Câncer de próstata: evolução no tratamento e acesso caminham juntos?

Cirurgia robótica da doença se sofisticou e reduziu complicações pós-operatórias Com mais de 1,4 milhão de novos casos por ano, o câncer de próstata é o segundo mais incidente nos homens de todo o mundo. A doença é também uma das maiores causas de óbitos relacionados ao câncer, e a projeção da Organização Mundial da Saúde é que iniciemos a próxima década com um aumento de 20% na taxa de mortalidade anual. Números que poderiam estar caminhando em outro sentido, pois é evidente a evolução no tratamento, em todos os pilares. Estamos em uma era de cirurgia minimamente invasiva, incluindo a videolaparoscopia e robótica; inovadoras terapias hormonais, quimioterapias, terapias direcionadas e imunoterapia e radioterapia agindo diretamente no tumor, com doses moduladas para cada paciente, preservando as células saudáveis. Porém, o acesso dos pacientes a esses avanços é limitado. Antes dessa evolução, a abordagem era estritamente cirúrgica, com uma técnica chamada prostatectomia perineal e retropúbica, que em outras palavras significa a retirada de toda a próstata e dos linfonodos próximos à glândula. Porém, extensa e mutiladora, ocasionava frequentes quadros graves de incontinência urinária e disfunção erétil. Testou-se, então, a radioterapia como alternativa. Em sua forma convencional, a radioterapia de feixe externo até destruía as células cancerígenas, porém a precisão não era o seu forte e havia elevado risco de complicações. Conforme o conhecimento científico foi trazendo inovações para a medicina, com grande destaque para a oncologia, houve importantes avanços no tratamento voltado para os pacientes com câncer de próstata, especialmente nos últimos anos. Com a cirurgia minimamente invasiva, incluindo a robótica, o tratamento com intenção curativa se tornou mais efetivo, além de propiciar menos sangramentos, mais rápida recuperação de continência urinária e outras funções, além de menor tempo de internação. A cirurgia, portanto, evoluiu dos procedimentos que exigiam grandes cortes para técnicas que utilizam pequenos furos. E o próximo passo é do single-port (portal único), no qual os robôs deixam de ter três ou quatro braços em diferentes furos inseridos no paciente para haver apenas um orifício. No Brasil já foram realizadas mais de 100 mil cirurgias robóticas desde 2008. São mais de cem serviços, e a boa notícia é que a técnica não é mais restrita ao Sudeste, havendo robôs nas outras quatro regiões, incluindo municípios do interior. No SUS, o acesso é restrito a instituições como Hospital do Câncer, de Barretos; o Instituto Nacional do Câncer, no Rio de Janeiro; o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo; o Hospital das Clínicas, em Porto Alegre, entre outros. Infelizmente a utilização ainda não é ampla e irrestrita, porque, embora já comprovadamente custo-efetiva, é uma tecnologia cara e não está aprovada pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec). Por isso, o acesso se dá por centros formadores ou universitários. Avanços significativos também ocorreram na radioterapia, com a técnica de intensidade modulada (IMRT) sendo incorporada no rol de procedimentos da ANS. O procedimento pode ser também realizado no SUS, mas o modelo engessado de repasse é um limitador para que a técnica mais moderna seja oferecida ao paciente. A Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT) alerta que, na prática, o serviço que oferece a técnica mais antiga recebe o mesmo valor daquele que trata o paciente com tecnologia mais recente. Em outro pilar, do tratamento medicamento, o acesso no SUS às terapias-alvo e imunoterapias também é limitado. As inclusões mais recentes em câncer de próstata pela Conitec, de setembro de 2024, são do abiraterona como tratamento único ou associado ao docetaxel para pacientes com câncer de próstata sensível à castração e metastático ou o próprio abiraterona associado à terapia de privação androgênica.

Nov 23, 2024 - 06:12
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Câncer de próstata: evolução no tratamento e acesso caminham juntos?

Cirurgia robótica da doença se sofisticou e reduziu complicações pós-operatórias Com mais de 1,4 milhão de novos casos por ano, o câncer de próstata é o segundo mais incidente nos homens de todo o mundo. A doença é também uma das maiores causas de óbitos relacionados ao câncer, e a projeção da Organização Mundial da Saúde é que iniciemos a próxima década com um aumento de 20% na taxa de mortalidade anual. Números que poderiam estar caminhando em outro sentido, pois é evidente a evolução no tratamento, em todos os pilares. Estamos em uma era de cirurgia minimamente invasiva, incluindo a videolaparoscopia e robótica; inovadoras terapias hormonais, quimioterapias, terapias direcionadas e imunoterapia e radioterapia agindo diretamente no tumor, com doses moduladas para cada paciente, preservando as células saudáveis. Porém, o acesso dos pacientes a esses avanços é limitado. Antes dessa evolução, a abordagem era estritamente cirúrgica, com uma técnica chamada prostatectomia perineal e retropúbica, que em outras palavras significa a retirada de toda a próstata e dos linfonodos próximos à glândula. Porém, extensa e mutiladora, ocasionava frequentes quadros graves de incontinência urinária e disfunção erétil. Testou-se, então, a radioterapia como alternativa. Em sua forma convencional, a radioterapia de feixe externo até destruía as células cancerígenas, porém a precisão não era o seu forte e havia elevado risco de complicações. Conforme o conhecimento científico foi trazendo inovações para a medicina, com grande destaque para a oncologia, houve importantes avanços no tratamento voltado para os pacientes com câncer de próstata, especialmente nos últimos anos. Com a cirurgia minimamente invasiva, incluindo a robótica, o tratamento com intenção curativa se tornou mais efetivo, além de propiciar menos sangramentos, mais rápida recuperação de continência urinária e outras funções, além de menor tempo de internação. A cirurgia, portanto, evoluiu dos procedimentos que exigiam grandes cortes para técnicas que utilizam pequenos furos. E o próximo passo é do single-port (portal único), no qual os robôs deixam de ter três ou quatro braços em diferentes furos inseridos no paciente para haver apenas um orifício. No Brasil já foram realizadas mais de 100 mil cirurgias robóticas desde 2008. São mais de cem serviços, e a boa notícia é que a técnica não é mais restrita ao Sudeste, havendo robôs nas outras quatro regiões, incluindo municípios do interior. No SUS, o acesso é restrito a instituições como Hospital do Câncer, de Barretos; o Instituto Nacional do Câncer, no Rio de Janeiro; o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo; o Hospital das Clínicas, em Porto Alegre, entre outros. Infelizmente a utilização ainda não é ampla e irrestrita, porque, embora já comprovadamente custo-efetiva, é uma tecnologia cara e não está aprovada pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec). Por isso, o acesso se dá por centros formadores ou universitários. Avanços significativos também ocorreram na radioterapia, com a técnica de intensidade modulada (IMRT) sendo incorporada no rol de procedimentos da ANS. O procedimento pode ser também realizado no SUS, mas o modelo engessado de repasse é um limitador para que a técnica mais moderna seja oferecida ao paciente. A Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT) alerta que, na prática, o serviço que oferece a técnica mais antiga recebe o mesmo valor daquele que trata o paciente com tecnologia mais recente. Em outro pilar, do tratamento medicamento, o acesso no SUS às terapias-alvo e imunoterapias também é limitado. As inclusões mais recentes em câncer de próstata pela Conitec, de setembro de 2024, são do abiraterona como tratamento único ou associado ao docetaxel para pacientes com câncer de próstata sensível à castração e metastático ou o próprio abiraterona associado à terapia de privação androgênica.

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