De bar em bar: grupos se reúnem em caravanas para explorar o melhor dos botequins cariocas
No caminho da farra etílico-gastronômica, ligares nada óbvios, muita diversão e espaço para reforçar as amizades e até iniciar romances Imagine reunir um grupo de amigos que amam botecos e embarcar numa viagem por bares do Rio e experimentar o que há de melhor para comer e beber, numa animada farra etílico-gastronômica que, em alguns casos, pode durar quase o dia todo. Pois é, tem muita gente que faz isso. As caravanas de botequeiros que, em geral, começam de maneira despretensiosa, cresceram e se diversificaram. Existem as temáticas, com foco na degustação de um determinado petisco ou bebida; as geográficas, destinadas a desbravar botequins de determinadas regiões da cidade, voltadas para turistas; e até mesmo as comerciais, nas quais qualquer um pode pagar e participar. Lady Gaga: fãs percebem semana fechada para reservas no Copacabana Palace e especulam data de show; saiba quando Intolerância: Terreiro religioso é invadido e vandalizado em São João da Barra, no Norte Fluminense Tem até caravana que aproximou amigas separadas por mais de 30 anos e uniu casal. É o caso da que foi criada pela funcionária pública Luciana Simões, de 50 anos, batizada de Irmandade dos Botequeiros. No início, a intenção era levantar o astral de um amigo recém-separado, que andava triste. O grupo tinha só dez pessoas que, numa pequena van, percorria o circuito do concurso Comida di Buteco. A iniciativa deu certo, os amigos pediram repeteco e, no ano passado, a caravana comemorou uma década. Hoje, são mais de 40 integrantes, que precisam de um ônibus ou duas vans para se locomoverem. O clima ainda é de descontração, sem abrir mão da organização. O grupo, cujo símbolo é uma espécie de anjinho estilizado com formato de um copo, tem até uma camiseta que serve de uniforme. As viagens pelos botecos são marcadas através de um grupo de WhatsApp e avisadas com antecedência aos donos dos bares para evitar contratempos, como chegar ao local e não encontrar mesa disponível. História de amor Fernando Magalhãe e sua esposa Vanessa se conheceram em uma excursão organizada por conta do festival Comida di Boteco Guito Moreto A ronda por oito a nove bares a cada edição da caravana custa R$ 300 por pessoa, com tudo incluído (petiscos, bebidas e translado). Embora o objetivo não seja beber para esquecer, por precaução o rateio é feito com antecedência. Quando há sobra, o dinheiro vai para um caixa que ajuda a abater a despesa com transporte, além de servir para confecção de brindes distribuídos a integrantes e garçons. A caravana mais recente partiu do Baixo Gago, em Laranjeiras, na Zona Sul do Rio, no último dia 2, para um passeio por botecos da região oceânica de Niterói. Bala perdida: projétil atinge condomínio onde mora o governador Cláudio Castro, na Barra da Tijuca — As caravanas são oportunidade de as pessoas conhecerem botecos aos quais normalmente não iriam. Por isso, buscamos fugir do eixo da Zona Sul, onde a maioria dos integrantes mora, além de ser uma chance de fazer novas amizades e estreitar os laços com os donos dos botecos — diz Luciana. O advogado Fernando Magalhães, de 55 anos, morador de Copacabana, foi o amigo que fez Luciana iniciar as caravanas. Em um dos passeios, ele encontrou novo amor: a funcionária pública Tathiana Teixeira, de 46. Não demorou muito, os dois se casaram e tiveram o filho Lucas, hoje com 5 anos e que já ganhou a camiseta da irmandade. Foi também graças a esses passeios que Luciana reencontrou a especialista de TI Vanessa Martins. As duas estudaram juntas na infância e não se viam havia mais de 30 anos. — Estudamos juntas, depois continuamos a amizade só pelas redes sociais, desde a época do Orkut. Um dia, descobri a caravana e pedi para participar. Não saí mais — conta Vanessa. 