Análise: Suspensão do X no Brasil envolveu operação contra vazamento de informações, cobrança de Moraes e derrota de Musk
Recuo da plataforma foi um avanço na discussão dos limites da atuação das redes sociais no Brasil No livro “Elon Musk”, o jornalista Walter Isaacson define o bilionário dono do X como alguém que, apesar de ser um lutador, tem uma “capacidade inesperada de ser realista na derrota”. O empresário, que aprendeu a dar e levar bofetadas na adolescência num acampamento na selva africana, chamou para o ringue o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Disse que, em nome da liberdade, iria descumprir a determinação judicial de apagar os perfis da plataforma que faziam ataques a delegados da Polícia Federal. Falou mais: iria fechar as portas do escritório da empresa no Brasil. Desbloqueado: Moraes determina volta do X ao ar no Brasil após mais de um mês de suspensão X volta ao ar no Brasil: entenda como funciona o desbloqueio determinado por Moraes A bravata durou pouco. Quando viu a sua rede social ser suspensa no Brasil por determinação de Moraes — e sofrer um êxodo dos 21,5 milhões de usuários no sexto maior mercado da companhia no mundo —, o dono do X decidiu recuar. Moveu mundos e fundos para quitar as multas de R$ 28,6 milhões com a Corte. Tentou, sem sucesso, desbloquear a plataforma às vésperas das eleições municipais. Entre idas e vindas, o antigo Twitter só voltou a funcionar no país 39 dias após ficar suspenso no Brasil. Antes de decidir bloquear o X no Brasil, Moraes consultou a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) sobre a viabilidade de tirar a plataforma do ar de forma célere. A ideia inicial era que as operadoras fossem alertadas com antecedência para deixar tudo engatilhado para derrubar a rede social de Musk num piscar de olhos. Diante da possibilidade de a operação vazar, já que há cerca de 20 mil provedores de norte a sul do país, ficou combinado que apenas as três maiores companhias telefônicas seriam avisadas previamente, de forma reservada. Tão logo proferida a decisão do magistrado, foi questão de tempo para o X sair do ar. Inconformado, Musk esbravejou, postou uma montagem de Moraes atrás das grades e tentou driblar a decisão do ministro do STF. O bilionário migrou os servidores do X para o Cloudflare, uma empresa que hospeda grandes sites, e destravou a plataforma no Brasil. A manobra irritou Moraes, que ligou logo de manhã para o presidente da Anatel, Carlos Baigorri, cobrando uma explicação. Àquela altura, se o X não fosse bloqueado novamente, uma decisão judicial poderia tirar do ar os serviços da Cloudflare no Brasil, o que causaria um enorme impacto em sistemas do setor público e de grandes companhias. Esse alerta surgiu durante o contato do presidente da Anatel com um executivo da Cloudflare nos Estados Unidos, que decidiu colaborar e passar o novo endereço de IP (sigla em inglês para "protocolo de internet”) usado pela plataforma de Musk para driblar a restrição imposta pelo STF. Após essa brecha ser tampada, a rede social do bilionário voltou a ser suspensa e multada no país. Para garantir o pagamento da punições, Moraes colocou a Starlink, operadora de rede de satélites de Musk, na condição de fiadora das dívidas do X no Brasil. A decisão gerou controvérsia, pois a composição acionária das duas companhias é diferente. Sem alternativas, o bilionário decidiu dar o braço a torcer — topou excluir perfis de suas redes, indicou uma representante do X no Brasil, pagou todas as multas e abriu mão dos recursos nas ações em trâmite no STF. Só que, na hora de acertar as contas, o X depositou o valor das multas no banco errado, segundo Moraes. Isso adiou os planos da plataforma de Musk de voltar a todo vapor antes do primeiro turno das eleições municipais. Após quitar as pendências e a Procuradoria-Geral da República opinar pelo restabelecimento do sinal da rede social no Brasil, o ministro do STF decidiu nesta terça-feira desbloquear o sinal do antigo Twitter no país. O recuo de Musk foi um avanço na discussão dos limites da atuação das redes sociais no Brasil. Durante as invasões às sedes do Três Poderes em 8 de janeiro, algumas plataformas transmitiram em tempo real os ataques à democracia, estimulando e monetizando o algoritmo da barbárie. A falta de responsabilização abriu uma brecha para o populismo digital extremista mover as engrenagens da desinformação. Ao enquadrar o X, o STF estancou a sensação de que o poder econômico do dono da plataforma gozava de imunidade perante os tribunais. Mais uma vez, Musk teve de ser realista na derrota — e obedecer à legislação brasileira. Agora, caberá ao bilionário seguir dentro das quatro linhas da Constituição no segundo turno das eleições.
