Derrotado com Tramonte em Belo Horizonte, Republicanos recua sobre filiação de Kalil: 'Desnecessário'

Ex-prefeito deixou PSD em julho deste ano para engrossar campanha de deputado estadual na capital mineira; entrada no novo partido nunca foi formalizada A derrota do deputado estadual Mauro Tramonte(Republicanos) nas eleições de Belo Horizonte movimentou o tabuleiro político na capital mineira, desfazendo acordos que já eram dados como certos. O principal entrave se dá em torno de um dos seus principais articuladores da campanha, o ex-prefeito Alexandre Kalil, que deixou o PSD em julho deste ano para apoiá-lo na disputa, sem formalizar a vinculação ao partido. Passado o período eleitoral, políticos ouvidos pelo GLOBO garantem que a filiação de Kalil ao Republicanos não se concretizará. Em contrapartida, o núcleo próximo ao ex-gestor nega e sustenta o plano original. Após derrota em Belo Horizonte, Mauro Tramonte voltará a ser apresentador da Record TV Sem a presença de Fuad em debate, Bruno Engler critica prefeito e se afasta da imagem de bolsonarista radical O pano de fundo deste afastamento entre Kalil e Republicanos são os atritos somados durante a condução da campanha de Tramonte, quando conseguiu se afastar do principal defensor e articulador de sua filiação, o presidente municipal Gilberto Abramo. Procurado, Abramo não respondeu. Na reta final, quando Tramonte já enfrentava uma desidratação nas pesquisas, Abramo fez frente às decisões que vinham sendo tomadas por Kalil, que não gostou de ser confrontado. Nos bastidores, integrantes da campanha vinham reclamando de posturas consideradas autoritárias do ex-prefeito, que repetia que o candidato dependia dele para ser eleito e escolhia, até mesmo, quais seriam as agendas de rua. O clima foi se deteriorando e se converteu em uma caça às bruxas após o deputado ficar em terceiro lugar, com pouco mais de 15% dos votos. A insatisfação do presidente municipal se uniu a um desafeto antigo do diretório estadual, que particularmente nunca concordou com a filiação do ex-gestor. Comandado pelo deputado federal Euclydes Pettersen, a ala estadual não participou das tratativas para trazer Kalil à campanha. Pettersen sempre disse que foi pego de surpresa ao saber do acordo pela imprensa, uma vez que neste momento costurava a aliança com o governador Romeu Zema (Novo), responsável pela indicação da vice da chapa, a secretária de Planejamento Luísa Barreto. Com a grande presença de Kalil na campanha, o governador não entrou em campo e Luísa Barreto passou a evitar contatos diretos com o ex-prefeito, o que também incomodou integrantes do Republicanos. Oficialmente, a campanha alegou que seria melhor deixar Zema de fora, diante da rejeição de sua gestão na capital, mas há quem diga que, em um eventual segundo turno contra Bruno Engler (PL), o governador poderia ser utilizado com uma espécie de trunfo. — Em todo momento achei desnecessário trazer o Kalil. Estávamos com Zema, que é um dos seus principais adversários. A população ficou sem entender muito isso — diz Pettersen. Em 2022 Kalil foi derrotado por Zema na corrida ao governo do estado. Além das incompatibilidades do passado, articuladores apontam uma falta de espaço para o ex-prefeito no partido. Neste segundo turno, o Republicanos está na iminência de declarar apoio ao bolsonarista Bruno Engler, o que não combina com o posicionamento político de Kalil. O acordo ocorre em uma espécie de acenos cruzados: enquanto o Republicanos estará com o PL em Belo Horizonte, a sigla do ex-presidente Jair Bolsonaro se comprometeu em apoiar Hugo Motta na corrida à Presidência da Câmara Federal. Com planos de concorrer em 2026, Kalil já entra na disputa interna preterido, sem chances reais de legenda. Na sigla, o senador Cleitinho é tido como unanimidade para concorrer ao governo do estado. — Não sei se Kalil vai continuar na vida pública após esta derrota, mas o Republicanos de Minas