Como deve ser o protocolo de testes pré-transplante? Ex-presidente da Associação de Transplantes explica após casos de HIV
Seis pacientes foram contaminados após receberem órgãos infectados; laboratório privado contratado para realizar os exames é investigado Para o ex-presidente da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) e especialista em transplante de fígado, Ben-Hur Ferraz Neto, os casos de seis pessoas infectadas pelo HIV após receberem órgãos contaminados no Rio de Janeiro “é uma enorme surpresa”. Ele explica que o protocolo de testagem antes do procedimento é extremamente rigoroso, o que torna o episódio algo “sem precedentes na história do transplante brasileiro”. — Após o diagnóstico de morte encefálica, feito dentro de todas as regras determinadas pelo sistema de transplante, o material é encaminhado para o laboratório e são feitos todos os testes sorológicos de doenças que podem ser transmitidas pelo órgão, como HIV, hepatite B, C, toxoplasmose, citomegalovírus. Há uma série de doenças infecciosas testadas obrigatoriamente em todos os doadores para que apenas depois esses órgãos possam ser oferecidos às equipes dos receptores. Todo esse protocolo é muito rigoroso, muito sério — diz. Ele, que é diretor do Instituto do Fígado Américas, conta que nem todo resultado vai inviabilizar imediatamente uma doação. Porém, o caso de uma infecção pelo HIV é um dos cenários que descarta a possibilidade de o paciente receber o órgão. — Se um doador tiver um resultado positivo para o vírus da hepatite C, por exemplo, o órgão pode ser utilizado em um receptor que também já seja positivo para hepatite C. Já o HIV inviabiliza por completo a doação. O protocolo é feito rigorosamente, e os doadores só viram doadores efetivos depois que os exames são feitos, os resultados são comunicados à secretaria estadual de Saúde, à central de transplante e, então, são oferecidos às equipes dos paciente conforme a fila de espera — conta. O caso das infecções no Rio foi revelado nesta sexta-feira pela BandNews FM e confirmado pelo GLOBO com a Secretaria Estadual de Saúde (SES-RJ), que abriu uma comissão multidisciplinar para acolher os pacientes afetados e tomar as medidas cabíveis. Após tomar conhecimento sobre o acontecido, o Ministério da Saúde, a Polícia Civil do Rio, o Conselho Regional de Medicina (Cremerj) e o Ministério Público do Rio abriram investigações. Segundo informou a pasta estadual da Saúde, devido à sobrecarga do Hemorio, em dezembro do ano passado o laboratório privado PCS Lab Saleme, de Nova Iguaçu, cidade da Baixada Fluminense, foi contratado via licitação para atender à Central de Transplantes do Rio, fazendo a testagem do material de doadores. Os casos de contaminação começaram a vir à tona apenas após, no mês passado, um paciente que havia recebido um novo coração meses antes manifestar sintomas e descobrir-se a infecção pelo HIV. Depois de uma investigação, verificou-se que o exame emitido pelo PCS Lab Saleme antes do transplante havia indicado resultado negativo. No entanto, uma contraprova realizada pela SES-RJ com o material que fica armazenado no Hemorio identificou a presença do vírus. De acordo com informações do g1, duas pessoas que receberam um rim cada do mesmo doador também foram contaminadas. Já neste mês outro paciente foi diagnosticado com o HIV pós-transplante, e novamente o caso foi rastreado para um resultado incorreto do PCS Lab Saleme que havia indicado a ausência do HIV, enquanto a contraprova detectou o vírus. De acordo com a SES-RJ, o serviço no laboratório foi suspenso, e o PCS Lab Saleme foi interditado de imediatamente após a identificação do primeiro caso. A secretaria também está num processo de reavaliação de todas as amostras de sangue armazenadas dos outros 286 doadores a partir de dezembro de 2023, data da contratação do laboratório, para comprovar que não há infecção pelo HIV antes de novos transplantes. Resultados falso-negativos, em que o exame não consegue detectar o vírus, podem ocorrer, embora no caso do teste para HIV seja extremamente raro – a sensibilidade do exame é de quase 100%. Porém, de acordo com o g1, a Anvisa descobriu que o laboratório de Nova Iguaçu não tinha kits para realização de testes e também não apresentou documentos que comprovassem a compra dos itens, o que levanta a suspeita de fraude nos resultados. — Essa é uma enorme surpresa. Exames terem sido fraudados ou errados e permitido uma transmissão de HIV é um acontecimento sem precedentes na história do transplante brasileiro. Mas se aconteceu algo de errado, o Sistema de Transplantes e a Anvisa vão conseguir identificar e punir os responsáveis. Temos bastante segurança hoje em todo o sistema — avalia Ferraz Neto.
