Censo: Paraisópolis ganha 16 mil novos moradores enquanto ainda sofre com problemas básicos
Novos dados do IBGE colocam a comunidade como a maior de São Paulo; insegurança alimentar e falta de saneamento seguem parte do cotidiano da favela Paraisópolis é, segundo o IBGE, a favela mais populosa de São Paulo e a terceira pelo mesmo critério no Brasil. Com 58.527 residentes no Censo de 2022, em dados divulgados nesta sexta-feira (8), a comunidade, que cresceu no entorno de um dos bairros-símbolo da elite paulistana, ganhou 16 mil novos moradores na comparação com os dados de 2010, quando tinha 42.826 habitantes. A favela, que começou a se formar na década de 1960, assiste a um crescimento populacional contínuo enquanto ainda sofre com problemas de infraestrutura. Moradores relatam falta saneamento básico, moradias precárias em áreas sujeitas a enchentes e insegurança alimentar. A região recebeu os primeiros moradores na década de 1950, com chácaras voltadas à criação de gado de famílias japonesas. Nas décadas seguintes, a área experimentou um aumento populacional acelerado, impulsionado pelas oportunidades na construção civil. Projetos emblemáticos como a construção do Estádio do Morumbi, do Hospital Albert Einstein e do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo de São Paulo, contribuíram para transformar a paisagem local e atrair novas famílias para a região. Houve também o impulso do mercado imobiliário no Morumbi, entre 1960 e 1990, quando vieram as mansões e os edifícios residenciais de alto padrão, transformando a paisagem de avenidas como a Giovanni Gronchi. — Meu pai trabalhou em obras na Giovanni, em vários prédios da construção civil. Eu trabalhei no clube do São Paulo, vendendo sorvete nas obras, catando reciclagem — conta Valdemir José Trindade, de 43 anos, produtor cultural conhecido no pedaço como Guga Brown, que nasceu e cresceu em Paraisópolis. — Antigamente, Paraisópolis era muito barro. Lembro da minha mãe dormir na fila (da matrícula) para conseguir me colocar em uma escola. Hoje, é diferente. Temos escolas, hospital, UBS, AMAs. Meu filho ficou doente ontem. Se fosse no tempo da minha mãe, teria que levar ele até o Campo Limpo ou Santo Amaro, mas hoje tem AMA pertinho — diz Jaqueline Amorim, de 28 anos, coordenadora da Agrofavela Refazenda, uma ONG que distribui mensalmente 2 mil pés de verduras e hortaliças pela região e oferece cursos de agroecologia gratuitos para os moradores. Dados do Censo apontam que o estado de São Paulo tem 3,6 milhões de pessoas morando em favelas e comunidades. O número representa um aumento de 915 mil pessoas em relação a 2010, quando o estado registrou 2,7 milhões de habitantes nesses territórios populares. São Paulo é disparado o estado com maior quantidade de favelas: são 3.123 localidades mapeadas pelo Censo. O número é quase o dobro das comunidades encontradas no Rio de Janeiro, que tem 1.724 favelas. Pernambuco aparece em terceiro lugar, com 849 comunidades. Juntos, os três estados somam 46,1% do total de comunidades do Brasil. Como nos últimos anos, a Rocinha, no Rio de Janeiro, foi apontada como a comunidade mais populosa (72.021 moradores), seguida por Sol Nascente, em Brasília, com 70.908 habitantes. Heliópolis, também na capital paulista, ficou em sexto, com 55.583 moradores. Segundo dados do Instituto Favela Diz, que ouviu 2.000 pessoas em um levantamento realizado entre junho e julho deste ano em Paraisópolis e Heliópolis, 63,7% dos moradores de Paraisópolis têm renda familiar de até R$ 2.800. Da população economicamente ativa da comunidade (cerca de 60%), 50% trabalha com carteira assinada, 27% são autônomos e 12% vivem de bicos. Por ali, 84% relatam ter acesso a internet. Na comunidade paulistana, uma das áreas mais vulneráveis é a do entorno do Córrego Antonico, que corta a favela e passa por baixo do Estádio do Morumbi. O curso d'água, em épocas de chuvas de alto volume, causa alagamentos tanto na área mais pobre quanto no estádio e no clube social do São Paulo Futebol Clube. — Hoje temos CEP e endereço. Mas ainda temos duas Paraisópolis: a que tem muito comércio, grandes redes de lojas, e a área que ainda carece de saneamento e infraestrutura, a do Córrego Antonico — diz Guga Brown. Obras de saneamento básico e de canalização do córrego, a construção de um piscinão e um reservatório estão em curso em uma parceria da prefeitura e o governo estadual. Os investimentos, que contam com aportes de cerca de R$ 500 milhões por parte das duas administrações, incluem também a realocação de famílias que moram em áreas de vulnerabilidade. As intervenções devem durar ao menos até 2026. Os dados do Censo divulgados nesta quarta apontam que 88% das moradias do local contam com conexão à rede de esgoto e 99% são abastecidos pela rede de água. Existem, na área, 22.861 domicílios, 14 estabelecimentos de ensino e 20 de saúde. 55% dos moradores são pardos, 30% são brancos e 13%, pretos. — A comunidade está mais urbanizada e estamos perto de estações de metrô e de trem. Existe ainda uma migração grande, em especial de pessoas do nordeste e (a fave