29ª Parada LGBTQ+: Duda Beat e Diego Martins são algumas das atrações em Copacabana; confira Apaixonado por botecos, o economista Guilherme Studart calcula frequentar mais de 300 por ano, numa média de quase um por dia. Numa ocasião, um amigo quis saber dele onde era servido o melhor bolinho de bacalhau da cidade. Foi a deixa para juntar nove amigos e organizar um tour por bares. Nascia aí, em 2006, a primeira caravana temática promovida por Studart, que é autor do guia Rio Botequim. Depois, vieram a da empada, a do jiló e a da codorna na brasa. Uma das próximas, por sugestão do músico Gabriel da Muda, terá a nobilíssima missão de descobrir onde é servida a melhor batida de maracujá da cidade. Atrás da melhor iguaria. As caravanas organizadas por Guilherme Studart (em pé, de chapéu) são temáticas Divulgação Outra vertente explorada pelo economista é a caravana geográfica, em que o grupo percorre bares de determinadas regiões, como Grande Tijuca e Grande Méier. Atualmente, as caravanas reúnem, em média, 25 pessoas para um passeio que acontece sempre aos sábados, dura em torno de oito horas e custa de R$ 300 a R$ 360 por participante, com todas as despesas inclusas. — Além de promover a gastronomia, as caravanas de botequim busca
No caminho da farra etílico-gastronômica, ligares nada óbvios, muita diversão e espaço para reforçar as amizades e até iniciar romances Imagine reunir um grupo de amigos que amam botecos e embarcar numa viagem por bares do Rio e experimentar o que há de melhor para comer e beber, numa animada farra etílico-gastronômica que, em alguns casos, pode durar quase o dia todo. Pois é, tem muita gente que faz isso. As caravanas de botequeiros que, em geral, começam de maneira despretensiosa, cresceram e se diversificaram. Existem as temáticas, com foco na degustação de um determinado petisco ou bebida; as geográficas, destinadas a desbravar botequins de determinadas regiões da cidade, voltadas para turistas; e até mesmo as comerciais, nas quais qualquer um pode pagar e participar. Lady Gaga: fãs percebem semana fechada para reservas no Copacabana Palace e especulam data de show; saiba quando Intolerância: Terreiro religioso é invadido e vandalizado em São João da Barra, no Norte Fluminense Tem até caravana que aproximou amigas separadas por mais de 30 anos e uniu casal. É o caso da que foi criada pela funcionária pública Luciana Simões, de 50 anos, batizada de Irmandade dos Botequeiros. No início, a intenção era levantar o astral de um amigo recém-separado, que andava triste. O grupo tinha só dez pessoas que, numa pequena van, percorria o circuito do concurso Comida di Buteco. A iniciativa deu certo, os amigos pediram repeteco e, no ano passado, a caravana comemorou uma década. Hoje, são mais de 40 integrantes, que precisam de um ônibus ou duas vans para se locomoverem. O clima ainda é de descontração, sem abrir mão da organização. O grupo, cujo símbolo é uma espécie de anjinho estilizado com formato de um copo, tem até uma camiseta que serve de uniforme. As viagens pelos botecos são marcadas através de um grupo de WhatsApp e avisadas com antecedência aos donos dos bares para evitar contratempos, como chegar ao local e não encontrar mesa disponível. História de amor Fernando Magalhãe e sua esposa Vanessa se conheceram em uma excursão organizada por conta do festival Comida di Boteco Guito Moreto A ronda por oito a nove bares a cada edição da caravana custa R$ 300 por pessoa, com tudo incluído (petiscos, bebidas e translado). Embora o objetivo não seja beber para esquecer, por precaução o rateio é feito com antecedência. Quando há sobra, o dinheiro vai para um caixa que ajuda a abater a despesa com transporte, além de servir para confecção de brindes distribuídos a integrantes e garçons. A caravana mais recente partiu do Baixo Gago, em Laranjeiras, na Zona Sul do Rio, no último dia 2, para um passeio por botecos da região oceânica de Niterói. Bala perdida: projétil atinge condomínio onde mora