Com Trump nos EUA, 2025 será 'particularmente desafiador' para cooperação internacional e processos multilaterais, prevê nova líder do T20
Sul-africana Elizabeth Sidiropoulos defende criação de 'estruturas alternativas e paralelas', como Banco do BRICS, e de 'ambiente que não seja conduzido por hegemonia global' Às vésperas da reunião de Cúpula do G20 no Rio, um elefante branco foi posto na sala: a eleição de Donald Trump — e seus impactos para organismos multilaterais e fóruns de debate. Durante o encontro do T20, o grupo de engajamento composto por think tanks e instituições de pesquisa dos países membros, realizado na terça-feira, no Palácio do Itamaraty, o assunto esteve presente em praticamente todos os debates e conversas à margem do evento. Para Elizabeth Sidiropoulos, diretora executiva do Instituto Sul-Africano de Assuntos Internacionais (SAIIA), responsável pela coordenação do T20 em 2025, o próximo ano será “particularmente desafiador” em termos de “disposição política para cooperar internacionalmente e apoiar processos multilaterais” devido “aos eventos políticos recentes”. Trump já deu vários sinais de que, tal qual em seu primeiro mandato, pretende investir em uma política externa protecionista e de que não está interessado em pautas climáticas ou de reforma da governança global, dois dos temas que deram o tom durante a presidência rotativa do Brasil no G20 e que devem continuar no próximo ano sob a liderança da África do Sul. — O fato é que os EUA são um ator tão importante em muitos dos fóruns globais que é preciso ter a concordância deles para mudar algo, a exemplo das reformas do Fundo Monetário Internacional ou do Banco Mundial — reflete Sidiropoulos. — Esse é o problema de os EUA decidirem que desejam se afastar da cooperação internacional. Ela defende a criação de “estruturas alternativas e paralelas”, como o Novo Banco de Desenvolvimento (também conhecido como Banco do BRICS), fundado em 2014, e de “um ambiente que não seja conduzido por uma hegemonia global”. — Esse é o primeiro passo — pontua. — [Menos engajamento dos EUA] cria um vácuo [de liderança], e quando há um vácuo, sempre há a oportunidade de alguém ou de muitos entrarem no vácuo. Potências médias estão realmente se tornando inovadoras, tanto em termos de iniciativas políticas quanto em termos críticos sobre como levar as ideias adiante. ‘Mudança de mentalidade’ Na visão de Sidiropoulos, o G20, formado pelas 20 maiores economias do mundo, União Europeia e União Africana, é um fator-chave nesta equação, por ser uma “plataforma em que países sistematicamente importantes podem construir um consenso para lidar com questões específicas”: — Sabemos que não vamos concordar em tudo, mas se não conversarmos uns com os outros, não chegaremos a lugar algum — avalia. — Uma das questões que estarão em pauta [no ano que vem] é como garantir que o G20 seja bem-sucedido, não descarrile e continue avançando. A ex-presidente do Chile e ex-alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos Michelle Bachelet acredita que uma mudança do sistema de governança global requer também uma “mudança de mentalidade”. — Devemos abraçar um multilateralismo que seja centrado na solução de problemas — declarou em seu discurso de abertura do segundo dia de encontro do T20 no Rio. — Esforços isolados são insuficientes. Precisamos integrar nossas respostas para enfrentar a complexa onda de desafios à nossa frente. O ano de 2023 registrou o maior número de conflitos entre Estados desde a Segunda Guerra Mundial, destacou Bachelet, citando dados do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI). E, segundo ela, “o impacto desses conflitos vai muito além das fronteiras nacionais, agravando a pobreza, aumentando a insegurança alimentar e fomentando crises migratórias”: — O conflito também é impulsionado porque a democracia não tem entregado resultados. Temos visto, ao menos na Europa e na América Latina, um número crescente de pessoas dispostas a aceitar um governo autoritário, se for eficiente e eficaz, em vez de um governo democrático. Para Bachelet, “o mundo desesperadamente precisa de liderança responsável e ação coletiva”. Sob nova direção Após um ano dedicado a discutir e apontar caminhos concretos para solucionar problemas globais, o Brasil formalizou na terça-feira a transferência da presidência do T20 para a África do Sul, que conduzirá os trabalhos em 2025. — O governo brasileiro abriu um bom espaço de interlocução entre os grupos de engajamento, como o T20, e os Sherpas. Agora, a expectativa é que nosso trabalho esteja representado na declaração final do G20. Fizemos uma bela transição para a África do Sul e continuaremos contribuindo com o T20 — declarou Julia Dias Leite, diretora-presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), que juntamente com a Fundação Alexandre de Gusmão (Funag) e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), liderou o T20 no Brasil.