Novos dados do IBGE colocam a comunidade como a maior de São Paulo; insegurança alimentar e falta de saneamento seguem parte do cotidiano da favela Paraisópolis é, segundo o IBGE, a favela mais populosa de São Paulo e a terceira pelo mesmo critério no Brasil. Com 58.527 residentes no Censo de 2022, em dados divulgados nesta sexta-feira (8), a comunidade, que cresceu no entorno de um dos bairros-símbolo da elite paulistana, ganhou 16 mil novos moradores na comparação com os dados de 2010, quando tinha 42.826 habitantes. A favela, que começou a se formar na década de 1960, assiste a um crescimento populacional contínuo enquanto ainda sofre com problemas de infraestrutura. Moradores relatam falta saneamento básico, moradias precárias em áreas sujeitas a enchentes e insegurança alimentar. A região recebeu os primeiros moradores na década de 1950, com chácaras voltadas à criação de gado de famílias japonesas. Nas décadas seguintes, a área experimentou um aumento populacional acelerado, impulsionado pelas oportunidades na construção civil. Projetos emblemáticos como a construção do Estádio do Morumbi, do Hospital Albert Einstein e do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo de São Paulo, contribuíram para transformar a paisagem local e atrair novas famílias para a região. Houve também o impulso do mercado imobiliário no Morumbi, entre 1960 e 1990, quando vieram as mansões e os edifícios residenciais de alto padrão, transformando a paisagem de avenidas como a Giovanni Gronchi. — Meu pai trabalhou em obras na Giovanni, em vários prédios da construção civil. Eu trabalhei no clube do São Paulo, vendendo sorvete nas obras, catando reciclagem — conta Valdemir José Trindade, de 43 anos, produtor cultural conhecido no pedaço como Guga Brown, que nasceu e cresceu em Paraisópolis. — Antigamente, Paraisópolis era muito barro. Lembro da minha mãe dormir na fila (da matrícula) para conseguir me colocar em uma escola. Hoje, é diferente. Temos escolas, hospital, UBS, AMAs. Meu filho ficou doente ontem. Se fosse no tempo da minha mãe, teria que levar ele até o Campo Limpo ou Santo Amaro, mas hoje tem AMA pertinho — diz Jaqueline Amorim, de 28 anos, coordenadora da Agrofavela Refazenda, uma ONG que distribui mensalmente 2 mil pés de verduras e hortaliças pela região e oferece cursos de agroecologia gratuitos para os moradores. Dados do Censo apontam que o estado de São Paulo tem 3,6 milhões de pessoas morando em favelas e comunidades. O número representa um aumento de 915 mil pessoas em relação a 2010, quando o estado registrou 2,7 milhões de habitantes nesses territórios populares. São Paulo é disparado o estado com maior quantidade de favelas: são 3.123 localidades mapeadas pelo Censo. O número é quase o dobro das comunidades encontradas no Rio de Janeiro, que tem 1.724 favelas. Pernambuco aparece em terceiro lugar, com 849 comunidades. Juntos, os três estados somam 46,1% do total de comunidades do Brasil. Como nos últimos anos, a Rocinha, no Rio de Janeiro, foi apontada como a comunidade mais populosa (72.021 moradores), seguida por Sol Nascente, em Brasília, com 70.908 habitantes. Heliópolis, também na capital paulista, ficou em sexto, com 55.583 moradores. Segundo dados do Instituto Favela Diz, que ouviu 2.000 pessoas em um levantamento realizado entre junho e julho deste ano em Paraisópolis e Heliópolis, 63,7% dos moradores de Paraisópolis têm renda familiar de até R$ 2.800. Da população economicamente ativa da comunidade (cerca de 60%), 50% trabalha com carteira assinada, 27% são autônomos e 12% vivem de bicos. Por ali, 84% relatam ter acesso a internet. Na comunidade paulistana, uma das áreas mais vulneráveis é a do entorno do Córrego Antonico, que corta a favela e passa por baixo do Estádio do Morumbi. O curso d'água, em épocas de chuvas de alto volume, causa alagamentos tanto na área mais pobre quanto no estádio e no clube social do São Paulo Futebol Clube. — Hoje temos CEP e endereço. Mas ainda temos duas Paraisópolis: a que tem muito comércio, grandes redes de lojas, e a área que ainda carece de saneamento e infraestrutura, a do Córrego Antonico — diz Guga Brown. Obras de saneamento básico e de canalização do córrego, a construção de um piscinão e um reservatório estão em curso em uma parceria da prefeitura e o governo estadual. Os investimentos, que contam com aportes de cerca de R$ 500 milhões por parte das duas administrações, incluem também a realocação de famílias que moram em áreas de vulnerabilidade. As intervenções devem durar ao menos até 2026. Os dados do Censo divulgados nesta quarta apontam que 88% das moradias do local contam com conexão à rede de esgoto e 99% são abastecidos pela rede de água. Existem, na área, 22.861 domicílios, 14 estabelecimentos de ensino e 20 de saúde. 55% dos moradores são pardos, 30% são brancos e 13%, pretos. — A comunidade está mais urbanizada e estamos perto de estações de metrô e de trem. Existe ainda uma migração grande, em especial de pessoas do nordeste e (a favela) segue crescendo — diz o presidente da ONG Ação Gueto, Gabriel Finamore. O jovem de 28 anos é formado em Relações Públicas e coordena a instituição, que apoia mensalmente 350 mães solteiras em situação de vulnerabilidade, com doações para garantir a alimentação das famílias. — Agora a comunidade também está subindo para cima — diz a pedagoga Mirela Duarte, de 37 anos, que chegou no bairro em 2009 e vive em uma das ruas com farta oferta de serviços no pedaço, a Pasquale Gallupi. A paisagem da favela em ruas como a de Mirela vem se modificando: sobrados de dois ou mais andares são vendidos por ali em valores que chegam a R$ 150.000.
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