Entrevista: Frente ampla deve ser mantida e levada a sério, diz Manuela D’Ávila
Ex-candidata a vice-presidente na chapa de Haddad deixou o PCdoB após 25 de militância para ‘debater a esquerda brasileira’ Fora do PCdoB após 25 anos no partido, a ex-deputada federal Manuela D'Ávila defende o diálogo com forças políticas de centro como estratégia eleitoral para a esquerda. Em entrevista ao GLOBO, ela diz ser necessário “dar manutenção à construção da frente ampla que elegeu o presidente Lula”. —Nós não fizemos a frente ampla porque queríamos, fizemos por necessidade objetiva do nosso país. Não é uma questão de vontade, é de necessidade, de um certo cordão sanitário em defesa da democracia— disse ela. Antes vista como o futuro da esquerda, Manuela foi eleita vereadora pela primeira vez em 2004, aos 23 anos, e deputada federal dois anos depois. Tentou por três vezes ser prefeita de Porto Alegre — 2008, 2012 e 2020. Em 2018, concorreu como vice na chapa de Fernando Haddad à Presidência. Ela, porém, abandonou as disputas eleitorais em 2022 após ser alvo de ataques e passou a atuar como consultora política. Agora, quer passar um tempo discutindo a esquerda brasileira, mas não descarta voltar a concorrer em 2026. "Não é uma porta fechada". Ao deixar o PCdoB após 25 anos, a senhora disse que era uma mulher sem partido por falta de opção. Qual opção poderia existir? Sou uma pessoa que acredita na importância dos partidos políticos e que nunca acreditou na negação deles como instrumento de luta do povo, de luta social, de luta por uma visão de sociedade. Minha saída do PCdoB foi com muito respeito e conversa. Eu vou me dedicar nos próximos meses a construir espaços suprapartidários de reflexão sobre a esquerda brasileira com outras pessoas que também acreditam que a gente precisa debater, estando ou não nos nossos partidos. Em abril de 2018, quando foi preso, Lula fez um discurso em cima de um carro do som com a senhora de um lado e Boulos do outro. Disse que vocês eram o futuro da esquerda. A senhora deixou a política e Boulos acaba de sofrer uma derrota em SP. Qual é o futuro da esquerda? Somos muitos. Temos lideranças jovens surgindo nos estados, como é o caso de Natália Bonavides, Olívia Santana, Maria Marighella, entre outras. A caminhada de qualquer liderança é marcada por vitórias e por derrotas. O próprio presidente Lula perdeu algumas eleições antes de ser eleito. É impossível imaginar qualquer projeto de Brasil que não passe pelo Guilherme (Boulos), que foi o deputado federal mais votado de São Paulo. Agora sem partido, a senhora descarta disputar algum cargo eletivo em 2026? Existem muitas formas de contribuir de maneira militante e tenho tentado contribuir dessa maneira nos últimos dois processos eleitorais. No Rio Grande do Sul, defendo que a gente tenha um debate amplo com setores diversos da esquerda e para além da esquerda, tanto quanto nacionalmente. Se o meu nome for o que construir a unidade, nunca me furtei a ocupar espaços de disputa eleitoral. Não é uma porta fechada para mim, mas dentro dessa condição de um projeto coletivo. Eu não acredito na política como realização do indivíduo ou na política com caminhos solos. A direita tem feito um trabalho de base para fomentar a participação de mulheres na política. Nesse campo, há nomes em destaque crescente como Michelle Bolsonaro, Cristina Graeml e Damares Alves. Quais são os nomes da esquerda para 2026? Tem um número muito grande de mulheres que ocupam pela primeira vez mandatos eletivos em todo o país que representam a renovação do movimento de mulheres dentro da esquerda. Mas acho que estamos minimizando o que significa a violência contra mulheres na política como estratégia central da extrema direita. Nós precisamos ter uma agenda para o Brasil mais próxima do que as mulheres querem para o país. Porque são as mulheres as que cuidam uma sociedade menos violenta. A esquerda brasileira está sabendo lidar com a extrema direita? Não existe uma única esquerda, somos muito diversos e acho que setores da esquerda têm feito enfrentamento à extrema direita de forma mais adequada e outros menos. Agora, no essencial, nós conseguimos a tática política correta para derrotá-los na construção de uma frente ampla, e isso é uma condição importante. Depois da eleição municipal, vários nomes da esquerda defenderam uma aproximação maior de Lula com o centro para 2026. A senhora concorda? Eu defendo a necessidade de nós termos amplitude, de dar manutenção à construção da frente ampla, que elegeu o presidente Lula e isso tem de ser levado a sério. Nós não fizemos a frente ampla porque nós queríamos, fizemos por necessidade objetiva do nosso país. Não é uma questão de vontade, é de necessidade, de um certo cordão sanitário em defesa da democracia. Mas tem setores que confundem a necessidade dessa frente ampla com a descaracterização da própria esquerda. Defendo a frente ampla e defendo que nós sejamos a esquerda da frente ampla, e não a direita ao centro da frente ampla. Como a senhora viu a decisão do PCdoB de declarar apoio à candidatura
