COP29: Executivos e lobistas do setor petrolífero marcam presença em Baku em meio às críticas de ativistas ambientais
Mais de 1,7 mil lobistas participaram das negociações, mostra relatório; segundo jornal britânico, mais de 130 receberam 'convites' e tratamento VIP do governo azerbaijano Executivos e lobistas do setor petrolífero chegaram à 29ª conferência do clima das Nações Unidas (COP29) em Baku para o "dia da energia" nesta sexta-feira, em meio a denúncias de grupos ambientalistas sobre a presença do setor de combustíveis fósseis nas negociações climáticas. Pelo menos 132 diretores-executivos e funcionários do setor foram "convidados" pelo governo do Azerbaijão e receberam crachás do país anfitrião, informou o jornal britânico The Guardian, que comparou os convites a uma espécie de tratamento VIP. Menos metano no arroto de vacas e recuperação de corais: Saiba quais usos micróbios podem ter contra as mudanças climáticas COP29: Calor extremo, fenômenos meteorológicos incontroláveis e poluição representam ameaça crescente à saúde Entre os que receberam tratamento especial estão diretores, CEOs e funcionários da empresa de energia saudita ACWA, da gigante petrolífera saudita Aramco, da empresa britânica BP — que tem um longo histórico no Azerbaijão e é um importante ator nas operações de petróleo e gás no país —, e da Exxonmobil, informou o Guardian. — O setor de combustíveis fósseis está causando estragos na vida das pessoas, o setor de combustíveis fósseis é responsável pela destruição — alertou Makoma Lekalakala, um ativista ambiental sul-africano. Um relatório da coalizão de ONGs "Kick the Big Polluters Out" (KBPO) descobriu que mais de 1,7 mil pessoas ligadas aos interesses do setor de carvão, petróleo e gás estavam presentes na conferência. O número, segundo o Guardian, é maior do que o de delegações de quase todos os países presentes. 'Rolê' aleatório? Ronaldinho Gaúcho é convidado do governo do Azerbaijão para conferência do clima O Japão levou funcionários da gigante do carvão Sumitomo como parte de sua delegação, o Canadá incluiu os produtores de petróleo Suncor e Tourmaline e a Itália levou funcionários das gigantes do setor de energia Eni e Enel, disse a KBPO, que levantou preocupações quanto a influência dessas indústrias nas negociações. A coalizão destacou que alguns integrantes da lista trabalham para empresas que não estão relacionadas em primeiro plano a combustíveis fósseis, incluindo a campeã dinamarquesa de energia eólica offshore Orsted. O chefe da TotalEnergies da França, Patrick Pouyanne, reconheceu à AFP que o setor é "parte do problema", mas insistiu que estava fazendo "progresso contínuo" na transição. 'Absurdo' A presença dos interesses do petróleo, do gás e do carvão nas negociações sobre o clima há muito tempo tem sido uma fonte de controvérsia, e a nomeação do chefe da empresa estatal de petróleo dos Emirados Árabes Unidos, Sultan al-Jaber, para liderar as negociações do ano passado em Dubai alimentou as críticas. O Azerbaijão, país anfitrião deste ano, é rico em energia e planeja expandir a produção de gás natural na próxima década, informou a BBC. Quem preside a COP em Baku é o ministro da Ecologia, Mukhtar Babayey, um ex-executivo do setor petrolífero. Na terça-feira, o presidente azerbaijano, Ilham Aliyev, causou um alvoroço após chamar os combustíveis fósseis de "presente de Deus". Na conferência do clima: Marina cobra dinheiro de países ricos e pede plano para zerar combustíveis fósseis Grupos de direitos humanos citados pela BBC denunciaram que o governo azerbaijano está usando a conferência para reprimir os ativistas ambientais, que insta a redução da dependência do país em petróleo e gás, e outros opositores políticos. Pela primeira vez desde o início dos anos 2000, o número de presos políticos chegou a mais de 200, segundo a União "Pela Liberdade dos Prisioneiros Políticos no Azerbaijão". O governo nega as acusações. Para o ex-vice-presidente dos Estados Unidos e ativista climático Al Gore é um "absurdo" que os países petrolíferos, como o Azerbaijão, sejam os anfitriões das negociações climáticas da ONU, afirmando que o processo de seleção deve ser revisto. — Acho um absurdo que esses países petrolíferos, que dependem tanto da venda contínua de petróleo e gás, sejam os anfitriões dessas COPs, porque é difícil não perceber que eles têm um conflito direto de interesses — disse Gore, que é presidente do The Climate Reality Project, uma organização sem fins lucrativos. — O presidente disse que elas são um presente de Deus, e eu entendo seu sentimento, mas na minha opinião deveríamos reformar esse processo. Falando à margem das negociações em Baku, Gore disse que o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, deveria poder participar do processo de seleção das cidades e dos presidentes da conferência. O Azerbaijão foi escolhido para sediar a COP29 apór a Bulgária desistir devido a objeções russas à realização da conferência em um país da União Europeia. Foi a vez da Europa Oriental sediar a Conferência das Partes deste ano. Avanço na COP29: Conferência do clima ava
