Dermatologista Katleen Conceição lança livro em que debate o racismo e a falta de estudos dedicados à pele negra: 'Eu era considerada indelicada'
Com pacientes célebres como Hugo Gloss, Xamã, Preta Gil e Maju Coutinho, ela é a única brasileira membro do Skin of Color Society, associação americana que promove capacitação para profissionais de todo o mundo em cuidados com peles não brancas Com sorriso aberto e respostas sempre na ponta da língua, a dermatologista Katleen da Cruz Conceição, de 53 anos, é famosa pelo papo reto. “Já fui mal interpretada. Era considerada indelicada”, lembra a gaúcha radicada no Rio, sentada na sala de sua casa, na Lagoa, decorada em tons vibrantes. “Hoje, não há mais espaço para pessoas muito enquadradas. Sobressaem-se as autênticas.” Autêntica e determinada: nesta quinta-feira, dia 21, a médica lança o livro “Dermatologia para pele negra”, na Travessa de Botafogo. É impossível falar do tema no Brasil e não citar seu nome. A profissional — convidada desta semana do #ELAPod, o podcast da Revista ELA, que vai ao ar pelo canal do jornal O GLOBO no YouTube e no Spotify— é a primeira a se debruçar sobre a questão no país, e entende que a falta de estudos e de tecnologias voltadas para as pessoas negras na dermatologia é retrato do racismo estrutural: “Se a gente não se vê, não se questiona. As pessoas brancas olham para seus similares, só que existe um mundo ao redor acontecendo”, afirma, enfatizando que a ausência de referenciais é consequência: “Quando fui estudar dermatologia, só havia livros sobre a pele branca”. O livro da médica Katleen Conceição, 'Dermatologia para pele negra' Ana Branco A ideia da especialização, inédita no Brasil, surgiu há 15 anos, quando a então pós-graduanda em dermatologia estética percebeu que os pacientes negros da clínica onde trabalhava a buscavam na esperança de que ela entendesse suas necessidades. Mas, como poderia, se nem conteúdos publicados sobre o assunto existiam no país? “Não aprendi nada sobre isso na faculdade”, conta. Foi em um congresso nos EUA que Katleen viu que seria possível. “A partir de uma palestra que assisti, um novo mundo se abriu. Foi muito impactante, até chorei e me senti culpada por não ter buscado as informações antes”, diz. A lacuna acadêmica, contudo, foi preenchida. Em 2024, Katleen não só é a precursora em dermatologia em pele negra no Brasil, como a primeira autora de uma publicação sobre o tema. O livro, antes de chegar ao Rio e São Paulo, teve pré-lançamento no Congresso Brasileiro de Dermatologia, em Natal, no início de outubro. Com pacientes célebres como Hugo Gloss, Xamã, Preta Gil e Maju Coutinho, ela é a única brasileira membro do Skin of Color Society, associação americana que promove capacitação para dermatologistas de todo o mundo em cuidados com peles não brancas. A atriz e cantora Isabel Fillardis, também sua paciente, enfrentou uma doença rara, o liquen plano pigmentoso (caracterizada por lesões hiperpigmentadas em áreas expostas ao sol ou de flexão do corpo), e explica que o tratamento com Katleen foi decisivo na cura: “O fato de ela ser especialista em pele negra foi fundamental. Faz toda a diferença para um tratamento adequado e para acabar com mitos de que a pele negra é mais ‘resistente’.” A profissional é convidada desta semana do #ELAPod, o podcast da Revista ELA, que vai ao ar pelo canal do jornal O GLOBO no YouTube e no Spotify Ana Branco A médica também é chefe do ambulatório de dermatologia para pele negra na Santa Casa de Misericórdia, no Rio, onde dá aulas a estudantes e atende pacientes gratuitamente. “Queria ganhar visibilidade, mas sem deixar de fazer um trabalho social”, explica. “Temos formado dermatologistas especialistas em pele negra e há um crescente de aulas nos congressos sobre o assunto”, observa. A dermatologia Mariana Almeida, que foi aluna de Katleen, faz parte dessa nova leva. “Ela é a personificação do possível para mim”, resume. O primeiro setor de dermatologia para pele negra no Grupo Paula Bellotti, no Leblon — clínica das mais equipadas em tecnologias de ponta no Brasil — também foi criado sob seu comando, ao lado de Paula, que define Katleen como uma visionária: “Nosso setor especializado em pele negra é pioneiro no mundo. A Dra. Katleen é uma verdadeira potência. Enfrentamos certo preconceito no meio médico quando implementamos o projeto, mas sempre fizemos tudo com paixão. Me encanta como ela é determinada em trazer acesso a quem precisa”, comenta Paula. A inspiração veio do pai, João Paulo Conceição, dermatologista do Exército, seu maior apoiador. “Ele sempre quis que um dos filhos fosse médico e, dos quatro, fui a única a seguir seus passos.” A gaúcha, que veio morar no Rio com 3 anos, analisa o contexto. “Os protótipos da sociedade não são feitos para que eu dê certo. Por isso, a importância da representatividade. Precisamos ter em quem nos espelhar”, conta.
