Entrevista: 'O governo federal anunciou recursos, mas dinheiro não chegou', diz Sebastião Melo
Prefeito reeleito de Porto Alegre critica falta de verba para reconstruir os estragos causados pela maior enchente ocorrida na cidade Prefeito de Porto Alegre durante a maior catástrofe ambiental da história do município, Sebastião Melo (MDB) foi reeleito para o cargo com votação maior do que na eleição de 2020. Em entrevista ao GLOBO, ele argumenta que as obras de proteção contra cheias devem ser lideradas pelo governo federal e alega que ainda não foram cumpridas as promessas de recursos para preparar "a cidade para o futuro". Melo também defende que o MDB discuta uma candidatura própria à Presidência em 2026. Melo, que travou embates duros com o PT na eleição municipal, afirmou que a esquerda "perdeu o voto dos mais pobres" e errou nas críticas agressivas a ele na campanha. Nesta eleição, Melo abraçou o apelido de "chinelão", atribuído a ele por críticos à sua gestão e que, na gíria gaúcha, pode se referir a algo "ruim" ou "bagunçado", mas também ter conotação de algo "vulgar". Mesmo com as enchentes, sua votação cresceu em relação a 2020 e o senhor venceu em todas as zonas eleitorais de Porto Alegre. A que credita isso? Em todo o país, o eleitor reconduziu prefeitos que sabem ouvir e que enfrentam problemas com transparência. Minhas adversárias passaram do limite ao concentrar o debate somente nas enchentes. Foi um volume de água tão grande que o sistema não suportou. Isso aconteceria com qualquer um no meu lugar. E a população me viu atuando para salvar vidas e reconstruir a cidade, a maior prova disso é que ganhei também nas áreas alagadas. O PT, que me criticava, tinha governado a cidade por 16 anos e nada fez. Mas acredita que haverá cobrança para preparar melhor a cidade para enfrentar as cheias? Estou usando parte do dinheiro do DMAE (Departamento Municipal de Água e Esgoto) para fazer obras emergenciais, que giram em torno de R$ 500 milhões, como proteger as casas de bomba e fechar as comportas do Muro da Mauá. O governo federal anunciou recursos para obras que preparem a cidade para o futuro, mas esse dinheiro ainda não chegou. Os diques, muros e comportas que existem, além de ter havido erros de execução, foram concebidos a partir de marcos anteriores de cheias, que ficavam abaixo dos 5,37 metros que o rio Guaíba atingiu neste ano. Pretende liderar alguma iniciativa com prefeitos da região metropolitana para mitigar os efeitos de futuras chuvas? Eu sempre defendi que as obras de proteção contra cheias deveriam ser lideradas pelo governo federal. Não tem saída para um sistema novo sem a parceria federal e sem o governo do estado, porque eu, como prefeito de Porto Alegre, não posso fazer um dique em Canoas, em São Leopoldo. Porto Alegre chegou a ter quatro mandatos consecutivos do PT, mas não elege um petista desde 2000. A cidade deu uma guinada à direita? Eu não faria essa análise (ideológica). Acho que a cidade fez uma opção por pautas. Nós vendemos a Carris, a empresa pública de transportes, e fizemos uma mudança no sistema para manter a passagem de ônibus em R$ 4,80 há três anos. Minha adversária dizia, “eu não vou privatizar o DMAE”; eu também não vou, mas vou “parceirizar” (conceder à iniciativa privada), o que é diferente. Fiz questão de dizer às pessoas como eu resolvi os problemas até agora, sem entrar nisso de “sou da direita". Minha adversária tentou me arrastar para essa pauta o tempo todo, e eu não aceitei esse baile. O senhor tem dito que não concorda com um apoio do MDB a Lula em 2026. Concordaria com um apoio a Bolsonaro? Não sei se o presidente Lula será candidato. E não sei se o presidente Bolsonaro conseguirá tornar-se elegível. Podemos ter Lula contra algum outro candidato da direita, ou uma eleição sem Lula e sem Bolsonaro. O MDB sulista é de centro-direita, já no Norte e Nordeste o partido é lulista. Temos o dever dentro de casa de encontrar um caminho que nos proteja da divisão. Tomar decisão de apoiar Lula ou Bolsonaro nos divide. O caminho, então, é o da candidatura própria? Foi o que o partido tentou em 2022, com Simone Tebet, que depois virou ministra do governo Lula... Acho que Simone é uma líder, mas ao ir para o governo talvez tenha queimado capital. Vamos ver se é possível ter uma candidatura própria. Não é porque enfrentei a Maria do Rosário (PT), mas seria incoerente da minha parte apoiar o PT, porque não acredito nesse projeto de Estado maior, aumento de Bolsa Família... Além disso, respeito quem pensa diferente, enquanto no lado de lá me xingam, falam coisas como "Melo chinelão". Isso não é democracia. O PT ficou com as questões identitárias e foi perdendo o voto dos mais pobres. Na discussão sobre renovação de quadros de centro ou direita, governadores como Eduardo Leite, Tarcísio e Zema por vezes são citados. Eles são viáveis? Se Lula e Bolsonaro forem candidatos, a grande renovação de quadros será a eleição de 2030. Zema, Tarcísio, o próprio Ronaldo Caiado e também o governador Eduardo (Leite) são líderes que surgiram e têm meu respeito. No Sul, as pe