Mais de 1,7 mil lobistas participaram das negociações, mostra relatório; segundo jornal britânico, mais de 130 receberam 'convites' e tratamento VIP do governo azerbaijano Executivos e lobistas do setor petrolífero chegaram à 29ª conferência do clima das Nações Unidas (COP29) em Baku para o "dia da energia" nesta sexta-feira, em meio a denúncias de grupos ambientalistas sobre a presença do setor de combustíveis fósseis nas negociações climáticas. Pelo menos 132 diretores-executivos e funcionários do setor foram "convidados" pelo governo do Azerbaijão e receberam crachás do país anfitrião, informou o jornal britânico The Guardian, que comparou os convites a uma espécie de tratamento VIP. Menos metano no arroto de vacas e recuperação de corais: Saiba quais usos micróbios podem ter contra as mudanças climáticas COP29: Calor extremo, fenômenos meteorológicos incontroláveis e poluição representam ameaça crescente à saúde Entre os que receberam tratamento especial estão diretores, CEOs e funcionários da empresa de energia saudita ACWA, da gigante petrolífera saudita Aramco, da empresa britânica BP — que tem um longo histórico no Azerbaijão e é um importante ator nas operações de petróleo e gás no país —, e da Exxonmobil, informou o Guardian. — O setor de combustíveis fósseis está causando estragos na vida das pessoas, o setor de combustíveis fósseis é responsável pela destruição — alertou Makoma Lekalakala, um ativista ambiental sul-africano. Um relatório da coalizão de ONGs "Kick the Big Polluters Out" (KBPO) descobriu que mais de 1,7 mil pessoas ligadas aos interesses do setor de carvão, petróleo e gás estavam presentes na conferência. O número, segundo o Guardian, é maior do que o de delegações de quase todos os países presentes. 'Rolê' aleatório? Ronaldinho Gaúcho é convidado do governo do Azerbaijão para conferência do clima O Japão levou funcionários da gigante do carvão Sumitomo como parte de sua delegação, o Canadá incluiu os produtores de petróleo Suncor e Tourmaline e a Itália levou funcionários das gigantes do setor de energia Eni e Enel, disse a KBPO, que levantou preocupações quanto a influência dessas indústrias nas negociações. A coalizão destacou que alguns integrantes da lista trabalham para empresas que não estão relacionadas em primeiro plano a combustíveis fósseis, incluindo a campeã dinamarquesa de energia eólica offshore Orsted. O chefe da TotalEnergies da França, Patrick Pouyanne, reconheceu à AFP que o setor é "parte do problema", mas insistiu que estava fazendo "progresso contínuo" na transição. 'Absurdo' A presença dos interesses do petróleo, do gás e do carvão nas negociações sobre o clima há muito tempo tem sido uma fonte de controvérsia, e a nomeação do chefe da empresa estatal de petróleo dos Emirados Árabes Unidos, Sultan al-Jaber, para liderar as negociações do ano passado em Dubai alimentou as críticas. O Azerbaijão, país anfitrião deste ano, é rico em energia e planeja expandir a produção de gás natural na próxima década, informou a BBC. Quem preside a COP em Baku é o ministro da Ecologia, Mukhtar Babayey, um ex-executivo do setor petrolífero. Na terça-feira, o presidente azerbaijano, Ilham Aliyev, causou um alvoroço após chamar os combustíveis fósseis de "presente de Deus". Na conferência do clima: Marina cobra dinheiro de países ricos e pede plano para zerar combustíveis fósseis Grupos de direitos humanos citados pela BBC denunciaram que o governo azerbaijano está usando a conferência para reprimir os ativistas ambientais, que insta a redução da dependência do país em petróleo e gás, e outros opositores políticos. Pela primeira vez desde o início dos anos 2000, o número de presos políticos chegou a mais de 200, segundo a União "Pela Liberdade dos Prisioneiros Políticos no Azerbaijão". O governo nega as acusações. Para o ex-vice-presidente dos Estados Unidos e ativista climático Al Gore é um "absurdo" que os países petrolíferos, como o Azerbaijão, sejam os anfitriões das negociações climáticas da ONU, afirmando que o processo