Com pacientes célebres como Hugo Gloss, Xamã, Preta Gil e Maju Coutinho, ela é a única brasileira membro do Skin of Color Society, associação americana que promove capacitação para profissionais de todo o mundo em cuidados com peles não brancas Com sorriso aberto e respostas sempre na ponta da língua, a dermatologista Katleen da Cruz Conceição, de 53 anos, é famosa pelo papo reto. “Já fui mal interpretada. Era considerada indelicada”, lembra a gaúcha radicada no Rio, sentada na sala de sua casa, na Lagoa, decorada em tons vibrantes. “Hoje, não há mais espaço para pessoas muito enquadradas. Sobressaem-se as autênticas.” Autêntica e determinada: nesta quinta-feira, dia 21, a médica lança o livro “Dermatologia para pele negra”, na Travessa de Botafogo. É impossível falar do tema no Brasil e não citar seu nome. A profissional — convidada desta semana do #ELAPod, o podcast da Revista ELA, que vai ao ar pelo canal do jornal O GLOBO no YouTube e no Spotify— é a primeira a se debruçar sobre a questão no país, e entende que a falta de estudos e de tecnologias voltadas para as pessoas negras na dermatologia é retrato do racismo estrutural: “Se a gente não se vê, não se questiona. As pessoas brancas olham para seus similares, só que existe um mundo ao redor acontecendo”, afirma, enfatizando que a ausência de referenciais é consequência: “Quando fui estudar dermatologia, só havia livros sobre a pele branca”. O livro da médica Katleen Conceição, 'Dermatologia para pele negra' Ana Branco A ideia da especialização, inédita no Brasil, surgiu há 15 anos, quando a então pós-graduanda em dermatologia estética percebeu que os pacientes negros da clínica onde trabalhava a buscavam na esperança de que ela entendesse suas necessidades. Mas, como poderia, se nem conteúdos publicados sobre o assunto existiam no país? “Não aprendi nada sobre isso na faculdade”, conta. Foi em um congresso nos EUA que Katleen viu que seria possível. “A partir de uma palestra que assisti, um novo mundo se abriu. Foi muito impactante, até chorei e me senti culpada por não ter buscado as informações antes”, diz. A lacuna acadêmica, contudo, foi preenchida. Em 2024, Katleen não só é a precursora em dermatologia em pele negra no Brasil, como a primeira autora de uma publicação sobre o tema. O livro, antes de chegar ao Rio e São Paulo, teve pré-lançamento no Congresso Brasileiro de Dermatologia, em Natal, no início de outubro. Com pacientes célebres como Hugo Gloss, Xamã, Preta Gil e Maju Coutinho, ela é a única brasileira membro do Skin of Color Society, associação americana que promove capacitação para dermatologistas de todo o mundo em cuidados com peles não brancas. A atriz e cantora Isabel Fillardis, também sua paciente, enfrentou uma doença rara, o liquen plano pigmentoso (caracterizada por lesões hiperpigmentadas em áreas expostas ao sol ou de flexão do corpo), e explica que o tratamento com Katleen foi decisivo na cura: “O fato de ela ser especialista em pele negra foi fundamental. Faz toda a diferença para um tratamento adequado e para acabar com mitos de que a pele negra é mais ‘resistente’.” A profissional é convidada desta semana do #ELAPod, o podcast da Revista ELA, que vai ao ar pelo canal do jornal O GLOBO no YouTube e no Spotify Ana Branco A médica também é chefe do ambulatório de dermatologia para pele negra na Santa Casa de Misericórdia, no Rio, onde dá aulas a estudantes e atende pacientes gratuitamente. “Queria ganhar visibilidade, mas sem deixar de fazer um trabalho social”, explica. “Temos formado dermatologistas especialistas em pele negra e há um crescente de aulas nos congressos sobre o assunto”, observa. A dermatologia Mariana Almeida, que foi aluna de Katleen, faz parte dessa nova leva. “Ela é a personificação do possível para mim”, resume. O primeiro setor de dermatologia para pele negra no Grupo Paula Bellotti, no Leblon — clínica das mais equipadas em tecnologias de ponta no Brasil — também foi criado sob seu comando, ao lado de Paula, que define Katleen como uma visionária: “Nosso setor especializado em pele negra é pioneiro no mundo. A Dra. Katleen é uma verdadeira potência. Enfrentamos certo preconceito no meio médico quando implementamos o projeto, mas sempre fizemos tudo com paixão. Me encanta como ela é determinada em trazer acesso a quem precisa”, comenta Paula. A inspiração veio do pai, João Paulo Conceição, dermatologista do Exército, seu maior apoiador. “Ele sempre quis que um dos filhos fosse médico e, dos quatro, fui a única a seguir seus passos.” A gaúcha, que veio morar no Rio com 3 anos, analisa o contexto. “Os protótipos da sociedade não são feitos para que eu dê certo. Por isso, a importância da representatividade. Precisamos ter em quem nos espelhar”, conta.
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