Como a indústria do Bitcoin fez uma aposta política de alto risco em Trump e agora comemora ganhando alto
Neste domingo, o ativo digital atingiu mais de US$ 80 mil pela primeira vez com otimismo sobre o republicano, que volta à Casa Branca em janeiro No último dia 5 de novembro, algumas dezenas de entusiastas de bitcoin, apoiadores do MAGA (Make America Great Again) de Donald Trump e curiosos locais se reuniram para acompanhar a apuração dos resultados das eleições presidenciais americanas no PubKey. Trata-se de um bar temático de Bitcoin no Greenwich Village, em Nova York, frequantado pelos fãs da criptomoeda. Um painel digital na parede mostrava o preço do Bitcoin, que ultrapassou US$ 73.000 à medida que surgiam notícias favoráveis à vitória do candidato republicano. Depois da meia-noite (hora local), a moeda digital chegou a bater US$ 75.005, um recorde. Neste domingo, o ativo digital superou a marca dos US$ 80 mil pela primeira vez. ‘Make Bitcoin Great Again’: Por que um recém-convertido Trump inflou o mercado cripto em R$ 1,2 trilhão em 24 horas Moeda digital: Como um taxista em El Salvador ficou rico com Bitcoin A contagem de votos também parecia cada vez melhor para Bernie Moreno, um republicano de Ohio que tentava desbancar o senador democrata Sherrod Brown, que havia pedido audiências sobre o uso de criptomoedas por terroristas. A campanha de Moreno tinha o apoio financeiro de US$ 40 milhões de empresas de moedas digitais. Às 22h30 (hora local), o organizador de um grupo de encontro sobre Bitcoin anunciou que as chances de vitória de Trump no site de apostas cripto Polymarket haviam chegado a 88%. — O Bitcoin está disparando, cara! — gritou. — Você deveria comprar antes que chegue a US$ 1 milhão. Tudo isso pareceria exagerado até recentemente. Os reguladores estavam em cima, e os preços dos tokens ainda não haviam se recuperado de uma queda que causou perdas de bilhões de dólares aos investidores. Sam Bankman-Fried, outrora o rosto da indústria, estava sendo julgado por fraude, e, até onde todos sabiam, a opinião de Trump sobre o Bitcoin era o que ele havia dito à Fox Business em 2021: uma “fraude”. Initial plugin text Mas, em setembro de 2023, com a reputação da indústria cripto em baixa, Brian Armstrong, o bilionário fundador da Coinbase, apresentou um plano para que as criptomoedas ganhassem poder em Washington. Três meses antes, a empresa de Armstrong havia sido processada pela SEC, o equivalente à Comissão de Valores Mobiliários nos EUA, que argumentou que grande parte das negociações que ocorriam lá há anos eram ilegais. A ação, juntamente com processos semelhantes contra outros grandes nomes, parecia ameaçar o futuro das criptomoedas. Pelo menos nos EUA. Cartão, Pix ou bitcoin? Cresce o número de estabelecimentos que aceitam pagamento em criptomedas; saiba como funciona Armstrong, falando na conferência Mainnet em Nova York, disse estar otimista de que a indústria poderia convencer o governo a instituir regras mais favoráveis. A chave, segundo ele, era o dinheiro. Para se tornar um jogador político real, o setor de cripto teria que aumentar suas doações exponencialmente, igualando-se ao que Wall Street ou as indústrias de petróleo e gás doam — pelo menos US$ 50 milhões por ano. — Precisamos ser realistas. Dinheiro move a agulha— disse Armstrong. Entusiasta de bitcoin acompanha a apuração dos votos no PubKey Bloomberg Ele anunciou que sua empresa doaria para um comitê de ação política chamado Fairshake e pediu ao restante da indústria que contribuísse. Ryan Selkis, então CEO da empresa de pesquisa Messari, também estava no palco e foi mais direto: — Estamos sendo superados em gastos pelos malditos soldadores de tubos de Ohio agora. A luta é aqui, e não temos escolha, porque é uma questão de sobrevivência. 