de seleção deve ser revisto. — Acho um absurdo que esses países petrolíferos, que dependem tanto da venda contínua de petróleo e gás, sejam os anfitriões dessas COPs, porque é difícil não perceber que eles têm um conflito direto de interesses — disse Gore, que é presidente do The Climate Reality Project, uma organização sem fins lucrativos. — O presidente disse que elas são um presente de Deus, e eu entendo seu sentimento, mas na minha opinião deveríamos reformar esse processo. Falando à margem das negociações em Baku, Gore disse que o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, deveria poder participar do processo de seleção das cidades e dos presidentes da conferência. O Azerbaijão foi escolhido para sediar a COP29 apór a Bulgária desistir devido a objeções russas à realização da conferência em um país da União Europeia. Foi a vez da Europa Oriental sediar a Conferência das Partes deste ano. Avanço na COP29: Conferência do clima avança nas regras para criar mercado de carbono global O processo atual "significava que a Rússia vetava todos, exceto o Azerbaijão. E, é claro, eles também são um estado petrolífero", acrescentou. A crítica de Gore ecoou uma carta enviada nesta sexta-feira por um grupo de importantes ativistas e cientistas do clima, incluindo o ex-secretário geral da ONU, Ban Ki-moon, que alertou que o processo da COP "não é mais adequado ao propósito". Eles pediram reuniões menores e mais frequentes, critérios rigorosos para os países anfitriões e regras para garantir que as empresas demonstrem compromissos climáticos claros antes de serem autorizadas a enviar lobistas para as negociações. — Acho que deveria haver um teste para saber quem está qualificado para ser um delegado nessas COPs. Eles estão vindo para tentar encontrar uma solução ou estão vindo para bloquear uma solução? — destacou. Trump não pode impedir a 'revolução' Michai Robertson, principal negociador de mudanças climáticas da Aliança de Pequenos Estados Insulares, disse que as negociações continuam sendo cruciais para as nações vulneráveis que não são incluídas em fóruns como o G20, grupo que reúne as 19 maiores economias do mundo, além da União Europeia e a União Africana. — Esse é o único momento em que nossa voz pode ser claramente ouvida — disse ele. A principal prioridade nas negociações é um novo valor para o financiamento climático para ajudar os países em desenvolvimento a se adaptarem à mudança climática e fazerem a transição de suas economias para longe dos combustíveis fósseis. Rumo a Belém: COP29 começa hoje no Azerbaijão com desafios que podem impactar sucesso da COP30 no Brasil, no ano que vem As nações ricas estão relutantes em gastar muito mais do que os US$ 100 bilhões por ano já comprometidos, conscientes do público interno irritado com a inflação e com as economias em dificuldades. Mas os países em desenvolvimento alertam que precisam de pelo menos US$ 1 trilhão para se defenderem contra os estragos da mudança climática e cumprirem os compromissos de atingir emissões líquidas zero. Os negociadores estão lutando para chegar a um acordo sobre um texto preliminar viável antes da chegada dos ministros na próxima semana. — Temos que ser honestos, acreditamos que o ritmo do trabalho deles está muito lento — alertou o negociador principal da COP29, Yalchin Rafiyev, na tarde desta sexta. A questão que paira sobre os procedimentos é o papel que os EUA desempenharão na ação climática e no financiamento após o retorno de Donald Trump à Casa Branca em janeiro, dada a sua promessa de se retirar novamente do histórico Acordo de Paris. Por liderar a partir de janeiro o segundo maior país emissor de gases de efeito estufa no planeta, o ceticismo de Trump com o aquecimento global tem causado receios entre as lideranças globais, incluindo ao Brasil, onde o governo e especialistas da área ambiental temem um enfraquecimento das negociações da COP30, que será sediada em Belém no ano que vem. As autoridades americanas presentes nas negociações insistiram porém que Trump terá dificuldades para desfazer as ações climáticas já em andamento. — Quando a história for escrita, ele será visto como um obstáculo no enorme crescimento dessa transição para a energia limpa — disse o governador democrata do estado de Washington, Jay Inslee, em um evento na sexta-feira. Al Gore também minimizou as preocupações, dizendo que o retorno de Trump à Casa Branca não "desaceleraria significativamente" a "revolução" da energia limpa, que classificou como "imparável".
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