Despertar sexual lendo Jorge Amado e paixão por Olinda: como o Brasil enfeitiçou o escritor José Eduardo Agualusa
Em turnê pelo país, autor angolano conta como descobriu Chico Buarque e que gostaria de conhecer Florianópolis O Brasil aparece aqui e a ali em “Mestre dos batuques”. Logo nas primeiras páginas, Jan Pinto compra uma coleção de contos de Machado de Assis numa livraria lisboeta. Da solidão de seu quarto em Luanda, Vicente Van-Dunem, pai de Lucrécia, recorda “velhas modinhas brasileiras”, saudoso do Rio de Janeiro, onde fora comerciante de tecidos. Outro personagem, Pedro Bezerra de Lisboa, enriquecera vendendo exemplares da Bíblia no Rio. E o criado Marcelino fora escravizado no Brasil, comprara a própria liberdade e retornara a Angola. 'Milicianos': livro finalista do Prêmio Jabuti é fruto do podcast 'Pistoleiros', produzido pelo GLOBO e pelo Globoplay Premiado podcast 'Projeto Querino' vira livro: 'É sobre a História, mas é também sobre o Brasil de hoje', diz Tiago Rogero Agualusa sempre conviveu com “imagens do Brasil”. Seu avô paterno era carioca, e vez ou outra a família brasileira os visitava em Angola. Ele próprio viveu no Rio “na virada do século” e lembra que historiadores afirmam que, nos tempos da colonização, Brasil e Angola mantinham relação próxima, sem a intermediação de Portugal. Agualusa vai passar este mês de novembro inteiro no Brasil. Ele participou nesta terça-feira (5) da Festa Literária Internacional de Maricá (Flim), no Estado do Rio. Depois, segue para Tiradentes, São Paulo, Santos, Uauá, Salvador, São Luís (onde encontra o amigo Mia Couto) e termina a turnê em João Pessoa, no dia 28. Ao GLOBO, ele contou “artimanhas” usadas pelo Brasil para enfeitiçá-lo. Música “Minha mãe era professora de português e francês no liceu e animava um grupo de teatro. A certa altura, encenaram ‘Morte e vida Severina’, com música de Chico Buarque. A polícia política portuguesa não gostou, tentou impedir a peça. Isso foi em 1969, 1970. Eu tinha uns 10 anos e me lembro de assistir aos ensaios. Escutando aquelas canções de Chico Buarque, eu cheguei à música popular brasileira.” Literatura “Nós tínhamos uma boa biblioteca brasileira, com escritores brasileiros como Jorge Amado e Machado de Assis, naturalmente. Aos 9, 10 anos, lembro-me de ter lido “Meu pé de laranja lima”. A seguir, li todos os livros de José Mauro de Vasconcelos. Também li Jorge Amado muito cedo. Aliás, comecei com ‘Teresa Batista cansada de guerra’, com 11, 12 anos. Portanto, para mim, foi também um despertar sexual.” Paisagens “Eu vivi em Olinda. Um dos lugares que eu mais gosto de visitar é Pernambuco, que tem uma cultura muito particular, um universo bem próprio. Também fui muito feliz no Rio. Conheço relativamente bem o Brasil graças aos livros. Gostaria de ir a Florianópolis, que ainda não conheço.” Paladar “Tem um prato brasileiro de que gosto muito e que é cada vez mais difícil de encontrar, que é rabada. Todos os brasileiros acham que é um prato português, mas não é. Às vezes até se encontra rabada em Portugal, mas não é a mesma coisa. Acho que é uma tentativa de fazer a rabada brasileira.”
Em turnê pelo país, autor angolano conta como descobriu Chico Buarque e que gostaria de conhecer Florianópolis O Brasil aparece aqui e a ali em “Mestre dos batuques”. Logo nas primeiras páginas, Jan Pinto compra uma coleção de contos de Machado de Assis numa livraria lisboeta. Da solidão de seu quarto em Luanda, Vicente Van-Dunem, pai de Lucrécia, recorda “velhas modinhas brasileiras”, saudoso do Rio de Janeiro, onde fora comerciante de tecidos. Outro personagem, Pedro Bezerra de Lisboa, enriquecera vendendo exemplares da Bíblia no Rio. E o criado Marcelino fora escravizado no Brasil, comprara a própria liberdade e retornara a Angola. 'Milicianos': livro finalista do Prêmio Jabuti é fruto do podcast 'Pistoleiros', produzido pelo GLOBO e pelo Globoplay Premiado podcast 'Projeto Querino' vira livro: 'É sobre a História, mas é também sobre o Brasil de hoje', diz Tiago Rogero Agualusa sempre conviveu com “imagens do Brasil”. Seu avô paterno era carioca, e vez ou outra a família brasileira os visitava em Angola. Ele próprio viveu no Rio “na virada do século” e lembra que historiadores afirmam que, nos tempos da colonização, Brasil e Angola mantinham relação próxima, sem a intermediação de Portugal. Agualusa vai passar este mês de novembro inteiro no Brasil. Ele participou nesta terça-feira (5) da Festa Literária Internacional de Maricá (Flim), no Estado do Rio. Depois, segue para Tiradentes, São Paulo, Santos, Uauá, Salvador, São Luís (onde encontra o amigo Mia Couto) e termina a turnê em João Pessoa, no dia 28. Ao GLOBO, ele contou “artimanhas” usadas pelo Brasil para enfeitiçá-lo. Música “Minha mãe era professora de português e francês no liceu e animava um grupo de teatro. A certa altura, encenaram ‘Morte e vida Severina’, com música de Chico Buarque. A polícia política portuguesa não gostou, tentou impedir a peça. Isso foi em 1969, 1970. Eu tinha uns 10 anos e me lembro de assistir aos ensaios. Escutando aquelas canções de Chico Buarque, eu cheguei à música popular brasileira.” Literatura “Nós tínhamos uma boa biblioteca brasileira, com escritores brasileiros como Jorge Amado e Machado de Assis, naturalmente. Aos 9, 10 anos, lembro-me de ter lido “Meu pé de laranja lima”. A seguir, li todos os livros de José Mauro de Vasconcelos. Também li Jorge Amado muito cedo. Aliás, comecei com ‘Teresa Batista cansada de guerra’, com 11, 12 anos. Portanto, para mim, foi também um despertar sexual.” Paisagens “Eu vivi em Olinda. Um dos lugares que eu mais gosto de visitar é Pernambuco, que tem uma cultura muito particular, um universo bem próprio. Também fui muito feliz no Rio. Conheço relativamente bem o Brasil graças aos livros. Gostaria de ir a Florianópolis, que ainda não conheço.” Paladar “Tem um prato brasileiro de que gosto muito e que é cada vez mais difícil de encontrar, que é rabada. Todos os brasileiros acham que é um prato português, mas não é. Às vezes até se encontra rabada em Portugal, mas não é a mesma coisa. Acho que é uma tentativa de fazer a rabada brasileira.”
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