'Bitmama': Influencer russa é investigada por fraude com criptomoedas após golpe de mais de R$ 130 milhões O apelo funcionou. Até o ciclo eleitoral de 2024, Armstrong já havia superado facilmente sua meta de arrecadação. Empresas de criptomoedas doaram mais de US$ 200 milhões para a Fairshake e grupos afiliados, lideradas pela Coinbase com US$ 75 milhões, tornando as criptomoedas a indústria que mais gastou em política. A Fairshake começou a distribuir esse dinheiro entre candidatos ao Congresso de ambos os partidos, assumindo o crédito por ajudar a derrotar os deputados Katie Porter e Jamaal Bowman em primárias democratas. Initial plugin text Embora a Fairshake tenha se mantido fora da corrida presidencial, outros executivos ricos do setor de criptomoedas — notavelmente os gêmeos Winklevoss e Jesse Powell, fundador da exchange Kraken — doaram pelo menos US$ 25 milhões para apoiar Donald Trump. E Trump logo passou a apoiar as criptomoedas. Em um discurso em uma convenção de Bitcoin em Nashville, em julho, ele disse que transformaria os EUA na “capital mundial das criptomoedas” e criaria um estoque estratégico nacional de Bitcoin. Ele prometeu demitir o presidente da SEC, Gary Gensler, e substituí-lo por alguém mais favorável à moeda virtual. — Se o Bitcoin está indo para a Lua, que
Neste domingo, o ativo digital atingiu mais de US$ 80 mil pela primeira vez com otimismo sobre o republicano, que volta à Casa Branca em janeiro No último dia 5 de novembro, algumas dezenas de entusiastas de bitcoin, apoiadores do MAGA (Make America Great Again) de Donald Trump e curiosos locais se reuniram para acompanhar a apuração dos resultados das eleições presidenciais americanas no PubKey. Trata-se de um bar temático de Bitcoin no Greenwich Village, em Nova York, frequantado pelos fãs da criptomoeda. Um painel digital na parede mostrava o preço do Bitcoin, que ultrapassou US$ 73.000 à medida que surgiam notícias favoráveis à vitória do candidato republicano. Depois da meia-noite (hora local), a moeda digital chegou a bater US$ 75.005, um recorde. Neste domingo, o ativo digital superou a marca dos US$ 80 mil pela primeira vez. ‘Make Bitcoin Great Again’: Por que um recém-convertido Trump inflou o mercado cripto em R$ 1,2 trilhão em 24 horas Moeda digital: Como um taxista em El Salvador ficou rico com Bitcoin A contagem de votos também parecia cada vez melhor para Bernie Moreno, um republicano de Ohio que tentava desbancar o senador democrata Sherrod Brown, que havia pedido audiências sobre o uso de criptomoedas por terroristas. A campanha de Moreno tinha o apoio financeiro de US$ 40 milhões de empresas de moedas digitais. Às 22h30 (hora local), o organizador de um grupo de encontro sobre Bitcoin anunciou que as chances de vitória de Trump no site de apostas cripto Polymarket haviam chegado a 88%. — O Bitcoin está disparando, cara! — gritou. — Você deveria comprar antes que chegue a US$ 1 milhão. Tudo isso pareceria exagerado até recentemente. Os reguladores estavam em cima, e os preços dos tokens ainda não haviam se recuperado de uma queda que causou perdas de bilhões de dólares aos investidores. Sam Bankman-Fried, outrora o rosto da indústria, estava sendo julgado por fraude, e, até onde todos sabiam, a opinião de Trump sobre o Bitcoin era o que ele havia dito à Fox Business em 2021: uma “fraude”. Initial plugin text Mas, em setembro de 2023, com a reputação da indústria cripto em baixa, Brian Armstrong, o bilionário fundador da Coinbase, apresentou um plano para que as criptomoedas ganhassem poder em Washington. Três meses antes, a empresa de Armstrong havia sido processada pela SEC, o equivalente à Comissão de Valores Mobiliários nos EUA, que argumentou que grande parte das negociações que ocorriam lá há anos eram ilegais. A ação, juntamente com processos semelhantes contra outros grandes nomes, parecia ameaçar o futuro das criptomoedas. Pelo menos nos EUA. Cartão, Pix ou bitcoin? Cresce o número de estabelecimentos que aceitam pagamento em criptomedas; saiba como funciona Armstrong, falando na conferência Mainnet em Nova York, disse estar otimista de que a indústria poderia convencer o governo a instituir regras mais favoráveis. A chave, segundo ele, era o dinheiro. Para se tornar um jogador político real, o setor de cripto teria que aumentar suas doações exponencialmente, igualando-se ao que Wall Street ou as indústrias de petróleo e gás doam — pelo menos US$ 50 milhões por ano. — Precisamos ser realistas. Dinheiro move a agulha— disse Armstrong. Entusiasta de bitcoin acompanha a apuração dos votos no PubKey Bloomberg Ele anunciou que sua empresa doaria para um comitê de ação política chamado Fairshake e pediu ao restante da indústria que contribuísse. Ryan Selkis, então CEO da empresa de pesquisa Messari, também estava no palco e foi mais direto: — Estamos sendo superados em gastos pelos malditos soldadores de tubos de Ohio agora. A luta é aqui, e não temos escolha, porque é uma questão de sobrevivência. 