Ex-candidata a vice-presidente na chapa de Haddad deixou o PCdoB após 25 de militância para ‘debater a esquerda brasileira’ Fora do PCdoB após 25 anos no partido, a ex-deputada federal Manuela D'Ávila defende o diálogo com forças políticas de centro como estratégia eleitoral para a esquerda. Em entrevista ao GLOBO, ela diz ser necessário “dar manutenção à construção da frente ampla que elegeu o presidente Lula”. —Nós não fizemos a frente ampla porque queríamos, fizemos por necessidade objetiva do nosso país. Não é uma questão de vontade, é de necessidade, de um certo cordão sanitário em defesa da democracia— disse ela. Antes vista como o futuro da esquerda, Manuela foi eleita vereadora pela primeira vez em 2004, aos 23 anos, e deputada federal dois anos depois. Tentou por três vezes ser prefeita de Porto Alegre — 2008, 2012 e 2020. Em 2018, concorreu como vice na chapa de Fernando Haddad à Presidência. Ela, porém, abandonou as disputas eleitorais em 2022 após ser alvo de ataques e passou a atuar como consultora política. Agora, quer passar um tempo discutindo a esquerda brasileira, mas não descarta voltar a concorrer em 2026. "Não é uma porta fechada". Ao deixar o PCdoB após 25 anos, a senhora disse que era uma mulher sem partido por falta de opção. Qual opção poderia existir? Sou uma pessoa que acredita na importância dos partidos políticos e que nunca acreditou na negação deles como instrumento de luta do povo, de luta social, de luta por uma visão de sociedade. Minha saída do PCdoB foi com muito respeito e conversa. Eu vou me dedicar nos próximos meses a construir espaços suprapartidários de reflexão sobre a esquerda brasileira com outras pessoas que também acreditam que a gente precisa debater, estando ou não nos nossos partidos. Em abril de 2018, quando foi preso, Lula fez um discurso em cima de um carro do som com a senhora de um lado e Boulos do outro. Disse que vocês eram o futuro da esquerda. A senhora deixou a política e Boulos acaba de sofrer uma derrota em SP. Qual é o futuro da esquerda? Somos muitos. Temos lideranças jovens surgindo nos estados, como é o caso de Natália Bonavides, Olívia Santana, Maria Marighella, entre outras. A caminhada de qualquer liderança é marcada por vitórias e por derrotas. O próprio presidente Lula perdeu algumas eleições antes de ser eleito. É impossível imaginar qualquer projeto de Brasil que não passe pelo Guilherme (Boulos), que foi o deputado federal mais votado de São Paulo. Agora sem partido, a senhora descarta disputar algum cargo eletivo em 2026? Existem muitas formas de contribuir de maneira militante e tenho tentado contribuir dessa maneira nos últimos dois processos eleitorais. No Rio Grande do Sul, defendo que a gente tenha um debate amplo com setores diversos da esquerda e para além da esquerda, tanto quanto nacionalmente. Se o meu nome for o que construir a unidade, nunca me furtei a ocupar espaços de disputa eleitoral. Não é uma porta fechada para mim, mas dentro dessa condição de um projeto coletivo. Eu não acredito na política como realização do indivíduo ou na política com caminhos solos. A direita tem feito um trabalho de base para fomentar a participação de mulheres na política. Nesse campo, há nomes em destaque crescente como Michelle Bolsonaro, Cristina Graeml e Damares Alves. Quais são os nomes da esquerda para 2026? Tem um número muito grande de mulheres que ocupam pela primeira vez mandatos eletivos em todo o país que representam a renovação do movimento de mulheres dentro da esquerda. Mas acho que estamos minimizando o que significa a violência contra mulheres na política como estratégia central da extrema direita. Nós precisamos ter uma agenda para o Brasil mais próxima do que as mulheres querem para o país. Porque são as mulheres as que cuidam uma sociedade menos violenta. A esquerda brasileira está sabendo lidar com a extrema direita? Não existe uma única esquerda, somos muito diversos e acho que setores da esquerda têm feito enfrentamento à extrema direita de forma mais adequada e outros menos. Agora, no essencial, nós conseguimos a tática política correta para derrotá-los na construção de uma frente ampla, e isso é uma condição importante. Depois da eleição municipal, vários nomes da esquerda defenderam uma aproximação maior de Lula com o centro para 2026. A senhora concorda? Eu defendo a necessidade de nós termos amplitude, de dar manutenção à construção da frente ampla, que elegeu o presidente Lula e isso tem de ser levado a sério. Nós não fizemos a frente ampla porque nós queríamos, fizemos por necessidade objetiva do nosso país. Não é uma questão de vontade, é de necessidade, de um certo cordão sanitário em defesa da democracia. Mas tem setores que confundem a necessidade dessa frente ampla com a descaracterização da própria esquerda. Defendo a frente ampla e defendo que nós sejamos a esquerda da frente ampla, e não a direita ao centro da frente ampla. Como a senhora viu a decisão do PCdoB de declarar apoio à candidatura de Hugo Motta na disputa pela presidência da Câmara? Não participei desses debates, eu já não sou mais filiada e não quero comentar as decisões do PCdoB nesse último período.
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