Seis pacientes foram contaminados após receberem órgãos infectados; laboratório privado contratado para realizar os exames é investigado Para o ex-presidente da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) e especialista em transplante de fígado, Ben-Hur Ferraz Neto, os casos de seis pessoas infectadas pelo HIV após receberem órgãos contaminados no Rio de Janeiro “é uma enorme surpresa”. Ele explica que o protocolo de testagem antes do procedimento é extremamente rigoroso, o que torna o episódio algo “sem precedentes na história do transplante brasileiro”. — Após o diagnóstico de morte encefálica, feito dentro de todas as regras determinadas pelo sistema de transplante, o material é encaminhado para o laboratório e são feitos todos os testes sorológicos de doenças que podem ser transmitidas pelo órgão, como HIV, hepatite B, C, toxoplasmose, citomegalovírus. Há uma série de doenças infecciosas testadas obrigatoriamente em todos os doadores para que apenas depois esses órgãos possam ser oferecidos às equipes dos receptores. Todo esse protocolo é muito rigoroso, muito sério — diz. Ele, que é diretor do Instituto do Fígado Américas, conta que nem todo resultado vai inviabilizar imediatamente uma doação. Porém, o caso de uma infecção pelo HIV é um dos cenários que descarta a possibilidade de o paciente receber o órgão. — Se um doador tiver um resultado positivo para o vírus da hepatite C, por exemplo, o órgão pode ser utilizado em um receptor que também já seja positivo para hepatite C. Já o HIV inviabiliza por completo a doação. O protocolo é feito rigorosamente, e os doadores só viram doadores efetivos depois que os exames são feitos, os resultados são comunicados à secretaria estadual de Saúde, à central de transplante e, então, são oferecidos às equipes dos paciente conforme a fila de espera — conta. O caso das infecções no Rio foi revelado nesta sexta-feira pela BandNews FM e confirmado pelo GLOBO com a Secretaria Estadual de Saúde (SES-RJ), que abriu uma comissão multidisciplinar para acolher os pacientes afetados e tomar as medidas cabíveis. Após tomar conhecimento sobre o acontecido, o Ministério da Saúde, a Polícia Civil do Rio, o Conselho Regional de Medicina (Cremerj) e o Ministério Público do Rio abriram investigações. Segundo informou a pasta estadual da Saúde, devido à sobrecarga do Hemorio, em dezembro do ano passado o laboratório privado PCS Lab Saleme, de Nova Iguaçu, cidade da Baixada Fluminense, foi contratado via licitação para atender à Central de Transplantes do Rio, fazendo a testagem do material de doadores. Os casos de contaminação começaram a vir à tona apenas após, no mês passado, um paciente que havia recebido um novo coração meses antes manifestar sintomas e descobrir-se a infecção pelo HIV. Depois de uma investigação, verificou-se que o exame emitido pelo PCS Lab Saleme antes do transplante havia indicado resultado negativo. No entanto, uma contraprova realizada pela SES-RJ com o material que fica armazenado no Hemorio identificou a presença do vírus. De acordo com informações do g1, duas pessoas que receberam um rim cada do mesmo doador também foram contaminadas. Já neste mês outro paciente foi diagnosticado com o HIV pós-transplante, e novamente o caso foi rastreado para um resultado incorreto do PCS Lab Saleme que havia indicado a ausência do HIV, enquanto a contraprova detectou o vírus. De acordo com a SES-RJ, o serviço no laboratório foi suspenso, e o PCS Lab Saleme foi interditado de imediatamente após a identificação do primeiro caso. A secretaria também está num processo de reavaliação de todas as amostras de sangue armazenadas dos outros 286 doadores a partir de dezembro de 2023, data da contratação do laboratório, para comprovar que não há infecção pelo HIV antes de novos transplantes. Resultados falso-negativos, em que o exame não consegue detectar o vírus, podem ocorrer, embora no caso do teste para HIV seja extremamente raro – a sensibilidade do exame é de quase 100%. Porém, de acordo com o g1, a Anvisa descobriu que o laboratório de Nova Iguaçu não tinha kits para realização de testes e também não apresentou documentos que comprovassem a compra dos itens, o que levanta a suspeita de fraude nos resultados. — Essa é uma enorme surpresa. Exames terem sido fraudados ou errados e permitido uma transmissão de HIV é um acontecimento sem precedentes na história do transplante brasileiro. Mas se aconteceu algo de errado, o Sistema de Transplantes e a Anvisa vão conseguir identificar e punir os responsáveis. Temos bastante segurança hoje em todo o sistema — avalia Ferraz Neto.
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