Recuo da plataforma foi um avanço na discussão dos limites da atuação das redes sociais no Brasil No livro “Elon Musk”, o jornalista Walter Isaacson define o bilionário dono do X como alguém que, apesar de ser um lutador, tem uma “capacidade inesperada de ser realista na derrota”. O empresário, que aprendeu a dar e levar bofetadas na adolescência num acampamento na selva africana, chamou para o ringue o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Disse que, em nome da liberdade, iria descumprir a determinação judicial de apagar os perfis da plataforma que faziam ataques a delegados da Polícia Federal. Falou mais: iria fechar as portas do escritório da empresa no Brasil. Desbloqueado: Moraes determina volta do X ao ar no Brasil após mais de um mês de suspensão X volta ao ar no Brasil: entenda como funciona o desbloqueio determinado por Moraes A bravata durou pouco. Quando viu a sua rede social ser suspensa no Brasil por determinação de Moraes — e sofrer um êxodo dos 21,5 milhões de usuários no sexto maior mercado da companhia no mundo —, o dono do X decidiu recuar. Moveu mundos e fundos para quitar as multas de R$ 28,6 milhões com a Corte. Tentou, sem sucesso, desbloquear a plataforma às vésperas das eleições municipais. Entre idas e vindas, o antigo Twitter só voltou a funcionar no país 39 dias após ficar suspenso no Brasil. Antes de decidir bloquear o X no Brasil, Moraes consultou a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) sobre a viabilidade de tirar a plataforma do ar de forma célere. A ideia inicial era que as operadoras fossem alertadas com antecedência para deixar tudo engatilhado para derrubar a rede social de Musk num piscar de olhos. Diante da possibilidade de a operação vazar, já que há cerca de 20 mil provedores de norte a sul do país, ficou combinado que apenas as três maiores companhias telefônicas seriam avisadas previamente, de forma reservada. Tão logo proferida a decisão do magistrado, foi questão de tempo para o X sair do ar. Inconformado, Musk esbravejou, postou uma montagem de Moraes atrás das grades e tentou driblar a decisão do ministro do STF. O bilionário migrou os servidores do X para o Cloudflare, uma empresa que hospeda grandes sites, e destravou a plataforma no Brasil. A manobra irritou Moraes, que ligou logo de manhã para o presidente da Anatel, Carlos Baigorri, cobrando uma explicação. Àquela altura, se o X não fosse bloqueado novamente, uma decisão judicial poderia tirar do ar os serviços da Cloudflare no Brasil, o que causaria um enorme impacto em sistemas do setor público e de grandes companhias. Esse alerta surgiu durante o contato do presidente da Anatel com um executivo da Cloudflare nos Estados Unidos, que decidiu colaborar e passar o novo endereço de IP (sigla em inglês para "protocolo de internet”) usado pela plataforma de Musk para driblar a restrição imposta pelo STF. Após essa brecha ser tampada, a rede social do bilionário voltou a ser suspensa e multada no país. Para garantir o pagamento da punições, Moraes colocou a Starlink, operadora de rede de satélites de Musk, na condição de fiadora das dívidas do X no Brasil. A decisão gerou controvérsia, pois a composição acionária das duas companhias é diferente. Sem alternativas, o bilionário decidiu dar o braço a torcer — topou excluir perfis de suas redes, indicou uma representante do X no Brasil, pagou todas as multas e abriu mão dos recursos nas ações em trâmite no STF. Só que, na hora de acertar as contas, o X depositou o valor das multas no banco errado, segundo Moraes. Isso adiou os planos da plataforma de Musk de voltar a todo vapor antes do primeiro turno das eleições municipais. Após quitar as pendências e a Procuradoria-Geral da República opinar pelo restabelecimento do sinal da rede social no Brasil, o ministro do STF decidiu nesta terça-feira desbloquear o sinal do antigo Twitter no país. O recuo de Musk foi um avanço na discussão dos limites da atuação das redes sociais no Brasil. Durante as invasões às sedes do Três Poderes em 8 de janeiro, algumas plataformas transmitiram em tempo real os ataques à democracia, estimulando e monetizando o algoritmo da barbárie. A falta de responsabilização abriu uma brecha para o populismo digital extremista mover as engrenagens da desinformação. Ao enquadrar o X, o STF estancou a sensação de que o poder econômico do dono da plataforma gozava de imunidade perante os tribunais. Mais uma vez, Musk teve de ser realista na derrota — e obedecer à legislação brasileira. Agora, caberá ao bilionário seguir dentro das quatro linhas da Constituição no segundo turno das eleições.
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