Gerais tem um projeto político para 2026. Cleitinho é possivelmente nosso candidato e não sabemos quais serão os passos que Kalil tomará. Nosso partido é de centro-direita e todos aqueles que, tiverem em mente que somos conservadores, são bem-vindos — afirma o deputado estadual que lidera a maioria na Assembleia Legislativa de Minas e secretário-geral do Republicanos, Carlos Henrique. Na avaliação de Carlos Henrique, a derrota de Tramonte se deu e grande parte pela coligação pequena, formada apenas por dois partidos, e o pequeno tempo de televisão. Em um primeiro momento, as pesquisas internas indicavam uma alta transferência de votos do ex-prefeito, o que não se concretizou. O GLOBO tentou contato por dois dias consecutivos com Alexandre Kalil, mas não obteve retorno. Sua assessoria informou que, após as eleições, ele fez uma viagem de descanso e que voltará a tratar sobre a filiação ainda nesta semana. A versão oficial é de que o plano de ir ao Republicanos está mantido. Entenda a situação de Kalil Em julho deste ano, após romper com o prefeito Fuad Noman (PSD), Kalil anunciou sua ida para a campanha de Mauro Tramonte. Naquela época, dizia que

Oct 16, 2024 - 02:33
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Derrotado com Tramonte em Belo Horizonte, Republicanos recua sobre filiação de Kalil: 'Desnecessário'

Ex-prefeito deixou PSD em julho deste ano para engrossar campanha de deputado estadual na capital mineira; entrada no novo partido nunca foi formalizada A derrota do deputado estadual Mauro Tramonte(Republicanos) nas eleições de Belo Horizonte movimentou o tabuleiro político na capital mineira, desfazendo acordos que já eram dados como certos. O principal entrave se dá em torno de um dos seus principais articuladores da campanha, o ex-prefeito Alexandre Kalil, que deixou o PSD em julho deste ano para apoiá-lo na disputa, sem formalizar a vinculação ao partido. Passado o período eleitoral, políticos ouvidos pelo GLOBO garantem que a filiação de Kalil ao Republicanos não se concretizará. Em contrapartida, o núcleo próximo ao ex-gestor nega e sustenta o plano original. Após derrota em Belo Horizonte, Mauro Tramonte voltará a ser apresentador da Record TV Sem a presença de Fuad em debate, Bruno Engler critica prefeito e se afasta da imagem de bolsonarista radical O pano de fundo deste afastamento entre Kalil e Republicanos são os atritos somados durante a condução da campanha de Tramonte, quando conseguiu se afastar do principal defensor e articulador de sua filiação, o presidente municipal Gilberto Abramo. Procurado, Abramo não respondeu. Na reta final, quando Tramonte já enfrentava uma desidratação nas pesquisas, Abramo fez frente às decisões que vinham sendo tomadas por Kalil, que não gostou de ser confrontado. Nos bastidores, integrantes da campanha vinham reclamando de posturas consideradas autoritárias do ex-prefeito, que repetia que o candidato dependia dele para ser eleito e escolhia, até mesmo, quais seriam as agendas de rua. O clima foi se deteriorando e se converteu em uma caça às bruxas após o deputado ficar em terceiro lugar, com pouco mais de 15% dos votos. A insatisfação do presidente municipal se uniu a um desafeto antigo do diretório estadual, que particularmente nunca concordou com a filiação do ex-gestor. Comandado pelo deputado federal Euclydes Pettersen, a ala estadual não participou das tratativas para trazer Kalil à campanha. Pettersen sempre disse que foi pego de surpresa ao saber do acordo pela imprensa, uma vez que neste momento costurava a aliança com o governador Romeu Zema (Novo), responsável pela indicação da vice da chapa, a secretária de Planejamento Luísa Barreto. Com a grande presença de Kalil na campanha, o governador não entrou em campo e Luísa Barreto passou a evitar contatos diretos com o ex-prefeito, o que também incomodou integrantes do Republicanos. Oficialmente, a campanha alegou que seria melhor deixar Zema de