aqui", longa de Walter Salles que estreou nessa quinta-feira (7) e foi escolhido para representar o Brasil na corrida pelo Oscar 2025. O diretor optou por uma linguagem seca e uma intepretação sóbria de Fernanda, que vive a protagonista Eunice Paiva, advogada que lutou em busca da verdade sobre o paradeiro do marido (o engenheiro Rubens Paiva, vivido por Selton Mello) morto pela ditadura militar nos anos 1970. A condução do cineasta procurou chegar o mais perto possível da personalidade discreta e sóbria de Eunice. - Walter cortou todas as cenas em que eu chorava. Lembrei do close final da Irene Pappas no filme "Ifigênia". Não tem vento para os barcos irem para Troia, e Agamemnon, marido da Clitminestra, vai ao Oráculo, que o manda sacrificar a própria filha para os deuses ficarem felizes e trazerem o vento. Ele mata, e Clitminestra nunca o perdoa. Aí tem esse close muito Eunice. Lívida, racional. Porque ela vai esperar 10 anos para matar aquele homem numa banheira. Uma vez, mamãe me falou que quando uma tragédia acontece, não tem espaço para melodrama. Eunice é uma personagem trágica. E ela enfrentava com a mesma espinha e sobriedade daquele último plano da Clitminestra. Foi desafiador para a atriz encontrar uma frequência "menos é mais" na atuação. Após sucessivos programas de comédia, como "Os normais" e "Tapas & beijos", ela andava distante do drama. Foi Walter Salles quem a reconectou com o gênero. Fernanda Torres: “‘Ainda Estou Aqui’ despertou de novo um certo orgulho nacional” - Walter é um diretor impressionista. Poderia filmar o caso da Eunice com códigos de atuação que a gente conhece, que funcionam e são bons. Mas ela não nos permitiu isso. Eunice é tão especial que não cabia cena do choro, de revolta. O filme não te empurra com música. Com planos de câmera. Walter desapareceu no filme - diz ela. - Ele tentou que fôssemos honestos com uma impressão de memória que ele tinha daquela casa (da família Paiva, que o cineasta frequentou quando criança). Isso trouxe à atuação uma espécie de contenção que eu nunca tinha trabalhado. Quando se contém a emoção, ela explode de uma maneira honesta. Isso fez emergir sutilezas que eu nunca tinha experimentado na atuação. Esse nível de realismo, de honestidade foi muito pela mão do Walter, da sensibilidade dele. Fernanda conta que saiu completamente transformada do longa. Fernanda Torres: “Sou uma atriz diferente depois de ‘Ainda Estou Aqui’” - Esse filme é um divisor de águas na minha vida, sou uma atriz diferente depois de ter feito a Eunice, experimentado os sentimentos que experimentei, voltar a filmar com o Walter (com quem rodou "Terra Estrangeira, em 1995), trabalhar num registro que há muito não vinha trabalhando.
Diretor do longa, que aborda assassinato durante a ditatura militar no Brasil, optou por linguagem seca e interpretação sóbria dos atores: 'Também não tem nenhuma cena pornográfica de tortura', diz a atriz Quando acontece uma tragédia, não há espaço para o melodrama. Fernanda Torres lembrou a frase dita um dia por sua mãe, Fernanda Montenegro, ao filmar "Ainda estou aqui", longa de Walter Salles que estreou nessa quinta-feira (7) e foi escolhido para representar o Brasil na corrida pelo Oscar 2025. O diretor optou por uma linguagem seca e uma intepretação sóbria de Fernanda, que vive a protagonista Eunice Paiva, advogada que lutou em busca da verdade sobre o paradeiro do marido (o engenheiro Rubens Paiva, vivido por Selton Mello) morto pela ditadura militar nos anos 1970. A condução do cineasta procurou chegar o mais perto possível da personalidade discreta e sóbria de Eunice. - Walter cortou todas as cenas em que eu chorava. Lembrei do close final da Irene Pappas no filme "Ifigênia". Não tem vento para os barcos irem para Troia, e Agamemnon, marido da Clitminestra, vai ao Oráculo, que o manda sacrificar a própria filha para os deuses ficarem felizes e trazerem o vento. Ele mata, e Clitminestra nunca o perdoa. Aí tem esse close muito Eunice. Lívida, racional. Porque ela vai esperar 10 anos para matar aquele homem numa banheira. Uma vez, mamãe me falou que quando uma tragédia acontece, não tem espaço para melodrama. Eunice é uma personagem trágica. E ela enfrentava com a mesma espinha e sobriedade daquele último plano da Clitminestra. Foi desafiador para a atriz encontrar uma frequência "menos é mais" na atuação. Após sucessivos programas de comédia, como "Os normais" e "Tapas & beijos", ela andava distante do drama. Foi Walter Salles quem a reconectou com o gênero. Fernanda Torres: “‘Ainda Estou Aqui’ despertou de novo um certo orgulho nacional” - Walter é um diretor impressionista. Poderia filmar o caso da Eunice com códigos de atuação que a gente conhece, que funcionam e são bons. Mas ela não nos permitiu isso. Eunice é tão especial que não cabia cena do choro, de revolta. O filme não te empurra com música. Com planos de câmera. Walter desapareceu no filme - diz ela. - Ele tentou que fôssemos honestos com uma impressão de memória que ele tinha daquela casa (da família Paiva, que o cineasta frequentou quando criança). Isso trouxe à atuação uma espécie de contenção que eu nunca tinha trabalhado. Quando se contém a emoção, ela explode de uma maneira honesta. Isso fez emergir sutilezas que eu nunca tinha experimentado na atuação. Esse nível de realismo, de honestidade foi muito pela mão do Walter, da sensibilidade dele. Fernanda conta que saiu completamente transformada do longa. Fernanda Torres: “Sou uma atriz diferente depois de ‘Ainda Estou Aqui’” - Esse filme é um divisor de águas na minha vida, sou uma atriz diferente depois de ter feito a Eunice, experimentado os sentimentos que experimentei, voltar a filmar com o Walter (com quem rodou "Terra Estrangeira, em 1995), trabalhar num registro que há muito não vinha trabalhando.
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