Bastidor da delação: Gritzbach decidiu entregar PCC e policiais sem aval do advogado

Segundo Aristides Zacarelli, responsável pela defesa, o próprio empresário procurou o Ministério Público para propor um acordo de colaboração premiada O empresário Vinícius Gritzbach, executado com 29 tiros na última sexta-feira no Aeroporto Internacional de Guarulhos, procurou por conta própria promotores do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado de São Paulo (Gaeco), do Ministério Público, para anunciar a intenção de delatar integrantes do Primeiro Comando do Capital (PCC) e policiais civis do estado. Segundo Aristides Zacarelli, terceiro advogado de Gritzbach, o empresário procurou o MP para tratar de uma proposta de delação sem comunicar sua defesa. Zacarelli ficou sabendo da intenção do cliente pela Promotoria. — Ele quis fazer a delação. Falei: ‘cara, como é que você procura o Ministério Público e não me avisa? Porque eu estou preparando a tua defesa para lavagem’. Fiquei P. da vida com ele. Na minha cabeça, tinha elementos para fazer a defesa. Mas, enfim, é a opção do cliente. Qualquer estratégia tem ônus e bônus, está certo certo? E o ônus está aí — lamentou Zacarelli. Em abril, Gritzbach assinou uma proposta de acordo de delação premiada com o Ministério Público de São Paulo para entregar membros da facção por lavagem de dinheiro e participação em organização criminosa. O GLOBO teve acesso à íntegra do documento, mas não à delação em si, que está sob sigilo. Na proposta de delação, o empresário afirma ter informações que comprometem três membros do PCC: Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta; Cláudio Marcos de Almeida, o Django; e Silvio Luiz Ferreira, o Cebola. Dentre eles, o único integrante do PCC vivo é Cebola. Além disso, Gritzbach se propôs a apresentar informações referentes à prática de atos de corrupção policial envolvendo delegados do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Departamento Estadual de Investigações Criminais (DEIC) e 24º Distrito Policial da Capital. As condutas apuradas seriam de concussão, corrupção passiva e associação criminosa, segundo o documento. Em entrevista ao programa Domingo Espetacular, da TV Record, em fevereiro deste ano, Gritzbach afirmou que decidiu quebrar o silêncio em busca de justiça. — Da mesma forma que, se eu cometi um crime, quero ser julgado, processado, também quero que, se eles [policiais] cometeram crimes, que venham pagar por isso. Por que a polícia não investiga a evolução patrimonial deles? Como um policial pode ter helicóptero? Como vai trabalhar de carro blindado e faz viagens? — questionou. Não foi a primeira vez que o empresário tentou firmar um acordo de colaboração premiada com o MP. Em 2022, a antiga defesa de Gritzbach peticionou requerendo uma delação. Segundo o GLOBO apurou com a Promotoria, houve quebra no termo de confidencialidade por parte da defesa. Isso impediu o prosseguimento das tratativas.

Nov 12, 2024 - 13:04
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Bastidor da delação: Gritzbach decidiu entregar PCC e policiais sem aval do advogado

Segundo Aristides Zacarelli, responsável pela defesa, o próprio empresário procurou o Ministério Público para propor um acordo de colaboração premiada O empresário Vinícius Gritzbach, executado com 29 tiros na última sexta-feira no Aeroporto Internacional de Guarulhos, procurou por conta própria promotores do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado de São Paulo (Gaeco), do Ministério Público, para anunciar a intenção de delatar integrantes do Primeiro Comando do Capital (PCC) e policiais civis do estado. Segundo Aristides Zacarelli, terceiro advogado de Gritzbach, o empresário procurou o MP para tratar de uma proposta de delação sem comunicar sua defesa. Zacarelli ficou sabendo da intenção do cliente pela Promotoria. — Ele quis fazer a delação. Falei: ‘cara, como é que você procura o Ministério Público e não me avisa? Porque eu estou preparando a tua defesa para lavagem’. Fiquei P. da vida com ele. Na minha cabeça, tinha elementos para fazer a defesa. Mas, enfim, é a opção do cliente. Qualquer estratégia tem ônus e bônus, está certo certo? E o ônus está aí — lamentou Zacarelli. Em abril, Gritzbach assinou uma proposta de acordo de delação premiada com o Ministério Público de São Paulo para entregar membros da facção por lavagem de dinheiro e participação em organização criminosa. O GLOBO teve acesso à íntegra do documento, mas não à delação em si, que está sob sigilo. Na proposta de delação, o empresário afirma ter informações que comprometem três membros do PCC: Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta; Cláudio Marcos de Almeida, o Django; e Silvio Luiz Ferreira, o Cebola. Dentre eles, o único integrante do PCC vivo é Cebola. Além disso, Gritzbach se propôs a apresentar informações referentes à prática de atos de corrupção policial envolvendo delegados do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Departamento Estadual de Investigações Criminais (DEIC) e 24º Distrito Policial da Capital. As condutas apuradas seriam de concussão, corrupção passiva e associação criminosa, segundo o documento. Em entrevista ao programa Domingo Espetacular, da TV Record, em fevereiro deste ano, Gritzbach afirmou que decidiu quebrar o silêncio em busca de justiça. — Da mesma forma que, se eu cometi um crime, quero ser julgado, processado, também quero que, se eles [policiais] cometeram crimes, que venham pagar por isso. Por que a polícia não investiga a evolução patrimonial deles? Como um policial pode ter helicóptero? Como vai trabalhar de carro blindado e faz viagens? — questionou. Não foi a primeira vez que o empresário tentou firmar um acordo de colaboração premiada com o MP. Em 2022, a antiga defesa de Gritzbach peticionou requerendo uma delação. Segundo o GLOBO apurou com a Promotoria, houve quebra no termo de confidencialidade por parte da defesa. Isso impediu o prosseguimento das tratativas.

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