o governador Cláudio Castro, na Barra da Tijuca — As caravanas são oportunidade de as pessoas conhecerem botecos aos quais normalmente não iriam. Por isso, buscamos fugir do eixo da Zona Sul, onde a maioria dos integrantes mora, além de ser uma chance de fazer novas amizades e estreitar os laços com os donos dos botecos — diz Luciana. O advogado Fernando Magalhães, de 55 anos, morador de Copacabana, foi o amigo que fez Luciana iniciar as caravanas. Em um dos passeios, ele encontrou novo amor: a funcionária pública Tathiana Teixeira, de 46. Não demorou muito, os dois se casaram e tiveram o filho Lucas, hoje com 5 anos e que já ganhou a camiseta da irmandade. Foi também graças a esses passeios que Luciana reencontrou a especialista de TI Vanessa Martins. As duas estudaram juntas na infância e não se viam havia mais de 30 anos. — Estudamos juntas, depois continuamos a amizade só pelas redes sociais, desde a época do Orkut. Um dia, descobri a caravana e pedi para participar. Não saí mais — conta Vanessa. 29ª Parada LGBTQ+: Duda Beat e Diego Martins são algumas das atrações em Copacabana; confira Apaixonado por botecos, o economista Guilherme Studart calcula frequentar mais de 300 por ano, numa média de quase um por dia. Numa ocasião, um amigo quis saber dele onde era servido o melhor bolinho de bacalhau da cidade. Foi a deixa para juntar nove amigos e organizar um tour por bares. Nascia aí, em 2006, a primeira caravana temática promovida por Studart, que é autor do guia Rio Botequim. Depois, vieram a da empada, a do jiló e a da codorna na brasa. Uma das próximas, por sugestão do músico Gabriel da Muda, terá a nobilíssima missão de descobrir onde é servida a melhor batida de maracujá da cidade. Atrás da melhor iguaria. As caravanas organizadas por Guilherme Studart (em pé, de chapéu) são temáticas Divulgação Outra vertente explorada pelo economista é a caravana geográfica, em que o grupo percorre bares de determinadas regiões, como Grande Tijuca e Grande Méier. Atualmente, as caravanas reúnem, em média, 25 pessoas para um passeio que acontece sempre aos sábados, dura em torno de oito horas e custa de R$ 300 a R$ 360 por participante, com todas as despesas inclusas. — Além de promover a gastronomia, as caravanas de botequim buscam fortalecer a identidade cultural da cidade, destacando a importância desses estabelecimentos como um ponto de encontro social e cultural. O projeto tem uma pegada de integração social ao reunir grupos em torno de um tema tão significativo para a cultura carioca. Essas experiências são uma forma de promover o turismo local, ao mesmo tempo em que valorizam e preservam as tradições gastronômicas do Rio — avalia Studart. Gastronomia popular Pioneiro na criação desse tipo de caravana, o jornalista Paulo Mussoi, que por quase 20 anos assinou com o pseudônimo de Juarez Becoza a coluna “Pé Sujo” do GLOBO, organiza passeios há 15 anos. Atualmente ele é responsável por dois. Um deles, sempre às quartas-feiras, é mais focado nos turistas, proporcionando aos clientes da plataforma de hospedagem Airbnb uma experiência imersiva pelos botequins de Copacabana, na Zona Sul. Especialista. Juarez Becoza (de óculos) organiza passeios para turistas e para quem quer desbravar os botecos do subúrbio Guito Moreto/25-09-2024 A outra é o “Bonde do Becoza” que, no segundo sábado do mês, roda bares e botequins do subúrbio carioca numa van que reúne entre 15 e 20 passageiros. O ponto de encontro é sempre num bar da Zona Sul. O próximo roteiro partirá do Kalango, em Botafogo, e seguirá rumo a outros quatro bares. Os integrantes pagam R$ 390, com direito a uma seleção dos melhores petiscos de cada casa visitada, além de chope, cerveja e degustação de cachaça. — Minhas caravanas são voltadas para quem gosta de comer e beber e quer conhecer o melhor da gastronomia popular carioca — aponta Becoza.
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