fora, diante da rejeição de sua gestão na capital, mas há quem diga que, em um eventual segundo turno contra Bruno Engler (PL), o governador poderia ser utilizado com uma espécie de trunfo. — Em todo momento achei desnecessário trazer o Kalil. Estávamos com Zema, que é um dos seus principais adversários. A população ficou sem entender muito isso — diz Pettersen. Em 2022 Kalil foi derrotado por Zema na corrida ao governo do estado. Além das incompatibilidades do passado, articuladores apontam uma falta de espaço para o ex-prefeito no partido. Neste segundo turno, o Republicanos está na iminência de declarar apoio ao bolsonarista Bruno Engler, o que não combina com o posicionamento político de Kalil. O acordo ocorre em uma espécie de acenos cruzados: enquanto o Republicanos estará com o PL em Belo Horizonte, a sigla do ex-presidente Jair Bolsonaro se comprometeu em apoiar Hugo Motta na corrida à Presidência da Câmara Federal. Com planos de concorrer em 2026, Kalil já entra na disputa interna preterido, sem chances reais de legenda. Na sigla, o senador Cleitinho é tido como unanimidade para concorrer ao governo do estado. — Não sei se Kalil vai continuar na vida pública após esta derrota, mas o Republicanos de Minas Gerais tem um projeto político para 2026. Cleitinho é possivelmente nosso candidato e não sabemos quais serão os passos que Kalil tomará. Nosso partido é de centro-direita e todos aqueles que, tiverem em mente que somos conservadores, são bem-vindos — afirma o deputado estadual que lidera a maioria na Assembleia Legislativa de Minas e secretário-geral do Republicanos, Carlos Henrique. Na avaliação de Carlos Henrique, a derrota de Tramonte se deu e grande parte pela coligação pequena, formada apenas por dois partidos, e o pequeno tempo de televisão. Em um primeiro momento, as pesquisas internas indicavam uma alta transferência de votos do ex-prefeito, o que não se concretizou. O GLOBO tentou contato por dois dias consecutivos com Alexandre Kalil, mas não obteve retorno. Sua assessoria informou que, após as eleições, ele fez uma viagem de descanso e que voltará a tratar sobre a filiação ainda nesta semana. A versão oficial é de que o plano de ir ao Republicanos está mantido. Entenda a situação de Kalil Em julho deste ano, após romper com o prefeito Fuad Noman (PSD), Kalil anunciou sua ida para a campanha de Mauro Tramonte. Naquela época, dizia que a filiação ao Republicanos ocorreria em breve, mas nunca chegou a marcar uma data. As justificativas para a demora giravam ao redor da turbulência das eleições, que eram prioridade para o partido. Ao longo de todo o período eleitoral, o ex-prefeito mergulhou de cabeça na campanha de Tramonte e fez uma série de agendas de rua com seu candidato. Um episódio em que interrompeu um quebra-queixo ficou famoso na política mineira. Cerca de uma semana antes do primeiro turno, um repórter da rádio Itatiaia questionou o deputado estadual sobre a presença de Zema na campanha. Quando Tramonte começava a responder, Kalil se intrometeu e disse que o parlamentar não iria cair em "pegadinhas" do jornalista. No meio político, o ex-prefeito foi ironizado e comparado a uma espécie de assessor. Responsável pela indicação de Fuad como vice-prefeito, os dois tinham boa relação até Kalil deixar a prefeitura, em março de 2022, para concorrer ao governo do estado. O sucessor tomou voos próprios, o que foi gerando rusgas. As críticas públicas entre os ex-aliados, contudo, só ocorreram a partir de agosto quando Kalil começou a disputar o legado das obras do município com Fuad. Na época da desfiliação do PSD, o tom adotado era mais ameno e articuladores afirmavam que a ida ao Republicanos só ocorria diante da preferência interna pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, ou pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, para disputar o governo do estado em 2026.

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