Prefeito reeleito de Porto Alegre critica falta de verba para reconstruir os estragos causados pela maior enchente ocorrida na cidade Prefeito de Porto Alegre durante a maior catástrofe ambiental da história do município, Sebastião Melo (MDB) foi reeleito para o cargo com votação maior do que na eleição de 2020. Em entrevista ao GLOBO, ele argumenta que as obras de proteção contra cheias devem ser lideradas pelo governo federal e alega que ainda não foram cumpridas as promessas de recursos para preparar "a cidade para o futuro". Melo também defende que o MDB discuta uma candidatura própria à Presidência em 2026. Melo, que travou embates duros com o PT na eleição municipal, afirmou que a esquerda "perdeu o voto dos mais pobres" e errou nas críticas agressivas a ele na campanha. Nesta eleição, Melo abraçou o apelido de "chinelão", atribuído a ele por críticos à sua gestão e que, na gíria gaúcha, pode se referir a algo "ruim" ou "bagunçado", mas também ter conotação de algo "vulgar". Mesmo com as enchentes, sua votação cresceu em relação a 2020 e o senhor venceu em todas as zonas eleitorais de Porto Alegre. A que credita isso? Em todo o país, o eleitor reconduziu prefeitos que sabem ouvir e que enfrentam problemas com transparência. Minhas adversárias passaram do limite ao concentrar o debate somente nas enchentes. Foi um volume de água tão grande que o sistema não suportou. Isso aconteceria com qualquer um no meu lugar. E a população me viu atuando para salvar vidas e reconstruir a cidade, a maior prova disso é que ganhei também nas áreas alagadas. O PT, que me criticava, tinha governado a cidade por 16 anos e nada fez. Mas acredita que haverá cobrança para preparar melhor a cidade para enfrentar as cheias? Estou usando parte do dinheiro do DMAE (Departamento Municipal de Água e Esgoto) para fazer obras emergenciais, que giram em torno de R$ 500 milhões, como proteger as casas de bomba e fechar as comportas do Muro da Mauá. O governo federal anunciou recursos para obras que preparem a cidade para o futuro, mas esse dinheiro ainda não chegou. Os diques, muros e comportas que existem, além de ter havido erros de execução, foram concebidos a partir de marcos anteriores de cheias, que ficavam abaixo dos 5,37 metros que o rio Guaíba atingiu neste ano. Pretende liderar alguma iniciativa com prefeitos da região metropolitana para mitigar os efeitos de futuras chuvas? Eu sempre defendi que as obras de proteção contra cheias deveriam ser lideradas pelo governo federal. Não tem saída para um sistema novo sem a parceria federal e sem o governo do estado, porque eu, como prefeito de Porto Alegre, não posso fazer um dique em Canoas, em São Leopoldo. Porto Alegre chegou a ter quatro mandatos consecutivos do PT, mas não elege um petista desde 2000. A cidade deu uma guinada à direita? Eu não faria essa análise (ideológica). Acho que a cidade fez uma opção por pautas. Nós vendemos a Carris, a empresa pública de transportes, e fizemos uma mudança no sistema para manter a passagem de ônibus em R$ 4,80 há três anos. Minha adversária dizia, “eu não vou privatizar o DMAE”; eu também não vou, mas vou “parceirizar” (conceder à iniciativa privada), o que é diferente. Fiz questão de dizer às pessoas como eu resolvi os problemas até agora, sem entrar nisso de “sou da direita". Minha adversária tentou me arrastar para essa pauta o tempo todo, e eu não aceitei esse baile. O senhor tem dito que não concorda com um apoio do MDB a Lula em 2026. Concordaria com um apoio a Bolsonaro? Não sei se o presidente Lula será candidato. E não sei se o presidente Bolsonaro conseguirá tornar-se elegível. Podemos ter Lula contra algum outro candidato da direita, ou uma eleição sem Lula e sem Bolsonaro. O MDB sulista é de centro-direita, já no Norte e Nordeste o partido é lulista. Temos o dever dentro de casa de encontrar um caminho que nos proteja da divisão. Tomar decisão de apoiar Lula ou Bolsonaro nos divide. O caminho, então, é o da candidatura própria? Foi o que o partido tentou em 2022, com Simone Tebet, que depois virou ministra do governo Lula... Acho que Simone é uma líder, mas ao ir para o governo talvez tenha queimado capital. Vamos ver se é possível ter uma candidatura própria. Não é porque enfrentei a Maria do Rosário (PT), mas seria incoerente da minha parte apoiar o PT, porque não acredito nesse projeto de Estado maior, aumento de Bolsa Família... Além disso, respeito quem pensa diferente, enquanto no lado de lá me xingam, falam coisas como "Melo chinelão". Isso não é democracia. O PT ficou com as questões identitárias e foi perdendo o voto dos mais pobres. Na discussão sobre renovação de quadros de centro ou direita, governadores como Eduardo Leite, Tarcísio e Zema por vezes são citados. Eles são viáveis? Se Lula e Bolsonaro forem candidatos, a grande renovação de quadros será a eleição de 2030. Zema, Tarcísio, o próprio Ronaldo Caiado e também o governador Eduardo (Leite) são líderes que surgiram e têm meu respeito. No Sul, as pessoas dizem que estão de olho no Tarcísio, que "se o presidente Bolsonaro não for candidato, quem sabe ele seja o caminho". Mas quando converso com o (presidente do PSD, Gilberto) Kassab, ele diz que o Tarcísio será candidato à reeleição em 2026. Leite apoiou em Porto Alegre a candidata do PDT, Juliana Brizola, que te atacou bastante no primeiro turno, e só te apoiou no segundo. Te incomodou a postura dele? Não. Estamos quites, eu não apoiei a reeleição dele (em 2022). Ele decidiu depois me apoiar, embora não tenha participado da campanha, e eu também não forcei nada.
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