Sul-africana Elizabeth Sidiropoulos defende criação de 'estruturas alternativas e paralelas', como Banco do BRICS, e de 'ambiente que não seja conduzido por hegemonia global' Às vésperas da reunião de Cúpula do G20 no Rio, um elefante branco foi posto na sala: a eleição de Donald Trump — e seus impactos para organismos multilaterais e fóruns de debate. Durante o encontro do T20, o grupo de engajamento composto por think tanks e instituições de pesquisa dos países membros, realizado na terça-feira, no Palácio do Itamaraty, o assunto esteve presente em praticamente todos os debates e conversas à margem do evento. Para Elizabeth Sidiropoulos, diretora executiva do Instituto Sul-Africano de Assuntos Internacionais (SAIIA), responsável pela coordenação do T20 em 2025, o próximo ano será “particularmente desafiador” em termos de “disposição política para cooperar internacionalmente e apoiar processos multilaterais” devido “aos eventos políticos recentes”. Trump já deu vários sinais de que, tal qual em seu primeiro mandato, pretende investir em uma política externa protecionista e de que não está interessado em pautas climáticas ou de reforma da governança global, dois dos temas que deram o tom durante a presidência rotativa do Brasil no G20 e que devem continuar no próximo ano sob a liderança da África do Sul. — O fato é que os EUA são um ator tão importante em muitos dos fóruns globais que é preciso ter a concordância deles para mudar algo, a exemplo das reformas do Fundo Monetário Internacional ou do Banco Mundial — reflete Sidiropoulos. — Esse é o problema de os EUA decidirem que desejam se afastar da cooperação internacional. Ela defende a criação de “estruturas alternativas e paralelas”, como o Novo Banco de Desenvolvimento (também conhecido como Banco do BRICS), fundado em 2014, e de “um ambiente que não seja conduzido por uma hegemonia global”. — Esse é o primeiro passo — pontua. — [Menos engajamento dos EUA] cria um vácuo [de liderança], e quando há um vácuo, sempre há a oportunidade de alguém ou de muitos entrarem no vácuo. Potências médias estão realmente se tornando inovadoras, tanto em termos de iniciativas políticas quanto em termos críticos sobre como levar as ideias adiante. ‘Mudança de mentalidade’ Na visão de Sidiropoulos, o G20, formado pelas 20 maiores economias do mundo, União Europeia e União Africana, é um fator-chave nesta equação, por ser uma “plataforma em que países sistematicamente importantes podem construir um consenso para lidar com questões específicas”: — Sabemos que não vamos concordar em tudo, mas se não conversarmos uns com os outros, não chegaremos a lugar algum — avalia. — Uma das questões que estarão em pauta [no ano que vem] é como garantir que o G20 seja bem-sucedido, não descarrile e continue avançando. A ex-presidente do Chile e ex-alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos Michelle Bachelet acredita que uma mudança do sistema de governança global requer também uma “mudança de mentalidade”. — Devemos abraçar um multilateralismo que seja centrado na solução de problemas — declarou em seu discurso de abertura do segundo dia de encontro do T20 no Rio. — Esforços isolados são insuficientes. Precisamos integrar nossas respostas para enfrentar a complexa onda de desafios à nossa frente. O ano de 2023 registrou o maior número de conflitos entre Estados desde a Segunda Guerra Mundial, destacou Bachelet, citando dados do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI). E, segundo ela, “o impacto desses conflitos vai muito além das fronteiras nacionais, agravando a pobreza, aumentando a insegurança alimentar e fomentando crises migratórias”: — O conflito também é impulsionado porque a democracia não tem entregado resultados. Temos visto, ao menos na Europa e na América Latina, um número crescente de pessoas dispostas a aceitar um governo autoritário, se for eficiente e eficaz, em vez de um governo democrático. Para Bachelet, “o mundo desesperadamente precisa de liderança responsável e ação coletiva”. Sob nova direção Após um ano dedicado a discutir e apontar caminhos concretos para solucionar problemas globais, o Brasil formalizou na terça-feira a transferência da presidência do T20 para a África do Sul, que conduzirá os trabalhos em 2025. — O governo brasileiro abriu um bom espaço de interlocução entre os grupos de engajamento, como o T20, e os Sherpas. Agora, a expectativa é que nosso trabalho esteja representado na declaração final do G20. Fizemos uma bela transição para a África do Sul e continuaremos contribuindo com o T20 — declarou Julia Dias Leite, diretora-presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), que juntamente com a Fundação Alexandre de Gusmão (Funag) e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), liderou o T20 no Brasil.
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