'Bitmama': Influencer russa é investigada por fraude com criptomoedas após golpe de mais de R$ 130 milhões O apelo funcionou. Até o ciclo eleitoral de 2024, Armstrong já havia superado facilmente sua meta de arrecadação. Empresas de criptomoedas doaram mais de US$ 200 milhões para a Fairshake e grupos afiliados, lideradas pela Coinbase com US$ 75 milhões, tornando as criptomoedas a indústria que mais gastou em política. A Fairshake começou a distribuir esse dinheiro entre candidatos ao Congresso de ambos os partidos, assumindo o crédito por ajudar a derrotar os deputados Katie Porter e Jamaal Bowman em primárias democratas. Initial plugin text Embora a Fairshake tenha se mantido fora da corrida presidencial, outros executivos ricos do setor de criptomoedas — notavelmente os gêmeos Winklevoss e Jesse Powell, fundador da exchange Kraken — doaram pelo menos US$ 25 milhões para apoiar Donald Trump. E Trump logo passou a apoiar as criptomoedas. Em um discurso em uma convenção de Bitcoin em Nashville, em julho, ele disse que transformaria os EUA na “capital mundial das criptomoedas” e criaria um estoque estratégico nacional de Bitcoin. Ele prometeu demitir o presidente da SEC, Gary Gensler, e substituí-lo por alguém mais favorável à moeda virtual. — Se o Bitcoin está indo para a Lua, quero que a América seja a nação que lidera o caminho. — disse Trump. Cassinos de criptomoedas na mira da SEC Pode parecer estranho que uma indústria que começou como uma rebelião contra o controle governamental aposte seu futuro em políticos. Mas, nos 15 anos desde que o primeiro bitcoin foi minerado, o único uso das criptomoedas que encontrou apelo generalizado foi a negociação em exchanges — em outras palavras, usar dinheiro real para especular nos preços de moedas inventadas. Traços de personalidade sombrios: Proprietários de criptomoedas têm mais probabilidade de ter traços psicopáticos, diz estudo Uma das moedas de maior sucesso na recente ressurreição das criptos foi a "dogwifhat", uma imitação de Dogecoin cujo logotipo é um cachorro usando um gorro. Seu valor de mercado é de cerca de US$ 2 bilhões. Esses cassinos de criptomoedas são extremamente lucrativos, e a SEC quer essencialmente fechá-los. Entusiasta de bitcoin em noite no PubKey usando um botom com a logo da criptomoeda Bloomberg Os detalhes dos casos da SEC são técnicos. Mas imagine que estamos falando de jogos de azar tradicionais. Basicamente, a comissão quer restringir as apostas a alguns hipódromos, com rigoroso controle de doping para os cavalos de corrida, digamos. A indústria de criptomoedas quer que o campo seja tão aberto que as pessoas possam apostar suas residências em rinhas de galo na Nicarágua transmitidas ao vivo e usar ações dos galos vencedores para pagar café no Starbucks. Que combinação é essa? Besouros e criptomoedas viram solução para o manejo do lixo na Colômbia. Entenda Claro, não é assim que os defensores das criptos descreveriam isso. Eles chamam as criptomoedas de “inovação americana” e falam sobre como vão oferecer liberdade financeira às pessoas. Os anúncios políticos financiados pela indústria nem mencionam criptomoedas. Os anúncios da Fairshake em apoio a Moreno diziam que ele impediria “imigrantes ilegais de usarem os dólares dos impostos de Ohio.” Criptomoedas na campanha eleitoral Quando a eleição chegou, parecia que a estratégia cínica do setor de criptomoedas estava funcionando. A candidata democrata, Kamala Harris, começou a fazer acenos à indústria, embora de forma confusa, incluindo a regulamentação de criptomoedas em sua agenda de apoio aos homens negros. Trump até começou a promover sua própria criptomoeda, a World Liberty Financial, depois que seus filhos receberam a ideia de um guru de enriquecimento rápido que certa vez se autodenominou "o cafajeste da internet". Embora a indústria de criptomoedas visse a moeda de Trump com ceticismo, alguns partidários disseram que isso criava um conflito de interesses útil, tornando mais provável que o ex-presidente seguisse em frente e garantisse uma regulamentação favorável às criptos, caso vencesse. Na noite da eleição no PubKey, dois vendedores na casa dos 30, usando bonés MAGA, rolavam a timeline do X e provocavam um repórter, dizendo que ele seria um dos primeiros deportados por Trump após a vitória. Detalhe: os dois fizeram questão de guardar os bonés na mochila antes de saírem para a rua. Com Trump: Fortuna dos 10 mais ricos do mundo sobe US$ 64 bi em um único dia, um recorde Um diretor de conformidade de 74 anos, com um broche vintage escrito "Queremos Kennedy de novo", falou sobre o iminente colapso do dólar, dizendo que foi um erro usar o sistema bancário americano para congelar os ativos russos após a invasão da Ucrânia por Vladimir Putin. — Se o dinheiro pode ser invalidado por seu criador, por definição, nunca foi dinheiro de verdade — disse. Resultado das eleições nos EUA foi acompanhado por entusiastas do bitcoin no PubKey Bloomberg Acompanhando ao vivo Na sala dos fundos, os clientes assistiam a uma transmissão ao vivo dos resultados feita pela Bitcoin Magazine. Outros verificavam as probabilidades no Polymarket. O dono do bar me disse que o PubKey não era um bar pró-Trump, mas quase todos os presentes disseram ter votado nele. O próprio Trump havia passado no bar em setembro e usou Bitcoin para pagar uma pilha de cheeseburgueres, embora tivesse que passar o celular para um funcionário do bar concluir a transação. Um homem de 33 anos, de óculos, que só dava seu nome no X, Normies in Shambles, disse que a prometida reserva estratégica de Bitcoin de Trump iniciaria uma corrida internacional de compras: — Será como a corrida espacial. Outros países tentarão acumular o máximo possível. Entenda: Por que Pelotas, no Rio Grande do Sul, tem potencial para dobrar as reservas de petróleo do Brasil? Por volta das 23h15, o CEO da Bitcoin Magazine, David Bailey, a quem Trump atribuiu sua conversão ao Bitcoin, apareceu na transmissão ao vivo para declarar a vitória do republicano. Ele estava na festa de Trump em West Palm Beach, na Flórida, usando um boné vermelho com os dizeres 'Make Bitcoin Great Again'. — Poderemos levar a visão que tínhamos para o Bitcoin e implementá-la no mundo real — disse Bailey. —Não poderia estar mais empolgado com o início da presidência laranja e o nascimento do partido laranja. Bailey se referia ao logotipo laranja do Bitcoin, não ao tom ocre da pele de Trump. O esforço de lobby da Fairshake também deu frutos. Seu principal alvo, o senador Brown de Ohio, perdeu sua cadeira, e o Senado passou para o controle republicano, abrindo caminho para o membro do Partido Republicano Tim Scott, pró-cripto, liderar o comitê bancário. A Fairshake e grupos afiliados gastaram US$ 135 milhões, e até quinta-feira, 47 dos 56 candidatos apoiados por eles haviam vencido suas corridas. Criptos representam 15% dos gastos corporativos Segundo a organização sem fins lucrativos Public Citizen, as criptomoedas já representam mais de 15% de todos os gastos corporativos conhecidos desde 2010, perdendo apenas para a indústria de petróleo e gás. A Fairshake diz que já garantiu US$ 78 milhões para as eleições de meio de mandato de 2026. As principais prioridades da indústria parecem prestes a ser realizadas. Os favoritos para substituir Gensler na SEC incluem o principal advogado de uma corretora amigável às criptos. E parece provável que alguns democratas no Congresso que se opuseram à legislação apoiada pela indústria comecem a ceder. — A quantidade de dinheiro que as criptos colocaram nesta eleição vai ser um grande alerta para os democratas não comprarem essa briga — afirma diz Rohan Grey, professor de direito na Universidade Willamette que trabalhou com o partido para desenvolver regulamentações para criptomoedas. — Não há muito o que ganhar com isso. As criptomoedas se mostraram um grupo de interesse praticamente perfeito para uma era de gastos corporativos ilimitados. Para garantir doações da indústria do petróleo, um político pode ter que desafiar protestos populares para apoiar um polêmico oleoduto ou perfurações em um refúgio de vida selvagem. Mas não há oposição organizada contra as criptos, que a maioria das pessoas ainda considera um mistério. No PubKey, na noite da eleição, um gerente de produto de 33 anos me disse que gostava de Bitcoin, embora não soubesse explicá-lo. — Não acho que alguém consiga — disse seu amigo, que afirmou ter obtido retornos quase dez vezes maiores comprando bitcoin. —Talvez isso se torne um padrão ouro digital — disse o gerente de produto. Seu amigo não via dessa forma. — É uma aposta — ele respondeu.
Qual é a sua reação?